Até o Dia dos Pais… por Samuel Lourenço

Até o Dia dos Pais…

por Samuel Lourenço

Pois é, entre  terça e sexta feira se encerra a saída temporária dos presos em regime semiaberto, que gozam do direito de sair da cadeia, por meio do previsto legal denominado como “Visita Periódica à Família” ou “Visita Periódica ao Lar”.

Outra saída semelhante só acontecerá no segundo domingo de agosto. Isso mesmo: no Dia dos Pais! O calendário do Judiciário, e não de livre escolha do preso, é que determina os dias de saídas, que para eles são concedidas em “datas comemorativas”. Não é o preso que sai da cadeia naquele dia. É o juízo da Execução Penal que determina a soltura daquele ser. Na ocasião, tanto o agente penitenciário que abre o portão quanto o preso que sai, estão cumprindo uma ordem judicial, só isso. Não existe outro agente ativo na Execução Penal a não ser o juízo, o resto é subordinado. Até a autoridade administrativa na Unidade Prisional está submetida a ordens. Manda quem pode, obedece quem tem juízo.

Por um tempo, as saídas temporárias eram quinzenais por um dia apenas. Era fracionada no ano para que as saídas fossem mais regulares. Por outro lado, prejudicava quem morava longe e não conseguia ir e voltar no mesmo dia. Então as saidinha, se tornaram os saidões, e levam uma semana, mas demora um prazo de 45 dias para se repetir. Até que se complete as 35 saídas estabelecidas.

Eu ainda gozei do benefício quando era quinzenal. E confesso, nem sempre era algo bom. Uma vez saí no 16 de agosto, dia do meu aniversário. Tive que retornar pra unidade na hora que o bolo estava chegando. Eu nem sabia de bolo, depois do crime e prisão, aprendi a não gostar de festas e comemoração. Perdi o prazer pra essas coisas. Outra vez, a data coincidiu com a data do meu crime. Que horror, tudo o que eu não queria era sair em datas como estas.

Data comemorativa pra alguns presos são as piores datas. A pessoa sabe que existe alguém traumatizado com a data. Alguém que foi ferido com ações do passado. Preso tem memória e consciência de sua prisão. Quem o torna monstro não são seus feitos, mas sim o ódio de outros tantos que insistem em brutalidade após o crime. “Tem que morrer!” ; “Tomara que alguém enfie um cabo de vassoura no rabo dele!” ; “Tinham que fuzilar eles na hora da saída!”. Quem são os bárbaros?

O Dia das Mães chegou ao fim, a saída temporária também. E tua indignação, se encerrou também? Nova saída, só no dia dos pais. Até lá, o preso continuará preso, atrás das grades. E alguns livres, talvez permaneçam na cadeia do ódio, da barbaridade e da covardia.  

Bem, então que venha o Dia dos Pais. E assim sejamos livres. Os presos, do cadeado e da grade. E alguns do ódio e do mau sentimento. Que no almoço, no churrasco, na mesa de confraternização familiar, teu ódio seja posto pra fora. Que o mesmo não te faça algum mal até lá.

Até o Dia dos Pais…

Samuel Lourenço Filho – Cronista, palestrante, egresso do Sistema Prisional, aluno de Gestão Pública para o Desenvolvimento Econômico e Social -UFRJ
Samuel Lourenço Filho

1 Comentário

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  1. Samuel Lourenço você que

    Samuel Lourenço você que estuda Gestão Publica e Desenvolvimento Social existe na grade curricular alguma disciplina que reflita e discuta o sistema prisional? Senão, você mesmo tem proposições, através de sua experiência, para que se leve até o MJ e Judiciario (sei que não é facil) proposições de mudanças dentro do sistema carceral? 

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