Cadê a autocrítica da direita brasileira?, por Róber Iturriet Avila

Passados três anos de governos de direita, considerando a gestão de Temer e os seis meses de Bolsonaro, quais foram os resultados concretos até aqui?

Foto: José Cruz/Agência Brasil

do Brasil Debate 

Cadê a autocrítica da direita brasileira?

por Róber Iturriet Avila*

Passados seis meses de governo Bolsonaro e três anos de uma aliança liberal-conservadora na gestão do país, já estão autorizadas as cobranças pelos resultados.

O governo Temer prometia que a redução de gastos públicos geraria crescimento econômico e a reforma trabalhista ampliaria o número de empregos. Os resultados concretos foram: estagnação, desemprego e ampliação do endividamento público. O lado positivo foi a redução da inflação e do nível de taxa de juros. Houve um entusiasmado apoio de inúmeros setores para a queda de Dilma Rousseff. Seriam eles responsáveis pelo desastre que tivemos desde então?

Se o governo anterior é passado, o atual completa seis meses. Vejamos o que ocorreu nesse período.

Muitas decisões políticas são fundamentadas em informações falsas, são exemplos a fala do presidente de que as universidades públicas não fazem pesquisa e a crítica à metodologia do IBGE no cálculo da taxa de desemprego.

Nossa inserção internacional promete aumentar a produtividade e a competitividade da economia brasileira. Nas negociações, abriríamos mão de facilidades e flexibilidades na Organização Mundial do Comércio (OMC) para, em troca, abrir mão de efetuar políticas de desenvolvimento industrial ao ingressar na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), ainda que o Brasil não esteja no mesmo patamar desses países. Na prática, o Brasil abriria mão de qualquer sombra de soberania para efetuar políticas industriais.

Nossas relações exteriores nos trouxeram embaraços com países árabes e desavenças com nosso principal parceiro comercial, a China. Não é impossível que o Brasil sofra embargos do mundo civilizado para que reduzamos o nível de agrotóxicos, do desmatamento e acabemos com a perseguição aos índios.

Muitos governos tinham um alinhamento aos Estados Unidos, mas não vem à mente registros de uma subserviência humilhante como a atual. A comunidade internacional está horrorizada ao ponto de um prefeito humilhar o presidente da República sem nenhuma voz de defesa de Trump. Bolsonaro é visto e tratado como uma aberração.

Quem conhece a história brasileira, sabe que nunca houve um governo tão esquisito quanto este. Jânio Quadros era desajeitado, queria governar acima do Congresso e se preocupava com questões menores, mas ao menos era culto e tinha experiência executiva. O governo atual é formado por um grupo de pessoas com pouca estatura intelectual, baixa experiência, e, salvo exceções, que não possui conhecimento na área em que atuam.

Um dos grupos que está no governo é formado por conservadores pré-iluministas. Questionam o conhecimento, a ciência, a cultura, perseguem explicitamente professores, jornalistas e artistas. Querem calar opositores pensantes.

A destruição da educação, da saúde e da previdência são intenções óbvias. Além da perseguição aos sindicatos. Os resultados de tais políticas podem ser observados em registros históricos: redução de salários, aumento de pobreza e da desigualdade.

Felizmente, o Congresso e o Supremo emperram a insanidade de armar uma população em um país desigual, violento e que espuma ódio.

Do ponto de vista da gestão política, farpas para todos os lados: vice, ministros, imprensa, Congresso, STF, militares, estudantes, professores, gays, mulheres, índios, negros.

Nem é preciso apelar ao moralismo e falar das milícias, do ministro da Justiça criminoso, das laranjas, do golden shower, do turismo sexual, da ideia fixa em órgãos sexuais e nem da escatologia do “guru”.

O presidente rebaixa o seu cargo ao decidir sobre lombada eletrônica, cadeirinha, horário de verão, dessanilização da água, nióbio, grafeno e todas essas platitudes minúsculas para o seu cargo.

Sejamos claros: Bolsonaro tem limitações intelectuais elevadas, é grosseiro, desconhece todos os temas de governo, não sabe o que é o Brasil, não sabe como resolver os problemas da nação, tem intenções autoritárias e há claros sinais de que seja paranoico. Estamos diante de um governante patético, amador, medíocre, ignorante, despreparado, bizarro e louco. Um vexame planetário.

Nada disso é novidade a quem tem sensatez. Até mesmo o ex-secretário geral do Governo enxerga o que é evidente. Contudo, depois de três anos de desastres econômicos, políticos e de vergonha internacional, cabe a questão: cadê a autocrítica da direita brasileira? Tanto o governo Temer, quanto o atual enxovalham a direita, a centro-direita e a extrema-direita. Fizeram muito para derrubar Dilma e para barrar a candidatura de Lula. Quais foram os benefícios para o Brasil?

Há vozes na imprensa liberal e na conservadora de crítica pesada ao atual governo. Há líderes empresariais que olham para Mourão. Mas cadê a autocrítica? Diversos grupos contribuíram para que chegássemos neste fundo do poço em que estamos. A narrativa simplória “contra a corrupção” destruiu muitas das principais empresas brasileiras, desestruturou o sistema político, trouxe desemprego e estagnação, fragilizou a democracia.

Passados três anos, quais foram os resultados concretos até aqui? Onde está a autocrítica da direita brasileira?

***

*Róber Iturriet Avila é doutor em economia e professor adjunto do Departamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É colunista do Brasil Debate

Redação

6 Comentários

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    1. Autocrítica dos governos de esquerda.

      Dilma. “Eu acho que o Joaquim Levi não estava a altura no momento. Uma parte porque, porque ele não estava. Mas outra parte, não é porque ele não estava não.

  1. “Estamos diante de um governante patético, amador, medíocre, ignorante, despreparado, bizarro e louco. Um vexame planetário.”
    Eu havia comentado algumas vezes, antes da tomada de posse, que o Bolsonaro teria dificuldades para constituir um governo, que seu partido não teria (e não tem) quadros, que a origem de baixo clero é negocista e, por isso, perigoso.
    Agora, deveríamos ou não levar a sério o modo como esse governo age, por mais tosco que ele seja, medíocre, despreparado…? Com o perdão da comparação, é como fazer análise de fezes, é preciso não ter nojo pra saber o que a gente procura. Simplesmente pelo fato de esse jeito tosco ter apelo e vai direto àquilo que o Reich chamou de “pulsões secundárias”.
    Agora, pedir autocrítica à direita (na verdade em forma de pergunta) esconde um problema: a análise confronta determinadas valores progressistas (embora seja uma questão civilizatória) contra os valores e as ações da direita. Quando faz esse confronto, somente reforça a estrutura da direita, que simplesmente rebate e diz que é “ideologia de esquerda” ou coisa parecida.
    Não me parece que seja um (perceba, UM) dos modos de tratar a questão. Afinal, a direita não vai fazer autocrítica pois há, no geral, sempre um bode expiatório, uma desculpa. A própria “realidade” é de direita. Então, enquanto houver angu e uma arma, uma força, minha cumbuca primeiro! Há quem diga que o Direito é a forma perfeita de ideologia (alguém ofendido, de fato, é controverso); mas no nosso caso, o Direito está interditado (então, há poder de mando sem fundamento, e isso é o princípio da dissolução do Estado).
    Quer dizer, a direita não fará autocrítica. Terá que se fechar mais e não poupará esforços para manter esta situação, este “capitalismo depressivo”, o status derivado da escassez (duvida? qual o comportamento de parte da classe média ao ver “pessoas de chinelos” nos aeroportos?).
    Por isso, embora seja necessária a ação política, vai no caminho proposto o artigo https://jornalggn.com.br/artigos/uma-psicanalise-do-fascismo-por-daniel-lirio/. São as garrafas jogadas ao mar, esperando alguém pegar.

  2. “Estamos diante de um governante patético, amador, medíocre, ignorante, despreparado, bizarro e louco. Um vexame planetário.”
    Eu havia comentado algumas vezes, antes da tomada de posse, que o Bolsonaro teria dificuldades para constituir um governo, que seu partido não teria (e não tem) quadros, que a origem de baixo clero é negocista e, por isso, perigoso.
    Agora, deveríamos ou não levar a sério o modo como esse governo age, por mais tosco que ele seja, medíocre, despreparado…? Com o perdão da comparação, é como fazer análise de fezes, é preciso não ter nojo pra saber o que a gente procura. Simplesmente pelo fato de esse jeito tosco ter apelo e vai direto àquilo que o Reich chamou de “pulsões secundárias”.
    Agora, pedir autocrítica à direita (na verdade em forma de pergunta) esconde um problema: a análise confronta determinadas valores progressistas (embora seja uma questão civilizatória) contra os valores e as ações da direita. Quando faz esse confronto, somente reforça a estrutura da direita, que simplesmente rebate e diz que é “ideologia de esquerda” ou coisa parecida.
    Não me parece que seja um (perceba, UM) dos modos de tratar a questão. Afinal, a direita não vai fazer autocrítica pois há, no geral, sempre um bode expiatório, uma desculpa. A própria “realidade” é de direita. Então, enquanto houver angu e uma arma, uma força, minha cumbuca primeiro! Há quem diga que o Direito é a forma perfeita de ideologia (alguém ofendido, de fato, é controverso); mas no nosso caso, o Direito está interditado (então, há poder de mando sem fundamento, e isso é o princípio da dissolução do Estado).
    Quer dizer, a direita não fará autocrítica. Terá que se fechar mais e não poupará esforços para manter esta situação, este “capitalismo depressivo”, o status derivado da escassez (duvida? qual o comportamento de parte da classe média ao ver “pessoas de chinelos” nos aeroportos?).
    Por isso, embora seja necessária a ação política, vai no caminho proposto o artigo https://jornalggn.com.br/artigos/uma-psicanalise-do-fascismo-por-daniel-lirio/. São as garrafas jogadas ao mar, esperando alguém pegar.

  3. RIAvila,
    Eu tenho certeza absoluta que os setores à direita jamais farão qualquer tipo de autocrítica, termo que a categoria desconhece, muito menos a respeito do apoio escancarado a temer e ao fascista desesperado.
    Conforme relatório recente, neste periodo pós-golpe a renda dos que recebem até 3 S.M. recuou mais de 6%, enquano os do andar de cima avançou cerca de 20%, logo, os do andar de cima irão reclamar de quê ?
    Não se pode esquecer que, desde o século XVIII o domínio do andar de cima sempre foi bastante expressivo, jamais brincam em serviço e se o país não avança, paciência, porque a turma está se lixando para o resto. Esta trágica reforma da Previdência talvez seja o melhor exemplo quanto ao modo deste grupo perceber o país – encontrar um deles que seja contrário à tal reforma é tarefa hercúlea, muito embora todos eles saibam perfeitamente o resultado desta panacéia no longo prazo.

  4. Auto-crítica porque? Eles estão conseguindo o que queriam: vandalizar a coisa pública, manter o país “em seu devido lugar”, a saber, de joelhos aos EUA, e manter pobre afastado do aeroporto.

    O fato de que a própria direita está sendo afastada do aeroporto é a perda que garante o ganho:

    – “Passo a pão e água numa boa desde que pão e água sejam privilégios da minha classe e não direitos de qualquer pobre, aí.”

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