Coronavírus gera mal-estar diplomático entre EUA e China, por Cesar Calejon

O porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da Ásia sugeriu, sem apresentar provas, que o Exército dos Estados Unidos seria responsável pelo surto do novo Coronavírus

Coronavírus gera mal-estar diplomático entre EUA e China

por Cesar Calejon

No fim da semana passada, Zhao Lijian, especialista chinês em doenças respiratórias, veterano da epidemia da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS, entre 2002 e 2003) e porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da Ásia, sugeriu, sem apresentar provas, que o Exército dos Estados Unidos seria responsável pelo surto do novo Coronavírus, que teve origem na cidade de Wuhan, na China.

Em seu tweet, Zhao Lijian postou um vídeo do diretor dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), Robert Redfield, declarando perante o Congresso dos Estados Unidos que alguns americanos, que possivelmente teriam morrido de gripe, já eram portadores do novo Coronavírus. “O CDC foi pego em flagrante crime. Quando o paciente zero apareceu nos Estados Unidos? Quantas pessoas foram infectadas? Quantos dos 34 milhões de casos de gripe e 20 mil mortes que foram relatadas por Washington estão relacionados com a Covid-19?”, questionou em sua postagem. “Pode ter sido o exército americano que levou a epidemia a Wuhan. Os Estados Unidos devem ser transparentes! Devem publicar os seus dados! Os Estados Unidos nos devem uma explicação”, complementou Zhao, sem apresentar provas, indícios ou estudos científicos para respaldar a sua acusação.

Em uma série de tweets, Zhao se referiu às declarações recentes de Redfield, que reconheceu que alguns casos de Coronavírus dos EUA foram classificados erroneamente como influenza, pois os médicos não tinham provas precisas da nova epidemia na época. O alto funcionário não detalhou quando esses casos mal avaliados apareceram pela primeira vez e apenas observou que “alguns casos foram diagnosticados dessa maneira”. No início do surto, Zhong Nanshan, diretor do Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças, declarou que o Coronavírus apareceu em um mercado na cidade de Wuhan. Contudo, nas últimas semanas, ele levantou a possibilidade de que a fonte do vírus causador do Covid-19 não estivesse na China, hipótese que foi adotada por Pequim.

Segundo teorias que circulam nas mídias sociais Twitter e Weibo, a delegação dos EUA nos Jogos Mundiais Militares, uma competição que foi realizada em outubro de 2019, em Wuhan, poderia ter trazido o vírus para a China. Contudo, as autoridades chinesas foram acusadas de ocultar a epidemia no início e a polícia de Wuhan repreendeu os médicos que deram o alarme ainda em dezembro.

Mike Pompeo, secretário de estado dos EUA, referiu-se ao Covid-19 como “o vírus Wuhan” e Trump usou o termo “vírus estrangeiro” (foreign vírus) em pronuncimanento via televisão para todos os Estados Unidos. As expressões foram classificadas como “desprezíveis” pelo Ministério das Relações Exteriores da China.

Na última sexta-feira, o Departamento de Estado dos EUA convocou Cui Tiankai, embaixador chinês no país, para protestar contra os comentários feitos por Zhao Lijian. David Stilwell, subsecretário de Assuntos do Leste Asiático e do Pacífico, disse que as mensagens contribuem para uma “campanha de desinformação flagrante e global” sobre o Coronavírus.

O embaixador chinês foi filmado deixando os escritórios do Departamento de Estado em Washington. O diplomata não respondeu os questionamentos da imprensa.

Até este momento, mais de 160 mil pessoas foram infectadas em todos os continentes e cerca de seis mil morreram. Segundo os depoimentos de muitos infectologistas em diferentes veículos de imprensa, o surto deverá se agravar radicalmente durante as próximas duas semanas. O distanciamento social, aparentemente, é o único meio de conter a doença. Fadiga, febre e tosse seca são os sintomas mais comuns do Covid-19. No entanto, alguns pacientes podem apresentar congestão nasal, coriza, dor de garganta ou diarréia. Embora a maioria dos pacientes (cerca de 80%) se recupere da doença sem a necessidade de tratamento especial, cerca de uma em cada seis pessoas que contraem o vírus desenvolve uma condição grave e tem dificuldade em respirar.

Independentemente de onde o vírus infectou o paciente zero, o fato é que o Covid-19 tornou-se o assunto mais falado da nossa história recente. Naturalmente, a doença será objeto de disputas e enfrentamentos no âmbito internacional.

Cesar Calejon é jornalista com especialização em Relações Internacionais pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e mestrando em Mudança Social e Participação Política pela Universidade de São Paulo (EACH-USP). É, também, autor do livro A Ascensão do Bolsonarismo no Brasil do Século XXI.

Redação

5 Comentários

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  1. No GGN já lemos essa matéria https://jornalggn.com.br/politica/militares-dos-eua-levaram-coronavirus-para-a-china/
    Eu li esse artigo sobre a irresponsabilidade nos Estados Unidos diante da doença : https://www.theatlantic.com/ideas/archive/2020/03/coronavirus-showed-america-wasnt-task/608023/ O coronavírus chamado blefe da América
    Como o Japão, em meados do século XIX, os Estados Unidos agora enfrentam uma crise que refuta tudo o que o país acredita sobre si mesmo. 15 DE MARÇO DE 2020 Anne Applebaum

  2. Nassif, já que estamos vivendo um tempo completamente fora do normal, com tudo sendo paralisado ou congelado, isso também não teria que valer para o “mercado”? Porque as bolsas, por exemplo, seguem em operação como se nada estivesse acontecendo? Estranho…

    1. Exato, Silvio, esta é a principal utilidade da onda de histeria que a mídia ocidental tem espalhado. Os especuladores estão como raposas no galinheiro, especulando à vontade enquanto a economia dos países afundam miseravelmente. Um escândalo. Não há a menor razão para o funcionamento destas “casas de tolerância” ao redor do mundo ocidental durante esta tempestade. Crise provocada artificialmente, sem dúvida.
      E ainda deve-se lembrar que a delegação americana nestes jogos militares em Wuhan chegou “misteriosamente” em 30o. lugar. Estranho, não???

  3. Autoridades do governo chinês não se manifestam de forma pública sem estarem municiados com provas. A China já deve ter feito o mapeamento da pandemia e num futuro próximo deverá divulgar. Surpresas ocorrerão.

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