Francisco Celso Calmon
Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.
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Conhecer a história e ser revolucionário, por Francisco Celso Calmon

Até a liberdade de Lula, a luta é pela recomposição do Estado democrático de direito e defesa da soberania

Foto Ricardo Stuckert

Conhecer a história e ser revolucionário

por Francisco Celso Calmon

Lula é um líder político que transcende aos seus colegas do século 21. Sua genialidade se caracteriza pela sensibilidade em perceber, intuir e aprender com a realidade, bem como em saber comunicar-se com o povo. Sua formação teórica nunca foi a de um intelectual acadêmico e sim a de um intelectual orgânico, oriundo da classe trabalhadora e a ela sempre ligado.

Lula postula o seu agir de um elemento teleológico. O que aprende em teoria é colocada a serviço de sua práxis política. Não sendo produto da academia, Lula aprende com a sua própria história e busca transformar-se.

Toda experiência nos ensina e as vezes nos transforma.

Ninguém deseja prisão para ninguém, pois em si já é uma barbárie, mas, sem pudor, pois fui prisioneiro político, posso dizer que também é uma experiência que, dependendo das condições, é muito rica e produz um crescimento singular; é o que percebo no Lula. Transformou a prisão num ambiente de estudos e de exercício físico, transformou sua solidão em reflexão do passado e do que lê e assiste.  

O ativismo político do passado não lhe permitira o tempo que a prisão está obrigando-o a ter. 

Zé Dirceu, preso, escreve suas memórias, de enorme contribuição à história. 

Lula, preso, tem um ativismo limitado, à distância, mas ilimitado tem sido o seu aprendizado teórico e as lições que vem tirando da história geral e da que viveu como protagonista.  

Sua recente declaração no jornal argentino P12, é um reconhecimento e uma mensagem de um valor, em si, revolucionário, embute aí a autocrítica que muitos da esquerda esperavam e a indicação de um novo caminho.

“Eu acho que se eu conhecesse o tanto de história que eu conheço hoje há 50 anos atrás, eu teria virado um revolucionário. Por não saber, eu virei um político democrata. A diferença é que tenho lado.” Lula.

Conhecer tanto a história universal como a do Brasil vai ao encontro da concepção de que “A história de toda sociedade até nossos dias é a história das lutas de classe” (Marx e Engels). Conceber a história cientificamente é reconhecer que a luta de classes é o motor da evolução, transformação e revolução social.  

A academia, detentora do saber, não faz revolução, mas estudantes e trabalhadores, juntos, têm o potencial de fazer, à medida que incorporem a teoria e a transformem em força material, em armas da crítica. 

Para ser revolucionário não é preciso certidão de nascimento, nem atestado de saúde e nem pedir licença a quem quer que seja, é agir na teoria e na prática para a organização e consciência da classe trabalhadora, na perspectiva de seu empoderamento, com o objetivo da superação do sistema que aliena, oprime e explora a maioria esmagadora do país.

O conhecimento é um poder libertador. Conhecer os 388 anos de escravidão e os 29 anos de ditaduras no Brasil é formar a necessária consciência de rejeição, base para elaborar um projeto de nação e sonhar com uma sociedade antítese desse passado traumático. 

Extraio também da declaração do Lula o critério para aliança programática, ou seja, com aqueles democratas que têm lado, que estão comprometidos com os interesses do povo. 

Com Lula em liberdade muda a correlação de forças, contudo, não basta, é preciso saber qual será o norte, o da crença infantil na conciliação de classes, ou o da luta de classes na perspectiva de que haverá um momento da história na qual a ruptura será inevitável, contudo, pode ser para retroceder (como o golpe de 2016) ou para um novo poder, um novo Estado. A preparação para a ruptura não se faz quando a luta de classes assumir esse estágio de antagonismo, mas desde já e sempre, através das atividades perenes de formar, organizar e protagonizar – FOP – as classes trabalhadoras e a juventude estudantil nesse vetor.   

Até a liberdade de Lula, a luta é pela recomposição do Estado democrático de direito e defesa da soberania, portanto, nela só não entram os bolsonarista entreguistas e nazifascistas, construtores do Estado policial, mantido pelos milicianos, militares e togas degeneradas.

O golpe de 2016 está fazendo um mal trágico à nação, que não pode haver perdão aos golpistas, a não ser que façam autocrítica prática, sob pena de virarmos um povo sem dignidade.

Francisco Celso Calmon é Advogado, Administrador, Coordenador do Fórum Memória, Verdade e Justiça do ES; autor do livro Combates pela Democracia (2012) e autor de artigos nos livros A Resistência ao Golpe de 2016 (2016) e Comentários a uma Sentença Anunciada: O Processo Lula (2017)

Francisco Celso Calmon

Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.

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