Burguesia brasileira não entra em dividida: Terceiriza!, por Rogério Maestri

O jogador pipoqueiro e a burguesia brasileira têm algo em comum: não entram em dividida e desaparecem no momento em que pode haver confronto

Foto: Reprodução/Wikipedia

Burguesia brasileira não entra em dividida: Terceiriza!

por Rogério Maestri

As pessoas não entendem direito o que significa um jogador pipoqueiro e confundem com aquele que se esconde quando joga com um time maior, mas se olharmos o sentido da palavra fica bem mais simples. O que acontece equivale a quando se põe milho para fazer pipoca – quando essa estoura, a pipoca cai fora se a tampa da panela não estiver fechada. Pois tanto os jogadores pipoqueiros quanto a burguesia brasileira tem a mesma característica: não entram em dividida, saltam para cima e desaparecem no momento em que pode haver confronto.

Melhor do que centenas de artigos na Internet ou notas de repúdio, foram os representantes da torcida antifascista corintiana: algumas dezenas foram para a rua e esperaram a chegada dos “intervencionistas” e, como qualquer torcida organizada e mesmo desorganizada de qualquer time no Brasil, sabe que quando o pau fecha não podem pipocar apreende desde cedo a resistir as torcidas rivais e a polícia. Logo, não são pipoqueiros.

Por outro lado, a burguesia brasileira deixou de ter alguma coragem há mais de meio século, quando a bola é dividida e pode sobrar um bom chute nas canelas, ou mesmo pior: simplesmente não entram em divididas, mas terceirizam a violência.

A violência no campo é entregue a jagunços ou, ultimamente, à polícia militar dos estados, a violência contra o povo nas cidades é entregue também a polícia militar e, em golpes políticos de direita, para as forças armadas.

Porém, o que os articulistas mais à esquerda não entendem é que há uma fratura nas forças armadas de diversos tipos, entre as próprias corporações. Exemplo: Exército, Marinha e Aeronáutica e, principalmente, dentro do Exército – entre os quadros inferiores e os superiores. Não só essas fraturas citadas existem, há também uma fratura entre o alinhamento político dos diversos grupos.

Antes da epidemia e antes do não aumento do soldo das tropas das polícias militares, havia uma espécie de tolerância entre as patentes superiores e inferiores, mas com o régio aumento das patentes superiores e uma banana para as inferiores, esta coesão simplesmente deixou de existir. Além disso, como as patentes inferiores estão na rua vendo a evolução da epidemia e escutando o pouco caso que tanto do governo como os quadros superiores estão dando a essa epidemia, eles estão sentindo-se abandonados.

No momento em que os leitos de UTI’s dos hospitais militares ficarem cheios, certamente as patentes superiores terão prioridade sobre cabos e sargentos, não interessando a idade nem o quadro da doença, nesse momento a fratura será definitiva.

Como falei da terceirização da violência, cabe chamar atenção do desempenho das torcidas antifascistas que cresceram de forma surpreendente no Brasil, porém por mais que estranhem alguns jornalistas, este crescimento está relacionado com a política desportiva e com a origem social dos torcedores: na fase da época da copa, dezenas de clubes partiram para a privatização dos esportes e como consequência a elitização do acesso aos campos de futebol.

Os direitos de transmissão e a mercantilização dos símbolos desses clubes tornaram o futebol algo elitizado e típico da pequena classe média, que se deleita mais em ver o Barcelona jogando do que o time da sua cidade. Essa elitização do futebol expulsou do campo os mais pobres com o fim das torcidas dos fossos, que assistia os jogos de pé e, apesar de ser desconfortável e ter uma visão pior, essas torcidas pagavam ingressos irrisórios e ficavam mais próximo aos campos.

Após essa primeira etapa as cadeiras marcadas, exigência da corrupta FIFA, serviram para diminuir o número de lugares e consequentemente os times compensaram subindo o preço do ingresso, os camarotes vips aumentaram em número mas só serviram para pessoas que nem sabiam o nome dos jogadores, em resumo o torcedor fanático foi expulso dos campos.

Além de tudo isso, tivemos os esquemas repressivos empregados contra as torcidas organizadas, antifascistas ou não, que se tornou uma tônica no futebol e na mira da polícia, pois simplesmente se chegou ao ponto em que a direita jamais quis chegar: qualquer torcida organizada ou não encara a provocação e está acostumada a levar porretada da polícia. Logo, meia dúzia de velhos barrigudos “intervencionistas” não dão medo para essas torcidas, pois eles não correm quando a violência é disparada contra eles. Simplesmente encaram.

Redação

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