Banco Mundial: um relatório fundado no charlatanismo, por J.Carlos de Assis

O relatório de 2014 do Banco Mundial sob o título “Risco e Oportunidade” é um verdadeiro monumento ao charlatanismo a serviço do credo neoliberal. Ao lado de platitudes como “a todo risco corresponde uma oportunidade”, acumula em cerca de 50 páginas uma inacreditável amontoado de lugares-comuns e banalidades para suportar a conclusão de que, a fim de evitar desastres e suas consequências, as famílias, a sociedade e o Estado devem investir preventivamente. Parece que só disseram para eles!

A lista de colaboradores do documento é um espanto: mais de 200. São quatro colunas em tipo pequeno de notas de rodapé. E mais nove colunas de referências bibliográficas. À primeira vista, estamos diante de uma peça fantástica de orientação sócio-política destinada ao aproveitamento sobretudo dos países em desenvolvimento. Quando se começa a ler, o primeiro sentimento é de indignação. O que pretendem? Não há no documento um único conceito original. Nem conseguimos saber o que o Banco Mundial entende por “risco”.

O mais inacreditável não é isso. Os exemplos dados de situações de assunção de risco que levaram ao aproveitamento de oportunidades são fictícios – o que, aliás, se reconhece explicitamente. Portanto, os autores não se dão ao trabalho de procurar na realidade muitos exemplos concretos de gestão bem sucedida de risco pelos pobres. Mas não se envergonham em usar um exemplo inventado para ilustrar o sucesso de uma família pobre que teria melhorado de vida devido ao ambiente de livre comércio adotado pelo país.

O que fica subentendido nesse exemplo é que o livre comércio é um bom risco em benefício dos pobres. Será? Leiam o livro de Chang, “Chutando a Escada”: nenhum país hoje desenvolvido adotou o livre comércio em sua fase inicial de desenvolvimento! Ou lembrem-se da destruição da produção de arroz no Haiti, praticamente sua única economia, pelo livre-comércio promovido sob a chancela desse grande avatar do desenvolvimento que é o Banco Mundial. Aliás, o que o Banco Mundial fez pelo desenvolvimento da África?

Risco e Oportunidade é um engodo. Trata-se de um esforço por colocar sob luzes favoráveis, a partir de uma linguagem repetitiva e vazia, o desempenho absolutamente medíocre de um banco criado para promover o desenvolvimento mas que se voltou para criar e difundir ideologias a serviço dos ricos. Em plena crise nos países ocidentais, ele se apresenta mergulhado em grande confusão, incapaz de reconhecer os fracassos do neoliberalismo, que ajudou a promover com suas políticas de condicionalidades, e tateando em busca dos cacos de uma ideologia fracassada em busca de revitalizá-la na base do charlatanismo.

J.Carlos de Assis – Economista, doutor em Engenharia de Produção, professor de Economia Internacional na UEPB, autor de mais de 20 livros de economia política brasileira.

Redação

12 Comentários

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  1. As oportunidades perdidas do México

    As oportunidades perdidas do México

    Superposição de problemas fazem o país ser a maior ferida neoliberal no continente. E se nos perguntamos como está a esquerda mexicana, as notícias tampouco são boas

    por Emir Sader,

    para a Rede Brasil Atual

    07/07/2014

     

    O México deu início ao extraordinário século 20 latino-americano com sua maravilhosa revolução, que moldou o imaginário do continente durante muitas décadas – até a Revolução Cubana

    Como Zapata e Pancho Villa protagonizavam uma épica revolução um século depois da gesta de independência, seria de supor que novo século mexicano traria boas e novas esperanças. Não é o que acontece, infelizmente. Ao contrário, o país é uma ferida aberta no continente, antes de tudo para o seu próprio povo.

    O que parecia o final do longo ciclo do PRI, em 2000, não foi sucedido por um governo de esquerda – depois de PRI ter se encarregado de introduzir o neoliberalismo no México –, mas pelo PAN, que alguns iludidos acreditavam que pudesse desmontar o Estado priista de 70 anos.

    Os dois mandatos do PAN não só representaram a continuidade do regime e da política econômica herdada, como terminaram definitivamente com as marcas minimamente progressistas de sua política externa, com o México somando-se à política norte-americana de hostilidade a Cuba.

    Esgotados os dois governos do PAN, o PRI volta ao governo. É certo que, pelo menos em duas ou três eleições, houve fraudes contra Cuahutémoc Cárdenas e contra López Obrador, mas esse não é um fenômeno apenas mexicano. Em outros países do continente a esquerda soube superar esse obstáculo para finalmente ganhar e governar.

    Ao contrário de outros países latino-americanos, o México segue o caminho do neoliberalismo, com todas as dramáticas consequências sociais desse modelo. Enquanto países como o Brasil e a Argentina diminuem as desigualdades, o México as intensifica. Enquanto os salários aumentam, assim como os empregos formais nesses países sul-americanos, o salário mínimo mexicano perdeu 66% do seu poder aquisitivo em três décadas.

    Apesar das tentativas frustradas de órgãos da mídia internacional de projetar o México como modelo a ser seguido pelo Brasil, nenhuma análise séria consegue sustentar essa afirmativa para além de slogans de propaganda neoliberal. O México continua a ser o paradigma de país que optou pela continuidade da aliança subordinada com os EUA, pelo modelo liberal de livre mercado e com seus efeitos trágicos.

    Única fronteira mundial entre um país da periferia e um do centro, tendo ao maior império como seu vizinho do norte, o México também sofre as consequências do corredor do narcotráfico, que vai dos países produtores da América do Sul – basicamente Colômbia e Peru – passando pela devastada América Central, até o maior mercado consumidor de drogas do mundo: os Estados Unidos.

    Se já não bastassem as consequências do modelo econômico aplicado por algumas décadas e o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Alca), o México sofre a desagregação social e política de vários estados do norte do país, como pontos de passagem da droga e de ação dos cartéis do narcotráfico na direção dos Estados Unidos. O que somente aumenta o drama dos imigrantes – mais de 10 milhões de indocumentados – no vizinho rico.

    Pela superposição de todos esses problemas, o México é a maior ferida neoliberal no continente. E se nos perguntamos como está a esquerda mexicana, as notícias tampouco são boas.

    O Partido da Revolução Democrática (PRD), representante tradicional da esquerda mexicana, se dividiu. Um setor, liderado por quem foi seu candidato a presidente duas vezes, Andres Manoel López Obrador, fundou um outro movimento (Morena, Movimento de Regeneração Nacional), diminuindo a força do partido, sem conseguir constituir um polo alternativo com mais força.

    Em 2014 se cumpriram 20 anos do grito de Chiapas, a rebelião no estado mais ao sul e o mais pobre do México, que fundou o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN). Mais além das saudações pelo surgimento do movimento, a situação em Chiapas não foi substancialmente melhorada, nem o ELZN se projetou como força alternativa nacional.

    Considerando-se que o sistema político mexicano não tem segundo turno, as possibilidades de que a esquerda chegue a triunfar eleitoralmente diminuem ainda mais com a divisão entre PRD e Morena, que certamente terão candidatos próprios nas próximas eleições presidenciais – previstas para 2018. Os zapatistas, por seu lado, não intervém no processo eleitoral, em que não acreditam, sem conseguir desenhar uma via alternativa para a esquerda.

     

  2. Muito bom.
    O Banco Mundial

    Muito bom.

    O Banco Mundial não vai citar casos concretos de ‘sucesso’ do neoliberalismo simplesmente porque onde aportou deixou terra devastada.

    FHC que o diga. Aliás, a Argentina sabe bem o que esse banco pode fazer pelos países em desenvolvimento.

    1. A Argentina é vitima de seus

      A Argentina é vitima de seus péssimos dirigentes nos ultimos 60 anos, não adianta colocar a culpa em outros.

    2. O Banco Mundial NÃO aportou

      O Banco Mundial NÃO aportou em lugar nenhum. Ela financia projetos quando esse financiamento é solicitado, a sede fica em Washington portanto o proponente pricsa leva-lo ao Banco para analise, não é o banco que vai ao Pais “”aportar””.

      O Brasil por decadas foi o maior cliente do Banco e tambem há décadas faz parte do Board da insitutição.

      Atualmente o Brasil tem linhas de credito disponieis no Banco, faltam projetos para apresentar, o Metrô de São Paulo foi é eé praticamente em grande parte financiado pelo banco.

  3. Além do cartel psdb+pig,

    Além do cartel psdb+pig, existe um mais forte e globalizado financista+imprensa, eles criam uma realidade virtual para nos fazer crer que o diabo é bom. É a matrix!  DEMOCRATIZAR A INFORMAÇÃO é a única saída!

  4. Nova Era

    Comento com alguns amigos que estamos entrando numa nova era. A era da “mediocridade”. Não só em organismos internacionais, mas também em órgãos públicos, empresas, etc. A pobreza de idéias e a má vontade de colocar a mão na ferida para solucionar os reais problemas do mundo é uma constante. A incompetência é premiada. Todo mundo fala e pouca gente faz alguma coisa. FMI, Banco Mundial, Standard&Poors, Fitch, ONU…..esqueçam. Prevejo épocas difíceis à frente.

  5. A IDEOLOGIA CEGA – O Banco

    A IDEOLOGIA CEGA – O Banco Mundial, ideia de Lord Keynes, do qual o Brasil foi um dos primeiros socios fundadores, financiou no Brasil mais de 2.000 projetos. Toda a siderurgia brasileira, a maioria das refinarias de petroleo, aeroportos,

    pontes, grande parte das maiores fabricas de papel, cimento, toda a petroquimica, os metrôs de São Paulo e Rio, as melhores rodovias, TUDO ISSO foi financiado pelo Banco Mundial. Lembro perfeitamente da construção da COSIPA, da CENIBRA (grande fabrica de celulose), da OXITENO, com licitações internacionais de equipamentos e serviços,

    com regras muito abertas e fiscalizadas, fui fornecedor de centenas de projetos financiados pelo BM na fase ausea dos grandes projetos no Brasil, não era só o dinheiro do BM, era o aval técnico e economico do projeto, quando se falava que

    tal projeto era financiado pelo Banco Mundial era facil achar investidores porque o selo do Banco qualificava o projeto.

    Acho que muito gente que desde Pedro Alvares Cabral até 2003 acha nada foi construido no Brasil e o que eixste foi feito pelos indios Tabajara.

    O mais ridiculo é associar o BM ao neoliberalismo, o banco no seus anos iniciais só financiava estatais e governos,

    era estatista em um rempo que não existia nem a ideia de neoliberalismo, a otica do banco continua muito voltada aos projetos de Estado, o setor privado é mais atentido pela sua subsidiaria International Finance Corporation mas o grosso dos financiamentos na historia do Banco foram para Estados e estatais.

    Do começo ao fim esta materia é uma tosca cartilhazinha esquerdizante, depois cita o Mexico como uma tapera e exalta o Exercito Zapatista de Libertação, o Mexico tem uma renda per capita superior a do Brasil, os numeros macro economicos em geral são meçlhores que os nossos, apesar de ter terro agricola muito inferior à nossa e ter notoria escassez de agua. É um grande pais com muitos porblemas MAS não mais do que nós temos, é absurdo brasileiros ficaram de salto alto com o Mexico. Quando brasileiro coloca salto alto é só falar com mais da metada das casas brasileiras não tem esgoto e que nossas praias de norte a sul do Pais são poluidas por falta de tratamento de esgotos, só sobram as praias virgens. Falta de saneamento basico é DEFEITO GRAVE que não permite a nenhum Pais se dizer adiantado para criticar outros.

  6. Ésó  lembrarmos  as

    Ésó  lembrarmos  as publicações de Johm  Perkins,  como Confissões de um Assassino Econômico, A História do Império Americano e Enganados que  confirmaremos , mais uma vez,  o que expõe o respeitável  José Carlos de Assis.

  7. E John  Perkins  já

    E John  Perkins  já  demonstrava o mesmo que o José Carlos de Assis  expõe agora, com sua obra : Confissões de um Assasino Econômico, A História Secreta do Impe´rio Americano e Enganados.  A exploração desses  organismos internacionais nas economias  do Terceiro   Mundo.

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