A triste saga das diplomacias de aluguel
por Andre Motta Araujo
No Século XX poucas diplomacias foram tão bem-sucedidas como a da antiga União Soviética. Os primeiros chanceleres da URSS vinham de famílias aristocráticas que precederam o período soviético. O primeiro chanceler, Geiorgy Chiecherin, era de família nobre de latifundiários, o segundo Maxim Litvinov, de pai banqueiro judeu de Kiev, o lendário Vyacheslav Molotov, filho de comerciante, cobriu o complexo período da Segunda Guerra, conseguiu o feito de viver até 1986, morreu com 96 anos.
A URSS no período stalinista, e logo depois, operou com uma máquina diplomática de primeira grandeza, conseguiu três cadeiras na ONU, a da Rússia, da Ucrânia e da Bielo-Rússia, mesmo sendo na prática um único país.
Mas o que tratamos neste artigo é a competente manipulação por Moscou das chancelarias dos países dominados da Europa do Leste, que operavam a serviço da Rússia fingindo serem países independentes.
A primeira grande operadora dessa prática foi a celebre ANA PAUKER, nascida Hannah Rabinsohn, a primeira chanceler mulher do mundo, Ministra das Relações Exteriores da Romênia de 1947 até meados dos anos 50. Fanática adepta de Stalin, Ana Pauker era a ponta de lança da diplomacia soviética disfarçada de Chanceler de um País soberano. Não foi a única. Outras chancelarias se prestaram a esse papel, notadamente a da Tcheslovaquia, operando como País independente se prestava a fazer aquilo que a URSS queria, mas preferia não por a cara. A Tchecoslovaquia sediava os famosos Congressos Mundiais da Paz em Praga, que influenciavam muito os meios de estudantes, jornalistas e ativistas em países emergentes e agitavam a cena europeia.
No lado do Terceiro Reich, durante os anos 30 e 40, diplomacias clássicas a serviço do nazismo era as da França de Vichy, que tinha Embaixadas no Brasil, no Egito, na Argentina e até em Washington em plena Guerra, a Bulgária e a Hungria dominadas pelos alemães tinham Embaixadas no Cairo mesmo no auge das batalhas entre as forças do Eixo e os ingleses no deserto líbio, são truques e estratégias diplomáticas clássicas, as “diplomacias laranjas”, fingem que representam um País mas estão a serviço de outro mais forte.
No começo da Guerra Fria, os EUA também tinham suas chancelarias de aluguel, a de Cuba antes de Castro, a da República Dominicana do ditador Rafael Trujillo antes de cair em desgraça, a da Guatemala depois da queda de Jacobo Arbenz, países que apresentavam moções que os EUA queriam mas preferiam não por a digital, eram votos certos na ONU e na OEA. As ordens vinham de Washington, diplomacias dirigidas por controle remoto do Departamento de Estado, faziam isso com orgulho de prestar serviço, uma honra.
Há no ar uma nuvem que pode levar a outrora orgulhosa e prestigiada diplomacia brasileira a se prestar a esse papel e fazer isso com alegria e gratidão.
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Se prestar ?
O Brasil já ESTÁ prestando esse papel.
Eh deprimente ver a diplomacia brasileira se prestando a um papel de tanta desonra e discrédito. Mas acho que a despeito de um tantã como Ernesto Araujo como canceler, a maioria ali não gostava do PT e devia achar a diplomacia de Celso Amorim muito esquerdista, dialogando com Irã, com Chavez, fazendo ponte em Cuba etc. Boa parte é uma pequena burguesia conservadora.
acho que é a primeira vez na história que um país com mais de 200 milhões de habitantes se presta a esse papel no campo da diplomacia. Palmas a gente ilustrada como famílias Setubal, Amador Aguiar e afins que apoiaram Bolsonaro só porque esse colocou Guedes, que deixou claro que ,pra manter o bem bom do rentismo, implode o país, se precisar. Até com dolarização o Beato Salú está flertando.