Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
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Ah, tá! Ministério Público quer capitalismo limpinho e cheiroso, por Armando Coelho Neto

Ah, tá! Ministério Público quer capitalismo limpinho e cheiroso

por Armando Rodrigues Coelho Neto

Tive acesso a um link do jornal Estadão com o seguinte título: “Promotoria pede o fim da Odebrecht, Camargo, Galvão, Servenge e Queiroz”. A matéria dá conta de uma ação civil pública, protocolada no dia 20 deste mês, na qual os representantes do Parquet paulista pedem a dissolução dessas empresas. Seus sócios, junto com ex-dirigentes do Departamento de Estradas e Rodagens de São Paulo (DER-SP), estão sendo acusados de improbidade – pagamento e recebimento de propina da Odebrecht, durante as obras da rodovia SP-255. As empresas também estariam envolvidas na operação Farsa Jato – ópera bufo-midiática da PF, permeada de lampejos moralistas Deltan-Sejumoriana.

Na visão da promotoria paulista, estaria bastante claro que as empresas adotaram procedimentos que inviabilizam suas próprias existências, já que os projetos tiveram apoio do Governo de São Paulo, Secretaria Estadual de Transportes, DER/SP, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) como principal financiador e o Governo Federal. Aduz a promotoria que a constituição de sociedades anônimas é condicionada à existência de objeto social lícito. No caso, as empresas teriam recorrido à prática “anticompetitivas criminosas”. Fala de má fé e pede punição, inclusive sob o ponto de vista de enriquecimento ilícito (Lei 8.429/92). No mais a ação civil percorre o caminho das leituras moralistas hoje em voga entre representantes do PF, JF, Ministério Público estadual e federal.

Refletir sobre o pretenso combate à corrupção no Brasil passou a fazer parte do maniqueísmo moralista. Como disse o ministro Gilmar Mendes, a canonização da Farsa Jato inviabilizou qualquer reflexão crítica sobre o que está havendo no Brasil. Corre-se o risco de ser rotulado de antirrepublicano, ainda que a lei sobre abuso de autoridade seja algo a ser repensado. No presente caso, criticar a maior farsa político-jurídico-entreguista da história recente do País significa ser corrupto ou defensor da corrupção. Desse modo, questionar a atitude do Ministério Público é uma ousadia satânica. O fato é que a judicialização da política no Brasil é um crime contra a sociedade brasileira sem precedentes.

O ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão deu uma entrevista para o jornalista Paulo Henrique Amorim, sob o título “Até nazistas salvaram empresas”. Nela, Aragão se declara perplexo com a seguinte fala de Sejumoro: “Eu não sei o que vai acontecer com o Brasil”, depois da Farsa Jato. Para Aragão, a assertiva representa “uma alienação completa quanto aos problemas nacionais”. Afinal de contas, diz o ex-ministro, “são milhões de empregos de pais de família que estão sendo riscados do mapa”. Na trilha da fala, PHA lembra que fontes da Central Única dos Trabalhadores estima que cerca de um 1,5 milhão de pessoas perderam seus empregos.

Durante a Alemanha nazista, a empresa Bayer fazia parte de uma poderosa  corporação da Alemanha, a IG Farben, juntamente com a BASF, a Hoechst AG. Segundo a enciclopédia virtual Wikipedia, como contrapartida de apoio para sua expansão e o investimento em uma tecnologia estratégica para suas empresas, o tal cartel doou 400 mil marcos para a campanha que ajudou Adolf Hitler. Entre os produtos daquele conglomerado, estava o gas Ziklon-B, que fora utilizado nas câmaras de gás para extermínio de judeus. A propósito, a IG Farben praticava o trabalho forçado e fazia experimentos científicos em seres humanos. O histórico do conglomerado, disse Aragão, não impediu que as empresas fossem salvas.

Como se pode observar, os empregos dos trabalhadores foram preservados, enquanto como fruto da Farsa Jato, em detrimento de milhões de empregos exterminados, a aplicação mais conhecida do recuperado foi o pagamento da conta de luz da PF curitibana, por parte de Sejumoro. Com propriedade, a senadora Gleise Hoffmann lembrou em discurso que a Farsa Jato deu um prejuízo de R$ 140 bilhões à Petrobras, em apenas um ano. Segundo ela, foi ridícula a publicidade em torno da recuperação de R$ 653,9 milhões da petrolífera, quando comparados aos investimentos feitos na estatal no governo de Dilma Rousseff (Fora Temer!). Entre 2010 e 2014, a Petrobras recebeu investimentos na ordem de investiu R$ 472 bilhões. Sob essa óptica, o leitor pode concluir que o combate à corrupção não passa de uma farsa com metas obscuras.

Neste GGN, o jornalista Luís Nassif registrou os prejuízos causados por um “dele-fantoche” contra uma grande empresa fornecedora de carne brasileira no mercado internacional. É sob essa perspectiva que convido o leitor a examinar a notícia veiculada pelo Estadão, sob o título, “Promotoria pede o fim da Odebrecht, Camargo, Galvão, Servenge e Queiroz”. Corrupção não se combate com pirotecnia, moralismo, greves de fome (fake), nem com PowerPoint. Uma breve consulta na internet mostra, por exemplo, que a Odebrecht daria emprego a 93 mil empregados, a Queiroz e Galvão 40 mil e a Camargo Correa algo em torno de 23 mil. Servenge? Como diz o velho ditado, querem matar a vaca para acabar com os carrapatos.

Num recente artigo veiculado na revista eletrônica Conjur, Jean Keiji Uema, mestre em Direito Constitucional pela PUC-SP e analista Judiciário do Supremo Tribunal Federal, dá conta de estudos sobre “prosopografia”. Explicando, trata-se de uma biografia coletiva de determinado grupo social ou político. Conforme o estudo, Sejumoro e demais oficiantes da Farsa Jato integram a elite política e judiciária, têm posições politicas ideológicas com um mesmo perfil e formariam uma espécie de rede, com intenções e interesses em suas ações. São culturalmente alinhados ao percentual do 1% dos mais ricos do Brasil.

Pelo jeito, todos passíveis à crítica de Aragão à Sejumoro registrada lá em cima, quanto à precariedade de alcance na cosmovisão. Consciência social zero, parecem convictos na adesão da pratica abusiva e irregular. Agem fora da lei por convicção e propósitos definidos. Encorajados pela grande mídia, pelo poder econômico e pela glamourização de pretensos salvadores da Pátria, seguem a duvidosa cruzada. O descumprimento da ordem do desembargador Favreto há pouco tempo revela bem essa sintonia.

Ocos quanto à questão social e seduzidos por holofotes, na base do farinha pouca meu pirão primeiro, olhos voltados para seus próprios umbigos, atropelam a lei na  obsessão de combater a ameaça comunista. Sob esse mote, assim como o parquet paulista, sonham com um capitalismo limpinho e cheiroso. Ah, tá!

 Armando Rodrigues Coelho Neto – jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo

 

 

Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

9 Comentários

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  1. ..só quem, pequeno, precisa

    ..só quem, pequeno, precisa dessa CANALHADA, sabe o quanto são hipócritas e VAGABUNDOS estes camaradas do MP

    Bom seria se o nome dos promotores fossem expostos aos leitores

    Seres inservíveis, demogogos, INEFICIENTES e IGNORANTES em seus afazeres, proto ditadores, munidos de espírito de CORPO, verdadeiros nababos vitalícios e inimputáveis que tal qual os magistrados estão ajudando a AFUNDAR – com suas limitações INTELECTUAIS e arrogâncias laborais – a destruir o BRASIL

    que cacete ..parece que isso não vai ter fim ?!

  2. O pior é que as pessoas que

    O pior é que as pessoas que fazem estes documentos estão plenamente convictas de que, fazendo falir empresas brasileiras que produzem empregos estas “renascerão” nas mãos de gente honesta – e que conseguirão ser competitivas no mercado.

    Cada vez mais me convenço de que as grandes burradas deste país são fruto da mistura de oportunistas sem-noção e ingênuos construtores de castelos de vento. Uns fazem as besteiras, os outros as complementam e aprimoram.

  3. Traidores da Pátria

    Todo dia surgem fatos novos que dão consistência àquela acusação de que Ministério Público, Tribunais e Polícia Federal estão dominados por traidores da pátria.

    Quando o respeitável e equilibrado jurista Fábio Konder afirma que Moro é um agente dos EUA, então a coisa é muito pior do que nós, cidadãos anônimos, podemos supor…

  4. Dissolver pra quê…

    … se é tão mais prático estatizar?

    Sei, sei, o Estado não deve ser dono de empresas. Então estatiza e privatiza de novo, dessa vez olhando bem a folha corrida dos eventuais compradores. Melhor. Reprivatiza através de uma grande loteria, pra evitar risco de fraudes no leilão. E quem sabe o Zé da Silva lá de Cruz das Almas ou a Maria Pereira lá de Olho d’Água dos Borges não vira dono da Odebrecht, hein? Que tal, em termos de capitalismo democrático?

    … mas o que essa turma quer é vender as empresas como sucata, que sai mais barato para os interessses que eles patrocinam (mediante paga, se forem corruptos, como parece; de graça, se forem imbecis, como… também parece).

  5. O mundo encantado do MP

    Em que mundo vive esses procuradoes? Essa gente pensa que o dinheiro que paga seus bons e altos salarios, além de cursos, viagens, auxilio-qualquer-coisa, dah em arvore. So pode. Destruam o Brasil. Destruam bem destruido e depois se mandem para lavrar pratos e outras coisas em Miami e quetais. 

  6. Fecha, fecha, fecha…

    Nassif: apoio a medida. Pô, Gogoboy também gosta de dindim. Grana só prá político? Os meliantes nem deram caixinha pro salve. Assim não dá! Nem todos eles têm Greecard, como alguns Verdugos iluminados. Os caras ralaram pra pegar o bando opositor e vão morrer na praia, onde já se viu?

    É por essas e outras que o PJ (Partido do Judiciário) vai lançar candidato próprio.  Já imaginou Verdugo Presidente e Gogoboy Vice? Vai ser a glória… 

  7. A burrice dessa gente é

    A burrice dessa gente é ilimitada.

    Pena que o avanço do tempo é devagar… levaremos pelo menos 5 anos para vermos o resultado dessas burradas morderem seus criadores na bunda.

  8. Por que não pedem o fechamento da Volkswagen?

    A Volkswagen foi pega na maior maracutaia enganando clientes, órgãos de controle ambiental e outros com um sistema infomártico que tentava enganar os testes de controle de popuição. Seus carros a diesel, inclusive vendidos no Brasil, tinham emissões de particulados que chegavam a quarenta vezes mais do que o permitido nas legislações ambientais.

    Devido a isto o MP brasileiro deveria pedir o fechamento da Volkswagen do Brasil.

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