Cinco pitacos e um sincero desejo, por Izaías Almada

Foto RBA

Cinco pitacos e um sincero desejo

por Izaías Almada

1 – Gilmar e a matemática:

O ministro do STF, Gilmar Mendes, há dias fez um pronunciamento curioso, dizendo que a possibilidade de Lula se tornar candidato à presidência da república inexiste, arrematando que é uma questão matemática, após levantar sua “argumentação jurídica”.

Existem outras questões matemáticas que podem também ser levantadas, senhor ministro. Por exemplo: O senador José Serra há uns dois ou três anos, diante de eminência de denúncias por corrupção e investigações da Lava Jato telefonou para o senhor, educadamente chamando-o de ‘meu presidente’. Seu operador? Paulo Preto.

Provavelmente, já naquela época pudesse haver um temor de Serra com eventuais investigações sobre seu principal operador, Paulo Preto, de quem se veio saber ter uma conta na Suíça com milhões de dólares.

Detido esse ano, o operador Paulo Preto foi libertado por V. Exª há poucos dias, o que entre outras suposições pode-se inferir também a de uma operação matemática: se A é igual a B e B é também igual a C, logo A e C são iguais.

2 – o documento da CIA

Embora o documento da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos da América “descoberto” por um pesquisador brasileiro sobre o envolvimento dos chefes militares e presidentes da república no período da ditadura civil/militar possa ser dado como autêntico, sempre é bom desconfiar. Não da autenticidade, mas das motivações… Desde quando a CIA e o Departamento de Estado são instituições confiáveis?

Por qual razão a notícia do envolvimento dos generais Médici, Geisel e Figueiredo com ordens para matar subversivos perigosos vem a público quase 50 anos após o ocorrido? Intrigar? Provocar uma reação dos militares brasileiros nos dias de hoje? Uma ameaça velada a eventuais opositores ao golpe de 2016?

E a teoria do ‘domínio do fato’, tão palatável à nossa imprensa e a justiça de classe que nos é imposta? Todos aqueles senhores generais não sabiam o que estava acontecendo? Nada como distrair o país ou uma parte da esquerda, quando estamos a poucos meses de uma eleição presidencial e o principal candidato foi feito preso político, não?

Como curiosidade, gostaria de lembrar aos leitores que esses mesmos órgãos do governo norte americano anunciaram ao mundo em 1963 que os documentos que revelariam toda a investigação sobre o assassinato do presidente John Kennedy seriam divulgados 50 anos após o fato. Já se passaram cinco anos para além do prazo anunciado e até hoje o mundo não sabe quem matou Kennedy.

3 – Mano Brown

O rapper Mano Brown definiu muito bem o problema das drogas no Brasil. Entre as que mais causam sérios problemas, sobretudo aos jovens, são a cocaína, o crack, as novelas e os telejornais da Rede Globo de Televisão. Matou a pau…

4 – ‘Moro’ or less

Por falar em CIA. A notícia de que um juiz de Curitiba, que adora aparecer, ganhou um prêmio em Nova York foi divulgada por colunistas de fofocas sociais em alguns jornalecos brasileiros. O evento, segundo tais colunistas, teve a presença de estranhas figuras que nasceram por engano em solo brasileiro e têm nojo do seu país. O curioso nesses ‘ágapes’ é a insólita mistura de corruptos e juízes que “combatem” a corrupção.

5 – O motorista e a diplomacia

O ex-motorista de Carlos Marighela, hoje dirigindo o MRE, Aloysio Nunes, desprovido de qualquer sentido minimamente político de convivência internacional, distribuiu nota para condenar personalidades europeias sobre a prisão do ex-presidente Lula.

Nela, o “chanceler” disse ter recebido com incredulidade que os senhores François Hollande, Romano Prodi e José Luís Zapatero, entre outros, pedissem que Lula pudesse disputar as eleições presidências, afirmando que tais senhores pregavam a violação do estado de direito.

Será que entendi bem? O membro de um governo golpista faz declaração sobre estado de direito? Com que autoridade? Pobre Brasil.

6 – O sincero desejo.

Lula livre! Lula prêmio Nobel da Paz! Lula presidente!

Izaias Almada

Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

Izaias Almada

Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

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  • para começar: #voto13
    pequeno

    para começar: #voto13

    pequeno engano, a divulgação dos documentos da CIA, em relação aos gorilas-assassinos-miliquentos-brasileiros não ocorreu porque, agora, aquela agência quis fazer intrigas, mas, decorre do cumprimento da legislação-interna dos EUA, divulgando, pois, documentos com "aprisionamento-sigilo" por 40 anos. Diríamos, então, que os mesmos haviam sido tornados públicos em 2014/2016, mas, como sempre, nenhum jornalista - dito - investigativo teve a pachorra de se debruçar sobre os milhares-papéis disponibilizados, até encontrar, como o referido Professor/Pesquisador encontrou, aqueles que dizem respeito ao nosso insepulto passado. 

    gostaria de saber qual foi a reação do generaleco-de-pijamas-agrião quando da leitura.

    país de merrecas é isto.

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