Aumentar o caos até um conflito armado?, por Francisco Celso Calmon

Aumentar o caos até um conflito armado?

por Francisco Celso Calmon

Destituíram uma presidenta sem crime de reponsabilidade; com tantos fatos e indícios de crimes de responsabilidade o atual presidente seguirá incólume?

Bolsonaro sendo um mitômano inveterado não tem credibilidade quando se desdiz, e quando faz manifestações a favor da afronta ao Congresso e de um novo AI5, mesmo se desdizendo, já cometeu, no mínimo, terrorismo político e psicológico à nação.  Criando um ambiente de insegurança política, desestimulando investimentos no país e o turismo.

Um presidente não pode alegar que está falando em nome pessoal, não existe essa separação; tudo que for público afeta a dignidade do cargo, mesmo no privado, muitas vezes, afeta também o exercício da presidência. Senão seria um deboche à sociedade, falar asneiras e dizer que era em nome pessoal.

Bolsonaro jamais fora um militar honrado, sempre fora um terrorista e ganancioso por dinheiro. Se o inquérito do atentado ao Riocentro tivesse sido honesto, seria provável encontrar suas digitais.

A promiscuidade de parcelas do Exército com o Esquadrão da Morte (Scuderie Le Cocq) data de 1965. Sob a proteção da ditadura, militares, policiais (civis e militares) e alguns civis, não se desfizeram dos laços, mantiveram uma espécie de irmandade e muitos estão nas milícias. 

A PM, organizada para combater o inimigo interno, é força auxiliar do Exército, e durante a ditadura tanto o secretário de segurança dos estados com o comandante geral da PM eram escolhidos pela Exército. Se um ou outro govenador consegue ter a PM sob controle, é exceção.

A destruição da plataforma civilizatória para dar assento ao caos é a forma de fortalecer e inflar o Estado policial.

O plano de desestabilizar os governadores, especialmente os de esquerda, com motins de policiais, visto que greve por categorias que usam armas não é permitida pela Constituição, faz parte do projeto global do bolsonarismo nazifascista.

A não destruição dos entulhos da ditadura militar, fez surgir uma democracia incubada de vermes e germes do autoritarismo. 

As recomendações da Comissão Nacional da Verdade, entre elas a da desmilitarização da polícia, cujas implementações pelo Estado foram negligenciadas, e o preço que a nação brasileira está pagando está sendo caro demais para um povo que que tem nos 21 anos de ditadura um trauma nacional. 

Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

Vale recordar que foi o juizeco, na época, Sergio Moro e seus áulicos do MP de Curitiba os primeiros a confrontarem com o Judiciário e o Executivo, nada aconteceu com eles, além de suaves reprimendas e escusas pelos jornais, o exemplo segue como modelo.

Art 85: “São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra: II – o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação”.

Denunciar a quem, recorrer a quem? Qual a instituição que não está comprometida com o golpe de 2016 e com o golpismo decorrente?

Até o momento que fechei o artigo, apenas o ministro decano do SFT se pronunciou e o fez bem: ato de Bolsonaro pode configurar crime de responsabilidade, e disse mais: “ Essa gravíssima conclamação, revela a face sombria de um presidente da República que desconhece o valor da ordem constitucional, que ignora o sentido fundamental da separação de Poderes, que demonstra uma visão indigna de quem não está à altura do altíssimo cargo que exerce e cujo ato de inequívoca hostilidade aos demais Poderes da República traduz gesto de ominoso desapreço e de inaceitável degradação do princípio democrático!!!”.

Se o mandatário máximo da nação cometeu crime de responsabilidade, cabe averiguar, mas o ministro do GSI, general Heleno, que tem contas a ajustar por sua participação na ditadura militar, cabe ser exonerado imediatamente, pois nascera de sua verve destemperada o acinte ao Legislativo. Mantê-lo é avalizar suas palavras.

 Anistia, diretas já, impeachment do Collor, foram movimentos que ganharam força no chão das ruas, mas as ruas que foram ocupadas durante o carnaval e as mensagens das escolas e blocos carnavalescos foram muitas com o foco crítico na realidade, reforçando a tendência, que já vem há uns três anos, contribui para a formação, mas parece não mexer no tabuleiro para o curto prazo. 

AS centrais sindicais, a FPB, FPSM, começam a reagir, mas falta a juventude, com sua ousadia e coragem, seguir o Papa, o Lula e demais líderes, e ocuparem as ruas na perspectiva revolucionária de varrer o bolsonarismo nazifascista do país.

A ocupação das ruas pode gerar, como efeito colateral, no plano institucional e partidário uma frente de defesa da democracia e um BASTA ao presidente miliciano.

Francisco Celso Calmon é Advogado, Administrador, Coordenador do Fórum Memória, Verdade e Justiça do ES; autor do livro Combates pela Democracia (2012) e autor de artigos nos livros A Resistência ao Golpe de 2016 (2016) e Comentários a uma Sentença Anunciada: O Processo Lula (2017).

Francisco Celso Calmon

Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.

Francisco Celso Calmon

Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.

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  • Onde vamos recrutar esse sonhado exército de jovens para tomar as ruas? Metade deles foi abduzida pela religiosidade fundamentalista e a outra metade está com a cara enfiada nas vulgaridades das redes sociais. Vimos uns poucos lideres dos poderes e órgãos de classe latir para dentro e imprensa, agora, 20 horas e 26 minutos do dia seguinte, silenciou já está botando o tema na prateleira. Agora mesmo a Globonews está abrindo espaço para um ministro militar jogar confetes no Bozo.

  • Bollso e família querem uma guerra civil.
    Para implantarem uma ditadura de ultra direita.
    Nem a CIA planeja isso, no Brasil, por enquanto.

  • Xico, como sempre você tem uma análise precisa. Agora, o que mais me assusta é a hipocrisia da nossa mídia empresarial (escrita e televisada). Esse inominado chegou ao cargo que ocupa com a conveniência e conivência dessa mesma mídia corporativa. Hoje, no entanto, podemos encontrar editoriais vigorosos contra o estado de coisas que estamos presenciando.
    Por outro lado, é compreensível essa hipocrisia, na medida em que esses mesmos veículos de comunicação, que se dizem vestais da moralidade e do republicanismo, antes também foram os patrocinadores do regime ditatorial!
    Não temos informação de qualidade que possa formar uma massa de cidadãos críticos. Até quando?

  • Xico, como sempre você tem uma análise precisa. Agora, o que mais me assusta é a hipocrisia da nossa mídia empresarial (escrita e televisada). Esse inominado chegou ao cargo que ocupa com a conveniência e conivência dessa mesma mídia corporativa. Hoje, no entanto, podemos encontrar editoriais vigorosos contra o estado de coisas que estamos presenciando.
    Por outro lado, é compreensível essa hipocrisia, na medida em que esses mesmos veículos de comunicação, que se dizem vestais da moralidade e do republicanismo, antes também foram os patrocinadores do regime ditatorial!
    Não temos informação de qualidade que possa formar uma massa de cidadãos críticos. Até quando?

  • Parece tarde demais para uma oposição vigorosa ocupar as ruas.
    As polícias já estão suficientemente aparelhadas e "justificadas"para agirem com brutalidade na contenção das massas oposicionistas.
    Mais que isso, qualquer movimento de oposição relevante, ainda que pacífico, sempre contará com provocadores infiltrados.
    Na conquista do poder pelo direito, a justificativa é a luta.
    Na tomada do poder pela fraude, a justificativa é a vantagem.

  • Um dia, talvez, quem sabe?
    A "descoberta" encontrou aqui um POVO que, dizem, até participou de uma primeira missa! Mas desde então foram dizimados, junto com reforços importados, mais "produtivos".
    A colônia partida em pedaços hereditários, para exploração predatória, dizimou até a madeira que lhe deu nome. POVO? Bem, pelo menos alguns foram convertidos, aceitando mansamente sua "sina" escrava.
    A independência foi declarada pela princesa Leopoldina, uma austríaca mais brasileira (e culta) que o português D.Pedro, o IV.
    Aí acrescentaram um "...ou morte!", por misoginia / machismo e dar um ar "épico" ao que já estava feito oficialmente. POVO? Onde? Mais tarde tivemos umas refregas mais distantes, com portugueses "desin(con)formados". Até perdemos a Província Cisplatina, onde parece que havia um povo.
    A república foi declarada assim como quem não quer nada, meio que vendo o que acontecia. Aí o bom imperador, talvez de ressaca do baile, talvez meio de saco cheio de não morar na Europa, se mandou sem maiores reclamações. POVO? Onde?
    Fim da 1a. república: Um cara avisou lá do sul, que iria amarrar seus burros no obelisco da capital. Veio "vinu, vinu, vinu" e amarrou! POVO? Onde? (depois os oligarcas que em princípio o apoiaram, não viram vantagem e jogaram ingênuos na "roubada", ficando com o ouro deles e "negociando" a derrota).
    Golpe de 64: De repente, um fuzuê no congresso com notícias de tropas do interior indo pra capital. O país amanheceu com tanques obsoletos estacionados nas ruas. Como era 1o. de abril, o POVO pensou que era brincadeira. E era! Uma brincadeira de mais de 2 décadas. POVO? Até teve, a maioria estudantes, que se pensavam pertencer ao futuro de um Brasil próspero e democrático. Mas foram dizimados, junto com aquele futuro.
    Diretas Já: POVO? Sim, protestos, discursos e passeatas (permitidos, sem confronto) por todo o país. Mas mesmo assim as diretas não foram "Já". E o POVO se conformou mais uma vez, porque o indireto não era mais "deles". E por ironia do destino voltou a ser, embora nem tanto. E o POVO? Chorou, aceitou e seguiu em frente.
    Período "democrático": O POVO feliz, se satisfaz de ir às urnas, pensando assim que ele manda, ele escolhe, dele, por ele e para ele, némêz?
    Aí tivemos de tudo: planos econômicos, impeachment collorido, Itamar de má vontade, FHC entreguista, traidor de seu povo, Lulalá 'safo" (®M.A.Mello) mensalão (®míRdia), Dilma presidenta, a sem cintura e ... lá vem a Cunha do golpe bandido apoiado pelo tucaneto nato e celebrado até pela memória do Ulstra! E o POVO? Drogado, intoxicado por farsa-jatos (que até poderia mesmo ter sido "lava"), por manipulação e fake-news de míRdia e redes... elege um mito!
    Um mito, senhoras e senhores! Que em uma "viagem psicodélica das drogas de míRdia e redes, pensam ser o messias! O messias, senhoras e senhores!
    E o POVO?
    Em toda essa longa história aqui resumida de 520 anos, continua parecido com aquele de 1500.
    Alguns até deram suas flechadas, aqui, ali, acolá. Até canibalismo sem presunção de inocência!
    Mas sangue, suor e lágrimas pra valer?
    Aqui tem muito morro, muito rio, muito mar pra tantas gotas rolarem.
    Isso deveria ser bom, não?
    Ou não?

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