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Coronel Carlos Magno

Carlos Magno Nazareth Cerqueira ingressou na polícia militar do Rio de Janeiro em 1954, permanecendo na corporação ao longo de 40 anos.  Graduou-se em Psicologia e Filosofia, tendo ainda cursos em Técnica de Ensino, Psicotécnica Militar, com estágio na Gendarmerie francesa. Serviu na antiga Escola de Formação de Oficiais e no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Oficiais e Aperfeiçoamento de Sargentos.

Com formação intelectual sólida e humanista, tornou-se coronel da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro e ocupou o cargo de secretário da Política Militar nos dois governos de Leonel Brizola, primeiramente entre 1983-87, quando introduziu o conceito de policiamento comunitário, e entre 1991-95. Em sua carreira, além de duas vezes comandante-geral da corporação, Nazareth Cerqueira comandou o 4o.Batalhão de Polícia Militar, em São Cristóvão, o 19o. BPM, em Copacabana. Ainda foi Ajudante Geral, Diretor-Geral de Ensino, Subchefe do Estado-Maior e chefe do Estado-Maior da PM.

Defensor intransigente dos direitos humanos, era preocupado com a herança da ditadura militar nas políticas de segurança, que resultava em perseguições e abusos contra as pessoas pobres e negras das favelas cariocas. Buscou construir uma polícia comunitária cidadã, enfrentando práticas racistas da corporação a partir de uma preparação mais humanista do agente policial. Ainda que tivesse apoio do governador da época, Leonel Brizola, que havia colocado outros líderes negros na Administração, como Abdias Nascimento, enfrentou estranhamento da sociedade e da corporação por ser negro e por sua estratégia de buscar que os policiais cumprissem as regras legais e tratassem o cidadão com respeito.

Ainda que seus críticos aleguem que as eliminações das batidas desnecessárias nas ruas e morros do Rio de Janeiro favoreceram o crescimento da criminalidade, poucos lembram que a estratégia se apoiava também em forte investimento na área social, principalmente em educação, iniciativas que foram descontinuadas nos governos seguintes. Concomitante, sua contraparte paulista, o secretário José Carlos Dias, também enfrentava forte resistência dentro e fora da corporação por tentar a mesma abordagem para a política de segurança do estado. É nesta época que surge a lenda que as pessoas e entidades de defesa dos Direitos Humanos apenas defenderiam os direitos de bandidos, e não de todo o cidadão, como de fato o é.

Já na reserva, o policial é assassinado em 1999, pelo sargento da PM Sidney Rodrigues. O assassino foi morto logo a seguir e sua motivação nunca foi esclarecida.

Hoje, quando as corporações policiais são instrumentalizadas por políticos populistas de extrema-direita, que, no entanto, não se preocupam com as condições de trabalho, treinamento, remuneração e nem ao menos com os altos índices de suicídio da tropa (https://bit.ly/34pDFCd ), é reconfortante saber que o Brasil já sonhou ser diferente, e um desses sonhadores foi um competente e engajado coronel negro.

Fonte:

Leal, Ana Beatriz (org.). Sonho de uma polícia cidadã: Coronel Carlos Magno Nazareth Cerqueira. Rio de Janeiro: NIBRAHC, 2010

Redação

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