Algo misterioso acontece no subterrâneo de Brasília, por Laurez Cerqueira

No Brasil, parece que as instituições e as autoridades responsáveis pela defesa da Constituição e do Estado democrático de direito se acovardaram

Algo misterioso acontece no subterrâneo de Brasília

por Laurez Cerqueira

No dia 23 de fevereiro de 1981, um grupo de militares herdeiros do ditador Francisco Franco, liderados pelo tenente-coronel Antônio Tejero Molina, tomou de assalto o parlamento do Governo de Espanha,

De metralhadoras em punho, Molina e sua tropa  invadiram o plenário.Ele subiu na tribuna e gritou: “quieto todo el mundo” e anunciou o golpe de Estado.

Ordenou que todos os parlamentares deitassem no chão com as mãos na cabeça e os militares dispararam rajadas de metralhadoras rentes aos corpos, para intimidar.

No final da quartelada, os oficiais Milans del Bosch, Alfonso Armada e Antonio Tejero Molina foram presos, pegaram uma cana de 30 anos, condenados pelo Conselho Supremo da Justiça Militar, e foram expulsos das forças armadas. Os aderentes de baixa patente também foram expulsos e condenados.

Naquele momento, a Espanha havia reconstruído e fortalecido suas instituições, depois do regime fascista de Francisco Franco, e pôs fim às ameaças de regimes ditatoriais. Enquadrou os militares nos quartéis e consolidou a democracia.

No Brasil, parece que as instituições e as autoridades responsáveis pela defesa da Constituição e do Estado democrático de direito  se acovardaram com as bravatas de Bolsonaro e se recolheram num gueto.

Estão se acostumando com a escalada autoritária dele e seus fanáticos seguidores, alimentados pela rede criminosa de fake news, montada para derrubar a presidente Dilma e elegê-lo.

A situação não pode mais ser tratada pelas autoridades competentes com notas e posts no twitter, como estão fazendo. Há crimes de responsabilidade de sobra para abrir o processo de impeachment.

Para derrubar Dilma, condenar e prender o ex-presidente Lula, sem provas de crimes, e impedi-lo de se candidatar nas eleições, as autoridades judiciárias foram ligeiras.

O que está colocado para o país é a incapacidade de Bolsonaro governar  e a constante ameaça à democracia e às instituições.

Ficou claro que ele se transformou num problema para o combate à pandemia e absoluta falta de preparo para enfrentar a grave crise econômica que desponta no horizonte.

Seria patética uma quartelada com Bolsonaro como um Tejero Molina numa invasão do Congresso e do STF. As condições para um golpe militar no novos tempos são muito diferentes das de 1964.

O mundo mudou muito. Os militares saudosistas da ditadura precisam entender que o Brasil não vive entre quatro paredes.

Não só pelo fato de estar exposto ao mundo pelos modernos meios de comunicação, mas porque ali mesmo, nas cercanias da Praça dos Três Poderes, em Brasília, estão instaladas 128 embaixadas que, obviamente, seus serviços de inteligência enviam frequentemente relatórios aos governos dos seus respectivos países com informações sobre os acontecimentos envolvendo o governo brasileiro. E isso tem um peso político considerável nas relações internacionais.

Além disso, Bolsonaro está completamente desmoralizado. Virou chacota em todo o mundo. É considerado um aspirante de ditador, herdeiro de Hitler. Uma figura tragicômica.

O sinal está fechado para Bolsonaro e seus fanáticos seguidores. Ele está desesperado com o isolamento. Os filhos comandam o “Gabinete do Ódio” e a máquina produtora de fake news  está a todo vapor causando um  sério problema, principalmente para a comunidade médica que está à frente do combate à pandemia…

Mas ele começou a perceber que a tática de ataques e recuos está se esgotando e chegou ao limite da tolerância institucional. Algumas instituições já deram sinais de vida.

O STF, a pedido da Procuradoria Geral da República, abriu processo de investigação da organização dos atos, com a presença de Bolsonaro, que pedem fechamento do Congresso, do STF e um novo AI-5.

O Superior Tribunal de Justiça se pronunciou a respeito do processo de Flávio Bolsonaro dizendo haver fortes indícios de crimes graves e  organização criminosa comandada por ele.

A retirada da família Bolsonaro da vida pública pode começar pela condenação e cassação dos mandatos dos filhos.

Dependendo do andar da carruagem,  o impeachment de Bolsonaro poderá ser cirúrgico, rápido, na velocidade da contaminação do Covid-19.

Mourão deve estar esfregando as mãos. A nota do Ministério da Defesa é puro muro. A caserna pode estar articulando o descarte de Bolsonaro para empossar Mourão. Cheira conspiração de gabinete em Brasília, envolvendo PGR, STF e Congresso.

Bolsonaro carrega um Tejero Molina no peito. Resta saber se ele irá conter seu Tejero Molina interior e seguirá silencioso para o matadouro ou tentará, com seus iguais,  invadir o Congresso e o STF, assumindo o risco de todos levarem uma cana, como fez o judiciário da Espanha.

Redação

14 Comentários

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  1. “Para derrubar Dilma, condenar e prender o ex-presidente Lula, sem provas de crimes, e impedi-lo de se candidatar nas eleições, as autoridades judiciárias foram ligeiras.”
    Sim, foram ligeiras e infligiram todas as regras do convívio democrático e do estado de direito para consolidar o golpe.
    E fizeram isto porque estavam tendo suporte dos militares, dos donos das armas. Eles estiveram o tempo todo por trás do golpe iniciado em 2013 e consolidado em 2016.
    Contaram com os oportunistas do PSDB que acreditaram que sairiam ganhando e voltariam ao poder, é claro. Mas, por trás sempre estiveram o militares, eternos traidores do país.
    Agora, os donos das armas estão no poder e para tirá-los de lá será necessário o uso de armas letais e não de palavras e notas no twiter.
    Quem empunhará estas armas para combatê-los?

    1. É coisa de lojistas……. depende da benemerência…… rápido pra umas coisas, lerdo ou parado para outras….até os milicos são lojistas, não sei porquê já que o sistema deles é diferente….

  2. Meu amigo…que esperança! Infelizmente Bolsonaro não só vai ficar como será reeleito com folga ainda maior que em 2018. Por duas razões: porque as instituições são covardes e porque não existe oposição – estão todos soltando notas de repúdio e fazendo petições on line no twitter.

  3. As instituições políticas no Brasil são covardes. Ou melhor, seus agentes públicos são covardes. Não tomam decisões sem pedir o aval dos banqueiros, agroexportadores, grandes empresários, donos da mídia et caterva.
    São meros intermediários, medrosos para exercer um pingo qualquer de autonomia decisória. Devem favores por terem chegado onde chegaram. Desde o império é assim. A meritocracia dominante do Brasil é aquela baseada no favor e na sabujice.
    Se algum doido quiser bancar um Molina, vai fazer isso facilmente. Não vai se sustentar, porque os donos da banca vão cobrar atitudes dos agentes públicos. Aí eles se enchem de coragem e fazem algo. Não sem antes escreveer mais um ato da ópera bufa chamada Brasil.

  4. Àqueles que receberam a missão de agir em defesa da Constituição e, portanto, da Democracia, nao é dada a opção de agir com covardia, sob pena de passarem para o lixo da história como traidores da pátria.
    O Brasil precisa que todos cumpram seu papel constitucional. E tem que ser já, sob pena de transformarmos o futuro de nossos filhos e netos num inferno de sangue e lágrimas.
    Chega de ditadores, de milicias, de corruptos, de assassinos, de falsos profetas.
    Basta!

  5. É o grande acordo nacional, com o stf, com tudo…todos têm o rabo preso. Nenhuma “instituição” é séria. O ser abjeto que está na presidência já aprontou mais do que o suficiente para ser retirado, mas nada acontece. O Brasil não é um país sério.

  6. Na tentativa de golpe de 1981, o primeiro ministro Adolfo Suárez e o vice, general Manuel Gutiérrez, desafiaram os golpistas armados que invadiram o congresso, ficando de pé enquanto todos se jogavam ao chão para escapar dos tiros, e depois enfentando diretamente o comandante dos golpistas. Quem faria isto no Brasil hoje? Todos, da esquerda à direita, parecem esperar que as instituições que fizeram o golpe o desfaçam por vontade própria, ou que haverá eleições livres em 2022, mesmo tendo intervenção judiciária e militar na anterior.

  7. Se formos depender de nossas instituições, vamos morrer de fome ou covid-19

    Não temos instituições funcionando e, por alguma razão tá difícil de entender isso.

    Sugiro que, quem está nas cidades , se junte ao MTST e quem está no campos ao MST. Dessa forma, eliminamos as disputas na esquerda e concentraremos esforços tanto, nos centros urbanos qto no campo. E

    Perdemos a disputa e precisamos nos reorganizar. Midiciário,MP,FFAA, jamais trabalharam no sentido de equilibrar as disputas na sociedade. Desde sempre, entram em cena para desequilibrar o jogo CONTRA a população,em favor das elites,da qual fazem parte. Então, se,hoje, Bolsonaro e, seu grupo chegaram onde estão, foi única e exclusivamente, em função da intervenção das tais instituições democráticas,CONTRA a sociedade.

    Hoje,resta evidente, que, esse grupo está, completamente,fora do alcance da justiça e, com carta branca para barbarizar o país. São livres não só para promover buzinaços em frente a hospitais, ameaçar de morte quem discorda de seus pontos de vista,apontar armas para comunidades que ousam não sair para trabalhr pra eles,etc…

    Lembrando,sempre que estão armados, até os dentes e, com carta branca para barbarizar a nação,precisamos decidir o que queremos fazer,cientes de que as instituições que estão inertes,até, agora, no exato segundo em que, algum grupo resolva reagir, levantar-se-ão, cheias de autoridade e moral, para garantir que a sociedade permaneça no seu lugarzinho, esperando a fome ( pq o tal de auxílio,não virá para obrigar o povo a se jogar nos braços do vírus) ou a contaminação.

    A decisão é nossa,mas, até que decidamos, podemos prejudicá-los,muito. Fiquemos em casa!Nossa única arma é FICAR EM CASA. O desespero deles é,muito maior que o nosso. Nosso trabalho vale MUITO mais pra eles que pra NÓS!

    O governo,não deixou todo mundo sem dinheiro? Agora,é todo mundo deixar eles sem trabalhador. Primeiro, o governo PAGA e, DEPOIS, a gente pensa,no que PODE fazer pra colaborar

  8. Mandam o Cap. embora e assume uma junta composta pelo Coelho Branco, o Gato de Cheshire e a Lebre de Março !
    E o dia de Jabberwocky sera o novo 7 de setembro!

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