Brasil na Copa do Mundo: vale a torcida?, por Álvaro Padilha

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Pelé sendo carregado pelo povo no Estádio Azteca, após a conquista da Copa de 1970

Por Álvaro Padilha

No Portal Disparada

Segundo Nelson Rodrigues, “o boteco é ressonante como uma concha marinha. Todas as vozes brasileiras passam por ele”. Por essa razão, pensar o Brasil através de suas espeluncas é quase ciência. Ou pelo menos é mais fácil que os inúmeros números, dados e estatísticas dos meus queridos companheiros de DISPARADA.

– Esses tempos, em ocasião do aniversário de uma amiga, estive num desses estabelecimentos, cada vez mais comuns, que têm cara de sujo, mas são limpos; grátis pra entrar e caro pra sair. Mais um dos redutos dos “meio intelectuais, meio de esquerda”, como diz Antônio Prata na sua antológica coluna.

Tocava samba num ambiente e choro no outro. Ironicamente, a casa estava cheia de brasileiros com cara de americano e, também – para gozo dos presentes -, de americanos com cara de americanos.

Amigo, já reparou no gringo quando viaja para o Brasil? Parece um monarca vaidoso, dando suas migalhas à parte mais “exótica” do reino. Muito por conta dessa força misteriosa que infunde na cabeça do nosso povo o anelo de ser um “vira-lata entre os homens”.

Entregamos, ao rei, o que for preciso: petróleo, minério e, se possível for, até nossos bens mais caros. Os culturais. Tudo pra mão do estrangeiro, que, “virtuoso e de moral inabalável”, administra nossa crônica mania de incapacidade. Bíblico: “tudo posso naquele que me fortalece”.

Penso o seguinte: – é compreensível que os descorados do primeiro mundo não se oponham a essa sentença que os exalta, mas é intragável ver-nos tolerando esse juízo vilipendiador do brasileiro.

Há esperança.

Em 1958, o Brasil comprovou a eficácia de um antídoto, que começara a ser testado anos antes, para a soberba do gringo e “viralatismo” nosso: a Seleção Brasileira de Futebol. Coincidentemente – e hoje já não se sabe quem puxou quem – o nosso futebol espigou junto do nosso Estado. Precisamos tanto de Getúlio Vargas quanto de Leônidas da Silva, Jair, Didi e Zizinho para construir nossa nação. Pelé, Tostão e Garrincha são tão valiosos quanto JK.

Fato é que, toda vez que um tenaz brasileiro ergue uma taça, abre-se uma brecha na hegemonia. A brecha que eleva um pobre mineiro de Três Corações ao posto de personalidade mais conhecida da Terra.

E essa fenda está pronta para ser arreganhada novamente.

Por isso, mais do que nunca, precisamos apoiar a seleção.

Eu sei que o 7×1 é uma doença incurável. Mas foi a torcida que transmitiu aos jogadores – já com a imunidade baixa – o mal de que padecemos. Não o contrário.

Não serve o apoio cínico e mentiroso de 2014, da mentalidade “viralatista” que capturei nos parvos frequentadores do bar. Isso pode contaminar de novo nosso plantel. Mentir para si mesmo é diferente de acreditar.

Adenor Leonardo Bachi, o Tite, parece ter criado novamente condições para nosso sucesso. Estamos diante de mais uma geração que tem talento, raça e magia de sobra. E tem Neymar. Mas ainda falta resgatar ao time a confiança de pertencer a um povo que sonha e vence, com a qual devemos contaminá-los.

O brio de ser quem se é deve habitar novamente a nossa cabeça, assim a bola entra e o País anda.

Estamos condenados à esperança: munam-se de cuecas e calcinhas da sorte. Vamos ostentar as cores da bandeira, pintar ruas, planar churrasco e comprar cerveja. – Rezem bastante a Deus, que também é brasileiro. Assim, no dia 15 de julho de 2018, nos embriagaremos adstritos nos botecos, falando bem de nós mesmos, fazendo ressoar o anti-destino do Brasil em nossas conchas marinhas.

Alvaro Padilha :Músico, bacharel em direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e editor do Portal Disparada.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

10 Comentários

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    1. Ainda na academia.
      Ontem

      Ainda na academia.

      Ontem tinha uma camisa a venda com estampa escrito Brasil com foto de dois tucanos logo abaixo.

      Talvez esta também sirva.

       

  1. A esquerda brasileira tem um

    A esquerda brasileira tem um ódio bobo contra futebol, um ódio arrogante, pretensamente sabido e intelectualoide. É um vício que vem de tempos em que se espalhou que este é o “ópio do povo”, principalmente por vertentes trotskistas. Por trás dessa opinião, existe muito ódio contra o povo – e falta análise materialista. O povo ama futebol, isso é um dado da realidade e não pode e não vai ser mudado. 

    Então odiar futebol se torna contraproducente e algo muito perigoso, pois pode negar o povo, suas vontades legítimas, sua própria cultura, o que serve muito bem a interesses capitalistas internacionais. Pode ter certeza que o Brasil sem o seu amor pelo futebol seria uma nação pior e mais colonizada sob vários sentidos. Não adianta e é indesejável se colocar contra esse patrimônio. Não temos que ensinar nada ao povo, ele não é burro ou alienado, ele é só o que ele é, sendo o que é por dadas condições que são reais e materiais. 

    Sempre que leio um esquerdista (assim auto-denominado) soltar ódio contra o povo ou algo do povo, sei que se trata de alguém de classe média mais do que confortável, sentado na sua poltrona e esperando que o povo faça algo no lugar dele (algo que ele acha certo e superior, diga-se de passagem). Falta empatia com Sua Excelência, o povo. 

    O povo aponta caminhos e é sábio aquele que souber ler quais são esses caminhos. Temos mais a aprender com ele do que ensinar. 

    1. Não concordo

      A esquerda ficou contra o futebol porque ele foi utiizado como meio de aproximação entre a ditadura militar e o povo.

      E mesmo assim, muitos que lutaram contra a ditadura naqueles anos acabaram torcendo sim, para a seleção de 70, que acabou campeã.

      Hoje a falta de apoio para com a seleção tem outros fatores e um deles é, sim, o fato de os jogadores brasileiros serem na verdade, europeus. Tem jogador nessa seleção que nunca atuou no Brasil além das categorias de base. Outros como Daniel Alves (cortado), Marcelo, Thiago Silva, Fernandinho e Wilian foram embora do país muito cedo. Se você ver uma foto do Marcelo no início da carreira no Real Madrid você nem reconhece o jogador. Eu sequer sabia que ele era do Fluminense (pai google ajudou).

      Sou de esquerda, vou torcer para a seleção como sempre torci, mas me recuso a vestir a camisa amarela que virou símbolo da direita.

  2. sorry baby, mas não vale não

    Não penso assim não. Sorry…

    Essa garotada que vive e joga na Europa, ganha em Euro, não tá nem aí com o Brasil .

    É meio irrealista pensar que eles tem algum sentimento nacional ainda.

    Nem vou assistir aos jogos dos jogadores brasileiros que moram na Europa. Isso é o que temos hoje.

    Seleção dos brasileiros ( que moram na Europa) . Não é uma seleção brasileira mais….

     

     

  3. Só faltou cantar “Pra frente

    Só faltou cantar “Pra frente Brasil”……

     

    Que o técnico garoto-propaganda de bancos sangue-sugas e seus pernas de pau com grife se danem…………

    O povo merece dignidade, respeito, e garantia de seus direitos, não são garotos mimados vestidos com shorts que darão isso………

  4. Vale a torcida pra seleção?

    Não. Um país em que as pessoas não lutam por seus direitos trabalhistas e de justiça, não preservam suas conquistas sociais e o pior: não enfrentam ataques sistemáticos á democracia; não merece conquistar um campeonato mundial sob o maior sibolo da extrema direita, qual seja, a camisa da CBF.

  5. Ontem, estava eu na academia

    Ontem, estava eu na academia dando uma malhada quando ouço ao meu lado comentário um jovem de uns 18 anos sobre o corte de cabelo de outro jovem da mesma idade nestes termos: “está parecendo corte de fuzileiro americano”.

    E o corte era exatamente o mesmo do tempo que eu estive no exército há 36 anos trás.

    Na época eramos chamados de “periquitos” por causa daquele corte combinado com a farda verde oliva.

    Em 36 anos fomos “promovidos” de periquito a fuzileiro americano.

    É dose.

    1. Você me fez rir agora…

      Na minha infância/adolescência não perdoava os jovens que passavam pela rua, fardados, indo em direção ao quartel (no interior os jovens faziam o Tiro de Guerra).
      Eu gritava e fugia: – Periquito verde!!

  6. Dizem que a orquestra

    Dizem que a orquestra continuou tocando enquanto o Titanica afundava. E os passageiros, será que continuaram dançando? Quanto antes a seleção estrangeira do brazil for eliminada, melhor. Tá faltando pão, vão investir pesado neste circo.

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