Constatações do Marechal SARS-CoV-2, por Aracy P. S. Balbani

Constatações do Marechal SARS-CoV-2

Por Aracy P. S. Balbani

 

“A guerra é uma coisa demasiado grave para ser confiada aos militares”.

Georges Clemenceau

 

Muitos têm sofrido angústia na pandemia de COVID-19. Não apenas os que perderam entes queridos sem poderem dar ou receber nenhum abraço durante o luto, e os que estão na luta por uma vaga de UTI.

Na tripla catástrofe brasileira – sanitária, política e ambiental -, sensação de impotência pode paralisar milhares de pessoas nesses momentos decisivos para a nossa sobrevivência. Porém não há tempo nem espaço para hesitações. A gravidade da crise obriga-nos à tomada de consciência urgente e às atitudes baseadas em decisões racionais.

Comecemos tentando compreender a lógica do nosso oponente principal, o vírus SARS-CoV-2.

Grupos de pesquisa de todo o planeta têm somado conhecimento sobre o vírus em tempo recorde. Nas bancadas de laboratório, nos modelos computacionais, à beira do leito hospitalar ou no trabalho de campo, cientistas estão dando o máximo de si e já compartilham dados objetivos consistentes. Candidatas promissoras a vacinas contra o SARS-CoV-2 entraram em teste.

Mas há um componente sutil, e não menos importante, na nossa relação com esse vírus. Ele tem diante de si um Brasil bem diferente daquele que participou da Primeira Guerra Mundial. Naquela época, em que ocorreu a pandemia de gripe de 1918, o Brasil mobilizou missão com 86 médicos – dos quais apenas 10 eram militares do Exército e da Marinha, sendo os demais civis convocados e acadêmicos de Medicina – para atender feridos da guerra num hospital de retaguarda em Paris. Contudo, a pandemia obrigou a missão do nosso General Napoleão Aché a mudar os planos e acompanhar os médicos franceses deslocados para acudir casos de gripe no interior daquele país. Seis meses depois, a missão médica brasileira foi extinta.

Justamente naquela ocasião o médico Georges Clemenceau (1841-1929) era o Ministro da Guerra francês. Ele integrou a Conferência de Paz de Paris. Entre suas frases mais citadas estão: “A guerra é uma coisa demasiado grave para ser confiada aos militares”, “A guerra é uma série de desastres que resultam num vencedor” e “Absurdo é o homem que nunca muda”. Da biografia de Clemenceau constam discursos proferidos na América do Sul, nos quais o estadista disse: “Sou um soldado da democracia. É a única forma de governo que pode estabelecer igualdade para todos e nos aproximar dos objetivos de liberdade e justiça”.

O RNA de SARS-CoV-2 registra também que, depois da contundência de Clemenceau, foi atribuída a outro general francês, Charles de Gaulle (1890-1970), a célebre frase “O Brasil não é um país sério”. Mas, segundo a Internet, a autoria da frase seria controversa.

Pelo lado brasileiro, o vírus ainda não soube de um pronunciamento digno de gravação em RNA do General Eduardo Pazzuello, interino no Ministério da Saúde. Enquanto aguarda, contabiliza vítimas fatais e acidentes em operações militares, além de vários casos de corrupção, inclusive para compra de próteses cirúrgicas, envolvendo militares em solo pátrio.

Desastres em série podem fazer de SARS-CoV-2 um grande vencedor. Ele encontra várias condições convidativas à sua propagação no Brasil. Não apenas quem o subestima, as favelas, o saneamento precário e o desmonte premeditado do SUS, mas também a divulgação irresponsável de métodos sem comprovação científica para suposta prevenção e tratamento da COVID-19. Isso sem falar na escassez de equipamentos de proteção individual (EPIs) para profissionais de saúde, e de treinamento para usá-los. Quem é autônomo sente no bolso a consequência da falta de regulação governamental de preços dos EPIs.

É provável que o vírus SARS-CoV-2 defina sua estratégia de acordo com a ação e a omissão dos agentes políticos brasileiros. Afinal, o ódio político e a violência que ele incita podem ter consequências devastadoras.

Quem se agarra ao poder para se servir em vez de servir não compreendeu a vida. Não sabe quem é. Logo, não vive de verdade. É apenas uma presa: de si mesmo, do medo e da raiva – esta, um disfarce do fracasso, de acordo com os ensinamentos do psiquiatra Emilio Mira y López (1896-1964). Se alguém assim absurdo não dá certo nem consigo mesmo, é evidente que não pode fazer bem a uma nação. SARS-CoV-2 agradece a arminha, quer dizer, a mãozinha.

Confrontados com a ameaça da COVID-19, é provável que muitos, ao se perguntarem o que desejariam mudar em suas vidas, tenham respondido com uma única palavra: tudo.

Não vamos nos resignar diante dos que ameaçam nossas vidas. Com determinação corajosa e bom senso, façamos com que este seja um novo começo para a humanidade. Somos incansáveis na construção de um presente e futuro de saúde, paz e justiça para todos os brasileiros.

Pela vida sempre!

Redação

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