Conexões – espiritualidade, política e educação - Dora Incontri
Dora Incontri é paulistana, nascida em 1962. Jornalista, educadora e escritora
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Algumas luzes no fim do túnel brasileiro? Por Dora Incontri

É preciso que se quebre essa cadeia patológica de submissão servil e de abuso sádico, para que haja um processo de libertação. Dá-lhe educação que emancipe e terapia que cure.

underground rail tunnel with light show in shanghai

Algumas luzes no fim do túnel brasileiro? Por Dora Incontri

Estamos num momento extremo no Brasil, de um governo que destrói, abandona, não se responsabiliza, entrega nossos bens, escraviza… é um (des)governo que está praticando um genocídio descarado, sem disfarce. E parte da população se atira à autodestruição, mitificando ainda o carrasco, numa atitude no mínimo masoquista. Aliás, todo sistema de dominação, precisa de um dominador sádico e de um dominado masoquista, que por sua vez, pode exercer seu sadismo com outro que lhe está ao alcance.

É preciso que se quebre essa cadeia patológica de submissão servil e de abuso sádico, para que haja um processo de libertação. Dá-lhe educação que emancipe e terapia que cure.

Entretanto, temos visto alguns movimentos na sociedade que nos apontam alguma esperança: cito aqui esse brado internacional do #vidaspretasimportam (#blacklivesmatter) e um novo movimento, lançado agora nesse mês de julho, #liberteofuturo, de que qualquer pessoa pode participar, com um vídeo, um sonho, uma proposta. Ver o site: http://liberteofuturo.net

Observa-se também, como na ausência de políticas públicas decentes, justas, humanitárias, algumas comunidades estão se organizando para dar conta dos desafios da pandemia. Lemos no noticiário que uma das maiores comunidades de São Paulo, a favela de Paraisópolis, tem obtido índices muito menores de óbito, em relação à média da cidade, porque está gerindo por si mesma a crise, numa filosofia, que eu diria, anarquista – organização de base, com lideranças populares…

Assim, vemos que a força que emana do povo, seu ímpeto mais profundo por liberdade, justiça e vida, não consegue ser erradicada e vai abrindo trilhas de transformação.

Estou convencida de que mudanças sociais significativas só podem ocorrer a partir da base mais ampla da sociedade e não de um punhado de gente enquistada no poder, que por melhores intenções que possam ter (o que não é o caso de nosso desgoverno atual), sempre misturam seus próprios interesses, sua embriaguez com o poder, suas paixões pessoais e acabam por desviar do roteiro prometido, pelo qual se elegeram com o voto do povo.

Eu não acredito muito em democracia representativa – embora a prefira, claro, a uma ditadura assumida (digo assumida, porque mesmo numa democracia, há muita opressão, porque ela está inserida num sistema de capitalismo excludente, que encarcera grande parte da população e a separa através de um sistema de classes, de educação e de organização política). Acredito em povo ganhando consciência, se levantando, se organizando em projetos autônomos, sustentáveis e independentes do capital e do Estado, porque o Estado está em última instância, sempre a serviço do capital, e nos melhores casos, dá uma gorjeta mais polpuda em benefícios para o povo. No neoliberalismo vigente e protegido por esse (des)governo brasileiro, nem uma esmolinha quer se dar em políticas sociais.

É preciso que o povo desperte, se organize, faça ao mesmo tempo desobediência civil e autogestão comunitária, de modo que possa oferecer ao mundo um modelo novo de sociedade, sem Estado, sem patrão… Como espírita, não digo sem Deus, mas numa concepção de Deus que não pune, que não interfere em nossas escolhas e é amor, misericórdia e inteligência imanente. E é justamente o pressuposto de uma centelha divina em nós, que dá a garantia, ou ao menos a esperança, de que podemos caminhar adiante, para chegar a esse mundo igualitário, fraterno, cooperativo e justo.

Conexões – espiritualidade, política e educação - Dora Incontri

Dora Incontri é paulistana, nascida em 1962. Jornalista, educadora e escritora

6 Comentários

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  1. Nesse forçoso isolamento tenho lido muito,tenho procurado saber o pensamento de pessoas com conhecimento da historia do Brasil e seu povo.
    Não a história dos livros,essa foi escrita pelos vencedores mas sim a história dos derrotados a história do povo brasileiro,sua formação,seu adestramento ideológico; obra dos vencedores.
    Leio tanto que as vezes me perco e perco a origem a autoria a hospedagem de textos,depois ao tentar dormir fico na cama torturando a mente tentando lembrar em qual artigo qual articulista disse algo.
    Uma frase me chama a atenção; “Falhamos enquanto Nação”.
    Sim falhamos! Falhamos quando por três mandatos não percebemos a atuação dos Estados Unidos contra o povo Brasileiro,contra o crescimento político,ideológico do Brasil,
    Contra o papel máximo de protagonismo que estávamos atingindo no mundo.
    Estávamos em festa inebriados por conquistas que até então desconhecíamos enquanto eles estavam em guerra recebendo ajuda de traidores no judiciário,na imprensa,no congresso e no empresariado.
    E eu tenho lido procurando um consenso uma saída nas idéias daqueles com mais saber que eu e não encontro.
    A maioria do povo ainda crê,ainda sonha com eleição eu ainda sonho com revolução.
    É a única saída que vejo diante de todas instituições corroídas,corrompidas pelo poder que acreditam ter quando o poder é do povo não desse povo mas do povo dos meus sonhos,do povo altivo,combatente,sem medo de morrer e se preciso for;matar pelo seu sonho de um País mais justo,mais igual mais humano.
    Nós falhamos enquanto Nação quando combatemos o ódio com amor,quando optamos pelo perdão em detrimento a justiça,quando aceitamos a anistia política de assassinos,estupradores e torturadores,nos enterramos ali quando permitimos sonharem com seu retorno…e retornaram.

    1. Parabéns pelo comentário. A maioria da população brasileira infelizmente não possui o embasamento intelectual que você possui. Assim, não conseguem distinguir quem são os verdadeiros inimigos… Concordo com suas assertivas e tenho certeza que não temos muitas opções para promover as mudanças necessárias para a implantação de um país mais justo, humano e igual. Radicalizar será necessário.

  2. Muito bom! beleza de colocação…
    faz-se importante ressaltar, portanto, que praticamente todos os sistemas particulares de proteção social que foram acionados funcionaram, e ainda estão funcionando, muito bem

    interessante é que não foi o Estado quem acionou, foi gente do povo com a ajuda de algumas empresas

    O que ainda me faz crer que será com a falta do desenvolvimento político, algo que o Brasil nunca teve ou terá, que poderemos nos igualar, via pessoas de bom coração, aos países com sistemas capitalistas avançados

    Que só a bondade toque o coração de cada brasileiro. E sairemos dessa com certeza

  3. Boa tarde Sra Dora!

    Com todo o respeito que todo ser humano e ser vivo merece, eu desejo sugerir um texto de sua autoria/opinião sobre o papel/função do espiritismo e espíritas brasileiros diante da histórica realidade do país e mundo. Ficarei muito agradecido.

  4. Luíz Mattos : Compartilho com essa visão ! Entretanto não posso censurar aqueles , que talvez até por uma questão de virtudes, que embasam os corações mais idealistas, e que sonham com horizontes melhores quanto a fraternidade e igualdade entre os homens, que buscam isto de um modo mais conciliador !
    O mundo dos humanos realmente caminha para uma auto destruição, mais cedo ou mais tarde, pois nenhum sistema , genérico , pode existir , com tamanha disparidade entre seus elementos internos.
    Mediante isso, entendo que para não possibilitar que apenas uma parte do conjunto sofra as maiores consequência nefastas desse desequilíbrio de forças, busque-se através de toda as formas possíveis, condições para obter-se os menores desgastes para a sua parte mais desfavorecida, enquanto da existência desse sistema.
    Mesmo assim , em função dessa busca de equilíbrio , tenderá a leva-lo a auto destruir-se ( ao longo talvez de mais alguns séculos ).
    Nem por isso deve-se abrir mão pela busca por igualdades, que o horizonte de hoje nos induz a admitir que só a força provavelmente possibilitaria .

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