Brasil: muitas independências e a independência ainda esperada, por Sérgio Saraiva

De nascimento renegado e juventude atribulada, o Brasil é como um problemático adulto que tem dificuldades de se assumir como tal

A se considerar o que lemos nos livros de história, seríamos filhos das más condições climáticas para a navegação à vela.

Mas, não.

Somos fruto da cobiça e da esperteza de um rei pequeno e de um almirante sonso que fizeram crer ao mundo ter descoberto, no meio do Atlântico Sul, uma ilha de terras donde a vista alcança como uma ilha não pode ter.

Seríamos a terra da cruz. Realmente, crucificados nunca nos faltaram. Mas nos faltava ouro. E assim ficamos, por falta de interesse, como ilhados, por meio século.

Mais dois séculos e meio se passaram entre o dia em que piratas obrigaram o rei de Portugal a assumir nossa paternidade e o momento em que tornamo-nos um país.

Nossa independência, contudo, mantêm-se controversa.

Uns dizem sermos independente desde 1808, resultado das campanhas napoleônicas que levaram um rei fugido a fundar uma exótica monarquia europeia nas selvas da América do Sul.

Outros garantem que nossa independência é obra de Pedro, seu filho – o imperador apaixonado e devasso, mas de coração dividido pelo oceano.

Ainda aqui resta dúvida.

Tal feito teria se dado aos gritos, em 7 de setembro de 1822, às margens do Ypiranga, no planalto de Piratininga. Mas há os que pleiteiam que a independência se deu ao fim de uma curta guerra, em 2 de julho do ano seguinte, nas areias da Bahia de Todos os Santos.

E os que afirmam que a independência de fato só veio a ocorrer em 1831, em um 7 de abril, quando o nosso único rei guerreiro partiu para o esquecimento.

A, então, independência de brasileiros por brasileiros em uma proto-república instável e fratricida seguida de um golpe que restaura uma monarquia neta e imberbe que morrerá decrépita, 58 anos depois.

Houve tantas outras independências.

Da república positivista, mas sem amor e sem povo, de 1889 aos dias de hoje, mais de um século em que cada nova ditadura foi saldada como uma delas. E em que cada nova democratização continha um novo sonho independente.

Em um ciclo que tarda por terminar.

Porque, por fim, há ainda os que negam a independência e, por sebastianistas, esperam pelo salvador da Pátria.

Salvador, só a primeira capital. Somos de há muito uma nação independente.

Mas conscientes ou não de que o independente é alguém entregue à própria sorte, ao próprio engenho e à própria arte, refugamos nosso rito de passagem.

Hoje era para ser mais um deles, talvez ano que vem. 

 

PS: para entregas em domicílio, consulte a oficina de concertos gerais e poesia.

Redação

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