Aldo Fornazieri
Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.
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A penúria das esquerdas, por Aldo Fornazieri

Ninguém está aqui cobrando que se faça uma revolução. Até porque os partidos de esquerda não são e nem serão revolucionários. O que se está a exigir é que esses partidos tenham estratégias, que organizem e que lutem com coragem.

Henfil

A penúria das esquerdas

por Aldo Fornazieri

As esquerdas em geral e o PT em particular entraram numa defensiva política e estratégica no início de 2015 e de lá não conseguiram sair até agora. Mesmo com todas as sandices, destruições e auto crises produzidas por Bolsonaro, as esquerdas não conseguem sair das cordas. Colhem derrotas acobertadas pela fúria vazia da crítica à triste realidade que o Brasil e o seu povo estão submetidos. Mas é uma crítica impotente porque não gera fatos, não gera lutas. Mesmo com a revelação de todos os crimes cometidos por Moro, Dallagnol e outros membros da Lava Jato, os representantes dos partidos de esquerda não conseguem ir além da pesarosa indignação.

As direções dos partidos de esquerdas não dirigem e não se comunicam nem mesmo com os seus filiados. As queixas mais comuns de militantes e de filiados são as de que não recebem nenhuma orientação das direções. As esquerdas perderam a corrida para a extrema-direita no que diz respeito à ação política nas redes sociais. Mal sabem lidar com esses meios. Desde antes das eleições de 2014 a extrema-direita se articulava nessas redes, organizando grupos e  recrutando adeptos, enquanto as esquerdas só recentemente se deram conta desse problema e ainda patinam tanto no seu uso, quanto na organização de grupos.

A partir de 2015 as esquerdas perderam as ruas, algo que já vinha sendo sinalizado desde 2013, e até agora não conseguiram recuperá-las e nem ter uma presença significativa. Enquanto se percebe uma direita ativista e militante, na militância da esquerda se observa desânimo e consternação, tudo fruto da falta de direção, de comando, de sentido e de estratégia. Repita-se: os líderes das esquerdas parecem generais sem exércitos e os militantes parecem exércitos sem generais.

Não se trata de criar uma dicotomia entre a luta institucional e a luta popular. Mas o fato é que as esquerdas, em regra e com algumas exceções, só sabem fazer a luta institucional. No Congresso, se tornaram a ala esquerda do centrão, a cereja do bolo de Rodrigo Maia. São uma linha auxiliar ingênua e enganada. Primeiro, os parlamentares de esquerda emitiram análises de que a reforma da Previdência não seria aprovada. Depois, comunicaram que ela não seria votada antes do recesso branco. Colheram uma avassaladora derrota porque não têm noção de como está sendo travada a luta política. Enquanto as esquerdas são afáveis com o centrão e com Rodrigo Maia, estes auxiliam Bolsonaro e Paulo Guedes, principalmente nas pautas econômicas.

A tática das esquerdas no Congresso parece ser a de criar uma ilusória frente ampla democrática. Não haverá uma frente ampla democrática se não for construída uma forte e respeitada frente popular. As esquerdas não conseguirão atrair setores do centro se não tiverem força na sociedade, se não forem capazes de gerar temor a partir da força e da organização popular.

Muitos dirigentes e parlamentares de esquerda são cristãos mansos. Assim se comportam diante do Judiciário. Parecem vê-lo como um senhor que deve ser obedecido e reverenciado com “temor e terror”. Mesmo com todos os açoites que receberam dele (especialmente o PT) recorrem mais ao STF do que ao povo. Ainda por cima, são maus cristãos: nem combatem o charlatanismo manipulatório e anticristão de muitos pastores e nem interagem positivamente com os evangélicos pobres das periferias para livrá-los do engano e dos falsos profetas. Este cristianismo manso não serve para as lutas do povo. É melhor adotar os ritos ferozes do paganismo combativo, que estimule as lutas, a valentia e a coragem. Esse cristianismo manso, como já advertia Maquiavel, também é responsável para que o mundo permaneça na mão dos malvados. O Brasil não se libertará da elite predatória sem o exercício bravo do combate.

As esquerdas caíram numa armadilha bolsonarista. Na medida em que os bolsonaristas passaram a atacar instituições como o STF e o Congresso, as esquerdas passaram a defendê-las e santifica-las. Ocorre que essas instituições não são democráticas: agem de forma enviesada e parcial contra os pobres, contra os negros, contra as mulheres, contra os índios e contra outras minorias. As esquerdas perderam a potência reformista, perderam a capacidade de denunciar a institucionalidade não democrática que existe no Brasil e não combatem com vigor os inúmeros privilégios que esta institucionalidade abriga e consagra.

Ninguém está aqui cobrando que se faça uma revolução. Até porque os partidos de esquerda não são e nem serão revolucionários. O que se está a exigir é que esses partidos tenham estratégias, que organizem e que lutem com coragem. O que se está cobrando é o até quando as esquerdas e as oposições deixarão que Bolsonaro continue destruindo o Brasil sem que haja uma resposta contundente. Até quando Bolsonaro pode vandalizar a educação básica e universitária, destruir o meio ambiente, investir contra a saúde pública, desmoralizar os institutos e entidades de pesquisa, degradar o bom senso e a civilidade, atacar o Nordeste, ferir a Constituição e as leis, semear o ódio e o divisionismo, espezinhar os interesses do Brasil submetendo-o de forma antipatriótica aos interesses do governo Trump. Até quando Bolsonaro seguirá nessa senda perversa sem que seja contido de forma firme, sequer seja seriamente molestado? As esquerdas e as oposições tem o dever de dar uma resposta a essas inquietações e sobressaltos de milhões de brasileiros.

O Brasil vive um terrível momento crítico, o mais terrível desde a redemocratização. As esquerdas e as oposições não podem continuar agindo como se o país vivesse num estado normal. Agir com normalidade é agir em cumplicidade com a destruição a que o Brasil está sendo submetido. Agir com normalidade é agir em cumplicidade com os ataques à razão, com a promoção aos instintos de ódio e de brutalidade que são estimulados por Bolsonaro e os seus.

Julgar que Bolsonaro é apenas alguém acometido por uma verborragia incontrolável e inconsequente e, portanto, inofensiva, é brincar com o perigo. Se não for contido de forma contundente, Bolsonaro e os seus continuarão numa escalada crescente de ataques verbais que, as poucos, vão legitimando ataques efetivos, assim como as destruições já são efetivas. Os partidos de oposição tem o dever não só de se explicar. Eles têm o dever de agir, de dirigir, de apontar rumos e de lutar.

Aldo Fornazieri – Professor da Escola de Sociologia e Política (FESPSP).

 

Aldo Fornazieri

Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.

25 Comentários

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  1. -> Mas o fato é que as esquerdas, em regra e com algumas exceções, só sabem fazer a luta institucional. No Congresso, se tornaram a ala esquerda do centrão, a cereja do bolo de Rodrigo Maia.

    viciada em longas décadas percorrendo os corredores dos palácios e habitando os gabinetes burocráticos, não há qualquer remissão para a quase totalidade da Esquerda, principalmente a Lulista.

    seus dirigentes e principais lideranças admitem a própria impotência, nada restando para eles senão aguardar o colapso inevitável, para então “ver se dá para fazer alguma coisa”.

    quanto a isto sempre devemos retornar ao momento no qual a História fez descer de um pretenso céu azul uma tempestade de raios, para não haver dúvidas do quanto havia se perdido de rumo à Esquerda.

    sim! Junho de 2013!

    Junho de 2013 continua para a Esquerda como a sua devoradora esfinge numa encruzilhada fatal. na qual até hoje todos giramos em falso. escavando sobre nossos pés o abismo a nos engolir, até termos a determinação, ousadia e força de fazer o ajuste de contas com a História.

    são as massas em movimento que transformam as relações sociais. e quando as massas saíram às ruas, a Esquerda, como o ridículo Haddad (“Pai, o que você está fazendo aí no escuro?”), se escondeu deprimida com o súbito fim de suas ilusões.

    -> As esquerdas perderam a potência reformista,
    -> Ninguém está aqui cobrando que se faça uma revolução. Até porque os partidos de esquerda não são e nem serão revolucionários.

    ninguém melhor para encarnar a “cereja do bolo de Rodrigo Maia” do que Haddad: uma oposição gentil, bem comportada, prudente, elegante, simpática, culta, civilizada e completamente inócua.

    esta Esquerda tem medo do povo.

    mas não apenas medo, é uma Esquerda sem qualquer empatia com o povo, sentindo-se absolutamente desambientada ao percorrer as ruas poeirentas da periferia e os becos insalubres das favelas.

    mais do que nunca, é sim o momento histórico de se cobrar, propor e encaminhar uma revolução.

    tanto aqui na periferia, como lá, no centro do sistema capitalista, o desarranjo é insuperável.

    o atual regime político, global e nacional, não mais atende as exigências de acumulação de Capital.

    o ciclo do Capitalismo se inicia com o confisco, na acumulação primitiva, e atinge seu estado mais avançado também retornando a ele: uma financeirização que se alimenta da violenta expropriação da renda, do patrimônio e dos direitos coletivos, numa forma de acumulação sintomática de sua senilidade.

    bilhões de pessoas se tornaram descartáveis, desnecessárias, refugo humano. a acumulação do capital fictício não produz riqueza, apenas dígitos sendo incrementados nos bancos de dados.

    um modelo insustentável, sob qualquer aspecto a ser analisado: econômico, político, social, ambiental.

    a revolução virá.

    ou emancipadora, rumo à construção do pós Capitalismo, erguido socialmente a partir de confederações de comunas, portanto exigindo a superação do Estado burguês.

    ou mergulharemos em um neo feudalismo, sob a égide de uma Tirania Financeira Globalizada e de um estado de exceção permanente. como resultado, haverá o caos e a barbárie. seguidos da guerra nuclear e da extinção.
    .

  2. Não é o primeiro artigo do Aldo a atacar as esquerda, mais está nos devendo um com a fórmula mágica para esta famosa mobilização .
    Apontar falhas na condução dos movimentos populares não é difícil , basta observar para a sociedade.
    Mas ele tem q ir mais além ,como cientista político deveria nos mostrar que classe trabalhadora é esta que vê seus direitos definhar e não se move, que classe trabalhadora é esta que demitida ou em vias de ser ,apoia este governo que só impõe maldades, qual a linguagem e que novas organizações deverão ser criadas para estabelecer contato com os pobres de periferia.
    Como combater as igrejas evangélicas que agem com seu assistencialismo de dominação nas periferias das grandes cidades.
    Precisamos de mais que apenas críticas o PT, precisamos de uma análise marxista da nossa realidade e do capitalismo em crise .
    Precisamos de esperança vermelha pois a branca só servirá para limpar o sangue que que já vemos molhar as terras do campo e logo molhara os asfaltos das cidades.

    1. Olha, acho que o Aldo escreveu recentemente uns artigos bem agressivos, principalmente contra o PT, mas no geral, neste considero que ele acertou. Há uma desconexão entre a direção e a base, e nada acontece porque a direção está numa política maluca de criar um “centrinho” para “resistir” (puramente defensivo) ao golpe e à extrema direita, ao invés de mobilizar as bases para reagir (ofensivo) e tentar tomar o poder e derrotar os golpistas.

      Política não é uma ciência, é uma técnica. Não adianta fazer análise e não fazer a intervenção, não mobilizar meios para um determinado fim. Tem bastante esquerda com análise marxista por aí. Bom, talvez não nas direções, mas o problema é antes técnico (o que e como fazer) do que teórico (o que as coisas são).

      A classe trabalhadora não se move por si. É por isso que existem partidos políticos. Nisso Aldo está certo e você está errado. Quem tem de mobilizar são em primeiro lugar as direções partidárias, que têm a responsabilidade fucional de fazer esse trabalho, é um absurdo cobrar que o povo se auto-organize.

      A culpa não é das igrejas evangélicas, a culpa é da parcela dos dirigentes que quer fazer política parlamentar e não quer fazer política de rua; que quer fazer “centrinho” com o PSDB! Que vergonha!

  3. Você só se esqueceu de dizer que as esquerdas e as oposições a este governo não são detentoras dos meios de produção, do capital e das bases matérias pra fazer oposição. O WhatsApp, o Facebook, as mídias impressas e eletrônicas e o grande capital está do lado da direita e dos bozos! Simples assim. Diante de um povo comodista e cada vez mais egoísta com a cara no celular e no zapzap vcs queriam o que?. Meu amigo a culpa e do povo burro e ignorante! Simples assim, eles deixaram tudo isto acontecer e até aplaudiram, agora vão se ferrar como todo o resto!

  4. PRAGMATICAMENTE só vejo uma saída Institucional

    ..já que o povo aqui, TAL QUAL O ARKX, só sabe falar (e como fala ?!) mas não sabe agir

    Os partidos ditos progressistas devem contar com JURISTAS DE RENOME pra encadearem um processo de impeach MUITO BEM FUNDAMENTADO com a série de CRIMES praticados pelo BOZO ..que lista com os apontamentos de falta de decoro, racismo, de ordem eleitoral, penal, civil, contra o ordenamento Constitucional, funcional, de RESPONSABILIDADE, que atentam contra a segurança e interesse nacional, contra o meio ambiente e tb contra a HUMANIDADE ..todos ilícitos que este CAFAJESTE esta cometendo em concluiu com seus MILICIANOS..
    feito isso, estaria aberto um caminho pra que estes partidos passem a propagar e a cobrar do Presidente da Camara que ele aceite abrir o processo contra o OGRO BOZO no momento oportuno.

  5. Onde se lê esquerdas nesse artigo deve se ler Partido dos Trabalhadores. O próprio foge da autocritica como o diabo foge da cruz. Despreza o importante papel do Ciro Gomes que constrói a alternativa popular. Lembrei do “Não aprenderam nada, não esqueceram nada.

    1. auto critica é ..cara de pau ..fala pro CIRO explicar como eles permitiram com que a agenda do PODT fosse alugada, abrindo um caminho, uma avenidada pra destruirem o pouco que restou de democracia nesse país ..democracia que o PT é dos poucos que ainda consegue manter

      um pouco de auto critica pra você ..DEZENAS de milhões tirados da miséria, e gerado outras dezenas de milhões em emprego ..salário mínimo a US$ 300 ..recorde em distribuição de renda e bancarização ..bolsa família, mais médicos, farmácia popular, Samu, consignado ..prouni, pronatec, ciencia sem fronteira ..pagto do FMI, BRICS e US$ 400 bi em reservas ..recorde de exportação e produção interna industrial e agricula ..queda do desmatamento e transposição do São Francisco ..PAC1 e PAC 2 ..manutenção da carga tributária, 10 anos de superavit primário, inflação sobre controle histórico ..85% de aprovação quando do fim de mandato de LULA ..vitimando por um GOLPE FARSESCO combinado com STF e “tudo”

      1. O problema da esquerda petista é que não consegue avançar. Sabemos de todas as conquistas que a administração petista trouxe ao país. Mas sabemos também que naquele período as reformas estruturais não aconteceram. O próprio Lula diz que se arrepende de não ter feito a regulamentação da mídia. Os bancos nadaram de braçada durante os governos petistas, com lucros recorde. Não houve qualquer intervenção no modelo neoliberal de condução da economia. Não se fez uma reforma política, não combateu a evengelização da política. Ao contrário, aliou-se aos evengélicos. Não devemos nos enganar. Vivemos desde a eleição de Fernando Henrique numa espiral neoliberal cada vez mais agressiva. E o principal: não houve na era petista a construção de um projeto claro de país. Perdemo-nos nas disputas identitárias, fomentando o ódio. Já não se discutia o país, mas sim os guetos de cada um. As manifestações de 2013 refletiram a insatisfação popular não só com o petismo, mas com a inexistência de um projeto de país. As mensagem difusas daquela manifestação demonstravam exatamente a falta de um sentido de nação. Atacava-se desde a educação à corrupção. Desde o Supremo até o congresso. Desde o agronegócio ao meio ambiente. Ficou provado ali que o país estava sem um norte, sem um projeto. O clamor pelos militares remete à época em que, bem ou mal, se apresentava um projeto de país minimamente factível. Daí emergiu Bolsonaro, que não tem projeto algum, mas adotou o mesmo discurso e linguagem das massas. O único político de esquerda que tem uma visão clara do país e apresenta um diagnóstico com um projeto real de mudança é o Ciro. E o que faz a esquerda petista? Ataca-o desde sempre. Não vejo saída enquanto o PT mantiver uma postura hegemônica. Lula não derrotaria Bolsonaro. O antipetismo era o maior cabo eleitoral da eleição. E o PT não admitiu. Um erro histórico gigantesco. E não esqueçam: quem sugeriu o golpe com supremo, com tudo, foram os aliados do PT.

        1. Não confunda LULA com Dilma ..DILMA interveio mal e porcamente congelando preços, tarifas, desonerando, atuando no cambio ..e deu no que deu

          Quando LULA nos deixou tínhamos a PRÉ SAL e éramos BRICs, tinha o PAC1 e 2 em andamento, e tínhamos meia duzia de campeões nacionais (em parte pegos no contrapé da crise do xisto x petróleo dos EUA e a de 2008)

          ..só com isso – sem contar a revolução na energia e na área militar e geopolítica – já teríamos com o que voar por décadas (não fossa a incompetência e o golpe que se sucederam)

          LULA não é santo, não podia tudo ..o que fez, JAMAIS teremos o direito de reclamar ..pois ele superou qq expectativa

          SIM, ele falou que faltou regulação e desconcentração da mídia, faltou que podia ter tentado politizar um pouco mais a população ..faltou aprofundar a previdência pro lado dos NABABOS do judiciário e FFAA ..isso ele falou ..só que tem um detalhe ..ou ele fazia o que fez, ou talvez tivesse aberto estas frentes e o resultado teria sido completamente diferente

          ..eu mesmo acho que poderia ter regulado melhor os abusos de carteis como planos de saúde e hiper ..mas

          Quanto a banco ou empresas darem lucro ..evidente que deram pois o país crescia pra todo mundo como a muito tempo não se via ..interessava pra mim que crescia e DIVIDIA, repartia, distribuía ..o resto é aquela estoria da grama do vizinho

  6. Acredito ainda que a esquerda, e a esquerda lulista de forma mais veemente e objetiva, conseguirá reaproximar-se dos movimentos populares, restabelecer o diálogo que, de fato, foi interrompido com a burocracia que viria a assumir cargos, distanciando-se das bases. É ainda o PT o maior partido de esquerda capaz de mobilizar socialmente e no plano institucional, de criar resistência às pautas mais reacionárias. Não vejo outra possibilidade de retomar um pacto de conciliação nacional que ofereceria condições de governabilidade. Claro que esta é uma afirmação muito ingênua, mas cuja honestidade intelectual não deve ser menosprezada, afinal, sou apenas um modesto e humilde professor.

  7. Prenderam o nosso maior LÍDER, LULA, e agora riem às gargalhadas de nós, por não termos mais ninguém, com carisma, para arrastar multidões, pra ir nos lugares onde eles se refastelam com os evangélicos e com a pobreza ignorante, coitados, pra mostrar o que realmente é bom para o país. E vida que segue, até quando, só Deus sabe!

  8. Quantas rebeliões houve neste país? Quantas pessoas se envolveram diretamente nelas, quantas as apoiaram, quantas se omitiram e quantas pessoas do “povo” até tomaram o partido da elite do atraso? Não adianta colocar a culpa em partidos, organizações populares ou o que quer que seja se o próprio “povo” não colabora. O brazil é a prova de que a versão popular da lei de Murphy está correta: se alguma coisa pode dar erro, ela dará erro. Depois de ter acompanhado ao vivo e em cores a história do brazil nestes últimos 50 anos, percebi que o povão e a crasse média remediada até apoiaram a ditadura e só passaram a criticá-la quando a economia foi para o vianagre; agora, o próprio “povo” elegeu estas coisas para a presidência, muitos governos estaduais e para o Congresso, eu não aposto mais um tostão neste grande azarão que é o “povo”. Com todos os defeitos que os políticos e partidos de esquerda tenham, com um “povo” destes, a lei de Murphy vai continuar em vigor neste “lugar”.

  9. Bato nessa tecla a tempo em meus comentários aqui no GGN especialmente no esgarçamento das esquerdas especialmente PT e a falta de rumo por depender inteiramente de Lula para qualquer projeto em direção ao povo. Perdeu uma eleição pela demora da indicação de outro candidato acreditando em conversa de advogado. Ainda não aprendeu o uso da máquina adversária que elegeu bolsonaro e as próximas eleições municipais poderá ser o tiro de misericórdia no partido. Verdade seja dita hoje o partido não tem lideranca com carisma nem de longe próximas daquela de Lula e Vai esmaecendo como uma fotografia velha e desbotada onde lembramos de um passado distante.Vai acabar assim, apenas uma lembrança desbotada de um passado não tão distante.

  10. A esquerda perdeu o contato com o povo das periferias a partir do momento em que imaginou-se intérprete dessa população. Devia saber que o povo das periferias não liga a mínima para teorias políticas, é conservador e religioso, e vive acossado pela violência e pelo crime. Ao constatar que os governos de esquerda se negavam a endurecer o combate aos criminosos, e ver seus valores enxovalhados pelo dito marxismo cultural, o povão correu para as milícias e para os pastores evangélicos – que por mais patifes que sejam, entendem, sim, da mentalidade do povão.

    1. Pedro, meu caro, o que um cara direitista como tu entendes de esquerda e falar que o povo brasileiro é conservador e religioso é outro despropósito, o povo brasileiro tem uma religiosidade mística que serve para que ele aguente as durezas da vida, mas esta religiosidade dos evangélicos associada ao monte de pastores evangélicos está começando a inverter a tendência, espere mais um pouco e verás.
      Quanto ao marxismo cultural, poderias me explicar o que é isto?

      1. Paradoxalmente, o direitista entende bem a esquerda, pois não possui aqueles cacoetes e bloqueios que inibem alguém de criticar a ideologia em que acredita. Pelos mesmos motivos, o esquerdista entende bem a direita.

        O povo brasileiro sempre teve uma religiosidade mística que até já se tornou revolucionária em outros contextos no passado (lembre-se do Contestado e de Canudos). Mas o grande lance de Jeová, aquele deus dos hebreus, foi que ele não se limitava a conceder graças em troca de oferendas como faziam os deuses dos vizinhos, mas também exigia um comportamento ético da parte de seus seguidores. Por isso triunfou. E o nosso povo místico, em determinado momento se viu tão carente de valores, que ficou faminto por uma mensagem que o reprogramasse de valores éticos e morais. E isso os pastores souberam dar, embora eles próprios pouco pratiquem tais valores. É um equívoco julgar que foi somente a promessa de prosperidade que uniu o povão aos pastores, promessa de ficar rico o Sílvio Santos também sabe dar.

        O marxismo cultural é uma espécie de curso prático para atrair e formar militantes. Originou-se a partir do abandono dos trabalhadores, até então o público revolucionário por excelência, mas que aderiu ao capitalismo e paulatinamente desligou-se dos sindicatos e dos partidos de esquerda. Então os novos marxistas foram buscar seu novo público entre os marginais, aqueles a quem Marx chamava de lumpens, e muito acertadamente afirmava serem imprestáveis como revolucionários. Foi quando os neo-marxistas começaram a se aproximar, não apenas dos marginais propriamente ditos, mas de todo e qualquer grupo de indivíduos inconformistas e desajustados da sociedade. Essa postura ofendeu a moral do povão, que sempre cultivou uma sólida dicotomia Trabalhador X Vagabundo.

  11. Ao escrever um texto é necessário um extremo cuidado exatamente com as primeiras palavras do mesmo e a luz deste preceito básico começarei a criticar o que fala o digníssimo professor já na sua primeira frase:
    “As esquerdas em geral e o PT em particular entraram numa defensiva política e estratégica no início de 2015 e de lá não conseguiram sair até agora.”
    Como sou alguém que passei 38 anos na academia e há vários anos após a minha aposentadoria continuo ajudando alunos de mestrado e doutorado posso dizer que tenho mais de 40 anos de experiência acadêmica. Não estou procurando me promover com isto, pois o que vou falar um bom professor com seis meses de experiência diria o mesmo.
    Qual o erro principal do douto professor? Falar sem definir o sujeito de quem ele fala! Ele começa o seu artigo com a expressão “As esquerdas em geral…” e segue na sua besteira dizendo “…e o PT em particular…” ( resto da frase deixarei para comentar a seguir).
    Parece que uma douta figura como o professor Fornazieri não sabe nem o que diferentes pessoas podem denominar de esquerda, se for um bolsominho, até Hillary Clinton é de esquerda, se for alguns grupos de uma esquerda universitária pequeno burguesa, até o PT é direita.
    Talvez seja necessário que a douta figura tenha de ser lembrado que a realidade social não é binária, ou seja, não há um grupo de pessoas que tem carimbado em sua testa que são de esquerda e outros de direita, talvez esta intelectual figura não sabe que a posição esquerda ou direita diz respeito a posição política que determinados setores tomam em função de um processo político em marcha.
    Se o professor, além dos seus textos que ele deve rele-los com orgulho e autoadmiração, ele devesse ler por exemplo as acusação que durante a revolução russa diversos grupos dos bolcheviques faziam uns contra os outros, ou seja, muitas vezes alguns eram chamados de esquerda e outro de direita.
    Mas saindo desta digressão, que para um professor de sociologia deveria ser claro, quando se coloca “As esquerdas em geral …” se estabelece desde a partida de todo o raciocínio a ser desenvolvido A CONFUSÃO, coloquei em letras capitais, porque quando se começa uma discussão ou uma digressão qualquer de forma a confundir, faz-se a indução ao erro generalizado.
    Se fosse o primeiro artigo que leio do professor, poderia dizer que é um simples erro, porém como já o leio bem anterior ao verão passado, diria como avaliação pessoal, que o artigo é uma DESONESTIDADE INTELECTUAL, ou seja, algo que é escrito propositalmente para confundir e não para auxiliar, que dentro de uma aparente posição de “esquerda” se revela uma posição clara e deliberada expressão de alguém com o objetivo de desqualificar qualquer movimento de esquerda que possa haver dentro dos diversos matizes da família esquerdista. Coloco família esquerdista pois incluo nesta não só uma esquerda marxista revolucionária, a esquerda reformista, socialistas, sociais-democratas e até trabalhistas da velha cepa do passado. Agora sim, a partir de definições mais exatas, poderia se fazer críticas um pouco mais sectárias sobre as diversas posições de recuo ou tentativa de avanço dos diversos grupos, mas o professor chama isto de “esquerda em geral”.
    Mas qual seriam as intenções de desqualificar o movimento da “família de esquerda” num momento que esta precisa mais convergência para uma luta real que até parece que ele está conclamando. Seria para motivar os membros da “esquerda geral” a cerrar fileiras em torno de um enfrentamento mais efetivo com movimentos populares? Não, é uma tentativa de desqualificar parte da chamada “centro esquerda” colocando junto com a ineficiente política desta e de pessoas mais ligadas a esquerda do PT, porque o professor de algum tempo para cá, descobriu que as instituições burguesas como judiciário e demais forças reais do estado são uma farsa!
    Fico espantando, pois só tenho duas possibilidades para entender ao longo do tempo o raciocínio do professor, ou ele é extremamente débil em termos intelectuais para só ter notado há poucos meses que as instituições burguesas são controladas pela burguesia! Coisa que pessoas com o primeiro grau incompleto já estão entendendo na pele, ou é uma extrema desonestidade intelectual, que também por insuficiência em capacidade de análise, pensava que o extremismo da direita fascista não seguiria até que alcance seus limites de poder e restaria espaço para críticas diversionistas e personalistas de todo o processo.

  12. Aí, vem o Paulo de Tarso e implora a Ajuda dos Universitários.
    Fica difícil, assim. Não sou universitário faz tempo, mas se é por falta de palpite, lá vai:
    Por que não começar abraçando as pautas impostas pela própria sociedade? Por exemplo: quantos estão presos hoje sem direito sequer a uma acusação? Como fica a questão das milícias e da violência contra os mais pobres nas periferias? Como fica a corrupção policial, base de apoio pra campanha bolsonarista, que alavancou o ódio aos mais pobres e cooptou a classe média? Como ficam as famílias das centenas de milhares mortos pela ausência de democracia em todos os rincões deste país, começando pelos bairros periféricos, passando pelos assentamentos do MST e chegando às comunidades indígenas? Como fica a questão do temível armamentismo pregado pelo coiso e que agrada tanto a classe média branca? Como fica a “micropolítica”, tão desinteressante às lideranças e tão fundamentais pra vida da maioria. entenda-se por micropolítica aquele papo enfadonho (pra esquerda classe média, logicamente) da rua sem asfalto, do posto sem medicamento, da escola sucateada, do abandono da população de rua, o desemprego, a fome… Frugalidades que não interessam porque não dialogam com a classe média, adulada e audível aos setores da esquerda.
    E, vê se parem de dizer que da libertação do Lula depende a sobrevivência da democracia!!! É justamente o oposto: é da restauração da democracia que injustiças como a prisão de Lula poderão ser desfeitas.Esta e todas as outras as quais a esquerda negligenciou solenemente pra não mexer com seus aliados.
    Enfim, discutir a reforma da previdência, a escolha dos “diplomatas”, as grandes pautas identitárias, o ataque à Petrobrás, tudo isto é importantíssimo, mas a sociedade poderá reagir mediante as consequências concretas destes temas em sua vida cotidiana. Isto porque, o trabalho de politização foi abandonado há muito tempo e as pessoas não entendem patavina de nada. Interessa a quem está nos altos escalões, se considerarmos pela via estratégica. Tanto é verdade, que nenhum bolsonarista conseguiria insuflar sua base culpando o PT por nada disto. O que pega é dizer que os problemas cotidianos são culpa do PT, do comunismo, do Lula, da Dilma… É a pulga que causa coceira, não o cachorro. É aquilo que nos atinge diretamente, pessoalmente. Será que me fiz entender? Um estrategista do Bolsonaro talvez, entenda.

  13. Bom, o Aldo parece atirar à esquerda, quase um fogo amigo. Mas ele também não possui a fórmula mágica.
    Distanciamento das bases abriu um flanco enorme para o preenchimento de outras formas “militantes”. Incluindo as igrejas evangélicas.
    Trabalho de base é um trabalho de anos. E a urgência é como nadar mas, no fim, morrerá afogado. É exagero a imagem (muito trágica e inevitável).
    Antigamente, eu ouvia gente falar de “cultura proletária”. Hoje em dia, não mais. Bolsonaro é um precário, mas um precário à direita. Já vi vários precários à esquerda, muitos deles são carregadores de piano, nem tem tempo pra se formar. Eu sou um precário e não me lembro, na minha vida inteira, um militante ter me emprestado – com o perdão do termo – uma m*rda de um livro.
    E olha que já na época do Lula eu pedia para o pessoal próximo a mim tomar cuidado que essa coisa não duraria muito. Afinal, as precariedades ainda continuavam no campo da consciência coletiva.

  14. O Aldo disse quase tudo, faltou dizer que os responsáveis pela apatia e desorganização das esquerdas são as suas direções e se elas não são revolucionarias é porque suas direções são anti revolucionarias . Veja um exemplo: tivemos a marcha dos 300 mil lideradas pelos professores, estudantes e educadores. Em seguida teríamos a greve geral do dia 14 de junho. Qual foi a atitude do lider do partido hegemônico ? Ficou de cônchavo com os lideres dos”trabalhistas” e dos “socialistas”, discutindo … eleições municipais de 2020??? Depois, na iminência da greve geral, que tinha tudo para dar certo, se bem mobilizada, o Intercept solta no dia 9, nos derradeiros quatro dias de preparação dos atos da greve geral, o dossiê anti Lava Jato. Não podiam esperar para soltar as denuncias na noite do dia 14 ou manhã do dia 15? A esquerda se dividiu entre o ativismo militante pronto a tomar as ruas e o espectador de poltrona a seguir nas redes sociais a denuncia do dia das travessuras de Delagnol e Moro. Quando o maior líder, do maior partido de esquerda, apresenta a causa de sua liberdade como bandeira única para os trabalhadores, e a liberdade dos trabalhadores atrelada a sua, é claro que não há mobilizacao de rua que se sustente. Enfim, e para se pensar se não é chegada a hora de se lutar não apenas contra o golpe e seus líderes, mas para se lutar pela deposição das aristocracias de esquerda, essas falsas lideranças, traidoras da causa maior que é emancipacao dos trabalhadores. Nos não precisamos de lideranças traidoras, podemos e devemos viver sem elas, elas é que não podem viver sem nós.

  15. se a saída não é a revolução, o que pretender então
    da esquerda senão análises mais consistentes e coerentes
    com as frequentes derrotas sofridas pelos
    movimentos populares impulsionadas por infamantes
    estados de exceções seletivos dessa direita cruel e
    avassaladoramente desumana?
    e além de sofrer com os araques da direita criminosa
    ter de levar na cara frequentemente ataques aos que
    tentam lutar contra essas infamias?
    pras resumir digo que prefiro o estilo
    breno altman de
    análises de conjumtura…
    pelo menos o cara do movimento popular fica
    mais animado depois de ouvir o altman,
    ao contrário do que ocorre quando
    se lê o professor fornazieri,um claro lamento inútil….

  16. Existe um fosso entre sociedade e Estado. Corrupção e privilégios alargam o fosso. Precisamos compreender isto antes de agir, teoria antes da prática. Fornazieri nos ajuda a pensar. Parece delírio, mas a extrema direita assumiu a prática anti sistêmica no Brasil. Está tudo errado, de pernas para cima. A esquerda virou estabilishment, conservadora do status quo, defensora intransigente das instituições corruptas. Nunca existiu República neste país desigual, absurdamente, terrivelmente desigual.

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