Como os neopentecostais conquistaram o Brasil, por Luis Nassif

Em 1984, dos 12,9 milhões de simpatizantes do pentecostalismo fora dos EUA, 9,9 milhões estavam na América Latina, e mais de 6 milhões no Brasil

Um relatório de 2014 sobre o movimento pentecostal na América Latina, da consultoria espanhola Lorentz & Cuenca, traz boas luzes sobre o avanço do movimento pentecostal na América Latina.

O relatório é de 2014, período em que a candidatura Marina Silva, nas eleições presidenciais, expôs pela primeira vez a relevância do voto pentecostal. 

O relatório se concentra especialmente em países como Guatemala, Honduras, Brasil e Chile, nos quais entre um terço e 40% da população trocou o catolicismo por algumas das igrejas evangélicas.

A procedência dos protestantes

O pentecostalismo é um amplo movimento religioso, com grande variedade de grupos com formação e práticas distintas.

Historicamente, o protestantismo era composto pelas chamadas igrejas missionárias, de duas procedências. 

Da Europa vieram os luteranos (alemães), presbiterianos (escoceses), anglicanos (ingleses), valdenses (franceses e italianos), reformadores (holandeses e suíços), batistas (galeses), menonitas (holandeses e suíços). 

Dos Estados Unidos vieram as igrejas luteranas, episcopais (anglicanas de origem americana), presbiterianas, quakers, metodistas e batistas.

O pentecostalismo nasceu em 1904 nos Estados Unidos, como uma reforma religiosa dentro do evangelismo.

A primeira onda evangélica é de 1910, com as Igrejas Assembleia de Deus, Igreja da Profecia e a do Príncipe da Paz na Guatemala.

A segunda onda é dos anos 50, com o Evangelho Quadrangular – Cruzada Nacional de Evangelização (1953), Igreja Pentecostal “O Brasil para Cristo” (1956), Igreja da Nova Vida (1960), Igreja Pentecostal “Deus é Amor” (1961), Casa da Bênção (1964), Metodista Wesleyana (1967). 

Foi uma rápida penetração. Em 1984, dos 12,9 milhões de simpatizantes do pentecostalismo fora dos EUA, 9,9 milhões estavam na América Latina, e mais de 6 milhões no Brasil, especialmente atuando junto aos setores populares urbanos.

A onda neopentecostal

O neopentecostalismo nasceu dos pentecostais e dos grupos renovadores carismáticos dos anos 50 e 60. Começa a crescer a partir dos anos 70. 

Sua principal característica são as mudanças na doutrina, especialmente em relação ao papel do Espírito Santo, passando a dar ênfase ao fervor emocional, apelando para as emoções.

Os principais representantes são as igrejas Salão da Fé (1975), a Igreja Universal do Reino de Deus (1977) e a Igreja Internacional da Graça (1980). 

Enquanto o pentecostalismo tinha como foco os setores populares (emigrantes internos, desempregados e setores populares), o neopentecostalismo procurou os setores médios e altos da sociedade, universitários, profissionais liberais e empresários.

Cresceram apoiados por investimento nos meios de comunicação de massa (rádio, TV e Internet), mas também em uma ampla infraestrutura com colégios, livrarias, cafeterias e estúdio de gravação.  E administrando as igrejas com um estilo empresarial de produção e distribuição de bens religiosos.

A influência americana

 O estudo lembra o Relatório Rockefeller de 1969, que sugeria o uso das igrejas como estratégia dos EUA e da CIA para deter o auge da Teologia da Libertação. O Relatório Rockefeller se tornou uma lenda, mas é enquadrado pelo trabalho na relação das teorias conspiratórias. 

Mas não ignora a profunda influência americana nas primeiras investidas neopentecostais.

As novas missões protestantes, especialmente as vindas dos Estados Unidos, traziam novos rituais, baseados na conversão e no êxtase religioso. Gradativamente foram se adaptando às condições latino-americanas, em um processo de aculturamento originalíssimo.

Mas, para entender esse processo, há que se passar antes pelas mudanças socioeconômicas ocorridas, que mudaram a face do continente.

Mudanças socioeconômicas

Ao contrário do resto do mundo, a modernização da América Latina não levou a uma secularização. Aumentou o número de agnósticos e de não crentes. E houve também um retorno ao sagrado, uma busca das raízes para enfrentar a insegurança ante o novo. 

Enfim, um conjunto de novas circunstâncias, uma diversidade ampla, gerando insegurança e demanda por apoio. É nesse quadro que o modelo de gestão passa a ter papel fundamental.

De um lado, a Igreja Católica, pesada, dividida entre tradicionalistas e progressistas, presa ao conjunto de símbolos da idade média. De outro, os pentecostais com modelos de gestão modernos, descentralizados e com foco no cliente.

A religiosidade latino-americana 

Para se adaptar aos novos tempos, já nos anos 70, as igrejas latino-americanos passaram a desenvolver um estilo próprio, libertando-se da influência norte-americana, com suas normas adaptadas ao liberalismo do país. Cria-se um pentecostalismo latino, uma miscelânea religiosa emulando várias características do catolicismo tradicional.

Enquanto o protestantismo norte-americano se adaptava ao liberalismo do país, as igrejas latino-americanas recriaram as relações patriarcais das fazendas, dos colonos colocados sob o guarda-chuva protetor dos coronéis e da fé. Era o patriarcado colonial adaptado às condições das megalópoles contemporâneas.

Reside aí o centro das críticas dos cristãos norte-americanas ao hibridismo das religiões evangélicas na América Latina. Elas se tornaram parte genuína da sociedade latino-americana, justamente por emular características históricas do continente.

Mencionado no trabalho, Jean-Pierre Bastian ressalta que

“poderíamos dizer que nesta ‘hibridez’ se está lidando não só com a adaptação ao mercado latino-americano, mas também com a criação de produtos originais, híbridos, que os pentecostalismos ofereceram em toda a região. Isso se nota em particular a partir da produção musical dos hinos, que de fato até os anos 70 era de origem anglo-saxão, e que a partir de então se transformou em cantos diretamente inspirados pelas tradições musicais populares endógenas. Hoje em dia, vemos se desenvolver o que estes movimentos chamam de “Ministérios de louvor”, que adotam a música local, em particular o samba ou outros gêneros tropicais como a sal-sa etc. Inclusive se chamou a este tipo de expressão musical com algum tipo de anglicismo como “salsa-gospel” ou “samba-gospel”.

No Brasil, as igrejas evangélicas mais relevante são a Assembleia de Deus, com 12 milhões de fieis, e liderada pelo pastor Manoel Ferreira; a Igreja da Graça, liderada por Romildo Ribeiro Soares; a Igreja Universal do Reino de Deus, dirigida pelo Bispo Edir Macedo, com 1,8 milhão de seguidores ; a Igreja Mundial do Poder de Deus, de Valdomiro Santiago, com 400 mil seguidores.

Vamos destrinchar um pouco o modelo de gestão adotado.

O modelo de gestão

Em cada Igreja, há uma liderança carismática como fator de coesão. Na Guatemala, é Cash Luna; em Honduras, René Peñalba, Tomás Barahona e Misael Argeñal em Honduras.

O que sustenta a expansão é a estrutura horizontal de bispos associados, através de igrejas locais e grupos independentes ou semiautônomos, nos quais a figura-chave é o pastor. Ele é o velho coronel da guarda nacional, incumbida de abrir o guarda-chuva onde os fiéis vão se abrigar e receber segurança.

No interior de cada Igreja, a estrutura é fortemente piramidal, com suficiente capacidade, flexibilidade e autonomia para se adaptar às circunstâncias de cada região ou país.

Essa flexibilidade foi essencial para dar respostas rápidas às demandas provocadas por crises econômicas, terremotos sociais, urbanização acelerada.

Nos anos 80, depois dos terremotos de Manágua, em 1974, e da Guatemala, em 1976, os evangélicos criaram redes de apoio. 

No Brasil, os fatores que levaram à expansão das igrejas foram:

  • a crise econômica do final dos anos 70 e de toda a década dos 80; 
  • o explosivo aumento da urbanização com a multiplicação das áreas marginais (favelas) onde existe tradicionalmente pouca presença do Estado e da Igreja Católica, e onde a insegurança física (roubos, assaltos, assédio das quadrilhas) e a econômica (emprego informal e poucas expectativas de trabalho) é uma constante.

Para compensar a ausência de estado, passaram a oferecer aos fiéis apoio religioso, mas também escolas, consultórios legais, postos de saúde. Desenvolveram estratégias para combate ao alcoolismo e às drogas. Aproximaram-se das mulheres com sua defesa das famílias estáveis e combate à violência doméstica. Montaram sistemas de apoio nos presídios. Por aí, sua influência se estendeu para as organizações criminosas que, nas favelas, se tornaram peças essenciais na guerra contra as religiões afro.

Ao mesmo tempo, os neopentecostais investiram sobre a classe média alta, com a nova teologia da prosperidade, e encontros de oração em hotéis de luxo. Justificaram, pela fé, a posição dos privilegiados. Trocaram o remorso da riqueza pela predestinação divina.

O uso modernos dos símbolos

Um grande publicitário brasileiro, Roberto Dualibi, costumava associar o catolicismo ao uso de técnicas de marketing, a cruz, o sino, as imagens, a confissão. A renovação foi ínfima.

Já o neopentecostalismo apela para a parte irracional, sentimental e experimental dos indivíduos. Seu marketing se baseia em curas físicas, na promessa de prosperidade econômica, na utilização da música nas cerimônias, na ênfase na oralidade e nas práticas populares tradicionais. Segundo o trabalho, utiliza com desenvoltura as línguas autóctones (daí seu sucesso na penetração entre os setores rurais indígenas), assim como a linguagem comum para se aproximar de seus seguidores.

Uma de suas marcas é a construção de grandes tempos. Em 2013, Cdash Luna inaugurou a Igreja Casa de Deus, com capacidade para 11 mil fiéis. Mas também investem em escolas, colégios e universidades.

Sua estratégia consiste em recriar espaços de refúgio comunitário, em contraposição à crise da familia tradicional. Daí se entende seu conservadorismo moral.

Segundo o sociólogo guatemalteco e pastor protestante Vitalino Similox, mencionado no trabalho: 

“as igrejas pentecostais se transformaram em empresas que desenvolvem estratégias de comercialização e de distribuição multilateral de bens simbólicos, religiosos. Sua hibridação se traduz na justaposição de diferentes níveis de empréstimos, que incluem o conteúdo das crenças, as formas de transmissão e comunicação, os recursos a mediações tanto arcaicas como modernas”. 

Os evangélicos e a política

Há muita heterogeneidade entre os evangélicos, mas com predominância dos setores mais conservadores, especialmente em temas morais. E um ativismo político cada vez mais amplo.

As primeiras incursões foram na Colômbia, durante a Assembleia Constituinte dos anos 90.

Seu partido, a Renovação Absoluta (Mira) recebeu 327 mil votos nas eleições para o Senado de 2014. E 412 mil para a Câmara, permitindo eleger três deputados.

No Chile, foram eleitos 200 candidatos evangélicos entre prefeitos e vereadores, principalmente nas regiões indígenas doBiobío  e  La  Araucanía,  em cidades como Lota, Curanilahue, Arauco, Lebu e Los Álamos. Entre eles há militantes da Democracia Cristã (DC), Renovação Nacional (RN), União Democrata Independente (UDI), Partido Pela Democracia (PPD), Partido Radical Social Democrata (PRSD), Partido Socialista (PS) e Partido Regionalista Inde-pendente (PRI). 

No Brasil, os evangélicos estão distribuídos por 16 legendas políticas, e em três partidos próprios: o Partido Republicano de Brasil (PRB), o Partido Social Cristão (PSC) e o Partido da República (PR). 

No Peru, o partido mais forte é o Restauração Nacional (RN) liderado pelo pastor Humberto Lay Sun. Em 1990, Alberto Fujimori foi apoiado pelos evangélicos, que forneceram um pastor como segundo vice-presidente.

A primeira incursão política foi com a Frente Parlamentar Evangélica, de 2003. 

Logo depois, a bancada foi atingida pelo escândalo da Máfia dos Sanguessugas, com o desvio de emendas para o bolso década parlamentares.

Foram envolvidos 23 integrantes da bancada, dez da Igreja Universal do Reino de Deus e nove da Assembleia de Deus.

O escândalo reduziu a participação evangélica nas eleições de 2006, mas se recuperou nas eleições de 2010.

Luis Nassif

56 Comentários

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  1. Faltou reconhecer a enorme contribuição de João Paulo II e seu sucessor Bento XVI. Com a relativização, na marra, da abertura ao mundo promovida pelo Concílio Vaticano II e o saudosismo em relação ao Concílios de Trento e Vaticano I, ambos privilegiaram, na prática, o Direito Canônico, ou seja, o poder da hierarquia em detrimento da prática evangélica. Exemplo concreto, a explícita desaprovação à evangélica Teologia da Libertação (JP II via comunismo em tudo o que fosse defesa dos pobres) e o desestímulo ou mesmo perseguição às Comunidades Eclesiais de Base. No vácuo, entraram os pentecostais de origem ou apoio americano, como lembra a matéria: ” O estudo lembra o Relatório Rockefeller de 1969, que sugeria o uso das igrejas como estratégia dos EUA e da CIA para deter o auge da Teologia da Libertação.”

    1. Edson J : iria por este caminho, mas seu comentário foi arrasador, perfeito e definitivo. Tais Igrejas Pentecostais estão cheias de Católicos. Os tais ‘Padres Comunistas’ que falavam e faziam Política ao invés de Religião e Fé, lá nos anos 80. A aberração era inacreditável. Chegamos ter Presidente do Paraguai sendo um Bispo, cheio de filhos e amantes. O resultado esta aí. Alguns dizem não compreender a bipolaridade e doutrinação. 40 anos de farsante Redemocracia. Aqui e em toda América Latina. Como chegamos a isto? A culpa também deve ser do Trump !! Ou do Guedes !!!

      1. Prezado Zé Sérgio: não entendi esse trecho seu que transcrevo a seguir: “Os tais ‘Padres Comunistas’ que falavam e faziam Política ao invés de Religião e Fé, lá nos anos 80. A aberração era inacreditável.” Não entendi porque religião, principalmente o Cristianismo, não pode ser desencarnada. Em outras palavras, das igrejas para dentro. Nos templos, celebra-se a fé. Do lado de fora, vive-se a fé. O resto é alienação antievangélica. Cristo, como aliás os profetas do Antigo Testamento e os Apóstolos no novo, não cansou de denunciar as injustiças que o status quo da época perpetrava contra os desvalidos. Seria Ele, hoje, também chamado de comunista. Basta ler os Evangelhos para ver que Cristianismo não combina com alienação e muito mesmo com acumulação de riquezas à custa da miséria, com violência contra os mais fracos, com preconceito de cor, de raça, de opção até religiosa, sexual etc. O resto, a meu ver, é hipocrisia.Quanto ao tal Bispo casado, se era na Igreja Católica não seria ex-bispo?

  2. Nada contra crenças, seitas, religiões, mas o que me intriga é como num período tão curto, em torno de 50 anos, algumas igrejas pentencostais e seus pastores juntaram um patrimônio absurdamente imenso.
    A igreja católica também acumulou um patrimônio invejável, mas foi num período de quase 1500 anos.

  3. Religião? Igreja?
    Apenas “”Faith Business”!
    As usual…

    Ou em bom português:
    Um pouco de fé de mais, um pouco de fé de menos.
    E um cheiroso dinheiro.
    Para poucos, a mais…
    Para muitos, a menos.

  4. Uma senhora (empregada doméstica neo pentecostal) me disse explicitamente: nós elegemos Bolsonaro. O texto não explica como e porquê isso aconteceu. Qual a razão ideologico-financeira do fenômeno a meu ver consciente, formulado de maneira simples e direta por quem não tem a menor formação histórica ou política. Como um alinhamento nessa intensidade foi obtido a ponto da necessidade de um ministro evangélico para o STF entrar na pauta política. Mais importante talvez: onde estavam os defensores do estado laico que não perceberam o Tsunami religioso-conservador? Fiéis as dezenas (homens e mulheres) fazendo ordem unida como soldados de Cristo nos templos evangélicos. Verdadeiras legiões proto- fascistas a serviço do autoritarismo e defesa de pautas conservadoras. Como tudo isso foi possível?

    1. Não foi de um dia para o outro, mas o governo Brasileiro nunca teve pulso forte para controlar essas instituições criadas por vagabundos. Eu sou de uma familia de evangélicos, e sempre escutei eles tramando tomar o poder, diziam isso abertamente e colocavam candidatos para o povo votar. O governo brasileiro nunca quis se importar com isso.

    2. A explicação é simples: o povo é conservador, e ficou escandalizado com a pauta do PT no terreno dos costumes, aquilo que se convencionou chamar de marxismo cultural. Vendo seus valores enxovalhados, acossado pelo crime e pela imoralidade, o povo das periferias correu a quem prometia moral e combate ao crime.

      Vocês precisam entender que democracia é fazer o que o povo quer, e o povo quer isso: religião, família e bandido na cadeia (ou no cemitério). Enquanto vocês não entenderem isso, não vão voltar ao poder. Mas continuam sonhando com uma “revolução cultural” que vai enquadrar o povo naquilo que vocês acham que deve ser.

      1. Ora, o que são “os costumes”?
        É ser contra o aborto e, quando a filha solteira fica grávida manda tirar?
        É ser a favor do encarceramento em massa e, quando o filho faz merda, gasta todas as economias com advogados para trazer o rapaz mais rápido para casa?
        É dizer que homossexualismo é questão de educação familiar e, quando descobre que o filho é gay o expulsa de casa?
        É ser a favor das privatizações e, quando passa no pedágio da estrada reclama por ter de pagar tanto para rodar tão pouco?
        Hum, sei…

        1. Os evangélicos conservadores não manda a filha grávida abortar: casa-a com o pai da criança, e, num extremo, cuidam dos netos (que amam de paixão).
          Quando o filho “faz m…”, eles muitas vezes dão os tapas que o imbecil merece – para, depois, visitá-lo toda vez que é possível, na cadeia.
          Filho gay? Sairá de casa por vontade própria, depois de tantas indiretas e “vou orar por você” de pais que amam os filhos, mas odeiam o pecado.
          Privatizações? Eles amam isso – e pagam o preço, com gosto.

          Colocar a culpa do conservadorismo brasileiro nos evangélicos é esquecer-se de que todas essas práticas nefastas eram coisa de um país de 90% de católicos. Não culpe os evangélicos pelo que já existia antes das Igrejas crescerem por essas bandas – esse país nunca foi agnóstico, tampouco ateu.

          1. Não fale por eles. Fale por você.
            A realidade está aí e todos vêem.
            O que acontece na maioria das vezes é o que eu relatei acima e não o que você está dizendo.

          2. “Não culpe os evangélicos pelo que já existia antes das Igrejas”

            Eu não fiz isso. Quando critico esse circo de pastores “fazendo milagres” e pedindo dinheiro, não estou defendendo o catolicismo.
            Pra mim, católicos e evangélicos incorrem no mesmo erro: Acreditam em Papai Noel e esperam um salvador, enquanto padres e pastores enriquecem engambelando os fiéis.

          3. Os neopentecostalistas estão conquistando o Brasil.
            Até traficantes do Rio de Janeiro estão virando evangélicos e atacando templos de religiões de matriz africana.
            Seriam as Cruzadas Evangélicas?
            Que bela obra, hein, irmão.

          4. Os neopentecostalistas estão conquistando o Brasil.
            Até traficantes do Rio de Janeiro estão virando evangélicos e atacando templos de religiões de matriz africana.
            Seriam as Cruzadas Evangélicas?
            Que bela obra, hein, irmão.

          5. O povo quer quase tudo isso aí que você colocou. Pode não gostar de pedágio, mas povão mesmo anda é de ônibus ou de trem.

            Democracia é fazer o que o povo quer.

  5. Pentecostalismo e neo pentecostalismo, podem ser considerados estratégias da guerra não convencional, de conquista, traçada a partir dos EUA quando do início da expansão sobre a América Latina no século 20. Questão se segurança nacional portanto.

    1. Agora já era. Era para Getulio Vargas ter banido isso quando começou a entrar aqui nos anos 50s. A serpente já esta adulta. O que nos aguarda é uma guerra civil

  6. Este estudinho ái de pssoa qu se acha “do meio academico e jornalisitico” nada sabe do Poder de Deus que existe sim e está a disposição nas Igrejas através da pregação da Palavara de deus – a Bilblia canonica.
    Eu mesmo quase estava indo morar nas marquizes de curitiba e já ficava nas ruas ( em cwb a cracolândia fica nos hoteis e pensoes de alta ritatividade, eles escondem os usuarios das ruas) e estão morrendo assim como em qualquer ligar do brasil e eu fui sim alcançado pelas Orações e por pessoas que se dispõem a abraçar os sujos, os imundos, os doentes, como eu fui um dia.
    Mas gostaria também de esclarecer que aqui em curitiba mesmo aqueles “lideres comunitarios” que durante decadas auxliavam o povo, nas associações nas vilas nos brejos etc, pegaram seus carguinhos no governo do PT e dai deixaram de usar chinelo bermuda e já compraram seus tenis de marca, seus carros e já não andavam mais de Busão..passaram a ter uma vida de “elite” frequentar lugares da burguesia da rpeublica de curitiba sob os olhos atentos dos fascistas, neonazistas, dos ricos , que ficara só observando até aonde estes “lideres iriam chegar” para dar o golpe fatal . Mas comeram pelas bordas , cooptaram todos os lideres de bairros que não se corromperam com as benesses dos carqguinhos e criaram suas associações, creches comunitarias, elegeram inicialmente suseus vereadores, estadusias, federais senadores e hoje esta ái um capitaõzinho do mato Presidente da Republica.
    Outro dia conversnado em um ex-federal do PT ele simplesmente disse que estava indo morar em Salvador porque cwb estava insuportável…são estes deste nipe que resultou de um PT governo que por mais que discursem a favor dos pobres só frequentam lugares da elite e abandonaram a lanchonete , o cachorro quente, o chimarrão e a visitação, e quem está fazendo isto são fascistas bonsonaristas que também infltram o ódio nos discursos e pregações das Igrejas mas o povo sabe sim que muitos que estão nos altares são politicos travestidos do “pastores” , e esperam um dia a volta de alguns terrivelmente evangélicos mas também progressistas pra falar alinguagem do povo brasileiro e entender o que precisam. Deus nos abençoe!!!
    Ps: o abuso do poder egligioso com a frequente presença e discursos politicos nas Igrejas são atualmente a maior arma para eleger os fascistas de direita, mas ninguem filma apura fotografanem grava pra denunciar, nem mesmo os juridicos quanto menos o MP que faz vista grosssa, e virão com toda força este ano fazendo das casas dos membros comites de bairros, o absurdo abuso do golpe passou sim e passará pelas Igrejas.

  7. Texto fraco. O crescimento dos neopentecostais está associado diretamente ao fim das comunidades eclesiais de base. João Paulo II, Ratzinger e, internamente, a mão pesada e dura de Eugênio Sales conduziram o processo. Eugênio, grande amigo de Roberto Marinho, inicia as CEBs quando em Natal, e as destrói a partir de sua ação no Rio e no poder nacional que assumiu durante o pontificado de Karol Wojtila. Qualquer nomeação de padre e bispo passava por ele e por sua aprovação. Ele moldou a atual IC brasileira. Fragilizou Paulo Evaristo, com a divisão da arquidiocese de São Paulo; fragilizou Hélder Câmara; exilou Luciano Sales de Almeida em Mariana. Silenciosamente, viu o avanço dos carismáticos e dos padres espetáculos. Óbvio, tudo isso teve o apoio financeiro e logístico estadunidense, mas, também, dos partidos religiosos israelense. Quanto ao texto, em sua descrição da realidade brasileira, omite o enorme poder do segmento batista em suas denominações variadas. Têm a mesma capilaridade das Assembleias, mas, como na matriz estadunidense, são divididos entre diversos líderes. A influência midiática da IURD é enorme, mas a capildaridade das IBs, o poder financeiro que possuem, e os grandes contatos externos indicam que são mais efetivos na ação política. Este não é um tema simples e o rumo atual não será alterado sem que a IC altere seus rumos no país e volte a estar junto ao povo sofrido e oprimido. Espero que Francisco seja jesuíta e aja.

  8. Prezado Nassif, ótima leitura do fenômeno religioso de poder. Assisti ao “culto da virada” de uma igreja no canal fonte, só pra confirmar o que vi presencialmente um único dia em que estive na igreja daquele “pastor”. Primeiro um apelo enorme para as “ofertas” do início ao fim do “culto” depois uma imagem enorme da bandeira do Brasil e o pedido de oração pelo “nosso querido Presidente e contra os inimigos dele” uma verdadeira lavagem cerebral pra enriquecimento ilícito e manipulação da mente das ovelhas para acreditar que o Presidente atual é representante da vontade Divina. Da náuseas assistir.

  9. Não sei se o Nassif se dá ao trabalho de assistir a algum programa dos evangélicos – os da igreja católica são enfadonhas. Mas a exploração da ignorância ( não vou colorir) é caso de polícia.
    Em tempo, no Youtube há infinidades.

  10. O que o autor esqueceu foi uma importante diferença entre Europa e America Latina: na Europa, não se permite a fundação live de seitas de um dia para outro. Por exemplo, recentemente saiu a noticia de que em Berlim a igreja universal foi proibida de operar. A America Latina segue o mal-exemplo da maior fonte de seitas que já existiu no mundo: os Estados Unidos. Assim como lá, na America Latina é facílimo criar uma nova seita e arrebanhar milhões de tolos, quer dizer, fieis. Basicamente o estado não oferece proteção nenhuma para a população contra esses grupos que criam seitas manipuladoras, e ainda oferecem inúmeras vantagens financeiras, como todos presenciamos. Esse é o motivo numero para o crescimento dessas instituições criadas por embusteiros.

    1. E se as leis fossem respeitadas e as autoridades atuantes em suas responsabilidades e não em cultos histéricos, a maioria dessas ditas “igrejas” não existiriam……

  11. Uma das formas mais eficientes de lavar dinheiro da corrupção e do narcotráfico é justamente abrir uma igreja evangélica. Como há imunidade tributária não há fiscalização dos recursos arrecadados com dízimos, dessa forma misturam dinheiro dos fiéis com dinheiro sujo. Foi assim que o baixo clero da política brasileira encontrou uma forma eficiente de atrair eleitores e lavar dinheiro sujo se associando aos pastores evangélicos corruptos. Eduardo Cunha está aí para provar como é promíscua a relação entre essas igrejas neo pentecostais e a direita brasileira.

  12. São mercenários e corruptos.Se venderam para salvar Temer, se venderam e se vendrm para aprovar tudo o que é de ruim para os trabslhadores; reforma do trabalho, flexibilização trabalhista, reforma da previdência e etc.

  13. Nassif: bom artigo. Espero que os demais leitores, independente de a favor ou contra determina denominação religiosa, possam refletir sobre o texto e comparar com a triste realidade que agora nos cerca. E que a FadinhaDaMata seja referência. Quem sabe nos livraremos dos MercadoresDaFé, tipo o ProfetaMaldito, ligado ao CarcamanoDaMoóca, e outros, como o GogoboyAvivado, não menos sedentos de dindim.

  14. Acho importante destacar a já citada Igreja de Nova Vida, fundada no RJ pelo canadense Robert McAllister, no final da década de 60, quando alugava uma sala na ABI, no centro do Rio. Até onde sei, por experiência dos meus pais, Edir Macedo frequentou e foi diácono nessa igreja, onde conheceu a denominada Teologia da Prosperidade, que transformou o pentecostalismo até então capitaneado pela Assembléia de Deus. McAllister trouxe consigo os ensinamentos de Billy Graham e o resto é a triste história que se seguiu.

  15. Toda a sua explanação, valeu até 2010. Realmente foi assim que se desenvolveu, minha mãe católica nos levava nas casa da bença. Mas nassif agora existe uma interferênça direta de Israel, essas denominações que você citou, usa os simbolos judeus. E uma das propostas que os unificaram entorno de bolsonaro alem do “moralismo” foi o reconhecimento de Jerusalém, como capital de Israel…e não foi atoa. Israel tem um programa de intercambio, com os pastores dessas denominações brasileiras. Eles estão tentando desencadear o Apocalipse… onde se fala da nova Jerusalém….então para eles é importante o reconhecimento de Jerusalém como capital de israel. Não é conspiração…se buscar vera que tem influencia judia no novo pentecostalismo. Mudam até o nome Jesus, querem usar o nome hebraico…sugiro que entreviste o Pastor presbiteriano Augustos Nicodemus, é conservador…mas já o vi falando sobre isso.

  16. Além dos neopentecostais, há outra corrente fortíssima que foi relevante para a eleição de bolsonaro: O universo da música sertaneja. Eles têm um público enorme. Cada show era um comício.

  17. Mesmo sendo agnóstico faço aqui algumas observações sobre o cristianismo.
    Cristo viveu 33 anos e ao longo de sua vida fez alguns poucos “milagres”. Hoje você liga a televisão e vê pastores “fazendo milagres” à baciada. A coisa é no atacado. Cego passa a enxergar, aleijado passa a andar e usuário de drogas se liberta do vício com uma sessão de “descarrego”, ou um chute na bunda.
    Um pastorzinho qualquer se entende capaz de “fazer mais milagres” em um único culto, do que Jesus fez durante uma vida toda.
    Basta colocar uma bíblia no sovaco e sair fazendo milagres.
    Acho que a estrondosa expansão do neopentecostalismo se deve não à fé, antes sim à ignorância.
    A Teologia da Prosperidade é um engodo para idiotas ambiciosos: Não basta você dar o dízimo, tem que fazer “ofertas” para a igreja, para ter acesso a mansões, iates e carros de luxo.
    Doar apenas o cartão de crédito não resolve. Tem que informar a senha.

    1. Você se enganou, eles não operam milagres (gostou do termo), eles fazem questão de dizer que não o fazem. Conhecem o código penal pra não serem acusados de charlatanismo ( só não digo que o o praticam).

  18. Longe de mim esgotar um assunto tão complexo, mas é certo que esse avanço tem causas múltiplas: econômicas, educacionais, políticas, psicológicas e sociais.
    Se é possível resumir em poucas palavras o que aconteceu eu diria (com base no que estudei sobre o assunto), que esses pastores, com imenso senso de oportunismo, souberam utilizar com maestria a religião, a comunicação e as ações sociais, para arrebanhar uma horda ignorante e analfabeta carente de tudo. Horda que encontrou neles a única pouca esperança que ainda lhes restava.
    Outra coisa que poucos se deram conta: essa gente sempre foi subestimada. Muito subestimada. Mas estavam preparados para fazer um trabalho de formiguinha, como de fato aconteceu.
    O resultado tai: produziram um exército de fanáticos analfabetos sem noção, que tem tudo para fazer um estrago monumental no país. Estrago que, dado o grau de ignorância, estupidez e fanatismo dessa gente, aliada a imbecilidade crônica da classe média, eu não sei se será possível reverter….

  19. Somente a Igreja Católica Apostólica Romana sobreviveu a 20 séculos de mudanças, enfrentando pragas, guerras, revoluções, mudanças de sistema e o período barbárico. A religião evangélica é um circo sem conteúdo pra quem confunde religião com programa de auditório da TV.

  20. só foi possível o neopentecostalismo conquistar o Brasil porque contou com a cumplicidade ativa de Lula e do Lulismo.

    dos inúmeros legados malditos do Lulismo, este é um dos mais nocivos, pois invadiu a alma do povo.

    José Alencar, o empresário-amigo, sempre foi próximo aos neopentecostais mesmo antes de sua conversão.

    a inauguração do Templo se Salomão reuniu o alto comando de PT e PSDB, num dos mais miseráveis momentos de nossa política recente, também uma revelação de como se ajoelharam diante do altar da Teologia da Prosperidade em busca do próprio sucesso.

    todos estamos fartos de saber: a Teologia da Prosperidade desaba frente a uma mínima investigação dos fluxos monetários, a montante e a jusante, que alimentam as chamas da fogueira santa.

    estamos vivendo o nosso pior pesadelo porque ficamos muito tempo nos auto-enganando com sonhos pueris.

    e continuamos…
    .

    1. Sinceramente? Um dos maiores culpados foi o homem do baú ao vender a Record para os igrejeiros, que juravam de pés juntos, que não foi com o dinheiro da igreja……nesse momento, com uma rede aberta para explorar, fizeram e fazem misérias….se as autoridades cumprissem suas obrigações em vez de se enfiarem em cultos histéricos o país viveria em um ambiente mais saudável…..

      1. enquanto o voto de cabresto dos neopentecostais estava no laço, tudo parecia estar bem. e deixou-se ao léu o mais importante:

        – o tremendo efeito politizador conservador destes currais eleitorais;

        – o neopentecostalismo é em si tanto um instrumento quanto um projeto de poder.

        no saldo final, cabe indagar: quem usou quem?

        de qualquer modo, o neopentecostalismo não tem qualquer proposta consistente em relação ao acirramento da crise, cuja dinâmica impõe a busca de soluções.

        e o povo irá buscar estas soluções, assim como já as procurou na fogueira santo e em BolsoNazi.
        .

  21. Nassif;

    No NETFLIX existe um documentário série, cujo título é Família- Democracia em risco.
    Este documentário tem tudo a ver com esta matéria mas a nível mundial.
    Mostra com nomes e fatos como foi criada uma organização americana (para-governamental) usa o nome de Jesus, para fins políticos
    É bastante sério e profundo. Quem puder assista, vale a pena,
    Genaro

  22. Apesar do inegável avanço da organização caótica dos evangélicos fundamentalistas e pentecostais ou neo pentecostais no Brasil atual, é necessário perceber que eles não conquistaram o país por completo. Primeiro, porque ainda não constituem uma maioria populacional (se é que um dia serão e eu duvido muito que serão um dia). Bem ou mal que seja, ainda há o contra peso da maioria católica sobre a face evangélica do país (sem falar que muitos dos novos convertidos a igrejas evangélicas voltam para o catolicismo mais cedo ou mais tarde). É necessário aguardar o próximo senso do IBGE para averiguar, mais detalhadamente, como anda o movimento evangélico atual no Brasil (o último senso indica que o maior segmento auto declarado evangélico é o de des igrejados, ou seja, os que não pertencem mais a nenhuma igreja evangélica formal).

    A capilaridade maior das Assembleias de Deus foi desagregada por uma série de cismas internos que geraram várias convenções gerais das Assembleias de Deus, órgão eclesiástico maior da forma de governo desta denominação que hoje é mais plural do que foi no passado, cada convenção geral com sua estrutura eclesiástica própria. Portanto, é necessário perceber que o protestantismo brasileiro, comparado ao protestantismo do norte atlântico, é altamente fragmentado eclesiasticamente, o que só reforça sua tendência descentralizadora e caótica. Pode ser encarado este fato vendo as vantagens e as desvantagens, ao mesmo tempo, porque não há lideranças religiosas incontestes entre os evangélicos, que disputam entre si mais do que se unem entre si.

    Mas creio que a análise criteriosa do Nassif foi bem acurada quanto ao processo histórico que fez com que este segmento da população religiosa no Brasil crescesse, em poucas décadas, em cima da população religiosa antes hegemonizada pelo catolicismo (mas é preciso matizar também esta percepção, porque a maior parte desta população católica que abandonou o catolicismo não era assim tão católica em suas práticas religiosas, só se declarando católica nominalmente). Como fenômeno histórico de crescimento de organizações religiosas com princípios semelhantes, a análise foi muito bem feita. Mas é um viés, entre outros possíveis ângulos de análise, porque os conteúdos religiosos teológicos propriamente ditos podem também ser analisados criteriosamente com os instrumentos conceituais da sociologia.

    O protestantismo brasileiro, em sua maior parte, é de procedência norte americana, mesmo que indiretamente (porque muitas denominações evangélicas nasceram no Brasil e não são frutos diretos de missões americanas). Este fenômeno já foi analisado exaustivamente por historiadores e sociólogos há décadas. O protestantismo de imigração (como, por exemplo, os luteranos), não se tornou a corrente principal do protestantismo brasileiro. A corrente principal que predominou, desde o século XIX e especialmente depois da década de 1920, foi o protestantismo proveniente das missões protestantes norte americanas (inicialmente, só as denominações mais tradicionais e fundamentalistas, como os batistas, os metodistas, os presbiterianos etc.; depois vem o aparecimentos da competição pentecostal, que, no caso das Assembleias de Deus, também era proveniente do território norte americano).

    Portanto, a ligação do protestantismo brasileiro com as missões norte americanas, cordão umbilical teológico específico que distingue o protestantismo brasileiro do protestantismo europeu, é bem marcante. Os vínculos teológicos do protestantismo brasileiro com o protestantismo europeu são quase inexistentes (a não ser em cursos de teologia mais sérios, das denominações mais tradicionais, como os batistas, metodistas e presbiterianos, que estudam as obras de importantes teólogos europeus, como Calvino, Lutero, Armínio, John Wesley, Paul Tillich e Drietrich Bonhoefer, por exemplo). As maiores igrejas europeias são estatais, igrejas nacionais nascidas durante o processo histórico da Reforma Protestante, enquanto que nos Estados Unidos, as igrejas que mais avançaram sobre o grosso da população, fundamentalistas, são as igrejas que na Inglaterra eram dissidentes da igreja oficial, a Anglicana, surgidas durante o movimento puritano do século XVII. Portanto, não por acaso o neoliberalismo é uma ideologia que casa bem com os fundamentalistas norte americanos que são provenientes, em sua maior parte, de igrejas não estatais e dissidentes com raízes no movimento puritano do século XVII (isto está na origem histórica da própria colonização norte americana).

    Antes de aparecer a teologia da libertação na América Latina, em meados do século XX, havia um movimento progressista originado no século XIX na Europa e Estados Unidos, chamado de evangelho social, que não era socialista (embora houvesse sim, em seu espectro, uma corrente socialista teológica, socialismo utópico), mas progressista como seria caracterizado posteriormente (lutava pelas grandes causas sociais, tais como a abolição da escravidão, contra as profundas desigualdades sociais e outras causas mais liberais em sentido político, anti conservadoras). Não por acaso, Martin Luther King se tornaria uma das lideranças teológicas e políticas desta corrente, dentro do contexto norte americano de meados do século XX (suas raízes teológicas remontam ao evangelho social vindo do século XIX).

    Acontece que esta corrente do evangelho social tem influência quase nula na história do protestantismo brasileiro proveniente das missões evangélicas fundamentalistas conservadoras desde o século XIX (muitos destes missionários que vieram para o Brasil eram a favor da escravidão). Há uma incompatibilidade teológica entre este evangelho social e o fundamentalismo, que é, por natureza, conservador no pior sentido da palavra (aliás, o fundamentalismo é um levante social e político de direita exatamente contra o evangelho social do século XIX, considerado por eles como “liberal” em sentido pejorativo).

    Mas estou apenas aqui mostrando que o leque de análise pode ser ampliado muito para além das questões pragmáticas de crescimento de organizações eclesiásticas para perceber a dinâmica interna altamente tensa do protestantismo brasileiro que não é monolítico e que pode e deve ter suas vísceras internas expostas para a sociedade brasileira (para que a sociedade brasileira se vacine contra estes descalabros). Há inúmeros calcanhares de Aquiles no protestantismo brasileiro, tanto em sua versão fundamentalista mais tradicional, quanto em sua versão pentecostal. Os bastidores e o cotidiano evangélico brasileiro são estarrecedores para o senso comum e pessoas de simples bom senso, com suas opressões internas, suas disputas de poder, seus escândalos de toda ordem, sejam os financeiros, sejam os sexuais, sejam os de pedofilia etc. Por detrás da fachada moralista, há uma realidade de bastidores bem escabrosa e podre que precisa ser iluminada pelo jornalismo…

    Pessoalmente não creio que o crescimento deste segmento protestante no Brasil irá prosseguir com este ardor que mostrou até aqui. Penso que está chegando ao ponto de saturação. Sua própria influência política atual pode ser lida como um dos seus calcanhares de Aquiles que, pouco a pouco, irá ser mais um obstáculo do que uma alavanca social e histórica para que continuem avançando sobre a sociedade. Por outro lado, as aberrações teológicas do fundamentalismo e pentecostalismo são um dos principais calcanhares de Aquiles e pontos mais vulneráveis do segmento histórico evangélico brasileiro (estas aberrações estão por trás de teorias como as da Terra Plana e políticas externas absurdas, baseadas em escatologias de segunda mão provenientes dos Estados Unidos). Sua adesão e participação ao neo fascismo e ao governo bolsonarista irá depor, historicamente, contra este segmento, provocando, posteriormente, seu declínio gradual, tanto em prestígio, quanto em influência social, cultural e política. As cicatrizes negativas e as consequências do fundamentalismo e pentecostalismo sobre a sociedade brasileira irão ficar indelevelmente marcadas na história brasileira e serão destrinchadas, em detalhes, de modo científico e racional nos próximos anos, como fundamentos de vários retrocessos sociais, políticos e científicos momentâneos (o fundamentalismo não tem poder de dar sustentação a uma sociedade moderna em pleno século XXI).

    Portanto, há uma frente anti fundamentalista potencial na sociedade brasileira, no momento histórico atual, que trará, ao ser despertada de modo coerente e sistemático, cada vez mais, impulso em defesa do Estado de Direito, em defesa da democracia, da ciência, da tolerância cultural e religiosa, movimento muito mais em sintonia com as raízes históricas estruturais brasileiras do que um movimento importado alheio às nossas raízes históricas. Do mesmo modo em que eles avançam além do lastro social de que dispõem, há um movimento de repúdio de setores organizados anti fundamentalistas, com amplo e maior lastro social, que saem em defesa da escola pública secularizada, da ciência moderna, das liberdades democráticas etc.

    Faço parte desta frente, desde meu lugar social, professor de história de uma rede pública, em Campinas, interior do estado de São Paulo, que, no passado, também foi professor de história da Igreja em faculdade teológica e sofreu uma escravidão eclesiástica devastadora que prejudicou em tudo minha atual vida (mas não sou um único caso, porque, como eu, há milhares e milhares de pessoas que tiveram suas vidas destroçadas pelo avanço avassalador do fundamentalismo sobre a sociedade brasileira).

    Os tempos de neo Inquisição não irão voltar, com suas mentalidades medievais travestidas com a capa supostamente evangélica (na verdade, como muitos sociólogos da religião tem apontado, o protestantismo latino americano é uma fenômeno de catolicismo de substituição que traz para dentro do movimento protestante um espírito retrógrado claramente obscurantista de catolicismo colonial reverso)

    1. Prezado, meio que por ai mesmo. A expansão de igrejas evangélicas já foi mais agressiva. É comum você ver nos bairros, nas periferias, Igrejas abertas em garagens que acabam fechando por inviabilidade (econômica). A própria Igreja Universal andou fechando em algumas cidades do interior. Outro detalhe para ser considerado: todas Igrejas contabilizam somente os fiéis que entram para serem seus seguidores. Jamais contabilizam os que saem (muito mais comum que possam imaginar, principalmente pelas decepções com seu líder). No Censo, observo que se declaram evangélicos mesmo não estando frequentando nenhum templo. Da mesma forma que os católicos (católicos não praticantes).
      Também dizer que o voto do público evangélico é de cabresto beira a infantilização. O crente, o evangélico de hoje em sua maioria, vota como qualquer outro eleitor. Ou não vota em ninguém, a exemplos das Testemunhas de Jeová.
      Penso que a eleição de Bolsonaro foi um conjunto de diversos fatores – oportunismo, antipetismo, e o voto de protesto. Lamentavelmente, o resultado é o que vemos.

    2. Comentário grande. Um detalhe, 100% dos pastores desconhecem os por você citados, posso até estar enganado, mas desconfio que não. Nunca me dei ao trabalho, mas buscar o que essa penca de pastores faziam antes de serem “ungidos” seria informação valiosa para análise.

  23. Por mais incrível que possa parecer os Neopentecostais utilizam um conceito básico da filosofia marxista, para fazer exatamente ao contrário.
    .
    Muitos vão achar que este título é uma mera provocação para chamar atenção de leitores, porém vou provar que não, que na realidade os pastores neopentecostais se servem do conceito de práxis para combater a luta e classes e por isto que ganham espaço perante as religiões cristãs tradicionais.
    .
    O mais difícil de encontrar na obra de Marx são definições simples, claras e acadêmicas de seus conceitos, simplesmente porque Marx nunca pretendeu ser um filósofo, mas sim um revolucionário, porém no seu pequeno texto intitulado “Teses sobre Feuerbach” se vê indiretamente o conceito de “Práxis” sob o ponto de vista Marxista, vou simplesmente colocar algumas destas teses para depois seguir no texto:
    .
    2ª) Tese: “A questão de saber se existe verdade objetiva no pensamento humano não é uma questão de teoria, mas uma questão prática. É na Práxis, o homem deve provar a verdade, isto é, a realidade e o poder, que esse pensamento é este mundo. A controvérsia sobre a realidade ou não realidade de um pensamento isolado da prática é uma questão puramente escolástica .”
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    6ª) Tese: “Feuerbach resolve a essência religiosa na essência humana. Mas a essência do homem não é uma abstração inerente ao indivíduo isolado. Na sua realidade, é o conjunto de relações sociais.
    Feuerbach, que não faz críticas a esse ser real, é obrigado:
    1) Ignorar o curso da história e tornar o espírito religioso uma coisa imutável, existindo por si mesmo, assumindo a existência de um indivíduo humano abstrato e isolado.
    2) Considerar, portanto, o ser humano apenas como “gênero”, como uma universalidade interna, muda, vinculando de maneira puramente natural os muitos indivíduos.”
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    7ª) Tese: “Feuerbach não vê, por isso, que o próprio “sentimento religioso” é um produto social e que o indivíduo abstrato que analisa pertence na realidade a uma determinada forma de sociedade.”
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    11ª) Tese: “Os filósofos apenas interpretaram o mundo de maneira diferente; mas é importante mudá-lo.”
    .
    Antes de seguir vou colocar uma pequena advertência, cuidado com as traduções do marxists.org para o português, pois em outra parte das “Teses sobre Feuerbach”, as palavras „bürgerlichen Gesellschaft“ são traduzidas para “sociedade civil”, um verdadeiro crime de tradução esta expressão não era utilizada por Marx e muito menos tem o mesmo sentido, por outro lado mostra que o tradutor quer fortalecer o discurso de Gramsci.
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    Mas voltando ao ponto central do artigo, os pentecostais e diria os seus ritos.
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    O pragmatismo dos pentecostais no uso da religião é algo fantástico, principalmente que eles simplesmente em seus cultos e seus ritos adaptam maravilhosamente o que parece estar escrito na bíblia, ou seja, se for para pedir dinheiro aos fiéis desencravam de alguma parte da bíblia a obrigatoriedade dos mesmos a pagaram dízimos, mesmo que na bíblia não fosse exatamente como eles pregam, mas a práxis religiosa diz que pastor sem dinheiro não consegue fazer nada e muito menos sustentar sua família com luxo.
    Da mesma forma, a teologia da prosperidade, se lermos todo o novo testamento a mensagem clara e explícita deste é que a pobreza que herdará os céus, mas isto é um mero detalhe teológico e dá origem ao que Marx falou, a discussões meramente escolásticas. Como eles na verdade não são marxistas, eles escondem a metade da frase, ou seja, a busca da verdade pela Práxis, pois esta busca pode dar origem a pensamentos sobre a luta de classes, o erro que a teologia da libertação católica fez.
    .
    A sétima tese de Marx, se lida de forma bem enviesada se encaixa perfeitamente na ação dos neopentecostais, ou seja, poderia ser reescrita pelos pastores como:
    “Que os católicos e demais religiões protestantes tradicionais não enxergam que o “sentimento religioso” é um produto social de uma determinada forma de sociedade.”
    A sexta tese, se encaixa diretamente na crítica as religiões tradicionais, que estão muito interessadas na busca da essência humana, mas na verdade o que é importante são as formas dos cultos e dos ritos para dar uma ideia de religiosidade intensa dos fiéis.
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    Porém a tese onze é a mais clara de todas, também dando uma “leve” torcidinha teremos:
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    “Que os padres e pastores tradicionais procuram interpretara a religião; mas que é importante mesmo é mudá-la ao seu benefício.”
    Mas voltando a uma digressão de forma mais séria, o conteúdo é o mesmo, poderíamos explicar o sucesso nos ritos neopentecostais pelos seguintes pontos:
    .
    1) Os ritos e cultos neopentecostais não estão nem aí para o que está escrito na bíblia, como ela é um livro muito extenso e cheio de contradições, o importante é resumir como o mais importante seja o PENTECOSTES, pois este fala na chegada do espírito santo para os fiéis e eles além se divertirem com a ressureição falam em línguas, gritam, louvam o senhor, tem revelações e daí por diante. Ou seja, não precisam pensar muito sobre todo o resto da bíblia pois deus falará direto a eles.
    .
    2) Se nos ritos e cultos, os fiéis acharem bom a introdução até de práticas ditas “pagãs”, com danças e músicas que emulam ritos de outras religiões não cristãs, não importa, o que interessa é que dá certo.
    .
    3) Se as pessoas querem é falar em línguas que ninguém entende, mesmo que isto contrarie o próprio pentecostes, não tem importância, o importante é que fala as línguas (mesmo que esteja falando por mentira ou por outras psicopatias mais graves) e que se sinta EMPODERADO em relação aos outros.
    .
    4) Resumindo, a prática dos cultos é mais importante do que as reflexões sobre eles, pois ele eleva o astral dos crentes e os deixam felizes, o resto é teoria, mas o que interessa é diferentemente do que o marxismo, uma práxis sem muita teoria.

  24. Uma coisa é certa, com neos ou não, o Lula venceria fácil a eleição de 2014 e 2018 e pode vencer em 2022. A indecência é a promiscuidade religiosa-política que elege pastores, não paga imposto, ganha concessões de rádio e tv, enfim, um dos melhores negócios do planeta. No liivro Os diabos descem do Norte, Délcio Monteiro de Lima traça um painel importante e abrangente do avanço diabólico pela AL. Obra de 1987, a academia ainda não deu uma resposta por mero preconceito. Deu no que deu. O diabo, lembrando Laura Mello e Souza, na terrinha de Santa Cruz, antes restrito ao âmbito católico, agora está soltinho da silva.

  25. A propósito deste debate, podem escolher a partir do primeiro vídeo, atentem a quem eles atendem, a idade média voltou. Basta digitar no Google:
    igreja universal bh retirada demonio

  26. Concordo com você, Pedro Mundim. Disse tudo. Apenas discordo do “povo da periferia”. Existe nesse grupo uma grande parte de classe média e alta, conscientes dos valores cristãos. Nunca vão enquadrar o povo no que eles acham que deve ser, sem princípios, na amoralidade como pregam, no vandalismo batizado de liberdade.

  27. Faltou dizer que com a ascensão do Karol Wojtyla ao papado e sua ruptura com a Teologia da libertação (excomunhão de Boff e outros tantos) e todas as pastorais relativas, o abandono dos cantões e periferias, deixou o caminho aberto pra súcia de Edir Macedo se instalar confortavelmente no vazio deixado.

  28. A classe dominante e reaça, precisa de igreja idem. Casamento perfeito, mesmo sendo ateu, acompanhava minha esposa nas missas, em 2013, ouvi tantos absurdos do padre, que desde então me recuso a ficar.
    Claro que há católica e outros religiosos mais conscientes, mas a maioria é de reacionarios.

  29. “Pedro Mundim 08/01/2020 at 14:17
    O povo quer quase tudo isso aí que você colocou. Pode não gostar de pedágio, mas povão mesmo anda é de ônibus ou de trem.

    Democracia é fazer o que o povo quer.”

    Interessante isso! Principalmente dito por um religioso conservador.
    Não foi o povo quem pediu a crucificação de Jesus? Ou será que estou enganado?

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