Vários de nós, analistas dos cenários políticos e socioeconômicos do Brasil e do mundo, temos observado que o século XXI começou com uma marca semelhante àquela de um século antes, qual seja, uma brutal elevação da desigualdade em nível global e, muito em consequência desta, um forte desgaste do liberalismo político. Assim como nas primeiras décadas do século XX, este cenário tem levado à emergência de lideranças políticas autoritárias, em vários países do mundo.
Todavia, há uma diferença marcante nestes dois momentos. No início do século XX, o liberalismo político estava sendo rivalizado por alternativas – ambas autoritárias – dos dois extremos do espectro político. Vivenciou-se, naquelas primeiras décadas do século passado, a emergência tanto do nazi-fascismo quanto do bolchevismo como alternativas reais de poder, em particular no continente europeu.
Acredito que a inexistência, hoje, de uma contestação forte do liberalismo político à esquerda do espectro ideológico está favorecendo um novo fenômeno, um casamento satânico entre autoritarismo político e liberalismo econômico. Nas primeiras décadas do século XX, os regimes autoritários de direita e de esquerda que chegaram ao poder fizeram uso de políticas econômicas antiliberais, com forte intervenção do Estado, políticas de industrialização e de fortalecimento das economias nacionais. Hoje, observa-se justamente o contrário.
Se considerarmos o caso brasileiro, o contraste é talvez ainda mais forte. O Estado Novo foi um período fortemente autoritário no Brasil, mas com políticas econômicas antiliberais, que propiciaram a aceleração da industrialização, com o estabelecimento das indústrias de bens intermediários, fundamentais para os períodos posteriores de substituição das importações de bens de consumo duráveis e de bens de capital.
Hoje, o casamento satânico entre autoritarismo político e liberalismo econômico se faz presente em diferentes países do mundo, inclusive no Brasil. Aqui, do ponto de vista político, ainda estamos apostando na hipótese de que as instituições políticas liberais terão higidez suficiente para resistir aos arroubos autoritários que pipocam de todo lado (incluindo os estamentos judiciário e militar), com destaque para o presidente Bolsonaro. Obviamente, já não vivemos em um regime democrático próximo da plenitude (1). Por outro lado, ainda não mergulhamos em um autoritarismo desenfreado.
Na economia, por sua vez, experimentamos uma abordagem ultraliberal, que nos conduz para uma retomada acelerada do aumento da desigualdade de renda conjugada a uma terrível depressão econômica, reconhecida até mesmo por economistas conservadores. E esse não é um fenômeno apenas brasileiro.
O cenário internacional indica de forma muito clara uma forte desaceleração da economia mundial. Talvez o mundo não entre em recessão, mas já é certo que irá desacelerar de forma significativa. Segundo os próprios economistas conservadores (2), essa desaceleração já “estava contratada” há algum tempo. Todavia, a escalada da guerra comercial entre os EUA e a China (3) tende a prejudicar ainda mais o crescimento econômico mundial.
É curioso, portanto, que o novo Relatório Focus, do Banco Central, tenha vindo com uma – embora discretíssima – elevação das expectativas de crescimento econômico para este e para o próximo ano. De onde os entrevistados tiraram tal otimismo? Confesso que não sei. Para mim, ficou parecendo mais uma peça de ficção (de wishful thinking) dos “agentes do mercado”, como uma que me caiu recentemente nas mãos (4).
Se a abordagem ultraliberal da política econômica for mantida – e tudo indica que será – o cenário mais provável é da manutenção da depressão econômica, com o aumento da desigualdade e da pobreza. Esse cenário, somado a um ambiente político intoxicado pelo autoritarismo, levará a uma conjuntura de enorme imprevisibilidade. Por enquanto, o presidente Bolsonaro tem conseguido manter o apoio de algo como 1/3 do eleitorado. Será que isso se manterá ao longo do próximo ano? Quanto tempo o povo brasileiro irá aguentar viver sob o domínio de um casamento satânico?
P.S.: Aproveitando a oportunidade, cadê Queiroz?
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Eu nao sou economista mas lendo tantos artigos criticando o liberalismo e o neoliberalismo e de como isso nao funcionou em muitos paises e tantos outros paises abandonando a sua ideologia e o Brasil continuando a apostar nisso soh me resta uma conclusao:
- O governo quer aumentar a desigualdade social e quebrar o Brasil o que acarretara no fim da democracia no Brasil. Nenhum pais consegue ser democratica com nivel absurdo de desigualdade.
A questao agora nao eh se perguntar o porque de se adotar medidas neoliberais e sim quais os motivos para se querer quebrar o Brasil. Quem sao os vencedores em transformar um pais feudal.
Dessas coisas do tempo só sei o seguinte...
que sempre existiu alguém para ser chamado de O Temerário para que outros lhe presenteassem com fortalezas e serviçais até que todos morressem de cansaço por tanto contar suas riquezas, todas roubadas ou retiradas do povo local à força
alguns até exigiram serem banhados com ouro antes de serem sepultados
Deve ser por isso que uma parte da sociedade, certas autoridades, os milicianos e os bicheiros do poder gostam tanto de ouro. Juiz e ministros que não respeitam as leis são bicheiros do poder
o ouro da extravagância da podridão atual que a todos contamina e domina