Francisco Celso Calmon
Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.
[email protected]

Bolsonaro se vinga do Exército, especialmente dos comandantes, por Francisco Celso Calmon

Na carreira militar não passou do posto de tenente. E na atualidade manda calar generais, da reserva e da ativa. Debocha, ironiza, finge, e no final humilha a própria corporação.

Bolsonaro se vinga do Exército, especialmente dos comandantes

por Francisco Celso Calmon

Trauma psicológico ou emocional é um evento em que a estrutura psíquica do atingido não é capaz de incorporar integralmente, acarretando um dano, sobrando sempre um resto, inexprimível, não simbolizável.

Traumas não desaparecem da mente, mesmo quando jogados para o subconsciente, continuam a refletir na vida.  Através de análise, terapia, e dos chamados mecanismos de defesa (racionalização, sublimação, projeção…) o indivíduo procura manter sob controle, sem dar vida própria ao trauma. Sem essas ajudas e mecanismos, e as vezes apesar delas, os traumas acabam por dirigir a vida do traumatizado.

Os indivíduos traumatizados, sem tratamento e às vezes apesar de, aliviam a dor culpando a outrem por seus traumas, e passarão a vida em busca de vingança ou em depressão crônica, as vezes com surtos periódicos, podendo, não necessariamente, tornarem-se sociopatas, com tendência homicida e genocida.

Quando militar, Bolsonaro atentou contra a hierarquia e a disciplina. Foi preso e respondeu a inquérito.

“Punido por ter elaborado e feito publicar, em uma revista semanal, de tiragem nacional, sem conhecimento e autorização de seus superiores, artigo em que tece comentários sobre a política de remuneração do pessoal civil e militar da União; ter abordado aspectos da política econômica e financeira fora de sua esfera de atribuição e sem possuir um nível de conhecimento global que lhe facultasse a correta análise; por ter sido indiscreto na abordagem de assuntos de caráter oficial, comprometendo a disciplina; por ter censurado a política governamental; por ter ferido a ética, gerando clima de inquietação no âmbito da OM (Organização Militar) e da Força e por ter contribuído para prejudicar o excelente conceito da tropa paraquedista no âmbito do Exército e da Nação (NR 63, 65, 66, 68 e 106 do anexo I, com agravantes do NR 2 e letra “C” NR 6 do artigo 18, tudo do RDE, fica preso por 15 (quinze) dias”. (Relatório secreto do Centro de Inteligência do Exército (CIE), nº 394, de 1990, com 96 páginas, publicado pelo DCM pela primeira vez).

“Canalha”; “covarde”; “contrabandista”. Era a reputação de Jair Bolsonaro no tempo em que serviu o Exército.

Em uma outra carta revelada pela imprensa em maio de 91, o então chefe do Estado Maior das Forças Armadas, general Jonas de Morais Correia Neto, o chama de “embusteiro, intrigante e covarde”, acusando-o de “inventar e deturpar visando aos interesses pessoais e da política”.

O general Alberto dos Santos Lima Fajardo, então comandante do Coter (Comando de Operações Terrestres) explicou a punição em entrevistas à imprensa. Disse que Jair Bolsonaro estava “insuflando oficiais superiores e sargentos com panfletos criticando exaustivamente o comando da tropa”.

“Exército não quer Bolsonaro nos quarteis”, manchete de jornal na época. Na atualidade, como presidente e comandante-em-chefe das FFAA, abusa de sua autoridade. Vai quando quer aos quarteis, sem aviso ou convite, como se compensasse quando fora proibido, quando não era benquisto pelos comandantes.

A sua baixa estima e carência emocional leva-o a procurar intimidade onde nunca teve, como se querido fosse. Foi ao STF e à PGR sem convite, e para as fotos procurou mostrar intimidade e que está cima de todos, que é o mandachuva do pedaço, como os chefes dos tráficos ou das milícias fazem.

A vida pregressa do ex-capitão Bolsonaro demonstra que a sua estada no Exército foi mais de agitador e terrorista do que de um militar, conforme o manual da corporação. Ele vai para a vida pública política mostrando ressentimento e não amor à farda. (Escrevi um artigo mais denso, publicado no GGN, com o título Bolsonaro: militar ou miliciano? em 06/6/2019).

Bolsonaro é um recalcado por não ter continuado no Exército e um ressentido pelo que o Exército lhe fez, pois, a rigor, pelo comando do Exército ele foi expulso, e conseguiu manter o salário indo para a reserva pela via jurídica – STM, por um acordo.

Bolsonaro queria que o Exército se adaptasse a ele, o Comando reagiu e o expulsou. Seu sonho foi frustrado, sua carreira abortada.  Seu trauma e revolta permaneceram, aparentemente encoberto por declarações de exaltação a torturadores, contudo, seu comportamento fala mais do que raptos apologéticos de torturadores.

Na carreira militar não passou do posto de tenente. E na atualidade manda calar generais, da reserva e da ativa. Debocha, ironiza, finge, e no final humilha a própria corporação.

Os tenentes, capitães, da ativa, terão motivação para chegar ao generalato? Dentro dos quarteis os generais representam o ápice da carreira, da hierarquia, no governo, não passam de borra-botas do ex-tenente da ativa.

Se houvesse espírito militar e amor a farda não humilharia os que as vestem, o sentimento de   camaradagem e respeito prevaleceria. O que Bolsonaro tem feito está desmoralizando a imagem que os militares procuram passar à sociedade.

Vem reduzindo os militares a obedientes escoteiros – manda quem pode e obedece quem tem juízo, essa é a regra que ele usa e abusa, como se fossem acéfalos (será que são?).

“Um manda e o outro obedece”, declarou submisso o gal. da ativa e ministro da saúde, sem expertise na área. Se fosse da área da saúde e tivesse contato com psicólogos, psicanalistas e psiquiatras, mesmo que militares, saberia que doravante o tenente humilhado pelo Exército irá tratar a ele e colegas de farda com mais autoritarismo e desrespeito humano.

Sem controle é como um cavalo bravio sem cabresto, um cão de ataque sem guia e focinheira.

Todo abuso acaba um dia levando à indignação e até a revolta.

Com certeza as famílias desses militares humilhados não devem estar gostando.

Francisco Celso Calmon é da coordenação do canal resistência carbonária, ex-coordenador nacional da RBMVJ.

Francisco Celso Calmon

Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.

3 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Postado há alguns dias:
    …”Freud explica o provável prazer orgásmico do capetão alijado trazer a “nata” (e que “nata”…de coalho?) ao seu comando civil direto e humilhá-los. Fica entre o deslumbramento de sua visão de 3 pixels (P&B) de que o mundo é um quartel (plano, evidentemente) e a doce e fria vingança de quem “caiu para cima”…
    … “O golpe de 64 destruiu um então rico tecido cultural brasileiro (a despeito de alguns poucos projetos nacionais razoáveis), incluindo ai a cultura social, artística, empresarial, politica e até militar. Como se formaram oficiais tão medíocres como esses que despontam por aí?!”…

    Faço aqui uma ressalva sobre a “generalização” (sem trocadilho) da mediocridade dos oficiais. Não podem ser todos, evidentemente. Ou pelo menos é o que queremos e devemos acreditar.
    Os que “despontam” são exatamente aquele escolhidos à dedo por sua mediocridade abaixo da de quem os escolhe. É adolinquente mas não é bobo: escolhe o que de pior existe, por sua necessidade vital de fidelidade, obediência e subalternalidade inquestionadas. Servidas num prato frio…
    Vai que tenha que viver algo semelhante ao seu processo no STM.
    Afinal, não tem mais como cair para cima, né?

  2. Raça de víboras…esses fardados entreguistas que lambem botas de um boçal que por sua vez lambe botas de um louco americano… Se esses militares que ganharam vantagens financeiras no desgoverno do boçal tivessem o mínimo de vergonha na cara não admitiriam serem humilhados por uma besta vingativa que está só lhes dando o troco pelo fumo que levou quando foi chutado fora do meio militar. Mas a hora desses cafajestes vai chegar….e quero rir de ver a cara deles todos.

  3. “Na carreira militar não passou do posto de tenente. E na atualidade manda calar generais, da reserva e da ativa. Debocha, ironiza, finge, e no final humilha a própria corporação.”

    Jabuti não sobe em árvore. Quem colocou o jabuti no galho foi outro general, Eduardo Villas-Boas.

    Generais são responsáveis pela estratégia militar. Villas-Boas detinha todas essas e muito mais informações.

    Generais se medem pela capacidade de planejar, evitar baixas e vencer batalhas, não de trair seu comandante. Nesse ponto ele se igualou a Bolsonaro.

    Você iria à guerra sob o comando de um deles?

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador