Contra o antipetismo para derrubar Bolsonaro, por Álvaro Miranda

A questão é que as conjunturas mudam, as pessoas mudam, a correlação de forças muda – e golpes criam também hegemonias.

Contra o antipetismo para derrubar Bolsonaro

por Álvaro Miranda

A partir de ponderações pertinentes de uma comunista veterana, amiga muito querida, as primeiras indagações que faço são: vamos permitir até quando a disseminação do ANTIPETISMO? Nem vou falar da SORDIDEZ QUE FOI A PRISÃO DE LULA PARA BRASIL. Chega a dar uma NAÚSEA DEPRIMENTE olhando quem foram os sócios do LAVAJATISMO.

Acredita-se que descartando o PT, Lula e toda uma história e trajetória que fazem parte da redemocratização e do avanço da democracia nas últimas décadas, vamos chegar a que lugar? A que hegemonia chegaremos da noite para o dia chutando Lula como se fosse um cachorro morto só porque o PT está fora do governo desde 2016 por um golpe?

Não à toa o ANTIPETISMO – e que não vem de hoje, ponderou ela. Vem desde o surgimento do PT, no fim dos anos 1970. Eu, que venho apoiando CIRO GOMES (por suas propostas e pelo jeitão dele), de forma até antecipada, com certa afoiteza, sem considerar a conjuntura de correlação de forças possível mais próxima do pleito de 2022, convido os amigos e não amigos “ciristas” a essa reflexão. “Ciristas” antipetistas e não antipetistas.

Obviamente quem fala aqui é um curioso por políticas públicas, brasileiro apaixonado pelo Brasil, por minha história, pela memória pessoal e coletiva. Apaixonado pelo samba, pelo batuque, pelo xote, pelo maracutu e pelo baião infinito da nossa ternura. Pela mistura democrática e genuína dos modos plurais, NÃO SENDO NENHUM INFLUENCIADOR como esses que estão aí nas redes sociais, aliás, muitos péssimos influenciadores diante de uma gigantesca carência difusa de afetos.

Se tiver, tenho QUATRO SEGUIDORES, QUE SÃO MEUS FILHOS, e olhe lá, mesmo assim bissextos, pois cuidando de suas vidas, ainda bem, e não do que eu penso ou deixo de pensar.

Mas, pensando neles e nos meus dois netos que estão ainda na tenra infância, pensando e viajando na memória possível de tantas famílias como a minha e de MUITAS OUTRAS FAMÍLIAS POBRES e ferradas BRASIL AFORA, que nem se comparam, em termos de conforto e oportunidades, com a vida deste jornalista pequeno-burguês, seria um ACINTE DESRESPEITAR LULA, DILMA E O PT, como fizeram e continuam fazendo os golpistas que acabaram elegendo Bolsonaro. E como podem estar fazendo alguns incautos bem-intencionados.

DESNECESSÁRIO ELENCAR O QUE OS GOVERNOS DO PT FIZERAM DE BOM, todos sabem. Aliás, justamente por suas virtudes, e não por seus erros, que o GOLPE DE 2016 foi articulado – golpe esse, certamente, tendo sucesso também por possíveis ERROS DO PT. Mas costumo dizer que governo ou partido algum do mundo só acerta ou só erra. Há esta EXCEÇÃO ESCABROSA atual que estamos vendo de um (des)governo que só erra.

A questão é que as conjunturas mudam, as pessoas mudam, a correlação de forças muda – e golpes criam também hegemonias. Porém, diria, corroborando o que ponderou minha amiga, que LULA AINDA ESTÁ NO JOGO E VAI SEGUINDO FAZENDO COISAS, aqui e ali, conversando, costurando, visitando um chefe de estado aqui, um político lá, falando e urdindo – e faz bem. Isso é um fato que nos convida a pensar: LULA É UMA INCÓGNITA para 2022. Lula, cujo jeitão e carisma, depois dele, nenhum político conseguiu ainda encarnar.

Não à toa o medo de muitos em relação ao líder do PT. E com o jeitão de CIRO GOMES e suas propostas, não à toa também por que o cearense vem causando temor em muita gente da direita – e que certos esquizofrênicos da esquerda ficam incensando, até involuntariamente, com um ANTICIRISMO.

Nesse sentido, fecho aqui com as seguintes palpitações, lembrando de imediato Alberto Fernandes e Cristina Kirchner, na Argentina: “ciristas” esperam formar hegemonia sem o PT? Petistas esperam vencer sem Ciro Gomes. “Ciristas” esperam seguir em frente sem o verdadeiro partido-novidade da redemocratização com a bancada que este partido tem no parlamento federal e com tudo o que ainda representa no imaginário do povo?

Partido-novidade, sim, com representação mais popular nunca vista depois da queda da ditadura. O tucanato, depois liderado pelo mau-caratismo de FHC, veio, em plena constituinte de 1987/1988, com a ideia de uma “social democracia”, porém, tentando imitar a europeia já quase em escombros com a destruição do estado de bem-estar social. E deu no que deu, todos sabemos, com a década perdida de 1990.

Por sua vez, a novidade do que se encarna no nome de CIRO GOMES agora é a discussão sobre um PROJETO NACIONAL, tudo o que FHC não quis e não fez e que converge com muita coisa que o PT FEZ NESSE PAÍS. Então, o que teremos pela frente?

Nós, aqui, pobres mortais, a maioria sem atividade partidária, só seguindo o que se diz e se divulga, vamos ter que nos deparar no ano que vem com um primeiro turno embolado entre Bolsonaro, Dória-Hulk, Lula (ou outro do PT), Ciro Gomes, outros da esquerda e da direita, além de alguns lunáticos (sempre aparece um, a história é pródiga de exemplos)? E depois, um segundo turno entre Bolsonaro e Dória (argh!), por exemplo, porque ajudamos a alimentar, de forma leviana e inconsequente, o antipetismo e um anticirismo?

Num devaneio ingênuo e romântico, pensei com meus botões, se fôssemos uma sociedade politizada, o povo iria para as ruas com faixas e cartazes pressionar por uma união entre Lula e Ciro Gomes. Já imaginaram um segundo turno com Lula-Ciro ou Ciro-Lula versus Dória-Hulk-TV GLOBO, tendo Bolsonaro sido jogado no lixo da história já no primeiro turno?

Quem quiser, para me explicar, fazer entender e compreender, cartas para a redação ou caixa postal no Facebook, que, não se preocupem, já possuem dispositivos para filtrar imbecis, ignorantes, boçais, loucos e entreguistas do nosso país. Filtrar também os arrogantes que acreditam saber tudo com seus princípios cristalizados na crença de que seria a ideia que cria a vida, e não o contrário.

*Álvaro Miranda, jornalista, poeta, mestre e doutor em políticas públicas, estratégias e desenvolvimento pela UFRJ, atualmente fazendo graduação em direito pelo Mackenzie-Rio, autor de cinco livros de poesia, dentre eles, “Estranho país que teus olhos já não procuram mais” (2019, 7Letras), e “Tribunal de Contas no Brasil: a falsa cisão entre técnica e política” (2020, Editora da UFRJ)  

Redação

3 Comentários

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  1. Seria um gesto de grandeza e demonstração de apreço pelo país se Ciro Gomes deixasse de lado suas mágoas pessoais e pedisse desculpas por todo o comportamento odiento que ele assumiu com relação à Lula e ao PT nos últimos tempos, que também alimentou a moenda do antipetismo ao invés de insistir, com seu “jeitão” (o que seria esse jeitão?), em seguir acusando vítimas de violência de serem responsáveis pela violência que elas próprias sofreram.
    Interessante também se esse grande homem público pudesse buscar agora alguma fidelização partidária, ajudando a consolidar um partido moderado representativo e competitivo, até para que os ciristas possam, enfim, ter um partido para chamar de seu e, também, para que as analogias e pretensas simetrias entre ciristas e petistas possam ter alguma base na realidade factual.

  2. A grande questão é que Ciro é uma pessoa, um político. O PT com Lula são um grupo, uma associação. Ciro é dissociado, não tem um grupo que ande junto com ele.
    Nassif toda hora fala da grandeza do diagnóstico do Ciro sobre a economia e a sociedade. Mas não consigo encontrar ninguém expondo tais ideias, nem o próprio jornalista. O próprio Ciro gasta sua energia xingando. Não para em partido nenhum e agora está numa agremiação que nem partido é, nem nunca foi. O PDT foi a saída para o encerramento de carreira do Brizola, acabou junto com ele. Resulta do fracasso de Brizola em recuperar a sigla e o grupo do PTB. Levou drible da vaca do Golbery.
    Ciro não tem nenhuma razão lógica para não atuar num partido como o PT. Mas tem o ego. Um estadista juntaria fileiras em torno da alternativa mais forte, não gastaria sua energia tentando enfraquecê-la.

  3. Fico esperando pelo próximo artigo, que deve intitular-se, logicamente, “A favor do petismo para não derrubar Bolsonaro”. E, em seguida, a síntese.

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