Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
[email protected]

A reforma da Previdência é neutra para o crescimento, por André Araujo

O objetivo da reforma da Previdência não é o crescimento, é dar garantia aos credores da dívida pública de que seu principal e juros serão pagos

A reforma da Previdência é neutra para o crescimento

por André Araujo

Os últimos dados do PNAD indicaram aquilo que qualquer brasileiro de mediana inteligência sabe e percebe, o Pais está estagnado, a economia não cresce e nada indica que crescerá. Em 2018 um crescimento pífio de 1,1%, nada indica coisa muito melhor para 2019, um País congelado na pobreza.

Ao fundo, os “economistas de mercado” que dirigem a economia propagam que a reforma da Previdência, e só ela, fará o Brasil crescer. A grande mídia entrevista economistas de mercado, executivos de bancos de investimento, corretores da bolsa, ninguém da produção, muito menos da média e pequena empresa, tampouco economistas acadêmicos de uma linha progressista, só neoliberais. A reforma não fará o País crescer.

Não fará, porque o objetivo da reforma da Previdência não é o crescimento, é dar garantia aos credores da dívida pública de que seu principal e juros serão pagos. A reforma da Previdência é necessária por várias razões, mas gerar o crescimento não é nem o objetivo e nem a consequência, embora seja apregoado que o crescimento virá como resultado da reforma.

Quais os fundamentos para essa avaliação?

1. A reforma da previdência sob o ponto de vista de renda disponível para os beneficiários vai diminuir o poder de compra da ponta recebedora e não vai aumentar a renda disponível da ponta pagadora. O potencial ganho para o Estado em um futuro a longo prazo não é tão grande, quando aprovada a reforma politicamente possível e não a de Paulo Guedes. Uma economia desejada (não a verdadeira) de R$1,1 trilhão se dará quando a dívida federal deverá estar em R$8 a 9 trilhões, se mais. Todas essas projeções são exercícios ficcionais porque não se conhecem as condições da economia nacional ou mundial daqui a 10 anos, tampouco pode-se fixar tendências a prazo tão longo, nada disso tem algo a ver com investimentos a curto ou médio prazo.

Em um período de quinze anos, quando a reforma estiver operando, o PIB acumulado do Brasil, se o crescimento for zero, terá sido de R$102 trilhões (PIB de 2018 R$6,8 trilhões), nesse montante uma economia na hipótese máxima de R$1,1 trilhão não refresca.

2. A ideia de que virão investimentos por causa da reforma é esdruxula, uma variável não tem relação com a outra, nenhum empresário vai construir nova fábrica ou shopping porque foi aprovada uma reforma da previdência. Quando os propagandistas da reforma alegam que virão muitos investidores após a aprovação da reforma, eles se referem a investidores financeiros, desses que entram e saem de mercados, que são o mundo desses economistas e pensam sempre no “mercado”, bolsa, juros e câmbio, mas também essa crença é discutível, investidor especulativo não é tão seletivo com países e mercados onde operam, dá para ganhar dinheiro mesmo em países problemáticos e em crise, depende de como se entra e como se sai. George Soros montou sua fortuna de US$25 bilhões entrando e saindo de países problemáticos.

3. O investidor na economia produtiva, aquele que cria empregos e faz o PIB crescer depende de outros fatores, o mais importante dos quais é a existência de mercado para seus produtos e isso é só muito remotamente ligado à reforma da previdência. O Brasil criou milhões de empregos bons na economia produtiva em tempos de alta e persistente inflação, déficits públicos, moratórias cambiais, o fator central é a existência de demanda para os produtos que a empresa que investe na produção tem a oferecer, tendo mercado ela sabe manejar os demais fatores.

4. Nenhum grupo de gestores responsáveis de economia baseia seu plano em um só fator, especialmente em uma economia grande e complexa como a brasileira, que precisa desesperadamente crescer pela demanda que hoje inexiste na população pobre, incluindo novos consumidores, como a Índia.

5. A Reforma da Previdência é uma bandeira única de uma equipe medíocre, sem grandeza e que não enxerga um grande Pais em crescimento por políticas avançadas e não de mãos de tesoura como única ferramenta. Cortar, cortar e cortar e nada mais que cortar, que pobreza de espírito!

AA

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

18 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Mais uma aula do André Araújo. Fico pensando quais acrobacias Roberto Campos (neoliberal árduo defensor da reforma da previdência) faria para rebater os argumentos do André. A propósito André, você e Roberto Campos alguma vez debateram sobre este assunto? Abraço.

    1. Roberto Campos avô tinha interesse em muito mais assuntos que economia. Ele foi consul geral em Los Angeles durante a Segunda Guerra e eu dei a ele um livro que ele adorou ” Os Judeus que Fizeram Hollywood” (em inglês), ele dizia, “conheci todos esses donos de estudios, eram todos baixinhos, da Europa do Leste” e contava casos dessas figuras> Ele seria sim a favor de uma reforma da previdencia mas jamais diria que isso seria suficiente para o Brasil crescer, não era homem de um tema só.

      1. E preparemo-nos todos, Roberto Campos Neto será um dos maiores cabeções a já ter passado pelo BC, estilo Ilan e Meirelles. Uma pena que ela não tenha saído ao avô, que realmente não era pessoa de um tema só. Infelizmente o neto de Roberto Campos manterá esses juros escorchantes, manterá o aperto da liquidez (o André Araújo já explicou esse tema várias vezes, sabemos que a base monetária brasileira é baixíssima, poderíamos estar crescendo a uns 3% se não fosse essa barbeiragem continuada do BC brasileiro). Eu fico imaginando as conversas do André Araújo e Roberto Campos avô, com ideias e visões de mundo totalmente opostas.

    2. André Araújo fala que essa reforma é para pagar o principal e os juros da dívida pública. KKKKKK

      Simplesmente impossível se pagar o principal, e os juros, cada vez menores pois estão já falando em selic a 4,5% no final do ano, da dívida pública são incorporados ao principal, o que significa que também não serão pagos.

      O raciocínio do AA é caótico. Ora ele fala que a dívida pública é impagável, no que eu concordo, agora fala que o governo vai pagar os juros e o principal.
      André, decida-se.

      Agora será que essa reforma não é para se evitar que se emita dívida pública para pagar as despesas correntes com a aposentadoria, até se chegar ao limite de não sobrar um único tostão para mais nada a não ser salários e aposentadorias?

  2. Completando o meu comentário, não é verdade que a reforma seja neutra em relação ao crescimento, ela vai provocar uma recessão profunda, visto que a reforma na verdade enxugará não sei quantas centenas de bilhões da economia produtiva, é um assombro o que esses cabeções querem fazer com o Brasil, tudo com o intuito de garantia de pagamento de juros aos bancos (aí o André Araújo tem razão).

  3. Mas nem as grandes boutiques de investimentos classe mundial sofrem de um obsessão doentia e exclusiva sobre ganhos especulativos de juros e de títulos. Abaixo, explanação cristalina de economistas e analistas britânicos e japoneses da holding Nomura acerca do impactos futuros do BREXIT sobre a economia britânica.

    https://www.youtube.com/watch?v=veg0oo4oOss

    Quais os FUNDAMENTOS de um cenário não tão tenebroso? Confiança das Famílias, Pessoas com Emprego e Bons níveis de salário, ou seja ECONOMIA REAL, e não somente juros. Economistas de mercados, a maioria forjados em escolas como Oxford, Cambridge, Waseda e Keio (quintessências de universidade japonesa), mas com uma visão da economia holística e abrangente, e não essa turba da Faria Lima de Tecos, Amorins, CBN e relatório Focus. Aqui, com raríssimas exceções, o nível é perturbador

  4. Temo que não seja neutro mas negativo o efeito da reforma da Previdência para o crescimento econômico. Na maioria dos municípios brasileiros (menores e mais pobres) predomina as aposentadorias por tempo de idade, enquanto nos munícipios maiores e mais ricos a aposentadoria por tempo de serviço. Nos munícipios com menos de 500.000 habitantes o número de aposentados por idade é de 8.548.193 enquanto os aposentados por tempo de serviço é de 3.465.176, já nos municípios com mais de 500.000 habitantes o número de aposentados por tempo de idade é de 1.923.145 enquanto os aposentados por tempo de serviço é de 2.577.735. Além disso o valor das aposentadorias por idade são em média inferiores as das por tempo de serviço. Só para se ter uma idéia, conforme nos informa o Relatório do Senado da CPI da Previdência, cerca de 70% municípios brasileiros o montante repassado aos aposentados e demais beneficiários do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) é superior ao valor do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e em mais de 80% desses municípios a verba originária da Previdência Social é superior à própria arrecadação municipal. Portanto, o objetivo declarado de aumentar o tempo de idade e de serviço colocados pela proposta de reforma da Previdência do últimos dois Governos (ilegítimos) vai representar uma redução no número de beneficiários do sistema previdênciário o que acabará tendo um duplo efeito depressivo sobre a economia: um primeiro efeito direto pela diminuição da renda e consequente no consumo das famílias e um segundo resultante dessa redução uma perda na arrecadação tributária. Isto quer dizer que essa proposta de reforma da Previdência não se sustenta mesmo considerando seus proprios e incorretos pressupostos de misturar e mesclar num mesmo saco problemas fiscais do Estado com o problema da Previdência Social.

  5. Explique Sr AA como Portugal saiu da crise e está crescendo a taxas muito boas. Será que é por causa disso aqui:
    13 – Que cortes ainda existem nas pensões?
    Este ano ficou marcado pelo fim da Contribuição Extraordinária de Solidariedade para pensões superiores a €1 000. No entanto, a CES ainda existe para as reformas mais altas. As pensões entre €4.611 e €7.126 sofrem um corte de 15% sobre o valor que excede os €4.611; e as pensões acima de €7.126 estão sujeitas a um corte de 15% sobre €2.515 e a um corte de 40% sobre o valor que excede os €7.126.

  6. Dos mesmos autores de “A Reforma Trabalhista Vai Gerar Milhões de Empregos”, vem aí “A Reforma da Previdência Fará o Brasil Crescer”. Em breve, em um cinema perto de você.

  7. Parabéns, novamente, pela lucidez do pensamento.

    Essa turma toda sabe que o que faz a economia brasileira crescer é o consumo das famílias.

    O problema é que a cartilha diz que precisa cortar. Logo, a esquizofrenia neoliberal até tem um diagnóstico correto, porém propõe o contrário, tirar dinheiro das famílias…

    O desastre da Dilma II na economia não serviu de alerta do que não fazer, mas essa turma até hoje acha que o erro foi não ter feito mais…

    Acho que está na hora de lançar o movimento Economia Sem Partido, pois o neoliberalismo cultural que os economistas recebem dos professores nas universidades está acabando com o país! O cortismo está acabando com a família brasileira!

  8. Não possuo o conhecimento histórico do André, mas essa reforma salvadora do Brasil – assim lemos e ouvimos na mídia – me faz lembrar das manchetes que o país quebraria por ocasião da implantação da CLT. Como diz o André, interesses sobrepõem análises.

  9. Eu endosso a sua análise, Araújo. Como você corretamente colocou o que faz um empresário aumentar os seus investimentos e contratar mais é DEMANDA, não é a aprovação de “reformas” (lembrando que na verdade é um desmanche da previdência).

    E não se cria mais demanda com medidas que visam esmagar o poder de compra da população.

  10. Portugal que e um exemplo muito citado de um país que saiu da crise e está crescendo de forma consistente fez uma reforma da previdência muito profunda inclusive passando por cima do “direito adquirido” impondo cortes ao recebimento de aposentadorias e pensões.
    Devemos deixar tudo como esta? Ou seguir o exemplo de Portugal?

    1. Gosto da sua lógica.
      Quando se tira dos privilegiados para dar lucro aos bancos é “reforma profunda” e deve-se ignorar até mesmo o direito adquirido.
      Quando se tira dos privilegiados para redistribuir ao povo é ” comunismo “, o pânico da classe média.
      Que tal seguir o exemplo de Portugal indo morar lá com a sua aposentadoria nivelada por baixo?

  11. Um Elemento afirmou:

    “Se a reforma da previdência social FOSSE aprovada, todos teriam as mesmas regras de aposentadoria. Políticos e altos funcionários se aposentariam aos 65 ANOS e passariam a contribuir e receber de aposentadoria tendo como base o teto do INSS de R$ 5.839,00. Na iniciativa privada já é assim: não importa quanto a pessoa ganha de salário, quando ela se aposenta recebe no máximo R$ 5.839,00. Imagina o dinheiro que seria poupado!”

    Quem seria o destinatário desse dinheiro poupado?
    Bem. Se fosse a própria população, não teria lógica poupar algo da população para devolver à própria população. Portanto, o destinatário desse dinheiro poupado não são os que mais precisam, mas os bancos e ricaços.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador