Bomba semiótica da luta de classes explode ao vivo no estúdio da Globo, por Wilson Ferreira

Bomba semiótica da luta de classes explode ao vivo no estúdio da Globo

por Wilson Ferreira

Sabemos que a pandemia tem o timing da conveniência: é uma janela de oportunidades que se abriu para que o Capitalismo reorganizasse suas peças diante do inevitável crash financeiro que ocorreria esse ano. Graças à pandemia, roda uma agenda oculta (reengenharia social, necropolítica etc.) para produzir a mais violenta concentração de riqueza da História moderna. E a grande mídia tem o papel fundamental de naturalizar tudo isso com um empirismo jornalístico tosco: para a grande mídia, qualquer forma de oposição política cria “aglomerações que contrariam as normas blá-blá-blá…”. Esse “modus operandi “do jornalismo asséptico no álcool em gel tomou a invertida de uma bomba semiótica ao vivo no Bom Dia SP: Bocardi questiona greve de metrô e o líder sindicalista, citando matéria da própria Globo, transforma a abstrata crítica da “desigualdade” (agora está na moda no discurso dos milionários) em bomba semiótica da luta de classes que explodiu no meio do estúdio da Globo.

Mais uma vez esse humilde blogueiro vai lembrar a impagável personagem “Church Lady”, criada por Dana Carvey no programa de humor norte-americano Saturday Night Live: “HOW CONVEEEEEENIENT!”, dizia ela em seu Talk Show a cada pequena evidência de uma conspiração de Satã por trás de qualquer assunto tratado pelos convidados.

Em todos esses meses de pandemia e quarentena, a cada dia, diante das notícias sempre me vem à mente essa frase emblemática da Church Lady: tudo parece muito conveniente – a pandemia do novo coronavírus parece ter aberto uma incrível janela de oportunidades para conseguir fazer aquilo que toda guerra hibrida almeja: a paralisia estratégica do inimigo, o domínio total de espectro – neutralizar qualquer forma de oposição, resistência ou crítica ao status quo.

“Reset global”, “circuit braker social”, “reengenharia social” são expressões usadas para identificar a incrível conveniência que está se constituindo a pandemia para permitir reorganizações das peças (políticas e econômicas) dentro do Capitalismo e fazer rodar uma agenda oculta – financeira, necropolítica, controle populacional etc. – clique aqui.

Tudo isso é revelado cotidianamente, naquilo que se define atualmente como “novo normal” (nos anos 1990 era “Adapt or you’re toast!”) – tudo vai ser igual como antes, só que pior…

Um desses momentos foi o que ocorreu ontem (28/07), no telejornal local Bom Dia SP da Globo: uma greve dos metroviários de São Paulo estava prevista para ontem contra a redução salarial de 10% e perda de benefícios. Como sempre, a justificativa é a falta de dinheiro em caixa pela redução de circulação de passageiros decorrente do isolamento social imposto pela pandemia – como se vivessem do almoço vendido para pagar o jantar…

O governo do Estado somente apresentou uma proposta no final da noite de segunda, fazendo o sindicato suspender a greve na madrugada. Por isso, as linhas amanheceram paralisadas porque muitos funcionários não foram trabalhar durante a noite. As estações amanheceram fechadas, provocando filas e as temidas AGLOMERAÇÕES.

Ato reflexo, o alarme da mídia NÃO foi para o crescimento das tensões das relações trabalhistas no atual contexto, mas para “as aglomerações que contrariam as normas de segurança em meio à pandemia da COVID-19”.

Esse mantra serve para tudo: por exemplo, se Bolsonaro sai na Esplanada dos Ministérios para apoiar manifestações antidemocráticas, o único problema que a grande mídia vê é que o presidente “provocou aglomerações que contrariam blá-bá-blá…”.

Essa é a faceta da biopolítica que pretende criar um circuit braker nas posições políticas, logicamente favorecendo sempre o mais forte: o capital, Estado, elite, banca financeira e assim por diante.

Touché!!!

Mais um exemplo foi a invertida (nas redes sociais falaram que “Bocardi foi jantado em pleno café da manhã”) em pelo telejornal Bom Dia SP. Imbuído de toda indignação moral, o apresentador Rodrigo Bocardi quis dar uma enquadrada ao vivo no coordenador do Sindicato dos Metroviários, Altino Prazeres, sobre a greve que atrasou a abertura das linhas do metrô.

“Como é que o sindicato enxerga uma greve no meio de uma pandemia, em um serviço essencial, transportando milhões de pessoas, que tiveram redução do seu salário, que estão em busca de um emprego, que estão no atendimento médico. Vocês consideram razoável uma paralisação no meio da pandemia?”, inquiriu o jornalista.

Citando uma própria fonte do portal G1, do Grupo Globo, Altino deu um “touché” no indignado apresentador diante das condições sanitárias das aglomerações: “Eu considero. Teve uma reportagem do G1 que disse que os 42 bilionários do brasil aumentaram sua riqueza em quase 27% no período de pandemia. Eu pergunto: é mais justo os mais ricos, os bilionários desse país, ficarem mais ricos no período da pandemia e tirarem o direito dos trabalhadores da saúde, do transporte, dos desempregados? Está errado!”.

Em termos mais simples, o sabujo apresentador quis jogar trabalhador contra trabalhador (ou os telespectadores desempregados ou uberizados contra metroviários) sob o álibi biopolítico da inconveniência sanitária das aglomerações.

Como sempre é ressaltado, tudo “em defesa da vida”, frase abstrata e descontextualizada, como o próprio jornalismo asséptico mergulhado no álcool em gel que foi posto em ação desde o início da pandemia.

Esse empirismo jornalístico grosseiro (o mantra sanitário da “aglomeração”) aplica-se a qualquer coisa, retirando todo o contexto político, tornando tudo “natureza” – mecanismo semiológico da “mitologia” como bem descrevia Roland Barthes – clique aqui.

O líder dos metroviários Altino Prazeres citou a matéria do portal G1 (xeque-mate do metroviário ao citar a própria fonte da Globo): “Patrimônio dos super-ricos brasileiros cresce US$ 34 bilhões durante a pandemia, diz Oxfam”.

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Redação

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