A pirâmide americana e o caos na teoria, por Alfeu

A pirâmide americana e o caos na teoria, por Alfeu

Seria o “canto da sereia” ou resultado da ação do Flautista de Curitiba, que aprisionou supostos ratos assim como o futuro (as crianças da fábula)? Estamos chegando na beira do precipício, mas essa parte da sociedade se sente como Ícaro; o tombo virá depois.

É uma aposta cega no vácuo, numa espécie de Telexfree de caráter nacional, com a expectativa de entrar numa “nova era” que já era.

Esse estado de graça alucinada é o ápice de uma sucessão de eventos caracterizados pela violência sem fim, estimulado pelas mídias, pela justiça sem lei que zuniu a Constituição há tempos; tudo isso garantido, no lado concreto desse processo, pela repressão das polícias e forças armadas, permitindo assim o avanço da direita como estouro de boiada em cima dos mais desassistidos e das idéias progressistas; o ódio instalado e chancelado.

A esquizofrenia canalha ressurge pois a realidade vivida a limitava, realidade essa de um desenvolvimento ainda que engatinhando dava perspectivas concretas, como por exemplo vencer a fome. Mas agora tudo que for “made in Brazil” ou “born in Brazil” na melhor das hipóteses é lixo. O decrépito “american way of life” está de volta, supimpa.

Essa palpitação pelo Império do norte desperta também a porção masoquista dessa turma, que urram de um prazer extremo a cada naco da soberania brasileira arrancada pelos americanos. E mesmo com o desmonte do país, cedendo suas riquezas, acreditam no crescimento do país a partir do próximo ano. Só vai sobrar a força do trabalho, escravidão.

A situação alucinante que domina esse gueto, tem causado preocupação no setor de fornecimento, legal e ilegal, de produtos que remediam a realidade, mas é melhor assim. Os indicadores sociais lá nos “states” são desanimadores, como veremos nos textos abaixo.

No lado conhecido pela racionalidade, uma parte prefere apenas restringir o seu entendimento pelos índices econômicos, um diversionismo usada pela máquina financeira ajudando a concentrar mais ainda riqueza desse mundo. Mas, de um modo geral, depois que em 2008 foi puxado o tapete da economia mundial, o entendimento e as soluções clássicas acabam sendo uma administração de remendos. A economia capitalista com a sua evolução neo-liberal segue o mesmo caminho das relações humanas, da mídia,da política e etc depois do advento da internet. Novas visões, novos entendimentos, novas soluções, novas ferramentas, enfim um aspecto da vida humana não pode ser mantida da mesma foram se enxergamos que todo o resto está sofrendo uma grande e contínua tranformação, e isso já de muito tempo. E essa economia tem através de décadas vindo de crises, depressões, recessões e últimamente de bolhas mas que se naturaliza como fossem questões da própria humanidade.

O que ocorreu em 2008 foi o estouro de uma gigantesca bolha, a do capitalismo financeiro; 2019 para nós no Brasil vai ser o momento da chuva negra.

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Mau exemplo: emprego nos EUA paga pouco e não tem direitos

Isaías Dalle, da Fundação Perseu Abramo

A baixa taxa de desemprego nos Estados Unidos tem frequentado as conversas com quase o mesmo interesse despertado pelos resultados esportivos. Na casa dos 3,7% em setembro, é oficialmente a menor desde 1969 naquele país. E, como nos comentários esportivos, o tema é cercado por chutes.

Ao contrário do que pode parecer, o resultado não comprova o acerto da retórica protecionista e xenófoba do governo Trump, tampouco é fruto somente da gestão dele. E, principalmente, não é um bom exemplo, já que boa parte dos empregos criados tem salários muito baixos e a imensa maioria não vem acompanhada de direitos fundamentais como auxílio-saúde, descanso semanal remunerado e outros.

O baixo desemprego anunciado por lá também se vale de uma forma de medição que inclui até mesmo as pessoas que estão nas penitenciárias. Caso a população carcerária não entrasse na conta dos empregados, a taxa de desemprego subiria aproximadamente cinco pontos, conta o economista Marcelo Manzano, pesquisador do CESIT/Unicamp e consultor da Fundação Perseu Abramo.

A julgar pelas propostas e promessas do futuro governo brasileiro, a experiência de empobrecimento maior de quem trabalha vai ser aplicada por aqui. O presidente eleito já afirmou mais de uma vez que o trabalhador terá de escolher se quer direitos ou se quer emprego, as duas coisas juntas seriam demais. Ele também criticou os métodos do IBGE para medir emprego e desemprego e disse querer mudá-los.

Nos Estados Unidos, o salário médio anual gira em torno de US$ 33 mil dólares. Em comparação, o custo anual de uma faculdade privada é de US$ 30 mil dólares por ano. Essa amostra da ínfima diferença entre o ganho real e custo de vida comprova a fragilidade da renda do trabalho e também ajuda a explicar o endividamento dos jovens com crédito estudantil tomado em bancos, um fenômeno que ocorre nos EUA. Segundo dados do Fed (banco central), quatro em cada 10 recém-formados estão pendurados nesse crédito, que neste ano ultrapassou US$ 1,5 trilhão.

Sindicato faz falta

“A maioria dos empregos gerados são temporários ou de tempo parcial. Não vem com quase nada além do baixo salário”, confirma Jana Silvermann, diretora para o Brasil e Paraguai do Solidarity Center da AFL-CIO, maior central sindical dos EUA. Segundo ela, grande parte está no setor de serviços não-especializados. Em todo o setor privado estadunidense, 93% dos trabalhadores não têm proteção de acordos coletivos de trabalho negociados por sindicatos, “quase sem direito nenhum”, diz a dirigente. Outra experiência que o futuro governo pretende aplicar por aqui, com sua sanha antissindical.

Com escassa cobertura em serviços públicos, a situação do trabalho nos EUA piora. Jana lembra, por exemplo, que uma das propostas da pré-campanha do socialista Bernie Sanders à Presidência que mais sucesso fez entre o eleitorado jovem foi a criação de cursos técnicos de dois anos de duração, inteiramente grátis, ou melhor, subsidiados pelo Estado. Não foi adiante.

A perda do vigor industrial dos EUA, setor que oferece os empregos mais bem remunerados, não se reverteu, apesar de todas as promessas de Trump. “A recuperação econômica americana se dá por bolhas. Há hoje duas bolhas, a dos títulos públicos e a do mercado de ações, movidas pelo excesso de liquidez”, comenta o economista Guilherme Mello, em referência à grande quantidade de dinheiro em circulação movida a corte de impostos, baixa taxa de juros e com a ajuda da máquina de imprimir dólares, que só eles têm.

 

Material da AFL-CIO defende a importância dos sindicatos

 

Crisis, what crisis?

“Para onde vai essa liquidez?”, pergunta Mello.”Vai para aplicações financeiras, para títulos públicos, para o mercado de ações, o que vai gerando essa bolha”. Isso quer dizer mais especulação, menos produção de bens reais. Para o economista, outra crise semelhante à de 2008 chegará, mais cedo ou mais tarde. “A combinação da desaceleração chinesa e do comércio internacional – porque há uma guerra comercial em curso – e essas bolhas crescendo, haverá uma reversão, um acerto de contas, vamos dizer assim”, completa.

Enquanto isso, o emprego industrial segue lento, sem se importar com as promessas de campanha de Trump. Segundo dados apurados pela AFL-CIO, desde 1994 sumiram 600 mil empregos no setor. O atual governo comemora a criação de 180 mil desde 2016, escondendo o déficit. Detalhe: 1994 é o ano que marcou a assinatura do Nafta, acordo de livre comércio entre EUA, Canadá e México que gerou imensa exportação de empregos. De má qualidade, especialmente para o México.

Por fim, a baixa taxa de empregos, inegável embora cercada de contradições, não pode ser creditada exclusivamente a Trump. O economista Fausto Augusto Jr, do Dieese, lembra que ações de Barack Obama para enfrentar a crise de 2008 estão surtindo efeito, a exemplo da intervenção estatal para evitar a quebra de conglomerados como a GM, e a adoção de uma taxa básica de juros negativa por longos períodos.

 

https://fpabramo.org.br/2018/11/26/mau-exemplo-emprego-nos-eua-paga-pouco-e-nao-tem-direitos/

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Degradação das condições de vida dos cidadãos é a mais grave ameaça à segurança nacional dos norte-americanos

Blog do Alok

Moon of Alabama, Traduzido pelo Coletivo Vila Mandinga

Bolsonáricos batem continência e sonham com copiar os EUA, mas… 

Expectativa de vida em idades selecionadas, por sexo: Estados Unidos, 2016 e 2017

Micah Zenko, que trabalhou no Conselho de Relações Exteriores e agora está na Chatham House, é um dos analistas mentalmente sãos, que trabalha com as políticas de segurança dos EUA.
 
O tuíto acima (aqui traduzido) foi escrito em resposta ao relatório da Secretaria de Saúde Pública dos EUA, 2017, sobre mortalidade nos EUA. Os principais dados que ali se reúnem são:
  • A expectativa de vida da população norte-americana caiu para 78,6 anos, em 2017.
  • A taxa de mortalidade na população padrão aumentou 0,4%, de 728,8 mortes por 100 mil norte-americanos em 2016, para 731,9 em 2017.
  • As taxas de mortalidade por grupos etários aumentaram, de 2016 para 2017, nos grupos de 25-34 anos; 35–44 anos e de 85 e mais anos; e decresceram no grupo etário de 45–54 anos.
 
Ano passado foi o terceiro ano em sequência, em que a expectativa de vida diminuiu e a mortalidade aumentou, nos EUA.
 
Esses números só aconteceram antes uma vez, entre 1915 e 1918. A causa, naquele momento, foi a Gripe Espanhola que, só ela, matou 675 mil pessoas nos EUA; e a 1ª Guerra Mundial. A queda na expectativa de vida foi extremamente aguda, mas o aumento posterior também foi muito rápido depois que a epidemia e a guerra passaram. Em 2017, o fenômeno é diferente.
 
Para país dito ‘de 1º mundo’ como os EUA, qualquer um esperaria que a expectativa de vida aumentasse ano a ano, porque a Medicina faz progressos, o meio ambiente é mais limpo, diminui o número de acidentes e não há nem epidemias nem guerras. É assim em países desenvolvidos. Só nos EUA se observa esse declínio; e não de trata de redução depois de etapas de continuado crescimento. Nas relações de 2015 da ONU e da Organização Mundial da Saúde de expectativa de vida por país, os EUA aparecem no 31º e no 43º lugares. Com os novos dados, certamente aparecerão ainda mais abaixo.
 
As principais causas do atual declínio na expectativa de vida dos norte-americanos são maior número de mortes por overdoses de opioides e maior número de suicídios:
Desde 1999, o número de mortes por overdoses mais do que quadruplicou. Em 2017, o número de mortes por opioides foi quase seis vezes maior que o número de mortes pela mesma causa em 1999.

E o número de suicídios aumentou em 1/3 entre 1999 e 2017, como mostra o mesmo relatório. Nas áreas urbanas dos EUA, a taxa de suicídios é de 11,1 por 100 mil habitantes; nas regiões mais rurais do país, é de 20 por 100 mil.

 
E não é só a expectativa de vida que mostra que os EUA já não são país saudável. Os números de mortalidade materna e infantil tambémaumentaram nos EUA na última década e são hoje muito mais altos que em outros países desenvolvidos. Todos esses indicadores sociais descrevem uma sociedade em declínio.
 
Exceto em situação de guerra, o único país industrializado que conheceu queda longa nesses indicadores sociais foi a Rússia, no início da décadas dos 1990s.
 
Em 1976 Emmanuel Todd, antropólogo e demógrafo francês, previu o colapso da União Soviética, baseado em indicadores como taxas crescentes de mortalidade infantil. Em 2001, Todd escreveu Após o Império: A Decomposição do Sistema americano (trad. ao port. em 2002, Lisboa: Edições 70), ensaio no qual analisou tendências similares nos EUA e previu que os dias dos EUA como única superpotência estavam contados:

 

Todd observa algumas tendências perturbadoras, nos EUA, como estratificação crescente baseada em credenciais educacionais, e a “obsolescência de instituições políticas não reformáveis”. Cada vez mais o resto do mundo produz, para que os EUA possam consumir.
 
Todd com certeza verá as recentes estatísticas da saúde nos EUA como confirmação de que o colapso do império está próximo.
 
Por essa razão, Micah Zenko diz que a indiferença política diante dos indicadores de medíocre saúde social “é a mais grave ameaça à segurança nacional” que os EUA enfrentam.
 
Foi a ‘reforma do bem-estar’ promovida por Bill Clinton que empobreceu sistematicamente a população. As atuais crises dos opioides desenvolveram-se durante o governo Obama, que nada fez para contê-las. A ‘reforma’ que Obama promoveu no sistema de seguro-saúde para extinguiu a ‘opção pública’ que poderia ter garantido proteção a todos que não podem pagar os preços comerciais dos ‘produtos’ que o mercado oferece. Com tantos Democratas firmemente presos nas garras da indústria farmacêutica (“big pharma”), é mínima a probabilidade de que alguma coisa mude por esse lado.
 
Mas se o declínio social dos EUA puder ser visto em termos de ‘segurança nacional’, talvez os conservadores possam começar a pensar em encontrar alguma saída.
 
Sinal de que sim, alguma coisa desse tipo pode mesmo acontecer, é artigo publicada na super conservadora National Review que reconheceque a redução na expectativa de vida e a crise dos opioides exige mudanças políticas fundamentais:
Grupo de bem-intencionados conservadores acreditam que tirar os olhos da bola do crescimento econômico levará a estagnação ainda maior. Outros, (como [Oren] Cass) acreditam que temos de criar uma economia na qual mais indivíduos tenham a chance de ser produtivos, ainda que isso implique alguma redução no crescimento do PIB.

Será que financiamento mais robusto para, digamos, programas de treinamento para trabalhadores, pode ser o alvará para dar conta do tipo de angústia existencial que se evidencia na onda crescente de abuso de opioides? Devemos esperar que o crescimento na oferta de trabalho que advenha da Lei de Redução de Impostos e Expansão do Emprego consiga superar o desespero e o vazio que até agora só se enfrentam com uma garrafa ou um vidro de pílulas? Será que lições de moral sobre a sociedade civil bastam para recompor um tecido social já puído, que deixa tantos tão isolados e sós?

Cada uma dessas medidas, isoladamente, é insuficiente, mas a discussão que Cass e outros iniciaram pode talvez ser um passo adiante, em resposta ao desafio.

 
Não concordo nem com o artigo nem com o livro de Oren Cass sobre o trabalhador norte-americano, mas acho estimulante que os conservadores norte-americanos afinal estejam começando a ver os problemas que suas políticas estão criando, e considerem afinal começar a mudar em relação à obsessão com ‘crescimento custe o que custar’. É o primeiro passo numa longa estrada rumo a melhores políticas sociais e econômicas.
 
Mas… e a corrupção institucionalizada do Congresso dos EUA – que Todd chama de “a obsolescência de instituições políticas não reformáveis” – permitirá alguma mudança, seja qual for?

 

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Redação

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