Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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A prostituição do pensamento econômico, por André Araújo

A prostituição do pensamento econômico, por André Araújo

Ann Petiffor é uma economista sul africana radicada em Londres, de atuação muito conhecida nos meios econômicos do Reino Unido como contestadora do pensamento econômico “mainstream” ligado ao mercado financeiro. Uma sólida economista de formação e prestígio intelectual, Ann Pettifor prega suas ideias em uma grande quantidade de vídeos na internet onde discorre sobre os vários modos de se olhar a economia, muito além do modelo de pensamento único que os “economistas de mercado” tentam vender como sendo a verdade revelada, exclusiva para operar a politica econômica de um País.

Ann Pettifor lidera um grupo interacadêmico conhecido como POLICY RESEARCH IN MACROECONOMICS na NEW ECONOMICS FOUNDATION. Esse grupo estuda a evolução do pensamento econômico visando quebrar o monopólio dos economistas ligados a bancos e fundos de investimento que são dominantes, tanto no Reino Unido como no Brasil. E, curiosamente, são muito mais contestados nos Estados Unidos, onde grupos como o INSTITUTE FOR THE NEW ECONOMIC THINKING, de Nova York, onde estão os Nobel Paul Krugman e Joseph Stiglitz já há muito tempo contestam o mainstream monetarista, hoje em franca decadência como tese operacional até na alma mater, a Universidade de Chicago, hoje em franco processo de reciclagem de seu famoso Departamento de Economia.

No Brasil o pensamento econômico de construção nacional, que predominou desde a criação dos cursos de economia na década de 40 até o fim dos anos 80, foi capturado a partir do Plano Real pelos “economistas de mercado” reunidos em torno da PUC Rio e a partir desta escola se agregando politicamente no Instituto Millenium e na Casa das Garças e com uma grande captura que desde o Plano Real está solidamente em mãos dos “economistas de mercado”, o Banco Central do Brasil, que desde a portaria até a cúpula está dominado pelos “economistas de mercado” com seu inacreditável BOLETIM FOCUS, pelo qual o “mercado” manda instruções ao Banco Central, a serviço exclusivo do mundo financeiro e não do Pais.

Na gestão Armínio Fraga, durante o governo FHC, o poder dos “economistas de mercado” chegou ao apogeu, com a introdução do fatídico modelo de “metas de inflação”, do boletim FOCUS e dos “papéis para discussão” em inglês no website do Banco Central.

A partir da Escola de Economia da PUC Rio e com o capital político do Plano Real “filhotes” nasceram com o mesmo DNA, o IBMEC, o INSPER, o BTG, a XP. Perguntarão, por que misturar escolas com bancos? Porque fazem parte do mesmo ambiente social e cultural, à noite dão aula no INSPER e de manhã estão na XP, nas “plataformas” da Rua Dias Ferreira, nas gestoras de fortunas, no BTG, são as mesmas pessoas.  Preservados na PUC os jurássicos pré-Real, Jose Marcio Camargo e Luís Roberto Cunha, apóstolos de Miriam Leitão. TODOS rezam pelo mesmo Evangelho que está longe de ser único no mundo, há outras escolas de economia fora da escola “do mercado”, escolas vigorosas, modernas e sofisticadas que continuamente contestam escolas anteriores. A ciência econômica, ao contrário do que muitos pensam, é dinâmica e não estratificada, há questionamentos, novos ângulos de visão sobre questões antigas. Quando Keynes lançou sua “Teoria Geral” e depois quando revirou toda ciência econômica com a famosa carta de 31 de maio de 1933 ao recém eleito Presidente Franklin Roosevelt, propondo o combate à Depressão com ferramentas inovadoras de aumento de gastos, o oposto de ajuste fiscal que hoje se prega, Keynes mostrou que politica econômica deve ser operada “de acordo com as circunstâncias”, não há modelo fixo e nem cartilhas antigas a guiar circunstâncias novas, como se o mundo parasse para os mercados passarem.

A consolidação do “modelo único”, que domina o pensamento econômico brasileiro a partir do Plano Real, nasce do casamento espúrio entre a Escola do Rio, qual seja a PUC Rio e seus satélites Instituto Millenium, Casa das Garças e IBMEC + INSPER com os bancos de negócios mesclados em um só grupo de pessoas com acesso dominante à mídia econômica, especialmente GLOBO, VALOR, ESTADÃO e FOLHA,  alavancado especialmente com o poder de anunciante do mercado financeiro. Aliado dessa politica recessiva, os “economistas de mercado” alijaram do debate econômico outros centros concorrentes como UNICAMP e UFRJ, que não têm por esse conjunto de forças acesso aos fóruns empresariais e à mídia.

O MODELO BRASILEIRO DE POLITICA ECONÔMICA

O “modelo único” parte sempre da mesma base que começa com a fórmula de “metas de inflação” e, dessa,  parte para modelagem das taxas de juro que não estão a serviço de uma politica de crescimento e sim a serviço da PROTEÇÃO dos ativos financeiros e deste se parte para uma politica monetária recessiva focada no ajuste fiscal como pré-requisito para garantir o pagamento da divida pública. Esse modelo é apresentado por 95% dos economistas com acesso à mídia, os chamados “economistas de mercado”. Essa NUNCA foi a única politica possível e é uma POLITICA ANTI-CRESCIMENTO, já que com ela jamais o país irá crescer por falta de demanda que induz ao investimento e este ao crescimento, mesmo porque o objetivo dessa politica nunca foi o crescimento e sim a proteção da riqueza financeira.

Não HÁ INVESTIMENTO SEM DEMANDA ANTECEDENTE e não há DEMANDA SEM PODER DE COMPRA, este só pode ser criado pela política monetária, mas a atual politica monetária é contrária a esse objetivo, sua única meta é a ESTABILIDADE, cujo instrumento é a POLITICA DE METAS DE INFLAÇÃO. Então, o atual modelo IMPEDE O CRESCIMENTO, a recessão não é um acidente, a RECESSÃO É O OBJETIVO, é a ferramenta para proteção da riqueza financeira.

Com a RECESSÃO os preços dos ativos reais, empresas e imóveis, ficam baratos e remuneram os investimentos realizados pelo capital financeiro manejado pelos bancos, gestoras e fundos mesmo com a economia deprimida, mesmo na recessão aprofundada não faltam grande número de negócios de fusões e aquisições, a depressão no preço dos ativos é um dos grandes objetivos de quem tem liquidez, hoje em alta disponibilidade no mercado financeiro.

Esse modelo não contestado é a CAUSA DA RECESSÃO e não o déficit orçamentário, efeito e não causa da recessão. O déficit deve ser enfrentado por razões próprias e não como causa da recessão. Na literatura econômica clássica o déficit publico causa inflação e não recessão, esta é causada pela falta de poder de compra que leva à queda da atividade econômica. O déficit orçamentário deveria causar o oposto, aumento do poder de compra e até inflação.

A recessão brasileira atual é causada pela contração monetária induzida pelo Banco Central e não pelo déficit orçamentário, este nunca foi a causa da recessão, embora deva ser corrigido.

Deficit orçamentário é um erro de gestão da finança publica, MAS não causa recessão.

A fórmula logica é CRESCER e durante o crescimento se fazer o ajuste e NÃO fazer o ajuste para crescer, porque esse crescimento NUNCA ACONTECERÁ EM DECORRÊNCIA DO AJUSTE.

Ann Pettifor é uma líder na contestação desses “mantras” que nascem nos interesses do mercado financeiro e são vendidos como uma espécie de evangelho que não cabe contestar.

A recessão brasileira tem raízes na falta de poder de compra da população causada pela politica monetária recessiva que produz a falta de investimentos públicos. Este foi gatilho central para o processo de crescimento do Brasil de 1950 a 1980 pela capacidade do investimento público em criar emprego, renda e demanda por materiais e equipamentos que movem grande parte da indústria de cimento, ferro e aço, veículos pesados, compressores, tubos, fios e cabos.

A demanda gerada por investimentos públicos garantiu o pleno emprego nesse longo período onde as taxas médias de crescimento do Brasil foram as maiores do mundo.

As análises dos “economistas de mercado”, com raras exceções, veem erradamente a recessão como causada por falta de investimentos privados como se esses pudessem existir sem demanda antecedente por bens e serviços, demanda que só existirá com poder de compra.

O investimento privado nasce da demanda não atendida anterior e esta só pode ser gerada por poder de compra criado por uma renda que coloca esse poder na mão dos consumidores.

A QUESTÃO DA DIVIDA PUBLICA

Em recente programa  GLOBONEWS PAINEL o economista Marcos Lisboa, um dos lideres do grupo de “economistas de mercado”, diretor do INSPER, se disse alarmado pela possibilidade de “perda do controle” da divida publica federal SE não for realizado um ajuste fiscal radical.

Mas o que seria a “perda de controle” da divida publica? Significa exatamente o quê? A divida publica federal está em torno de 75% do PIB, se este crescer a relação divida/PIB melhora mas ainda assim a divida pública pode crescer muito mais sem nenhuma perda de controle. Divida pública EM MOEDA NACIONAL não tem risco de perda de controle por definição, funciona como quase-moeda, o único encaixe de liquidez do sistema bancário. Onde os bancos vão guardar a liquidez se não em títulos da divida pública federal que é moeda corrente com juros? Na hipótese hipotética de não haver compradores para títulos federais, o Banco Central comprará, como faz o FED americano, dono de UM TERÇO dos títulos federais americanos emitidos. A emissão de títulos públicos federais significa que a liquidez foi expandida e essa moeda adicional em circulação voltará em grande parte ao Banco Central. Liquidez não evapora nas nuvens, ela circula e retorna ao ninho da emissão, porque a divida pública em moeda nacional não pode crescer mais sob pena de perda de controle. Quem construiu esse mandamento? É uma lógica artificial, a lógica do mercado financeiro.

 Grande número de países de excelente rating econômico, como Itália e Japão, tem dívidas públicas superiores a 150% do PIB, a dos EUA há muito superou 100% do PIB.

O FECHAMENTO DO DEBATE ECONÔMICO NO BRASIL

Após quatro anos de severa recessão não ocorreu às elites empresariais e politicas do País convidar grandes economistas globais para trazerem ao Brasil sua ideias como contribuição aos rumos do País. Algumas tentativas foram feitas para palestras de Krugman este ano, não houve patrocinadores. Krugman se propôs inclusive a um debate no Congresso brasileiro, mas dependia de se enquadrar na mesma viagem alguns eventos privados. Sem chance. Krugman não tem um discurso ajustado aos “mercados” que comandam a politica econômica brasileira, o Banco Central, a mídia econômica, os bancos de investimento. Muito menos Joseph Stiglitz, outro Nobel, menos ainda os pessoal do Instituto para o Novo Pensamento Econômico de Nova York, hoje com 700 economistas, são “locus” de fundamentais debates após a crise de 2008, que demoliu a lógica da eficiência dos mercados, a mesma que se vende ainda hoje no Brasil como se fosse a tábua dos Dez Mandamentos.

O Brasil virou um deserto de ideias econômicas, o pensamento econômico brasileiro foi comprado pelos “mercados”, é mais uma das tragédias no quadro maior da crise brasileira.

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

23 Comentários

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  1. Uma nulidade como Dallagnol

    Uma nulidade como Dallagnol consegue 35000 por palestra. Um cara como Krugman, conhecido no mundo todo, dúvido que custe isso. O rentismo internacional está jogando pesado as suas fichas em Paulo Guedes ( pra implantar um sistema que tornará Thatcher comunista roxa rs ) /Mourão ( pra garantir que a massa totalmente jogado ao deus dará não queira inidicar saques como se ve na Argentina )  (Bolsonaro é só o palhaço da turma que nem tem muita ideia de como a banda toca, mas que traz votos  ) – transforme o que foi a Argentina nos anos Menem, em que o país simplesmente, na prática, acabou com sua moeda, atrelando-a ao dólar. Com o fim dessa sandice em 2001, a Argentina entrou num buraco do qual não saiu até hoje e que Macri está se esforçando pra afundar ainda mais o país, seguindo a cartilha do FMI que é o mesmo que um médico usar sangria num paciente anêmico . E, cá entre nós, os grandes players do mundo também não acham nada mal que a nossa elite miserável queira transformar o país numa espécie de Ilhas Cayman tamanho família – afinal assim países como EUA, China, Russia, India teriam um concorrente a menos. 

     

     

  2. Daí é que não podemos esperar nada.

    Enfim, com o golpe de 2016, nossa politica econômica foi completamente sequestrada por um bando de aves de rapina.

    Mas atrás da turma da bufunfa, destes operadores picaretas, temos os grandes bancos que lhes dão o suporte.

    Estes estimulam esta doutrina para capiturarem o Estado e angariarem cada vez maiores lucros.

    Dessa turma jamais poderemos esperar um olhar para as questões do desenvolvimento econômico e social.

    Bom artigo, caro André.

     

     

  3. dívida pública

    E lembro de ter visto uma eentrevista na Globo, em que os economistas “convidados” estavam criticando  a melhoria do poder de compra da população. Como exemplo citavam a venda de automóveis e alegavam: ” no fim, não se terá mais ruas para tantos carros”. Mas lembro também do Vietnã, completamente dizimado após a guerra, com milhates e milhares de desempregados, orfãos, mendigos, prostitutas aos milhares e milhares, o rebanho de búfalos total mente  dizimado, as áreas agricultáveis completamente destruídas ou perigosas pelas bombas que não explodiram orfandade aos millhões e, O PIOR,  um a enorme classe média  em SAigon, PRINCIPALMENTE,  acostumada aos Hondas, Mercedes,  Toyotas e muito mais, além  da confortável vidinha  que todos podemos imaginar como era  com suas montanhas de domésticos e utilidades americanas.além de sítios de fato nas montanhas aprazíveis de lá, Tudo destruído e, do nada, o pequeno país tornou-se um dos chamados Tigres Asiáticos e hoje é um dos países que mais cresce no planeta, cerca de 10 a 12% ao ano.Ao princípio adotaram o comunismo pelo modeo Stalinitsta. Muito espertos, logo deram marcha à ré e adotaram um “socialismo pragmatico”. Só aqui a dívida pública é um dogma e sabemos bem a quem aproveita, e não é a população, incluindo nisso empresários decentes, porque até isso há por aqui: industriais sem indústria e mesmo baluartes do empreendedorismo que foram completamente falidos, e tudo em razão de serem mais é aventureiros, exatamente como  grande maioria hoje.

  4. A UNICAMP e a USP fogem dos
    A UNICAMP e a USP fogem dos meios de comunicação tradicionais. Esse é o entendimento que passa ao leitor um pouco atento. Eles são esquerda, subestimam o poder da grande mídia e não se rebaixam ao diálogo com “economistas de mercado”. São contestadores restritos ao mundo acadêmico e político partidário circunscrito a gabinetes refrigerados.

    1. Tudo isso é verdade mas a

      Tudo isso é verdade mas a grande midia tampouco os convida, não vejo economistas fora do grupo “de mercado” nem na TV publica, com algumas poucas exceções como Antonio Correia de Lacerda na TV Cultua.

      Uma economista hoje mais presente na midia e que não se furta a debater é a excelente Laura Carvalho, formanda na tambem excelente New School of Social Research de Nova York, a escola anti-mainstream dos EUA.

      Um caso exemplar de “exclusão” de qualquer economista independente nos debates economicos é a tambem otima Monica de Bolle, comentarista da CBN toda quarta feira, ela fez uma critica frontal a uma analise “mercadista” do Sardenberg, que fala

      dentro da linha pro-mercado da GLOBONEWS,  desde esse episodio Monica nunca mais falou sobre economia brasileira, seus comentarios são exclusivamente sobre economia americana e internacional, nada sobre o Brasil. Monica é uma solida econmista mainstream MAS tem uma visão multiangular, pode ver a mesma questão de varios lados, não segue cartilha.

  5. André, como leigo me permita a pergunta

    Conversando com minha irmã, coversa vai conversa vem, falou-se em nossas reservas internacionais. Então vamos lá: qual o problema de utilizá-las internamente em projetos de geração de emprego?

    1. As reservas internacionais

      As reservas internacionais não são do Tesouro e portanto da União, elas pertencem técnica, legal e contabilmente ao Banco Central do Brasil e são a contrapartida de Reais recolhidos do sistema bancario como depositos compulsorios.

      Não há logica economica em vender essas reservas no mercado interno de cambio, jogando para o chão a cotação do dolar

      para financiar gastos em Reais. Simplesmente não há necessidade disso para financiar investimentos em infra estrutura,

      esses podem ser financiados internamente sem vender reservas, que são necessarias para garantir o capital de giro do comercio internacional do Brasil. Essas reservas não são desproporcionais, são adequadas, as reservas da Russia, cujo PIB é menor que o do Brasil, são muito maiores que as nossas.

      1. Valeu

        Obrigado pelos esclarecimentos. Em tempo, informo que periodicamente envio teus textos para vários amigos. Como digo a eles, aprender faz bem.

  6. O problema brasileiro não é

    O problema brasileiro não é de política econômica. Os instrumentos de política econômica são mais ou menos os mesmos desde que o Brasil negociou seu último pacote de ajuda com o FMI em 1988/89 na passagem entre o primeiro e o segundo principado sociológico. Naquela virada de ano (ano eleitoral, primeiro com direito a reeleição) o Brasil literalmente quebrou, e aqui não é força de expressão, já que o país apresentava uma explosiva combinação de recorrentes déficits na balança comercial, taxa de câmbio valorizada, um rígido sistema de bandas cambiais, e, por fim, um processo de fuga de capitais que levou o país uma situação de insolvência, sem reservas cambiais para fazer frente aos compromissos de curto prazo.

    Portanto, ainda que pouco crítico ou mesmo que abertamente favorável às políticas impostas pelo FMI, não foram os economistas do mercado e nem os economistas tucanos, como gostam de se gabar, que impuseram o famoso tripé macroeconômico; este foi de fato uma exigência e uma contrapartida para o Brasil poder acessar os empréstimos que o FMI disponibilizava. Além do tripé o FMI proibiu o governo brasileiro de operar no mercado futuro de dólares e de emitir e vender título público no mercado brasileiro com clausula cambial (isto é com principal e juros denominado em um montante equivalente de dólares, que garantia a seu comprador cobertura e proteção contra desvalorização cambial). Também não foi o tripé que colocou de pé o real como moeda.

    Ainda que se possa fazer críticas tanto ao conceito quanto ao uso desses instrumentos de política econômica, se é preciso admitir que com ele o pais apresentou uma variadíssima combinação de resultados econômicos como indicam os diferentes momentos de sua aplicação desde o segundo principado de FHC, passando pelo primeiro e segundo mandato de Lula e, também no primeiro mandato e no interrompido segundo mandato de Dilma.

     O que quer dizer que apesar da cruzada entre “desenvolvimentistas” e “neoliberais” do ponto de vista prático os seguidores de cada um desses credos praticaram e usaram mais ou menos o mesmo arsenal de política econômica. Digo isso porque muitas vezes se exagera a malignidade ou a bondade intrínseca desse arsenal e porque política econômica é algo prático, empírico quase como conduzir um carro, a exceção que diferente do carro a economia é de difícil manejo e condução. E mais que um especialista em manuais de trânsito e simuladores de condução, o que se necessita é um motorista atento aos sinais e aos perigos da estrada.

    Também não quero dizer que esses “debates mortais” entre cruzados de diferentes igrejas seja uma coisa de estudante boboca. Ao contrário, de fato existe um confronto entre duas visões bastante distintas do país que se quer e de como se entende a economia. Penso no entanto que neste caso os fatores políticos e ódios irracionais jogaram um papel destacado em toda essa discussão. Senão como entender e explicar que em certa altura dos acontecimentos esses economistas de mercado e esses economistas tucanos puderam embarcar nesse “módulo MBL/Empiricus de ser”, e não digo isso pelo MBL ou a Empiricus que são milicianos e punguistas facilmente reconhecidos e reconhecíveis – digo isso dos “profissionais” das mesas de tesourarias dos principais bancos e fundos brasileiros que transformaram operadores em militantes políticos em plena jornada de trabalho, com equipamento cedido pelos próprios bancos e fundos, que transformaram diretores líder de torcida organizada.

    Trabalho há muitos anos no mercado financeiro e em tesourarias de banco, sei que não bate um coração ali, mas nunca havia assistido a demonstrações explícitas de ódio político, a tamanha instrumentalização política, a tamanho adoutrinamento ideológico como o que vimos a partir de meados do primeiro mandato de Dilma Roussef. Não me preocupa o efeito que tudo isso causou na cabeça de velhos velhacos, mas o estrago que produziu na cabeça de jovens ingênuos, que envelheceram e envileceram tão jovens. Como explicar racionalmente o ataque e a destruição que promoveram os “mercadistas de araque” contra uma instituição de crédito como o BNDES ou uma empresa como a história, o papel e a dimensão da Petrobras? Não isso não está nem no campo da política, está no campo do ódio, da guerra e da destruição. Estamos aquém do campo de discussão teórica e mesmo ideológico. Nesta terra miserável todos sentem uma inevitável de ser fera também, Cruz e Souza, tinha razão, cravou.

    1. Muito boa analise. Hoje o

      Muito boa analise. Hoje o Brasil não quebra no front externo portanto o contexto dos anos 90 não é o mesmo,  nossa divida externa tem lastro nas reservas. Há sim o risco cambial de fuga de capital especulativo que foi internalizado no Brasil

      e que pode pressionar as reservas. No front interno não há risco de quebra, a divida publica federal é em Reais.

      Sua analise sobre a agitação politica nos mecados é excelente e muito atual, parabens.

  7. Na etimologia economia

    Na etimologia, economia significa algo como a administração ou as regras, da casa ou do lar. Esse é o problema: não entra a senzala no bestuntinho dos economistas de mercado. Sabem comprar barato e vender caro! Ponto!

    O Celso Furtado – que muitos desses mercadistas têm horror ao nome, e muito provavelmente jamais leram uma linha sequer, só ouviram falar (e mal, na base da simplificação e da piadinha ignorante) – ensinou na decada de 50: para uma minoria acompanhar o padrão de consumo da metropole, a larga maioria deve ter os seus padrões de consumo (e até sobrevivência e dignidade) achatados, dados os níveis de produtividade geral. Isso está no DNA, na formação econômica do Brasil.

    Esse é o projeto colonial, predar o que estiver ao alcance, e gastar lá fora. Em um modelo escravocrata, não há muitos dramas de consciência pra quem não sabe o que é Humanismo. Em uma Democracia Liberal a coisa complica…

    Mas, os “liberais” daqui não querem saber de nada: imitar as ideias lá de fora é a unica coisa que dá conforto “espiritual”. Quando não há ideias a imitar, partem para a ignorância pura e simples.

    … E um “banho de loja” pra desopilar…

    Eu até arriscaria uma “História da Poupança” (ou do Investimento) por aí. Falam tanto de Previdência, não é?

  8. Muito alem da austeridade

    A própria definição de dinheiro, o conceito central em economia, é muito mal compreendida, tanto lá fora como aqui. O professor Richard Werner, que é do time dos hereges da Ann Petifor, Steve Keen e outros, acompanha nesse documentario a trajetoria da economia japonesa no pós-guerra, explicando como a manipulação do crédito proporcionou tanto o milagre produtivo dos anos 50 quanto o desastre especulativo dos anos 80.

    Dinheiro é crédito. Não existe um fundo finito de recursos na economia. Se sua emissão vai resultar em inflação, dívida descontrolada, bolhas especulativass ou milagre econômico, depende apenas de como esse crédito será direcionado. Por isso a noção de que é possível direcionar o crédito tornou-se altamente subversiva, pois permite aos paises se financiarem indefinidamente, sem necessidade de recorrer a empréstimos externos.

    Mas no Brasil ainda acreditamos que economia é contabilidade, daquelas de padaria, em que os numeros azuis precisam ser maiores do que os numeros em vermelho, senão quebra, pouco importanto se os gastos previdenciários com a população de baixa renda, por exemplo, voltarão integralmente aos cofres públicos, após poucos giros da roda econômica.[

     

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=p5Ac7ap_MAY%5D

     

     

    1. Otimo comentario, assino

      Otimo comentario, assino embaixo, sigo sua visão sobre dinheiro e credito, contexto que poucos economistas entendem realmente ou se entendem não sabem expressar porque falam as maiores bobagens como  “O Brasil não tem dinheiro para

      resolver o problema do saneamento”, vamos entregar para os chineses.

  9. O BRASIL DE FÁCIL EXPLICAÇÃO….

    E como são fáceis e didáticas as suas explicações. O problema é que voltamos a ter que desenterrar este cadáver. E tem quem não se incomode ou finja não perceber a podridão. Voltamos a discutir e ter prometidas PRIVATARIAS? É inacreditável !! Levou a Argentina a ter 4 Presidentes em um ano. Um deles fugindo de helicóptero do Palácio Presidencial. Produziu criaturas como Carlos Menen, Fugimori,… Quase levou esta Argentina e Bolivia à Guerra Civil.  A Shell que foi a ‘privatizadora’ do Gás Boliviano queria exporta-lo através do Chile. País que tomou o Território Boliviano que dava acesso ao Pacifico. Então FHC modificou a Lei do Monopólio Brasileiro sobre Combustíveis e fez um favor à aventura da Shell, construindo 3.500 Kms de Gasoduto entre a Bolívia e as Fábricas da Shell em Paulinia / SP e Porto de Santos / SP, de onde esta Empresa o exporta. Mas diz o tal Presidente que fez isto para o Brasil. Somente no Pré-Sal temos “6 Bolívias” em Campos de Gás. O Consenso de Washington e este NeoLiberalismo defendido por Mirian Leitão e sua trupe, de quem Dinheiro do Estado não é para fazer caridade nem salvar Empresas Particulares foi enterrado quando o Governo NorteAmericano “salvou” o Sistema Financeiro, Grandes Bancos e Corretoras de Valores e Empresas Gigantes como a GM. ‘Faça o que falo, não o que faço’?! Ainda damos ouvidos à tamanha Mediocridade? Somos assim tão Imbecis? Gastamos nosso tempo com Leitão, Fraga, Malan, Arida, Franco, Mendonça de Barros? Pobre país rico. Mas representação de sta farsa de Democracia sem Povo. Estado Absolutista. Quem precisa de Economia, de Empresas, de Empregos é a Sociedade Civil. É a Classe Média. A Elite Estatal, a tal que não se enxerga como sendo, legilsa sobre seus Vencimentos e Benefícios, pregando sua lisura, esforço, abnegação, sacríficio por parcos 40 mil reais de Salários de Escravidão. E enquanto isto não mudar…       

  10. O PT adotou o regime neoliberal a prestação, com 10% de desconto
    “Não HÁ INVESTIMENTO SEM DEMANDA ANTECEDENTE e não há DEMANDA SEM PODER DE COMPRA”. Há de se elogiar a capacidade propagandista dos banqueiros em transformar essa obviedade do capitalismo em irrelevância. Dilma fez exatamente o oposto disso desde o início da crise e Haddad já disse que o compromisso com o mercado não precisa ser “reafirmado”.

    Parabenizo o professor pela explicação em linguagem acessível.

  11. Nova Matriz Econômica

    Economistas da Unicamp inventaram a Nova Matriz Econômica e quebraram o país. Existem limitações orçamentárias sim, por mais que alguns inistam em não ver. Não dá para ligar a impressora e achar que isso irá salvar a economia. Nossa dívida em relação ao PIB está abaixo do patamar de alguns países desenvolvidos, mas o importante é analisar o crescimento da mesma. Nossos jutos são mais elevados e quando se tentou baixá-los na canetada, sabemos o que aocnteceu. 

    1. Nunca existiu um programa

      Nunca existiu um programa economico com começo, meio e fim no governo Dilma,

      Nova Matriz Economica é uma alegoria, expressão criada pela midia, jamais foi uma politica racional com um objetivo claro.

      As decisões do segundo governo Dilma foram improvisos sem articulação e não servem de base comparativa com uma

      politica economica com alguma logica.

      O preambulo da recessão foi plantado por Joaquim Levy, que nada tem a ver com a Unicamp, Levy morava e mora em Washington e é funcionario do FMI, era incensado pelos “mercados” como a solução para a economia do Brasil, foi

      sua pollitica que deu o arranque forte para a recessão profunda que hoje vivemos.

    1. É preciso ver em que época e

      É preciso ver em que época e contexto Krugman disse isso. De qualquer modo Krugman não é conhecedor profundo das economias da America do Sul, Joseph Stiglitz tem um conhecimento muito maior, Dani Rodrick, que não é Nobel mas é um

      reputado economista, tem grande foco em paises emergentes, hoje seria um bom debatedor sobre o Brasil.

  12. bom post.

    Eu, que não sou formado em economia mas gosto de ler sobre a mesma, já me convenci que essa politica do “maintream” não dá certo em local nenhum…

    Mas dá certo para eles com altos ganhos com suas consultorias, faculdades, palestras… etc.

    Simples assim! 

     

  13. bom post.

    Só para concluir.

    Quando esses economistas ou comentaristas são questionados porque essas receitas não deram certo, eles têm a resposta na ponta da lingua: 

    “As reformas não foram suficientemente aprofundadas. Precisa de mais!”

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