Alguns comentários sobre a crise política brasileira na última semana, por Leonardo Avritzer

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Alguns comentários sobre a crise política brasileira na última semana

por Leonardo Avritzer

O que passa o Brasil na última semana não é apenas uma greve de caminhoneiros com bloqueios de estrada. É um aprofundamento de uma crise política e moral que começou depois das eleições de 2014. A crise tem diversos centros, mas dois são relevantes para entender o que está passando no país dos últimos dias: a presidência da república e a Petrobrás.

Para derrubar e retirar Dilma Rousseff do poder foi necessário enfraquecer a instituição política mais ativa no país, a presidência da república.Vale a pena lembrar os passos que foram dados para desqualificar a presidência. Alteração de idade para aposentadoria de ministros do supremo logo após a eleição no início de 2015; anulação da nomeação de ministros pela presidente e gravação da presidente pela Lava Jato sem punição. Mas a lista é longa e envolve mais coisas no governo Temer. Anulação do indulto natalino e porque não dizer a desvinculação da política de petróleo da presidência saudada como um grande avanço em editoriais na grande imprensa.

Vale a pena enfatizar que a Petrobrás se encontra no centro da crise política desde 2014. A oposição ao governo Dilma e ao P.T. se centrou na Petrobrás de múltiplas formas.Setores conservadores da política local e internacional não se conformaram com o sistema de partilha do Presal e especularam fortemente contra a empresa. Claro que não cabe aqui ignorar os erros do governo Dilma em relação à Petrobras que foram muitos, principalmente um investimento crescente no Presal que comprometeu as finanças da Petrobrás em um momento que o preço do Petróleo já caia fortemente. Segurar o preço da gasolina em 2014 também foi um erro, assim como reajustá-lo tão fortemente depois das eleições. Mas, a política do governo Temer de independizar a Petrobrás do governo e liberar aumentos ao sabor do mercado e dos investidores foi um erro ainda maior. A Petrobrás sempre cumpriu o objetivo de amortecer no país grandes variações ínternacionais do preço do Petróleo, tal como todas as grandes empresas estatais de Petróleo o fazem. Aliás a Petrobrás é a única empresa estatal de Petróleo que é negociada em ADRs na bolsa de NY. Pior ainda é a frequência dos reajustes que desestabiliza a situação econômica dos caminhoneiros independentes.

Acho que os elementos que surpreendem na greve dos caminhoneiros estão relacionados à análise acima. A greve é forte por dois motivos:por que ela finalmente expressou em um movimento de massas a insatisfação com o governo Temer que se via nas pesquisas de opinião pública mas não se via nas ruas; em segundo lugar, porque as causas do movimento são vistas pela população mais ampla enquanto causas justas. A reação do movimento à primeira negociação com o governo Temer já mostrou que este é um governo que está completamente na lona, que faz afirmações para além do negociado e não cumpre o que promete. A humilhação pela qual o governo passou acabou se transformando em mais uma etapa do processo de enfraquecimento da presidência que será um dos principais desafios do próximo presidente.

Discordo daqueles que julgam a greve dos caminhoneiros por ações anteriores da categoria contra o governo Dilma. Esta é uma atitude anti política. A grande questão que está colocada para recuperação da esquerda no Brasil é a capacidade de atrair setores que apoiaram o governo de esquerda até 2012 e deixaram de apoiar. A relação com estes atores será decisiva para o desfecho da atual crise. Também discordo daqueles que veem no movimento um movimento homogeneamente conservador. O movimento é mais um destes movimento descentralizados e organizados pelo whatsapp que contem diversos atores e as forças de esquerda devem saber fazer política para atraír parte deles.

Leonardo Avritzer

11 Comentários

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  1. Uma amiga que trabalha com
    Uma amiga que trabalha com educação infantil em Itanhaém SP me informou que amanhã e depois as Escolas da cidade serão fechadas por falta de merenda. O usurpador Michel Temer e seu cachorro na Petrobras conseguiram revogar o direito a educação das crianças.

  2. O poder da mentira

    O Mantega e a Dilma nesta não falhavam, sacaneavam o mercado, mas protegiam o povo.

    Deixaram saudades.

  3. Hora de ação

    O governo golpista criminoso dos pilantras está na lona e a rede esgoto nas cordas.

    O que esperam, bostinhas?

    É do Rui, assino e estou com ele.

     

  4. Os ‘blackblocs’ do Boçalnaro.
    Os ‘blackblocs’ do Bolsonaro

    POR FERNANDO BRITO · 28/05/2018

    Não vê quem não quer que o que remanesce no bloqueio das estradas é a parte – e não necessariamente pequena – de caminhoneiros e – autonomos e empregados de transportadoras – ligados ou manipulados por gente de extrema direita ensandecida.

    Impossível ignorar as dúzias de faixas, vídeos e reportagens de um sem-número de empresários, de todos os portes, dizendo que “não é só pelos 46 centavos” e exigindo a intervenção militar.

    Eu mesmo assisti um empresário de Sorocaba conclamando a derubar o Governo Temer por ser…comunista!

    Os relatos de que grupos destes sujeitos intimidam com ameaças ou até com depredações os postos que recebem combustível não deixam dúvidas sobre o grau de fanatismo que praticam.

    Recomenda-se a leitura de matéria da Folha, esta tarde:

    “No fim da tarde desta segunda, um grupo de cerca de mil manifestantes obstruíram parcialmente a região da Praça dos Três Poderes e a Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Eles pediam a volta da ditadura militar, a saída do presidente Michel Temer e a queda do preço da gasolina.”

    Meter-se com este grau de irracionalidade política, como querem alguns, é mais que imprudência, é suicídio político.

    A esquerda é passageira neste caso e não deve pedir carona.

    O foco é a necessidade de que a Petrobras seja uma empresa pública que olhe pelo interesse público. Sua reestatização, não sua privatização como vem sendo feita pela dupla Temer-Parente.

    Não há razão para aderir ehá todas para recusar a promiscuidade com os blackblocks do Bolsonaro

  5. Era uma vez…

    Era uma vez um Grande Revolucionário, e um dia o povo veio à casa do Grande Revolucionário, gritando e chamando:

    – Grande Revolucionário! Ó Grande Revolucionário! Venha conosco, há uma revolução acontecendo!

    O Grande Revolucionário veio até à janela, e perguntou:

    – Mas haverá hippies nessa revolução?

    – Ah, sim, há hippies na revolução. E todo o resto do povo também.

    – E haverá gente religiosa lá?

    – Ah, sim, há gente religiosa lá, espíritas e evangélicos e católicos, e até alguns budistas e mórmons. E todo o resto do povo também.

    – E haverá soldados lá?

    – Ah, sim, há soldados, marinheiros, fuzileiros navais e bombeiros. E todo o resto do povo, também.

    – E haverá prostitutas também?

    – Ah, sim, há prostitutas, e até alguns cafetões lá. E todo o resto do povo também.

    – E há gente de gravata?

    – Ah, sim, tem gente de gravata na revolução, e de jeans, em em farrapos, e em uniformes do McDonalds. E todo o resto do povo também.

    – Então sinto muito, mas não é uma revolução de verdade, pois se há inimigos do povo, como cafetões e soldados e mórmons e freiras e hippies e toda essa corja, não pode ser a Pura, Pristina, Perfeita Revolução com que eu sonho.

    *****************************

     

    E assim o povo foi à sua revolução, e o Grande Revolucionário ficou em casa, explicando à internet, pelo seu computador, por que a revolução não era uma Verdadeira Revolução. E assim o povo teve de fazer sua revolução sem o Grande Revolucionário. Mas o lado bom da coisa é que o povo na verdade não precisava do Grande Revolucionário, porque uma revolução é para ser feita por hippies e espíritas e soldados e putas e gente de gravata e gente em farrapos… e todo o resto do povo também.

  6. As três marionetes.

    Três pessoas que aparentam ter vida própria estão em cena, mas nenhuma delas possui liberdade de atuação. São marionetes comandadas de fora, dos “Isteites”. Quem pensou em dois presidentes e um árbitro, acertou. Aliás, foi o árbitro de Curitiba quem deu início a esse caos por que passa a população do país. Ele parece ter recebido uma espécie de autorização para ignorar algumas leis, modificar outras e até inventar procedimentos para atingir os objetivos pré-determinados. Mas, pré-determinados por quem? Provavelmente pelo FBI, Cia, NSA, Depto. De Estado e outros, caso existam. Ingerência de um lado e ódio de outro. Para ser retirado do cargo (e preso) só com autorização dessas “ilibadas instituições” acima.

    O presidente menor, mas não sem importância, parece obedecer aos investidores internacionais, também conhecidos como fundos abutres. Quando foi colocado no cargo da estatal Petrobras já sabíamos o que viria. E não esperem nada de diferente do que ele vem fazendo porque ele não sabe fazer. Também não esperem declaração de mea-culpa ou pedido de demissão, pois eles não virão. Esse ainda pode ser demitido, mas os fundos abutres não vão gostar, já que o plano vinha dando certo para eles, não para o país.

    E o presidente maior, quem o garante? Talvez um pouco de cada um dos interessados, tais como, Globo, Fiesp, Febraban e outros. Nenhum deles tem por objetivo o bem do país, incrível. Talvez até o Trump seja um dos fiadores, tendo em vista que os “Isteites” são os principais beneficiários do que vem ocorrendo por aqui.

    A pergunta é: Como retirar essas três marionetes do palco para o país voltar a ser um país?

  7. Uma noite de produção GGN,

    Assunto da hora, Ministro Gustavo Bebianno e a crise no governo Bolsonaro. Não aprendem políticos, não aprendemos nós. Diante a fritada em cadeia nacional, continuamos a olhar o véu sem focar no que tem além dele. O que Bebianno, pessoa, ou Bolsonaro, idem, irão fazer, deveria ser as menores das preocupações. Continuamos com as velhas e enferrujadas falhas comportamentais. Ninguém ou quase ninguém foca no principal, investigado e comprovado o envolvimento de práticas ilegais em campanha, é dinheiro público envolvido e burla eleitoral, logo crime. Isso sim importa e pelo visto ainda falta muito prego a na madeira. Se comprovado, atinge em cheio o coração do partido PSL e por conseguinte, a candidatura Bolsonaro. Em relação a este, oferecimento de cargo em estatal e até em consulado no exterior, apenas mostra mais uma faceta importante do episódio, o discurso de “cargos serão ocupados apenas por qualificação técnica”, cai por terra quando, em desespero de afogamento em massa no partido, se oferece em feira pública tais posições. Nos parece mais um aceita esse cargo e fica na sua do que a preocupação de combater os maus feitos. Pode provar também o receio da âncora lançada ao fundo carregue quem estiver preso aos elos. A questão central é… Todo o moralismo e a bandeira erguida em campanha pela anti-corrupção numa nova era política parece ter ficado em 2018. Trocaram a promessa de uma nova política em troca de votos, os votos foram dados mas a política permaneceu a mesma. Flertamos com a fábrica de enganos e agora o casamento tem azedado e muito.
    Uma exoneração é pouco para uma nação que comprou uma ideia cara demais, há de sei apurar, e independente dos desdobramentos, punir. O troféu de uma demissão não satisfaz mais os anseios de mudanças, precisamos mudar o comportamento e exigir o mínimo, a honestidade, sob pena de perpetuarmos a doença que não nos abandona a impunidade.

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