A PL do Cunha, por Matê da Luz

Por Matê da Luz

Feriado em São Paulo, dois dias de manifestação pelo mesmo motivo e uma pergunta que não quer calar: por que é que, além de eu não poder decidir se quero fazer um aborto, agora querem minar meu direito de tomar a pílula do dia seguinte? 

Ameaço dizer que, daqui um pouco, a própria pílula anticoncepcional vai estar em pauta, já que a “mulher direita” tem sexo controlado e, claro só com o marido, logo pra que se preocupar com gravidez indesejada, é, isso é coisa de vadia. 

Sabe, pessoal, eu não faria um aborto. Por questões religiosas, por questões de afeto e por uma questão fundamental, esta que acredito embasar enorme parte da minha decisão: o amparo que me rende estrutura pra me construir mãe. 

Quantas mulheres são privilegiadas neste aspecto? Quantas mulheres desejam um filho, como eu desejava desde o início da adolescência? Quantas são as que faça chuva ou faça sol, tocam a vida pra frente porque têm a maternidade pra lembrar do futuro melhor? Quantas tem estrutura e amparo familiar pra sustentar mais um? Insira aqui qualquer pensamento individual, são muitos. Ou, indo pra outra ponta da questão, quantas são as que estão grávidas por sexo não consensual? 

Ou seja, eu não faria um aborto, mas não me sinto no direito de julgar ou categorizar qualquer mulher que fez e faria. Acho que todas merecem um abraço, um quê de força e a promessa de que haverá uma outra chance, num momento melhor, quando ela souber que é a hora. 

Perceba: não tenho argumentos que embasem uma tese firme e estruturada. O que tenho são sensações de que, até mesmo seguindo minha própria religiosidade, que é a de um deus bom, a questão de escolher se quero ter um filho ou não é toda minha e, por motivos óbvios, se você quer ter um filho ou não esta questão é sua.

Se a questão do aborto existe decorrente da presença da vida e, então, esta escolha seria assassinato – já escutei essa teoria e confesso que não tenho estrutura pra discorrer sobre – a questão da pílula do dia seguinte vem para validar que existe a chance de inviabilizar a formação de um embrião por meio de hormônios, mas daí me lembro que a real questao disso tudo é POR QUE É QUE NUM PAÍS COM TANTO PROBLEMA, INCLUSIVE COM TANTAS VIDAS JÁ VIVAS ABANDONADAS, EXISTE UMA BANCADA POLÍTICA AMPLAENTE ENGAJADA EM RETOMAR LEIS QUE SÃO VERDADEIROS RETROCESSOS SOCIAIS, ECONÔMICOS E, QUIÇA, POLÍTICOS? 

Isso justifica o meme que vem circulando por aí e diz “no uterus / no opinion” que, à princípio, me pareceu sexista, mas que agora chega a fazer sentido frente a um contexto que beira um machismo embasado pela teologia que determinados políticos insistem em pautar. 

“País laico? Ah, mãe, acorda…” Minha filha de 16 anos lançou essa e me fez perceber que, exageros que me cabem implícitos, a guerra santa não é tão longe daqui. 

Mariana A. Nassif

1 Comentário

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  1. Se depender dos cunha e seus

    Se depender dos cunha e seus filhotes,  as bruxas (mulheres) voltarão a  ser queimadas nas fogueiras. E será indiferente ser ou não a favor do aborto. O simples fato de uma mulher   existir e respirar  será uma ameaça a essa  sociedade que está sendo criada pelos cunhas e seus filhotes fascistas, nazistas e racistas.

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