Francisco Celso Calmon
Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.
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Cadê a autocrítica dos fariseus arrependidos?, por Francisco Celso Calmon

Só tiram a trava do olho quando a realidade é mais forte que a conveniência política. 

Cadê a autocrítica dos fariseus arrependidos?

por Francisco Celso Calmon

Michel Temer reconheceu que foi golpe o impedimento da Dilma, e que se Llula tivesse ido para a Casa Civil do governo a história seria outra. 

Temer foi um dos articuladores do golpe, não apenas preparando com discurso, como aquele em que dizia que o Brasil precisava de alguém que unisse o país, descartando a presidenta como capaz de e se colocando como tal. Antes teve aquela carta chorosa de “marido carente”. 

Como vice-presidente visitou diversos governadores, começando pelo do ES, Paulo Hartung, arregimentando apoios para o golpe, comportamento que não há outro adjetivo senão o de traidor.

Janaína Paschoal, uma das proponentes do pedido de impeachment, afirmou recentemente que Dilma não foi impedida por razões contábeis, as tais pedaladas, reconhecendo o golpe. 

Seu colega proponente, Miguel Reali, afirma que o ex-juiz Moro agiu com parcialidade e conluio com o MPF no processo Lula. E diz de sua colega: “Recebi com muita tristeza a aproximação de Janaina com Bolsonaro. Há uma contradição dele com a democracia”. 

O ministro do STF, Gilmar Mendes, classifica Moro e seus asseclas da lava jato como quadrilha de corruptos e corruptores com projeto de poder. E procura se eximir de sua responsabilidade de ter impedido Lula de assumir o cargo de ministro da Casa Civil dizendo que no contexto do vazamento, achou que havia armação, fraude, da parte da mandatária de outro poder, o Executivo. “A conduta demonstra não apenas os elementos objetivos do desvio de finalidade, mas também a intenção de fraudar”, escreveu Gilmar em seu despacho na época.  

No presente declara: Hoje temos uma visão mais completa do que estava se passando.  Mas as informações disponíveis na época permitiam concluir que havia um viés de fraude na nomeação…”. 

Como um ministro do STF toma decisões açodadas e baseadas em matéria de jornal, de vazamentos publicados pela Globo? Reconhecer isso sem penitência é trágico para a história do judiciário e do direito no Brasil. 

Gilmar extrapolou a sua competência, pois nomeação de cargo é um ato administrativo interno ao Executivo, não cabendo interferência de outro poder.

No presente, com a gravação completa daquele vazamento, publicada pelo site The Intercept, Gilmar titubeia e clama para olharmos o futuro. “O importante agora é organizar uma fuga para frente”. O termo “fuga” deve ter usado como a fuga de sua responsabilidade.  

“Temos um encontro marcado com as alongadas prisões que se determinam em Curitiba. Temos que nos posicionar sobre esse tema, que conflita com a jurisprudência que construímos ao longo desses anos”, declara Gilmar; quando alongadas também foram as tibiezas dele e do STF. 

Só tiram a trava do olho quando a realidade é mais forte que a conveniência política. 

“O direito à liberdade de Lula desde o mês de abril deriva da detração prevista no art 387 do CPP. O Ministério Público reconheceu esse direito. E em setembro ele completa 1/6 da pena. Na pior das hipóteses, em 2 ou 3 semanas deve estar no semiaberto. Não é favor, é direito”, afirma o governador do Maranhão, Flávio Dino, ex-juiz.

Todos foram personagens principais do golpe de 2016. Golpe que levou o país a barbárie social, a estagnação econômica, a atrofia política da democracia e a subversão do Estado de direito. 

Foram eles também que transformaram em mantra a cantilena da necessidade de autocritica do PT, e no presente, sem recurso diante da história para fugir da responsabilidade que têm pela atual conjuntura, farão autocrítica? Ou serão como os fariseus, arrependidos, mas nem tanto? 

Francisco Celso Calmon é Advogado, Administrador, Coordenador do Fórum Memória, Verdade e Justiça do ES; autor do livro Combates pela Democracia (2012) e autor de artigos nos livros A Resistência ao Golpe de 2016 (2016) e Comentários a uma Sentença Anunciada: O Processo Lula (2017)

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Francisco Celso Calmon

Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.

8 Comentários

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  1. Concordo com quase tudo. A inocência de Temer no golpe é risível, para ser educado. O STF assistiu tudo de camarote e Gilmar no seu gigantismo institucional entregou Lula aos carcereiros de Curitiba. Agora, o PT não passou por esta história sob uma manta angelical, sejamos coerentes.

  2. Realmente Michel Temer foi um dos articuladores do golpe/2016.
    Conclusão: como político foi um dos responsáveis pelas perdas e danos à democracia e as conquistas através da constituinte de 1988.

  3. Arrependidos não são. Basta ver suas atitudes, medidas e decisões que foram tendo até recentemente.
    Não fosse a vazajato e as coisas continuariam sendo normalizadas. Como golpistas muitos estavam sendo hipócritas. Com a vazajato, foram “elevados” a cínicos. Viverão atemorizados, porque as coisas vão mal (tendendo a piorar) e sabem que entraram no rol dos que, sobre si, recairão culpas e julgamentos.

  4. “Farão autocrítica? ou serão como os fariseus, arrependidos, mas nem tanto?”. Essa pergunta deve ser direcionada, também, aos meios de comunicação, aos jornalistas, aos pseudos jornalistas, aos que se acham formadores de opinião (especialmente a gentalha da tv, do esporte, dos programas populares, as reginas duartes da vida) e sobretudo aos chamados “coxinhas” de bolsos cheios, por meio da exploração e mentes vazias, por força da burrice.

  5. O articulista cita Michel Temer, Janaína Paschoal, Miguel Reali, Gilmar Mendes e finalmente Flávio Dino, para então concluir: “Todos foram personagens principais do golpe de 2016”.
    Do jeito que estruturou o artigo passa o entendimento de que o atual governador do Maranhão foi um dos principais personagens do Golpe.

    1. Também, observei essa ambiguidade textual, porém, todos os que conhecem os fatos e, os personagens envolvidos, saberão fazer a devida triagem entre o joio e o trigo.

  6. Olhando o pato amarelo lembro do papel da FIESP no golpe. Protagonista!
    Os aplausos recebidos por bolsonaro, um paria, ao balbuciar seus descalabros em aparição pré eleitoral na CNI e em outros clãs empresarias, tambem revelam papel de destaque no golpe destes grupos. Financistas!
    E não é mera coincidência a origem dos apoiadores (e mantenedores) destes individuos hoje no poder do Brasil e de um outro individuo, um louco tão perigoso quanto, que protagonizou uma das maiores tragédias de nossa civilização: Hitler.
    Duvidam? Vale ler o livro mencionado no artigo abaixo, mas sem desconsiderar que o apoio empresarial que possibilitou o nazismo transcedeu as fronteiras da Alemanha. (Ford que o diga)

    https://www.jb.com.br/internacional/2019/09/1016577-autor-explora-apoio-empresarial-a-hitler-para-compreender-ascensao-do-nazismo.html

  7. Mais do que exigir pedidos de arrependimentos e desculpas , os Progressistas devem ser mais pragmáticos que os Golpistas. Bola pra frente que é melhor para o país. E mais atenção aos próximos sinais de golpes e assaltos direcionados à República.

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