A vida das Evas e a morte dos Adãos, por Márcia Moussallem

do Observatório do 3º Setor

A vida das Evas e a morte dos Adãos

por Márcia Moussallem

Como não refletir a nossa vida e o mundo que vivemos, principalmente a condição de vida de tantas mulheres? Podemos fazer isso por meio da arte, seja pintando, escrevendo, nas músicas… são várias formas de darmos vida às nossas dores, tristezas e alegrias.

Muitos “Adãos machos” não compreendem a beleza e as expressões das mulheres. Como sempre, a grande maioria continua sendo atacada e queimada nas fogueiras, acusadas de bruxas.

As bruxas do século XXI continuam lutando, dançando, gritando, voando alegres na busca incessante pela sua liberdade. Os Adãos insistem em continuar a assassinar, sequestrar, silenciar e amordaçar as Evas, sejam suas companheiras, irmãs, namoradas, ex-mulheres…

Infelizmente não entendem que nós, mulheres, não somos objetos e brinquedos. Somos do planeta das emoções, do coração livre, da alegria, do amor, do prazer.

O que queremos é viver da nossa maneira. Renascer a cada dia nessa vida tão efêmera. Não queremos alcançar o topo da montanha para conquistar mentes e corações. Nossa ambição é outra… é alcançar o topo da montanha para voar, sentir o abraço do vento, o beijo do sol no rosto, o cheiro da natureza, a leveza das montanhas…

Muitas Evas falam, gritam para que os Adãos consigam sentir e enxergar essa imensa grandeza. Mas pelo contrário: são poucos que conseguem ter coragem de mergulhar nessas profundezas e voar ao lado das Evas.

Cansadas e cheias de cicatrizes, elas fogem, vão embora antes que seja tarde demais…

Infelizmente deu algo de errado no jardim do Éden. Eva até tentou, colheu e comeu a maçã da sabedoria e se deliciou com a vida. Pensou: “impossível sentir tanto prazer e liberdade sozinha, vou dar um pedaço para o meu companheiro Adão”. Porém, Adão com suas certezas de macho e sua eterna insegurança, ficou irritado e agressivo pois Eva deveria ficar quieta e obediente, cuidando somente do lindo jardim. “Isso não é coisa de mulher” …

Mesmo assim, comeu a maçã com muita raiva… de nada adiantou. Adão não sentiu o sabor da maçã, da sabedoria, da liberdade e ainda se engasgou e passou mal. Eva só conseguiu dar muitas gargalhas e disse: “como você é pequeno, meu querido Adão” … Depois foi embora com a sua cobra do pecado pendurada no pescoço e nunca mais voltou. Sozinha, jamais vazia…

*A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião do Observatório do Terceiro Setor.

Márcia Moussallem – É socióloga, assistente social, mestre e doutora em Serviço Social, Políticas Sociais e Movimentos Sociais pela PUC-SP. Tem MBA em Gestão para Organizações do Terceiro Setor. Professora da PUC-Cogeae/SP  e da FGV-Pec/SP. 

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