Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
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FHC: não fomos Cuba ou Suécia, fomos quase um Haiti, por Armando Coelho Neto

Não fomos Cuba ou Suécia. Fomos quase um Haiti (FHC)

por Armando Rodrigues Coelho Neto

Volto às palavras emprestadas. Desta feita, roubadas do jornalista Ricardo Marques (O Expresso, jornal português). Pedindo pausa para reflexão, ele escreveu: “Esqueça os impostos, as grandes opções do plano e o plano para as opções do Orçamento”. Esqueça as partidas de futebol, mesmo que seja só por hoje ou somente amanhã. O que nos deve preocupar a sério hoje, nesta soalheira primavera, é perceber ao certo aquilo que somos, diz ele.

Numa proposital descontextualização, uso suas palavras e reafirmo que a angústia já seria insuportável se chegássemos à conclusão que somos apenas a soma de tudo aquilo que não somos. Mas é pior. Na verdade, o que somos não é só a soma de tudo aquilo que não somos. É também aquilo que os outros são e talvez aquilo que os outros acham. Confuso? É possível. Ou não é impossível.

No fundo, é como se nos virássemos para um cão peludo lá de nossa casa que nos olha feliz com um osso na boca cheia de baba e lhe perguntássemos: “olha lá, o que é um cão?”. E ele, furioso, rosnasse para responder que um cão não é uma vaca. E aqui, seguindo a distorção do que disse o jornalista, eu diria como cão que não sou PT, que não sou corrupto, mas não sei como dizer que um cão não é uma vaca e muito menos se Sérgio Moro é um homem honesto.

“Nós somos assim”, diz o jornalista Ricardo Marques, alertando ter encontrado uma forma original de conjugar o verbo ser, na forma do não o ser. Nessa onda de ser ou não ser, aproprio-me de mais uma fala do jornalista. “Há uns tempos não éramos a Grécia (“Não somos a Grécia”, presente do depreciativo), depois não éramos a Irlanda (“Não somos a Irlanda”, presente do ‘lamentativo’). Percebemos há muito que não somos a Suécia, diz ele sobre Portugal. Cá do Brasil diria eu que por depreciativo ou “lamentativo” não somos a Venezuela, nem Cuba, nem China. Sobretudo a velha Cuba que apesar das belas praias, cheias de palmeiras e areia branca (não é nem tem off-shore – presente do “lamentativo” para os tucanos).

Nada como espreitar a vida que temos e a que vai por esses cantos do mundo o que “não somos”, em busca das escassas linhas que nos possam definir. Sobre o Brasil, digo eu: não, não somos a Grécia, sequer a Turquia, apesar de já termos sido quase o Haiti na era FHC ou um Belíndia na era Collor. Fomos Cuba e Venezuela sem nunca ter sido e o exército vermelho da China, Cuba ou Venezuela que viriam em nosso socorro, ficaram inertes.

Era tudo mentira, o Fórum de São Paulo não passou de bravata. Mas houve quem, por maldade, ignorância ou inocência nisso acreditasse. Seja por ter lido num meme ou por ter sido publicado num medíocre e insano boletim da Grande Loja Maçônica, ainda que não seja grande e sequer maçônica. Talvez mafiônica (presente do especulativo).

Eis o conflito. É como se não fôssemos gregos no presente do “depreciativo” nem  irlandeses (presente do “lamentativo”). Somos apenas Brasil, uma lamentável sociedade de truques, na qual a senzala seduzida pelo embuste do plim-plim elege seu feitor. O senhor que vai abrir as portas das senzala, tirar o escravo das trevas. Mas, o Estado precisa dar lucro. Para quem? (futuro do servilismo).

Volto ao jornalista Ricardo Marques. O que somos não é apenas a soma de tudo aquilo que não somos ou não fizemos (qualquer crítica ao Partido dos Trabalhadores não é mera coincidência). Mas não devo tripudiar da legendária sigla, que obteve heroicos 941 mil votos dos paulistanos. Pouco para eleger um prefeito, mas com expressão para dizer que não está morto. Afinal, o vencedor perdeu para os votos brancos, nulos, abstenções, sem contar os votos dos demais partidos (presente do reflexivo).

É claro que a regra vale para o derrotado. Mas o vencedor não se envergonha de como obteve a vitória. Venceram (presente do “lamentativo”) numa eleição em tempos de golpe, com operações policiais sem aparente fundamento, com fins eleitoreiros. Uma vitória suja (presente do “envergonhativo”).

Parafraseando o “Expresso” do além mar, “Esqueça os impostos, as grandes opções do plano… as partidas de futebol e a vitória no canastrão João Dória, mesmo que seja só por hoje ou somente amanhã. O PT tem o vereador mais votado do Brasil – troféu-exemplo para mostrar que a sigla é muito mais que uma estrelinha, muito mais que o pedalinho do Lula, muito mais que o tablete roubado do seu neto. Muito além de Sérgio Moro (presente do absurdativo), o PT está vivo (presente do reconstrutivo).

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista e advogado, delegado aposentado da Policia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo

Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

11 Comentários

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  1. O vereador mais votado é do PT

    Se o Moro e o resto soubessem que o Suplicy seria o vereador mais votado com certeza teriam criado alguma inverdade inescrupulosa sobre ele, como, por exemplo: não pagou pensão pra Marta, roubou pra ajudar a carreira do Supla… Devem estar bastante arrependidos, devem ter puxado as orelhas do Moro.   

  2. O vereador mais votado é do PT

    Se o Moro e o resto soubessem que o Suplicy seria o vereador mais votado com certeza teriam criado alguma inverdade inescrupulosa sobre ele, como, por exemplo: não pagou pensão pra Marta, roubou pra ajudar a carreira do Supla… Devem estar bastante arrependidos, devem ter puxado as orelhas do Moro.   

  3. Homens, brancos e ricos

    Suplicy ainda é o mais votado pelo show que faz na midia e não por que a população aprova seu mandato.

    Eleger suplicy e renegar o PT é um sinal da esquizofrenia politica deste pais, da falta de conhecimento do que ocorre no poder, quando os politicos são eleitos. 

    Suplicy e doria tem muito em comum apesar de suas diferenças, é o espelho que o povo não encontra em casa,

    afinal, quem manda são os homens, brancos e ricos…

    1. haiti….

      Nós não nos enxergamos mesmo.  Grécia, Cuba, Irlanda, Haiti, Portugal, Suécia, Venezuela…Como um gigante se compara a nanicos? Todos cabem dentro do Brasil e ainda sobra muito espaço, assim como suas populações.  Somos continentais, com população diminuta e riquezas extraordinárias. Até ontem, em 500 anos de história, importadores de petróleo. Hoje, um dos maiores produtores e exportadores. Perfeitos na nossa estrutura e formação, abençoados por todas as benesses terrenas, mas extremamente limitados intelectualmente. Um país de mais de 5.500 municipios. 75% com menos de 20 mil pessoas. Somados aos que tem até 50 mil habitantes são mais de 95% das cidades. Como 95% de um país com tais condições, não tem padrão de vida e qualidade social qe deveriam ser invejados pelo restante do planeta? Como depois de 14 anos no Poder, o partido que foi levado ao comando para isto, não tem um Estado para oferecer a seus cidadãos? Quem perdeu não foi o PT, nem ganharam outros. Não perceberam? Esta conversa provoca asco na sociedade. Perdemos todos nós. E medíocres continuam fazendo, o que sempre fizeram. Olhando para o próprio umbigo.

  4. Apesar de ter dito em outro

    Apesar de ter dito em outro comentário que seremos já, já, o Haiti, o texto dá um enorme ânimo e tira um pouco do cinza da nossa visão ainda ferida e das nossas preocupações. O Brasil é tão maior que as mesquinharias das nossas pobres elites que o milagre verdadeiro é que elas não conseguiram ainda destruí-lo.

  5. O BRASIL SERA O QUE OS BRASILEIROS DESEJAREM SER

    O BRASIL SERA O QUE OS BRASILEIROS DESEJAREM SER.

    Acredito prezado Armando que ha um paralelo extremamente alinhado entre a politica brasileira e a dos Estados Unidos. Aqui resido e daqui observo.

    Desde que o presidente Obama foi eleito a primeira vez a decisao dos adversarios, abertamente declarada nos microfones, foi a de que fariam de tudo para que ele fosse presidente de um unico mandato. Por que? Porque nasceu preto, filho de um imigrante africano e, supostamente, esquerdista (compreenda, o esquerdismo para os americanos comeca a partir da meio-direita no Brasil).

    Para a pessoa regular nos Estados Unidos, sobretudo as de origem europeia, a eleicao dele foi como se a senzala tivesse acordado de repente e ameacasse todos os privilegios deles. Infelizmente, existem latinos e afroestadunidenses que concordam com o pensamento. Sobretudo naquele ambito da populacao ligado ao evangelismo ultraconservador.

    Para essas pessoas o simples fato de concordar com a legalizacao do aborto, o aprovacao da uniao estavel entre homossexuais, a garantia de direitos basicos `as minorias continua anatema tao vivido quanto o era ha 5.000 anos atras, somente porque leem e interpretam a biblia no sentido estrito e nao segundo as realidades dos tempos em que as tradicoes foram adotadas.

    Ha que compreender-se e descontar essa porcao do eleitorado.

    A grande diferenca entre Brasil e Estados Unidos em relacao `as estrategias politicas eh que aqui nao existe uma midia capaz de monopolizar as opinioes. Pode-se ate afirmar que as emissoras liberais sao mais ouvidas que as conservadoras. As de video no caso, pois, as liberais praticamente nao atuam nas de ondas sonoras.

    Algo em comum entre os Estados Unidos e o Brasil eh o de que as elites dominantes sao estagnadas. Elas nao enxergam que fazem parte dos problemas. Para elas ja existe uma receita de bolo pronta para que os paises tenham sucesso. Assim, quando se colocam diante de qualquer alternativa se apavoram e fazem de tudo para dar a marcha a re. Eh exatamente o que estao tentando processar tanto no Brasil quanto aqui. Ai ja estao conseguindo. Aqui….

    A sorte dos Estados Unidos foi ter tido diregentes liberais que conseguiram colocar o pais `a frente. E o progresso nunca parou porque o movimento migratorio de estrangeiros sempre foi intenso. Os imigrantes geralmente partem de locais estagnados e estao ansiosos para atingir degraus mais elevados de evolucao. Nesse caso, eles se tornam o verdadeiro motor da inovacao, o que mantem a situacao economica um passo `a frente.

    Por minha experiencia de Brasil, sei que as esquerdas sempre se destacaram pelo conjunto de ideias. Os problemas sempre nos atingiram com mais forca. Portanto, nos nos concentramos em pensar e realizar as solucoes. Enquanto as elites dominantes enxergam as solucoes como inimigas.

    Nisso os Estados Unidos nao sao diferentes do Brasil. O que penso estar sendo diferente no momento eh que esta faltando um lider no Brasil como foi o presidente Kennedy para os Estados Unidos. Ele sabia que considerava-se impossivel ir `a Lua.

    Mesmo assim levantou a proposta de colocar o homem la. Acredito que tenha sido essa decisao que manteve o pais na vanguarda economica e tecnologica. A maioria pensava ser impossivel. Mas ele usou a credibilidade que possuia para fazer o povo acreditar que o quase impossivel era possivel e que as dificuldades enormes poderiam ser superadas com uma quase obcessao.

    Esta faltando ao Brasil alguem com credibilidade para afirmar que ele ira por um homem na Lua e outro em Marte na proxima decada.

  6. Parafraseando o “Expresso” do além mar, “Esqueça os impostos, as
    Parabéns Armando Rodrigues Coelho Neto.
    Vc como sempre muito sábio em suas colocações, análises ….

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