Urariano Mota
Escritor, jornalista. Autor de "A mais longa duração da juventude", "O filho renegado de Deus" e "Soledad no Recife". Também publicou o "Dicionário Amoroso do Recife".
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Alerta: Apologia ao nazismo, por Daniela Nogueira

Por Urariano Mota

Amigos, divulgo uma discussão séria para um perigo que se instalou no jorrnal O Povo, do Ceará.

Os nazistas e fascistas brasileiros saíram da toca. Escrevem e falam suas barbáries impunemente até na imprensa, até no Ceará, que possui uma tradição democrática e foi o primeiro estado brasileiro a abolir a escravatura. Sei, por experiência, que a Associação Cearense de Imprensa é um centro de resistência, digna do seu nome 

Como pôde tal crime de opinião acontecer nas páginas de O Povo? Copio a seguir o texto da Ombudsman do jornal:

Por Daniela Nogueira  
Ombudsman 

APOLOGIA AO NAZISMO

Do Jornal O Povo, do Ceará

23/12/2018

Com o título “Apanhado político”, o colunista Lúcio Brasileiro assim escreveu a nota de sua coluna da sexta-feira 14 de dezembro de 2018: “Não será uma eleição nem várias eleições que poderão salvar o País (…). Talvez implantação do nacional-socialismo, que livrou a Alemanha do comunismo, nos anos 20 e 30”. Nacional-socialismo é outro nome para o nazismo. Movimento fortemente caracterizado pelo seu caráter nacionalista, o regime nazista foi também amplamente conhecido por ser totalitário, antidemocrático e racista. A história mundial nos ensina isso.

Após a publicação desta nota na coluna, não faltaram críticas. “O Lúcio Brasileiro foi além de todo e qualquer limite que possa ser tolerado, exaltando descaradamente o nazismo, o que, pela Constituição, é considerado crime. É assustador quando um jornalista, que tem uma coluna permanente neste jornal – com o único objetivo de bajular segmentos de uma elite que se nutre de frivolidades – proponha uma mudança de regime para que o nacional-socialismo para salvar o Brasil do comunismo. Quanta mediocridade!”, escreveu Mário Mamede.

O leitor Leonardo Bezerra enviou: “O jornalista apresenta uma predisposição ao regime totalitário que justificou a morte e a perseguição de milhões de pessoas. Ele também apresenta uma postura terrorista ao propor o fim da Democracia com base em informações equivocadas e uma visão ideológica preocupante a quem defende os Direitos Humanos”. Filipe Veras criticou: “Apologia ao nazismo, além de absurdo e inadmissível, é crime! E neste caso, o jornal está sendo cúmplice”. Lia Silveira comentou: “Sério? Apologia ao nazismo explícita? O jornal O Povo deve uma explicação aos seus leitores, no mínimo”.

 

Princípios

Várias outras queixas se somaram às dos leitores acima, questionando como o colunista e o jornal publicam uma defesa a um dos regimes mais sangrentos da história da humanidade. É sabido que os colunistas, nos espaços que ocupam no O POVO, têm liberdade para defender suas ideologias, seus pensamentos e suas visões de mundo. É para isso, pois, que os espaços opinativos existem nos veículos – colunas, artigos e pontos de vista, por exemplo. No entanto, tais posicionamentos devem respeitar todos os princípios e direitos vigentes no País.

Ademais, é necessário ressaltar que a apologia ao nazismo não é tão somente um ato com o qual se concorde ou do qual se discorde. O crime de divulgação do nazismo é um dos crimes previstos pela lei brasileira. Além disso, o regime totalitário, pelo número de vítimas que causou e pelas marcas que deixou em todo um povo, é lembrado sempre de forma muito dolorosa por várias gerações. Respeitar os princípios que regem todos os documentos que buscam fundamentar os direitos do cidadão é dever fundamental da imprensa responsável e comprometida com informações de qualidade.

A Carta de Princípios do O POVO é um desses documentos que precisam ser constantemente lembrados – inclusive aos seus jornalistas. Lista, como o nome indica, princípios que devem nortear as condições que orientam a linha editorial do jornal. Entre os princípios, está democracia: “O próprio nome do O POVOdefine a opção democrática que sempre foi e sempre deve ser de defesa das causas populares, inspiração de todas as formas democráticas de organização e fonte de permanente legitimidade do Poder institucionalizado”. A mim, não parece que, ao defender o movimento nazista, estamos colocando em prática um dos princípios tão relevantes que apoiam a Carta.

O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros menciona que é dever do jornalista: “XIV – combater a prática de perseguição ou discriminação por motivos sociais, econômicos, políticos, religiosos, de gênero, raciais, de orientação sexual, condição física ou mental, ou de qualquer outra natureza” (Art. 6º). Além desses, fazer uma leitura rápida na septuagenária Declaração Universal dos Direitos Humanos também é recomendável.

Acerca do caso, a Chefia da Redação responde: “O POVO não defende o regime nazista. Ao contrário – ao longo de sua história, o jornal sempre se posicionou contra e denunciou as atrocidades cometidas”.

Defender um posicionamento, inclusive político, implica ter argumentos suficientes para sustentar uma opinião. Isso deve significar uma defesa com responsabilidade e respeito ao outro. À medida que se usa um espaço de jornal para violentar ou defender iniciativas desumanas, ultrajam-se memórias de inúmeras vítimas e ofendem-se outras tantas. O POVO, meio de discussão qualificada que é, não deve ser portador de intolerâncias. Ou não deveria ser.

 

 

 

Urariano Mota

Escritor, jornalista. Autor de "A mais longa duração da juventude", "O filho renegado de Deus" e "Soledad no Recife". Também publicou o "Dicionário Amoroso do Recife".

15 Comentários

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  1. São só os bafos do esgoto
    Meteram o país no esgoto e quem deveria o tirar de lá simplesmente mantém um preso político nas masmorras de Curitiba.

    Lula livre e abaixo a ditadura!

  2. É uma coisa absolutamente,

    É uma coisa absolutamente, absurdamente burra, alguém no Ceará ser nazista. Isso lembra uma história que aconteceu faz um tempo. Grupos de neo-nazistas de São Paulo tentaram se comunicar com grupos da Alemanha. Resposta dos alemãs:

    “Não falamos com sub-raça de macacos sulamericanos”. Não sei se em inglês ou alemão. Mas eles entenderam.

    Isso, paulistas descendentes de italianos. Imagina o cabloco cearence?

  3. Na boa, mano… só existem

    Na boa, mano… só existem três argumentos capazes de convencer nazistas:

    Tanques T-34

    Caças Sturmoviks

    Colhões de Stalin (era assim que os nazistas chamavam os Foguetes Katyusha durante o cerco de Stalingrado pelo Exército Vermelho)

    Os nazistas já perderam uma guerra. Eles querem perder outra. Portanto, ninguém irá chorar sobre os cadáveres deles.

    Paz na terra aos homens de boa vontade… e uma vala comum para aqueles que acreditam na própria superioridade racial. 

    Nada mais precisa ser dito sobre esse assunto.  

  4. Tendo em vista que Bolsonaro

    Tendo em vista que Bolsonaro discursou na Casa dos Judeus e estes o aplaudiram de pé, mesmo depois de verem a exposição de tantas falas com viés autoritário, homofóbico e racista, mesmo contrariando outro segmentos de judeus brasileiros e de outros cantos do mundo, enfim, também perpassa entre essa gente que teve seus ascendentes submetidos às maiores crueldades do mundo, o endeusamento a um político defensor de racismo. 

     

    1. Sem esquecer
       

      que o nazismo alemão, através de seu representante maior, foi financiado pelo dinheiro sionista.

      “O Lucro primeiro, o meu povo, renascerá”

      ” É um pequeno sacrifício por uma grande causa”

  5. O TEMPO NÃO PARA, OS MONSTROS CONTINUAM VIVOS E PAGOS POR NÓS.

    Caro Nassif, durante anos fiz comentários em seu Blog sobre diversos assuntos, sempre fiz o alerta em transforma bases em lixo ideológico, não diria que a Dilma é a total culpada, mas o PT que a rodeava foi um fracasso sem precedentes em conhecimento da história e da política popular, a que defende o povo. O resultado da inapetência não poderia ser outro, senão, o aflorar de extremistas imundos que é o que vemos aora, quem não escuta a base a cede a intolerância e a maldade humana, a DILMA foi omissa, covarde para conosco que lhe deu a condição de líder e mandatária, não exerceu nem sua eminente condição de mandar prender um juiz Deus que gravou conversa de estado, no popular “GALINHOU”. Deixou a elite nefasta que sempre saqueou essa nação voltar nas mãos de nazistas, deixou as forças armadas que ela era a verdadeira comandante conspirar convescotes em clubes de pijamas, em sociedades secretas, deixou empresários ladrões pagarem conspiradores dentro de todas as instituições sem ao menos dizer alguma coisa, era como se ela não soubesse o que estava acontecendo, seu ministro da justiça era um sabedor de nada do cargo que ocupava, ficou ali parada “esperando a morte chegar” como dizia Raul Seixas. A ascenção de NAZISTAS no Brasil está ligada a essa gente umbilicalmente, parece que as fardas quando vestidas e bem remuneradas aspiram poder e agora com a enganação usando como eles próprio dizem “estão ungidos por poderes divinos”, e fazem questão de serem tiranos após enganar o povo. Até ameaçam, como se fossem donos da mentirosa verdade de que são os salvadores das famílias por serem “homens de bem”.

    1. Perderam o pudor

      Faltou aos presidentes Lula e Dilma intelectuais ou gente com capacidade de analise historica e sociologica do Pais. Sei que eles não eram cegos e conheciam os perigos de deixarem solto os “cães”, mas vê-se que foram assaz ingênuos. Penso em José Dirceu que foi atacado de todas as formas, até conseguirem afasta-lo do governo e providencialmente destruirem sua reputação e carreira politica. Nada do que se passou nos ultimos anos no Brasil foi mero acaso. Tudo foi tentado e feito para derrubar os governos petistas e ao fim e cabo vão (vamos) pagar caro para ver o fim de Lula e do PT.

    1. Ninguém está livre de uma boa conversa
       

      E a incapacidade de diferenciar o certo do errado é uma característica muito mais presente nas pessoas do que gostaríamos de reconhecer.

      A afirmação do jornalzinho é própria de quem não tem discernimento,  confundindo política com religião; crimes contra os costumes e crimes financeiros com crimes políticos.

      Na íntegra

       

      Colunistas | 22/12/2018  

      Lula e João de Deus, da divindade à prisão

       

       

       

      FOTOS: FOTOS PÚBLICAS/RICARDO STUCKER E CÉSAR ITIBERÊ

      O poder corrompe. O poder absoluto corrompe absolutamente. A frase atribuída ao historiador britânico John Emerich Edwar Dalberg, conhecido como Lorde Acton, talvez explique a tragédia brasileira que atingiu dois personagens importantes da história recente do Brasil. 

       

      Há uma similaridade nos fatos que envolvem o ex-presidente Lula da Silva e o médium João de Deus. Um no campo da política, outro no da religião, eram considerados quase “divindades” –e muitos de seus seguidores ainda os consideram assim.

       

      Por que, afinal, os dois líderes saíram do céu para o inferno? Nesse sentido, a frase de Lorde Acton pode ser reveladora. Como a vaidade, o poder é também um dos pecados prediletos do demônio (algo muito bem retratado no filme o Advogado do Diabo, com Al Pacino) e transforma o personagem em refém de seu próprio mito. Tanto Lula como João de Deus certamente acreditaram que, por fazer o bem a milhões de pessoas, teriam direito a seus prazeres terrenos, alguns inaceitáveis em uma sociedade civilizada, que incluem poder, corrupção, dinheiro e mulheres.

       

      Ademais, Lula e João de Deus viviam em um país marcado pela impunidade, onde somente pobres, negros e prostitutas iam para a cadeia. Já se sentindo acima do bem e do mal, ambos não perceberam que, aos poucos, o Brasil estava mudando. Quando se deram conta, se é que se deram conta, já estavam, perplexos, na cadeia.

       

      Tanto no caso de Lula como no de João de Deus a decepção de milhões de brasileiros foi gigantesca. Acreditar em quem? Confiar em quem?

       

      Pode parecer um paradoxo, mas a tragédia que atingiu dois ilustres brasileiros e frustrou milhões de cidadãos de bem e de boa vontade, representa um sinal de que o país está melhorando e que a democracia, enfiam, pode ser exercida em sua plenitude.

       

      Já não há dúvida de que no Brasil atual ninguém está acima da lei. É um bom começo.

       

       

        1. Observe
           

          Maria Luisa,

          por aqui tem aparecido muitos defensores do “medium”, numa clara insinuação de que ou essas milhares de mulheres estão mentindo ou de que na condição delas elas mereciam ser abusadas, como se o abuso fosse  “uma troca” pelo milagre.

          Por certo odiarão Lula com a mesma intensidade com que defendem o milagreiro.

          É uma afinidade de caráter.

    2. bird

      Um passarinho me contou que o editor do tradicional pasquim da sociedade santista de bem era lulista. Na campanha de 2002 teria pretensamente ajudado o metalúrgico. Lula eleito o elemento julgava-se merecedor de um cargo (1º ministro?) no governo. Não aconteceu. O “de cujus” não foi lembrado nem para motorista presidencial. (cadê o Queiroz?).

      …O amor é lindo!

  6. Gostaria de apreciar o artigo inteiro
     

    Antes de opinar, gostaria que fosse postado o artigo inteiro para ver o contexto em que foi citado esse parágrafo.

    De repente pode ter sido só um desabafo circunstancial.

     

  7. Para quem duvida do elogio ao nazismo

    “APANHADO POLÍTICO

     

    Não será uma eleição nem várias eleições que poderão salvar o País, pois o buraco é mais embaixo e muito grande, tem de haver uma mudança de regime.

     

    Talvez implantação do nacional-socialismo, que livrou a Alemanha do comunismo, nos anos 20 e 30, pois a queda da Rússia, a mira dos vermelhos era a Alemanha.” 

    https://www.opovo.com.br/jornal/colunas/luciobrasileiro/2018/12/tendo-de-permanecer.html 

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