A prisão de Maluf: justiça tardia não é justiça, por Eugênio Aragão

Foto: Pedro Ladeira/Folhapress

Por Eugênio Aragão

Prenderam Maluf. De novo. Da última vez que isso aconteceu, ficou cinquenta dias preso e, depois, o STF soltou à risota. Lembro-me da cena debochada. A chacoalhada do ministro estampado na capa do jornal.

Brasileiros de bens pintam e bordam sem ser molestados. E, diante dos malfeitos destes, não há “brasileiros de bem” com camiseta da seleção para protestar batendo panelas Le Creuset com talheres WMf. Na verdade, não acham nada de mais roubar, desde que não seja, o ladrão, um petista.

Em tempos de Maluf sendo solto, não havia petista para ser caçado. E a mídia não se incomodava tanto. Não passou disso: a cara do relator às gargalhadas, a abraçar o advogado da defesa, como dois meninos marotos, felizes porque a peça que pregaram deu certo.

Estamos em outros tempos. Depois de treze anos de governo popular, ministério público e justiça se alavancaram fazendo cara de mau e mostrando serviço. Qualquer serviço, desde que comprado pela mídia e comemorado estrondosamente pelos “brasileiros de bem”. Mas o universo dos que podem pintar e bordar sem ser molestados não se reduziu, apenas ficou melhor definido.

É importante serem “dazelite”, mas precisam estar também do lado certo, precisam ser da claque do ministério público e da polícia. O crime de Moro na publicidade sobre interceptação telefônica ilegal é aceito como ato patriótico porque vitimizou, ao ver dos perseguidores, apenas Dilma e Lula. Mais de uma dezena de representações ao CNJ contra o juiz abusado foram arquivadas sem qualquer cerimônia. Ele, sim, pode continuar a pintar e bordar.

Pintam e bordam sem medo os pessedebistas Aécio Neves, José Perrella… apostaram todas suas fichas na perseguição do PT e estavam do lado certo. Eis a receita do sucesso. Ser abastado pode até ser um diferencial importante, mas não é decisivo quando a justiça necessita público batendo palmas para si.

Para o STF, Maluf, agora, tinha que ser preso. É abastado e talvez por isso torna-se um ativo importante para os meganhas nos deixarem na ilusão de que “ninguém está acima da lei”. Querem disfarçar sua seletividade.

Mas Maluf, quem é Maluf hoje? Um octagenário que não cheira, nem fede. Seu tempo de ousadia passou e não representa risco para quem quer que seja. A rigor, um placebo para o discurso “law and order”.

Já se foi o tempo em que manter Maluf solto pudesse ser atitude desavergonhada das instituições da Casa Grande. Hoje não mais. O direito penal não foi feito para apenar por apenar. Foi feito – supostamente – para previnir e ressocializar. Maluf não exige prevenção. Já levou o que podia levar e boa parte de seu botim está de volta aos cofres públicos.

Graças à presteza do governo de Jersey. Não exige ressocialização: faz parte “dazelite”. Puni-lo passa a ser, portanto, um capricho. Um capricho moralista de quem se alimenta politicamente do moralismo vazio porque hipócrita.

MPF e Juízes do STF, o relator da ação penal e a presidenta, querem, em verdade, que o octagenário passe as festas de fim de ano na Papuda para que possam se gabar de sua justiça e sua imparcialidade. Summum jus, summa injuria, porém. Justiça não se acha no salão de beleza. Não serve para enfeitar ego e físico.

O octagenário deveria ter sido preso anos atrás, quando o soltaram às gargalhadas. Maluf merece, já hoje, passar seu tempo num asilo de idosos ou em casa, se sua família puder e quiser dele cuidar. Na cadeia, ele não faz diferença, não para a sociedade que já padeceu de seu cinismo anos a fio, tolerado pelo mesmo STF que agora quer dar uma de durão.

Não adianta, magistrados. O estrago está feito e não piorem sua imagem com a impressão de que não respeitam a idade e a fragilidade de quem, hoje, pouco pode. Nunca convencerão de que isso é Justiça. Justiça tardia é deboche.

Publicado no DCM.

Redação

8 Comentários

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  1. 99% e a diferença

    Justiça tardia é melhor que justiça nenhuma.

    A prisão de maluf, aliás, nem se encaixaria no âmbito justiça. Está mais pra carma.

    A idade e a fragilidade do meliante não têm o condão de desfazer o seus malfeitos.

    Afinal, os grandes malfeitos deixam grandes padecimentos por longo tempo e para muitos.

    Condescendência ou censura, no caso, ou é desconhecer os delitos ou em os conhecendo,

    compactuar com eles.

    Aliás, ouvi de maluf a máxima:

    “Para os inimigos, os rigores da lei.

    Para os amigos, as suas benesses.”

    Dos 99% que possam achar “injusto” que o nobre parlamentar cumpra a sua pena,  o restante 1% que forma o todo, tem a sua alma um pouco lavada com o alcance do “tosco braço da lei”  até a mansão do maluf, para que num dia na vida, experimente, na sua qualidade de rico e corrupto, uma estadia diferenciada do tipo Cingapura.

    Que tenha um natal do justo, como teve o aniversariante,  em berço humilde.

       

    1. Mais um frifri de moralidade pequeno burguesa.

      Assim como o comentário do AMORAIZA acima o ímpeto de punir os CORRUPTOS ficam saciados por uma falsa impressão de vingança. Ora, ora, o que tem mais de cruel e vingativo do que colocar um velho decrépito um verdadeiro macróbio na cadeia, vão ter ejaculações noturnas sonhando que a vingança contra um político corrupto foi executada.

      Se Alckmin, Temer e mais algumas centenas de políticos corruptos junto com MILHARES DE CAPITALISTAS CORRUPTORES em exercício, fossem colocados na cadeia, inclusive os CEOs das MULTINACIONAIS DO PRIMEIRO MUNDO, fossem colocados na cadeia, aí estaria se fazendo justiça, pois na realidade a CORRUPÇÃO SÃO CRIADAS PELOS SISTEMAS (coloquei no plural, pois sistemas ditos socialistas também tem seus corruptos).

      Algum CEO da Shell, da Boing ou das centenas de multinacionais que apoiam este governo atual e anteriores será preso? Claro que não.

      Porém moralistas pequenos burgueses, que enchergam a corrupção como uma distoção e não como uma norma de funcionamento se satisfazem em colocar um velho de 86 anos numa cadeia. Talvez não saibam estes idiotas, mas nesta idade as pessoas além de dificuldades de locomoção tem até dificuldade de fazer a sua própria higiene.

      Vão colocar um macacão de presidiário no Maluf e fotografá-lo com os fundilhos cagados?

      É esta a noção de HUMANIDADE que quem se acha de esquerda possui?

      Esquerda são pessoas que antes de tudo devem pensar nos princípios básicos da revolução francesa, a mãe de todas as revoluções. Liberdade, Igualdade, Fraternidade são as três palavras que deveriam conduzir todos aqueles que se acham de esquerda e se acham humanos, fora disto são animais que perderam os ideais que devem nortear quem pensa no futuro.

    2. 99%….

      Papo furado esquerdopata. Os atos e consequências dos criminosos ficam para a vida toda. Quem agride, pode até esquecer. O agredido nunca. Não prescrevem as consequências das violências e dos crimes. ‘Os canalhas também envelhecem’. Vai o Marin citar esta conversa fiada nos Tribunais americanos?!! No processo contra o Maluf, só existe o Maluf. Ninguém mais. É único na história mundial. Leva 175 milhões e todo o restante dos protagonistas se calam. Todo dinheiro devolvido foi acordo entre a Promotoria e os Bancos (para não terem suas contas e contabiliddades devassadas). Agora, não pode haver a desculpa da idade. Pode ter até 100 anos. Num processo legal e plural ( e não nesta falsificação vingativa e política). TODOS devem ser responsabilizados.   

  2. O ESCRACHO de Maluf na

    O ESCRACHO de Maluf na chegada ao IML em Brasilia foi uma das cenas mais asquerosas da MIDIA brasileira, com destaque para a GLOBO. Enfiaram o microfone na cara dele pedindo “”declarações” com perguntas do tipo “o que o sr.acha”, um nojo,

    dava vontade de  vomitar. A MIDIA eletronica chegou assim no seu ponto mais esgoto, para fechar 2017. O espetaculo obviamente só pode ser encenado com a conivencia, colaboração e aplauso da autoridade coercitiva.

    A DIGNIDADE do preso não é para o preso, é para a Justiça e diz respeito a todos os cidadãos.

    No julgamento dos maiores genocidas do Seculo, no Tribunal Internacional de Crimes de Guerra de Nuremberg, em 1946,  não houve uma UNICA CENA de escracho com os maiores criminosos do Seculo. Manteve-se a DIGNIDADE da Juastiça, não dos reus. A dignidade da Justiça diz respeito a todos os cidadãos e não só aos reus, por pior que sejam. Mas ai já é civilização.

     

  3. Desejar a prisao de um velho de 86 anos é de uma pobreza mental!

    Devia ficar em prisao domiciliar, usar tornozeleira eletrônica. Mas na cadeia, com 86 anos? Isso é uma pena de morte.

    1. desejar….

      ‘Disfarçar sua seletividade’. Ainda bem que até Esquerdopatas são obrigados a aceitar a verdade. Da mesma forma na sua 1.a prisão. Espetáculo para vingancismo e oportunismo que coxinhas e mortadelas precisavam. Então o espetáculo servia, agora não serve? Levar na traseira do camburão, algemas, esfregar a cara do filho do Maluf, que nunca teve cargo público serviu para o ‘cachorro atrás do rabo’. Mas depois disto, tudo proibido. Imbecis não aprendem nunca. Já disse o Ministro do STF: A Justiça não deve servir para a vingança. Até porque o chicote pode mudar de mãos.  Agora estão com medo do chicote, Esquerdopatas? Até o lombo do Caudilho-Mor vai entrar nas chibatadas !! Mas a vitória aparente, no final das contas só ficou com o gosto amargo da vingança. Até por que já sabemos quem são os verdadeiros bandidos. Condenados por Justiça que os mesmos criaram e escolheram. Dirceu, Genoino puxou o fio da meada de toda quadrilha esuqrdopata. Falta ainda o Tucanistão. Maluf nã cadeia, sabemos, não passa de vingança. A Verdade Liberta.  

  4. A grana?

    O produto do roubo.?

    Pão não tem, mas circo tem!

    Queria ninguém preso, apenas vivendo de um salário, o mínimo.

    Não tem justiça melhor, a vingança à moda dos brasileiros.

    Tem ódio não.

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