Atlântida, de Ana Beatriz Domingues, por Mariana Nassif

Para muito além do registro histórico que, me disse Ana Bia, é dos motivos do livro existir, “lá na frente as pessoas podem saber um pouco sobre a cena lésbica em 2019 pelo olhar e sensação de uma mulher lésbica”

Atlântida, de Ana Beatriz Domingues, por Mariana Nassif

Mergulhei em Atlântida, livro de Ana Beatriz Domingues, voltando das terras áridas do Cerrado, na estrada, viajando.

Amor meu, que dirigia, perguntou se eu não enjoava de ler no carro.

(quem é do mar, não).

A poesia lésbica, profunda, verdadeira e bem escrita retrata um importante momento da autora, seu encontro com uma mulher que lhe colocou em movimento, e as palavras-sensações me provocam, recordando meus próprios eus, Mares e Anas que por aqui passaram e vêm me transformando também em uma mulher que encontra outra mulher – em mim mesma, durante este primeiro ano desde a iniciação no Candomblé, contornando e desenhando ruínas de mim.

Base.

Nossos mapas se entrelaçaram em Ubatuba em momentos alegres e sensíveis. Intensas, felizes, transformadas e afim de um pãozinho com café, nos reencontramos pra falar do livro em São Paulo, cidade que aporta a escritora e também arte-educadora após a submersão litorânea. Ana Bia me contou do livro como processo. Falou também sobre a exposição pública y privada, a fortaleza de ser enraizada em sua própria ruyna – assim mesmo, tudo com y, som bastante presente na linguagem Tupi-Guarani – e, “veja só”, como me conta a autora, “significa Água”. Falamos, e muito, sobre identidade e lacunas.

O Tempo vem sendo generoso e, então, pude testemunhar a maturidade da mulher que honra seus ancestrais, podendo visitar o passado em segurança e submergir em água e sal sem medo de falta o ar, seja no mar, seja nas lágrimas.

Construir-se de um rompimento. Experimentar-se una e rodeada. Aliviar, soltar e ser.

Para muito além do registro histórico que, me disse Ana Bia, é dos motivos do livro existir, “lá na frente as pessoas podem saber um pouco sobre a cena lésbica em 2019 pelo olhar e sensação de uma mulher lésbica”, Atlântida perfura superfícies. Nadar na infinitude molhada do amor entre potências possíveis excita – e essa delícia de brisa é a me veio de presente na volta daquela terra árida, pero muy caliente.

Vibro e volto, enfim, pro mar. Mergulho literal, agora. Expando e indico a leitura – tomara que você tenha a sorte de conseguir um autógrafo: cada palavrinha de Ana vale um cafuné, e isso não tem como negar.

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Mariana A. Nassif

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