Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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Chamberlain e Johnson prometem o céu e entregam o inferno, por Andre Motta Araujo

Um povo com um milênio de história política pode cometer desatinos, iludido por bufões, essa é a lição da eleição esmagadora desse tipo histriônico.

Foto The Guardian

Chamberlain e Johnson prometem o céu e entregam o inferno

por Andre Motta Araujo

Neville Chamberlain foi eleito Primeiro Ministro da Grã-Bretanha em 1937 e ficou no cargo até 1940, um medíocre idiota que confiou em Hitler e que tinha apoio da iludida população britânica até o dia do juízo final, quando Hitler invadiu a Polônia e deu início à Segunda Guerra Mundial. Chamberlain é um digno antecessor de Boris Johnson, outro enganador do povo inglês, que promete a glória de um novo Império Britânico e vai entregar a desgraça de uma drástica redução do PIB inglês de, no mínimo, 6%, o esfacelamento do Reino Unido com a independência da Escócia e uma crise sem solução fácil na fronteira da Irlanda.

Chamberlain e Johnson têm muito em comum, ambos são do Partido Conservador, são ilusionistas irresponsáveis que prometem o céu e entregam o inferno.

OS GRANDES PRIMEIROS MINISTROS INGLESES

O século XIX conheceu uma safra de grandes Primeiros Ministros no reinado da Rainha Vitória.  William Gladstone foi Primeiro Ministro quatro vezes, Lord Salisbury (Robert Cecil) foi três vezes,  Arthur Wellesley (Duque de Welliington) foi duas vezes, William Lamb (Visconde Melbourne) duas vezes, Lord Russel idem, seu descendente foi Embaixador no Brasil na década de 60, a filha Giorgiana Russel brilhou nas festas do Rio, Edward Stanlely (Lord Derby) duas vezes.

Já no Século XX, o Partido Conservador apresentou várias mediocridades em série, o mais notável foi Stanley Baldwin, Primeiro Ministro por três vezes, antecessor de Neville Chamberlain, o mais medíocre de todos e que quase acaba com a Inglaterra, salva por Churchill.

O povo inglês tem, portanto, sólidos  antecedentes de estupidez antes de escolher um palhaço como Boris Johnson e confiar a ele a ruína de sair da União Europeia, provavelmente desintegrar o Reino Unido com a saída da Escócia, criar um vulcão geopolítico na Irlanda com uma fronteira artificial nas duas Irlandas. Um bufão idiota da estirpe de Chamberlain que desceu do avião em 1938 com um papelucho assinado por Hitler bradando “Temos paz em nosso tempo”, um ano depois  se iniciava a Segunda Guerra Mundial, Chamberlain entregou a Tchecoslovaquia em troca de um papelzinho assinado.

A ENTREGA DA TCHECOSLOVAQUIA

Quando no Acordo de Munique de 1938, Chamberlain e Dalidier, Premier francês, entregaram a Tchecoslavaquia, perante a qual tinham dado solene garantia de suas fronteiras, os alemães ao entrarem na Tchecoslovaquia ficaram espantados com a extensão e qualidade das fortificações tchecas. Os tchecos teriam grande capacidade de resistência, além do que sediavam uma das três maiores fábricas de armamentos da Europa, as fabricas SKODA, não teria sido fácil para a Alemanha entrar na Tchecoslovaquia SE ESTA RESISTISSE. Não resistiu porque Chamberlain e Daladier a entregaram na bandeja, traindo uma solene garantia de suas fronteiras. Se a Inglaterra e a França RESISTISSEM a Hitler em 1938, o Alto Comando do Exército alemão teria derrubado Hitler, havia um plano pronto e fechado para isso, o gatilho seria a recusa da Inglaterra e da França em dar passe livre a Hitler na Tchecoslovaquia.

Esse episódio é relatado no celebre livro ASCENSÃO E QUEDA DO TERCEIRO REICH, de William Shirer, já com mais de 70 edições. Vê-se assim o desastre que um mau estadista pode causar ao mundo, provavelmente teria sido evitada a Segunda Guerra se Chamberlain e Daladier tivessem a coragem de resistir a Hitler em Munique, em 1938. A estupidez, a demagogia de uma paz fácil e a covardia de enfrentar a realidade custaram caro ao mundo.

A ILUSÃO DO BREXIT

Um povo com um milênio de história política pode cometer desatinos, iludido por bufões, essa é a lição da eleição esmagadora desse tipo histriônico.

Três milhões de cidadãos ingleses moram na Europa continental, a maioria aposentados, moram em Portugal, na Espanha, na França e na Itália, vão ter que pedir documentação de residência e carimbar passaporte, dois milhões e oitocentos mil europeus moram no Reino Unido, vão ter que apresentar passaporte e pedir visto de residência, só italianos são 700 mil, a associação dos restaurantes italianos de Londres tem 1.100 sócios, uma comunidade sólida e que agora é estrangeira com os riscos que isso significa, latino americanos com passaporte da Comunidade Europeia, só brasileiros são mais de um milhão, vão ter mais dificuldades de entrar no Reino Unido, uma regressão absurda para nada, só complicar a vida de tantos milhões e  prejudicar o turismo na Inglaterra.

E o que ganha o Reino Unido com o BREXIT? A glória de um novo Império Britânico e suas fábricas de casimira, é o que promete o ridículo Johnson, que sequer é inglês de linhagem, é turco disfarçado de inglês, a comédia da vida se repete em tragédia, os povos não aprendem, repetem erros históricos.

AMA

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

8 Comentários

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  1. Vejo grande semelhança entre a população brasileira e as áreas do Reino Unido que apoiam o Brexit: uma completa ignorância sobre as raízes dos problemas que enfrentam.

    As áreas com maior suporte ao Brexit são as que foram mais afetadas pelo neoliberalismo de Thatcher e pela política de austeridade imposta pelos Tories depois de 2008: o antigo metalúrgico que perdeu o emprego nos anos 70 viveu as últimas décadas de bicos, seu filho vive de bicos e seu neto provavelmente viverá de bicos.

    O que mudou foi o bode expiatório para essa falta de mobilidade social: antes era a gastança e radicalismo dos trabalhistas nos anos 60/70, agora são os imigrantes do Leste europeu, que competem diretamente com o nativo sem mobilidade social há três gerações por empregos de baixa qualificação e remuneração… Sim, Thatcher ferrou com a vida de três gerações, e os caras ainda culpam a greve dos mineiros no começo dos anos 70!

    Esse é o lado da “ralé”. Nos meios mais afluentes, o medo é da UE começar a investigar os inúmeros paraísos fiscais localizados no Commonwealth britânico. Se já conseguiram fazer até a Suíça colaborar com investigações de lavagem de dinheiro e evasão fiscal, com muito menos esforço conseguem abrir a caixa preta das ilhas do Canal, Cayman, ilhas Virgens, até Hong Kong…

    1. Por causa do BREXIT Londres vai deixar de ser a capital financeira da Europa, não é pouca coisa,
      enquanto isso a população britanica bate palmas para o maluco Johnson dançar.

  2. Beira o ridículo o argumento de que a UE atrapalha a economia britânica.
    Quando eles estavam no atoleiro da estagnação econômica foi o advento da União Europeia que trouxe a economia britânica de volta à vida. Agora o bufão diz que a Europa atrapalha.
    “Unleash Britain`s potencial” foi o lema da campanha dos Tories, é piada.
    E ainda acreditam que fora da UE vão fazer um tremendo acordo econômico com Trump. O que eles têm de importante para trocar na barganha com os americanos?

  3. Inglaterra é leão sem dentes. Está tentando assustar com a saída da Europa. Se ficar vai ter que varrer o chão onde pisa a Alemanha. Virou lavanderia de dinheiro e mafia de russos e chineses. Era o mesmo antes da Grande Guerra. Sobrevivendo da exploração de suas Colônias, não tinha como sobrepor à excelência da Industrialização Alemã. Chamberlain sabia disto e tentou a paz. Churchill, falastrão, quis comprar a guerra. Passou por toda guerra, escondido em algum buraco, fugindo dos V6 alemães. A Alemanha não precisou nem pisar na Ilha para sobrepujá-la. A Russia salvou sua pele, lutando contra 2/3 do Exercito Alemão. O restante foi levado pelos EUA, que tomou seus territórios e colônias, além de impor uma Nova Ordem Mundial aos Países Capitalistas. O Brasil é seu fantástico Ditador Caudilhista Fascista, que ascendeu num Golpe Civil Militar de baixa patente, Nos faz um favor e deixa a Nação Brasileira de fora deste banquete e catapultagem das Nações rumo ao Espetacular Crescimento e Desenvolvimento Mundial do Pós-Guerra e divisão do Mundo conforme os seus interesses. Alguns creem que foi nosso melhor período. Imagina se não fosse? Os Ingleses logo perceberam as derrapadas e perdas do Falastrão e não lhe deram nem mais um Mandato. O Plano Marshall ergue a falida, destruída e miserável Europa. O Brasil fica de fora em comandar e se beneficiar de todo o processo. Cabeça torna-se em rabo. Agora na nova era que surge com ascensão da Ásia, ainda estamos preocupados com o Eurocentrismo e suas Potências decadentes. A Inglaterra é seu carro chefe. E não sabe como escapar deste destino. O Brexit é prova disto.

  4. O melhor ministro do século XIX entre os ingleses é Earl Grey (ele é homenageado com o chá). Ele passou o reform bill em 1832, limitando o poder da aristocracia rural (gentry), sem essas reformas a Inglaterra corria o risco de uma Revolução radical como a Francesa. As reformas aconteceram após o incidente de Peterloo. Também após a as reformas dele a Industrializão disparou.

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