Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
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Coronelismo eletrônico, pedalinhos e convicções, por Armando Coelho Neto

Coronelismo eletrônico, pedalinhos e convicções

por Armando Rodrigues Coelho Neto

Este texto é um convite para o leitor ingressar comigo no “Château de Plantadis”, um pequeno castelo do século XIX, localizado a 20 quilômetros de Limoges (França). Estava eu num jantar de gala, parte da agenda de um congresso sobre materiais resistentes (Congrès Electroceramics XV), junho/16, promovido por uma universidade francesa. Como sou de origem humilde, jamais perderia a oportunidade de saber como os franceses recepcionariam mestres e doutores em Física de várias partes do mundo numa situação daquelas.

Tive a honra de estar à mesa do físico russo Galina Kaleva, que seria uma das maiores autoridades em resistência de materiais (cerâmica). O tal físico chamou a atenção de um cubano (doutor na área), o qual estava à minha direita, indisfarçavelmente deslumbrado não só por estar comendo “magret de canard” (peito de pato), mas também por estar frente a frente com seu ídolo russo. O mesmo cubano, por sua vez, chamou-me a atenção por outro aspecto.

Vive no Brasil à custa de bolsas do governo brasileiro e, naquela noite, seu tema preferido foi falar mal de Cuba. Elogiou o Brasil por poder comer carne todos os dias, entre outros desfrutes de Pindorama, crente ser essa a realidade de todo brasileiro. A cada elogio ao Brasil, um torpedo contra a “ilha maldita”, na qual, à exceção dos doentes, “o cidadão comum só se come carne uma vez por semana”. Entre outras desgraças da ilha, “Fidel e sua turma conseguiram convencer os cubanos de que os Estados Unidos são inimigos deles”.

Maldito vinho francês! Resolvi falar. Disse ao cubano que naquele mesmo dia, eu havia conhecido e almoçado com o seu orientador na tese de doutorado em Física. Disse mais que estava hospedado com um dos principais orientadores de doutorado da USP/São Carlos, responsável por minhas andanças nas terras de Pierre Joseph Proudhon. Disse-lhe que ambos haviam feito largos elogios à sua formação e capacidade. Foi difícil para ele esconder orgulhosos sorrisos, até porque o físico russo entendia um pouco de português.

Ocorreu-me a maldosa pergunta: onde estudou e aprendeu tanto?. “Só estudei em Cuba”. Ah, tá. A resposta foi uma queda de ficha que o obrigou a admitir que a educação em seu país era ou é boa – melhor do que o Brasil. Boa mas não tanto e ele (cubano) seria a prova de que a educação não cura certos desvios. A postura do tal cubano muito lembrava grande parte dos beneficiários do Programa Ciência Sem Fronteiras que, ingratamente, da França à Alemanha, ofendem às turras o governo Dilma Rousseff (Fora Temer!).

Nessa linha, para aquele físico cubano, Fidel Castro não passa de um ladrão, que está rico e… Mais do que o Lula (?), interrompi debochadamente. Sem esperar a resposta, indaguei – O que Fidel e Lula fazem com o dinheiro roubado? Não têm mansão em Parati ou Mônaco, não esquiam em Aspem, não aparecem na Forbes, nunca foram capa da “Caras”, não exibem roupas, relógios, carrões, iates, aviões… Eis que surge diante de mim o semblante de quem o mundo é apenas física e umbigo.

Seria como se a riqueza para pessoas como Fidel e Lula fosse mero fetiche ou mesmo TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo). As duas figuras teriam enriquecido suas famílias e, ao contrário de outros ricaços, também não gastam, nem exibem…

Constato, pois, que o cheiro de podre que buscam em Lula não vem dele, mas sim da sociedade da qual a Farsa Jato é capitã do mato. Uma sociedade “sem provas e muita convicção”, inspirada nos vícios dos quais ela própria se retroalimenta. Busca no outro (Lula) os seus próprios vícios, posto que o eixo de raciocínio é a obsessão pelo dinheiro. Assim, a hipótese de outro eixo movido a desapego material e humanismo não existe.

Tendo como troféu um pedalinho, os farsantes estão envergonhados, e só lhes resta distorcer, conjecturar, inventar, insuflar o ódio através do coronelismo eletrônico, para que a sociedade aceite qualquer ilegalidade ou mentira. Como uma bola surrada de um jogo de várzea, a Constituição foi retirada de campo pelo maloqueiro raivoso que perdeu a partida.

Quem usa cuida. Se eles só fariam isso ou aquilo por dinheiro, é impossível haver alguém diferente deles. Eu, por exemplo, devo estar enriquecendo para defender corruptos no GGN. Como sou de origem humilde, hoje remediado, jamais poderia ser contra a miséria, sobretudo depois de haver ousado jantar no “Château de Plantadis”.

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo

Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

9 Comentários

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  1. Muito bom. É realmente isso:

    Muito bom. É realmente isso: acusam nos outros o que fazem. É pra isso que serve o bode expiatório.

    Eu faço diferente. Quando chego no buteco da esquina, cumprimento todos à mesa, segue-se o “como vai? Como vai”, apertos de mão… Conto alguns segundos; comento uma coisa ou outra; olho numa direçao ao longe e exclamo: “Ali, o PT, o PT, o PT!” Todos ou quase todos se viram para ver e eu, então, meto a mão e pego um bolinho de bacalhau, rsrsrs.

    Quando eles se voltam eu já estou mastigando e rindo, hahaha!

    Já apliquei varias vezes. Ainda tem quem caia, hahaha!

    1. Você tocou em um assunto

      Você tocou em um assunto interessante, o da “resposta condicionada”. Aqui eu não posso falar “comunista” sem receber olhares raivosos, uma das heranças malditas da Guerra Fria. Você nota que o indivíduo não pensa antes de reagir ao ouvir a palavra-chave, como é típico em uma resposta condicionada, e reage também com uma reação automática (usualmente ódio).

  2. Eu não teria escrito melhor.

    Eu não teria escrito melhor. E admito que é um problema na minha terra também, quem vive de cometer crimes e de prejudicar os outros não consegue aceitar que possam existir pessoas que não sejam como ele. Vocês leitores do Nassif podem imaginar como os meus colegas, outros investidores, reagem quando eu descrevo a forma como eu opero (jogar limpo, respeitar os nativos, incentivar parceiros ao invés de “negócios da china” danosos para o outro lado, etc).

  3. Muito bom.
    Certa vez perguntei isso a um desses idiotas da objetividade “O que o Lula faz com o dinheiro roubado? ”
    Resposta: é que Lula se contenta com pouco. Mas que é ladrão, é! !! *rs

  4. Caracas!

    Brilhante situação!!! Pena que nunca quiseram perguntar para mim por que sou esquerdista!  Mas o julgamento e a justiça não são aqui e agora, a eles os aguarda.o eco, no tempo e espaço, dos desesperados.

  5. Espelho, espelho meu…

    Ha mais entre o céu e a cabeça do homem do que sonha nossa vã filosofia. O Lula não pode e não deve querer ser classe média, muito menos classe média alta. Se o Lula “enriqueceu”, foi porque roubou. Como aceitar que um apedeuta, um idiota ( a imprensa realmente educa os brasileiros), possa enriquecer? E mais, sendo pobre, nordestino, pau de arara, como vai querer comer com talheres de prata ou beber um bom vinho? Nada disso, a esquerda tem é que comer pão com mortadela (preferiam que pastasse, memso) e Lula continuar operario e a classe média e média alta, ah, sim, indo visitar Maiami e sonhando com apartamentos nos quatro cantos do mundo “civilizado”.

  6. “Boa mas não tanto e ele

    “Boa mas não tanto e ele (cubano) seria a prova de que a educação não cura certos desvios.”

    Não vos esqueçais de Paulo Freire:

    “Quando a educação não é libertadora, o grande do sonho do oprimido e virar opressor.”

  7. Vamos às fontes da sabedoria.

    ” …o mundo,  este grande espelho, que me fez pensar assim, ela nasceu com o destino da lua, pra todos que andam na rua, não vai viver só pra mim.”

     

    ” …é que Narciso acha feio o que não é espelho.” 

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