A queda do alpinista, por Ricardo Cappelli

Gustavo Bebianno não tem passado, perdeu o presente e o único futuro, se houver, é de homem-bomba da República

Foto BBC

A queda do alpinista

por Ricardo Cappelli

Brasília é o Monte Everest da política. Muitos chegam ao acampamento base, a uma altitude de 5.364 metros.  Não deixa de ser um feito.  Alcançar os 8.848 metros do cume é coisa para “fora de série”.  Só os “super-humanos” conseguem manter-se no topo por muito tempo.

Gustavo Bebianno não tem passado, perdeu o presente e o único futuro, se houver, é de homem-bomba da República. Chegou perto do pico graças ao seu faro de empreendedor. Viu um iaque selvagem subindo a montanha sozinho e resolveu apostar no animal. 

Circula na capital federal que o ex-ministro foi o responsável por reunir 15 milhões de argumentos para convencer Luciano Bivar a “emprestar” o PSL para o Capitão. Seu lugar no Palácio do Planalto cumpriria a suposta missão de monitorar o “payback” da empreitada.

Bolsonaro já vinha revelando aos mais próximos três preocupações: a inabilidade política de Paulo Guedes, a fúria indomável de seus meninos e a “verve empreendedora” de Bebianno.

Guedes se adaptou rápido a altitude estabelecendo uma parceria com Rodrigo Maia. O filho Carlos parecia um problema insolúvel. Até a Folha de SP revelar os laranjas do PSL.

A queda de Bebianno pode resolver dois problemas do governo. Primeiro, retira da “Capela Sistina” um habitante devoto do Exu Caveira, a entidade das coisas materiais. É difícil construir governos imunes aos “adoradores da carne”. Mas dentro do Vaticano, não dá.

Em segundo lugar, o episódio enche de argumentos os que querem ver os filhos afastados.

Ao expor seu ministro, o presidente atirou no próprio pé. Ao ameaçar publicamente o Capitão, Bebianno deixou o presidente sem opção. Pior do que ser injusto é demonstrar fraqueza.

Se olhasse para história recente, o presidente teria refletido antes desta trapalhada. Dilma Roussef se pautava pela imprensa. Uma simples nota numa revista era suficiente para ela pegar o telefone e cobrar explicações de seus ministros.

É a típica ilusão-classe média da mídia como expressão da “sacro santa” opinião pública. Bolsonaro parece morder a mesma isca da petista. A Folha não atirou em Bebianno. O alvo dela é o presidente, corroer sua autoridade e governabilidade.

Existem duas maneiras de enfrentar situações como essa. A mais fácil é jogar o auxiliar aos leões. Resistir aos ataques pode sempre cobrar um preço de popularidade no curto prazo. No longo prazo, sinaliza para o exército que o general é fiel à tropa e vai com ela para a guerra.

Dilma escolheu o primeiro caminho. A cada nova denúncia defenestrava seus auxiliares no Jornal Nacional. Parecia dar certo. Atingiu uma popularidade impressionante. Para o povão era a “mulher do Lula”, para a classe média, a “faxineira implacável”.  Uma soma imbatível.

Acabou isolada. Brasília virou um mar de ressentimento e desconfiança. Quando Cunha abriu o processo de impeachment o destino da presidenta já estava traçado.

A novela da demissão deixará marcas. O sinal de instabilidade e desequilíbrio deixará o Congresso ressabiado. O custo da reforma da previdência pode ter subido.

A oposição vai comemorar a queda, mas é bom não perder o foco. Três pilares sustentam o governo: o grupo militar da dupla Heleno-Mourão, o núcleo econômico de Paulo Guedes e a aliança Moro-Globo.

Tirando alguns técnicos qualificados e um ou outro político experiente que ocupa posição em função de acordos pontuais, todos os outros são coadjuvantes. Estão ali para distrair a plateia enquanto o jogo principal do momento – a reforma da previdência – é jogado.

Bebianno era um destes. Chegou a ocupar um pequeno espaço em função do temperamento de Onyx. Exonerado, pode soltar a bomba que quiser. Se a reforma for aprovada voltará para a planície e será o que sempre foi: ninguém.

Redação

4 Comentários

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  1. Artigo apressado! Na verdade é preciso verificar se o tal alpinista caiu mesmo. Talvez Bebianno tenha sido “promovido” para uma secretaria qualquer com salário de cem mil reais. Dada a caixa preta ambulante que o sujeito é, não creio que Bebianno tenha saído perdendo com essa suposta queda.

  2. É um equívoco achar que os folclóricos são coadjuvantes cuja função é distrair a platéia.

    Ao contrário, eles compõem um dos núcleos centrais do governo. Se eles caem, temos no domingo seguinte as igrejas de Mammon pregando que Bolsonaro fez pacto com o demônio.

    A única vertente realmente populista do governo Bolsonaro são os folclóricos. Sem eles, o exército de malucos do Whats Up debanda; e sem as agressões diuturnas que eles perpetram contra os adversários do governo, Bolsonaro está completamente indefeso.

    Pode acontecer. Mas significará a domesticação de Bolsonaro e a consolidação de um governo cada vez mais explicitamente militar.

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