Percival Maricato
Percival Maricato é sócio do Maricato Advogados e membro da Coordenação do PNBE – Pensamento Nacional das Bases Empresariais
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Corrupção e demagogia, por Percival Maricato

Corrupção e demagogia, por Percival Maricato

A reportagem abaixo é do insuspeito, para a oposição, ESTADÃO, noticiando a aprovação pela Câmara, com voto massivo do PMDB , PSDB e cia, da possibilidade de empresas fazerem doações, e ocultas, nas campanhas eleitorais. Pelo Projeto de Lei aprovado, empresas doariam a partidos, que por sua vez doariam a candidatos, sem especificar que empresas doaram e a que candidato. Esse excremento, um dos maiores produzidos no monturo que se tornou a Câmara dos Deputados, agora pode ser enfrentado por decisão do STF, onde por grande maioria foi reconhecido que a simples doação, mesmo que identifica, se trata de virulenta agressão à democracia.  Importante que a sociedade se mobilize para impedir que tentem derrubá-la ou desmoralizá-la. No entanto, quantas lições interessantes.

Como se constata no Lava Jato, PT e outros partidos da base do governo são acusados de receberem doações privadas das empresas, de origem ilícita. A maioria foi descoberta e provada por serem contabilizadas. Pois PMDB, PSDB, DEM, PPS votaram por acabar com essa contabilidade, de tal forma que se houver novos trambiques, eles não poderão ser descobertos.

É sabido que doações de grandes grupos econômicos  visam resultados financeiros, contratos, favores. Mesmo que assim não fosse, deturpam a democracia, favorecendo a eleição de parlamentares que recebem esses privilégios. Por que motivo eles defenderiam a sociedade se eleitos, se não defenderam antes? Candidatos vindos dos estratos de menor renda da população teriam muito mais dificuldades de serem conhecidos e eleitos. Note-se como o político Gilmar Mendes tem razão em temer o fim das doações de empresas, democratizando as chances dos candidatos.

No mesmo pacote, sob a batuta de Cunha, esses partidos votaram a favor dos partidecos bondes, balcões de negócios (já são 34), cuja existência lhes interessa por serem manobráveis, venderem tempo de TV etc. A bem da verdade mesmo o  PT não se aplicou como poderia em uma reforma política que eliminasse agremiações fisiológicas durante seus muitos anos de poder (muito menos na sindical, do estado, tributária, etc).

O mesmo Estadão tem divulgado esta escabrosa votação, em reportagens ou até editoriais, demonstrando repulsa ao fato, mas jamais citando que partido votou a favor ou contra essas medidas. Na que segue abaixo, cita apenas um deputado do DEM, que esteve a frente dessa imoralidade. Nada sobre quem votou a favor de doações ocultas, e de empresas. No dia seguinte, em um mesmo editorial, também achou irrelevante dizer que partidos votaram a favor dessa suprema imoralidade.

O episódio trás portanto, muitas lições interessantes, sobre política, moral, partidos, mídias, fatos e ficções. Por aí se vê o tanto de ideologia, partidarismo e hipocrisia que move o discurso moralizador de determinados políticos e alguns procuradores e juízes.

Percival Maricato


do Estadão

Reforma política oficializa doação oculta

Segunda-Feira 14 de Setembro de 2015 – Estadão de São Paulo.

Nesse tipo de repasse, não é possível saber que empresas doaram para quais políticos

Graças à reforma política aprovada na Câmara dos Deputados, as próximas eleições serão as primeiras em que 100% do financiamento empresarial de campanhas será feito por meio de doações ocultas – aquelas em que é impossível detectar o vínculo entre empresas financiadoras e políticos financiados.          

A reforma votada na última terça-feira pelos deputados sepulta a transparência nas relações entre doadores e candidatos, que atingiu seu ápice nas eleições de 2014, quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) encontrou uma brecha para banir as doações ocultas.

Até o ano passado, uma empresa que não queria ter seu nomes vinculado a determinado candidato fazias doações não diretamente a ele, mas a seu partido. Depois, o partido repassava os recursos ao candidato. Este, ao prestar contas de sua campanha, registrava ter recebido recursos não da empresa, mas do partido. Assim, ocultava a identidade de seus financiadores.

Em 2014, porém, o TSE editou uma resolução que obrigou os candidatos a registrar em sua contabilidade o “doador original” do dinheiro que transitou pelo partido – ou seja, mesmo nos casos em que o partido atuou como intermediário, foi possível detectar quais empresas doaram recursos para cada campanha.

Plenário da Câmara dos Deputados

A partir de 2016, as empresas estarão proibidas de doar diretamente aos candidatos, mesmo que quiserem – os recursos obrigatoriamente terão de ir para os partidos, que depois os distribuirão entre as campanhas. E o TSE não poderá mais determinar a identificação dos doadores originários, porque isso estará vetado pela legislação. A reforma política estabelece que “os valores transferidos pelos partidos políticos oriundos de doações serão registrados na prestação de contas dos candidatos como transferência dos partidos e, na prestação de contas dos partidos, como transferência aos candidatos, sem individualização dos doadores”.

O fim da transparência nas doações impedirá o mapeamento dos interesses empresariais nos governos e no Congresso. Também atrapalhará determinadas investigações sobre corrupção. Se essa regra já estivesse valendo nas eleições passadas, por exemplo, não seria possível identificar os políticos que tiveram suas campanhas financiadas por empreiteiras investigadas pela Operação Lava Jato.

Aprovada tanto na Câmara como no Senado, a reforma seguiu para a sanção da presidente Dilma Rousseff. Em tese, ela pode vetar o artigo que trata das doações ocultas, mas é improvável que o faça, para evitar mais desgastes políticos. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é o principal articulador do acordo que resultou no texto aprovado pelos deputados.

Reação. A institucionalização das doações ocultas foi apenas uma das dezenas de alterações promovidas pelo relator da reforma política na Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), no projeto aprovado na semana anterior pelos senadores. O texto que saiu do Senado, por exemplo, nem sequer admitia a participação de empresas no financiamento de campanhas.

Os senadores aprovaram uma proposta de reforma com vários dispositivos que tendiam a reduzir a fragmentação partidária no Congresso e a fortalecer os maiores partidos. Esses aspectos foram quase todos eliminados quando os deputados votaram a reforma, na terça-feira passada.

A Câmara impediu, por exemplo, que 23 partidos médios e pequenos perdessem acesso aos recursos públicos do Fundo Partidário. Somadas, essas legendas teriam deixado de receber R$ 350 milhões por ano se os deputados não tivessem eliminado uma regra, aprovada pelos senadores, que reservava os recursos do Fundo Partidário apenas aos partidos com diretórios permanentes em pelo menos 10% dos municípios brasileiros até 2016, e em 20% até 2018. Atualmente, apenas 9 dos 32 partidos atendem a essa exigência (PT, PMDB, PSDB, PDT, PC do B, PP, PPS, DEM e PSB).

Os deputados também contrariaram o Senado ao revalidar as coligações na eleição para a Câmara. Os senadores haviam tornado inócuas essas coligações ao determinar que as vagas de deputados fossem distribuídas de acordo com o desempenho de cada partido, independentemente de sua participação em aliança ou não. 

A medida prejudicaria as legendas menores. Se não houvesse coligações nas eleições de 2014, por exemplo, apenas 22 partidos conquistariam cadeiras na Câmara, em vez dos 28 que hoje estão lá representados. Além disso, haveria ampliação do peso dos maiores partidos: juntos, PT, PMDB e PSDB ganhariam 84 cadeiras.

Fonte: DANIEL BRAMATTI 

Percival Maricato

Percival Maricato é sócio do Maricato Advogados e membro da Coordenação do PNBE – Pensamento Nacional das Bases Empresariais

2 Comentários

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  1. Hipocrisia
    Paridos deveriam

    Hipocrisia

    Paridos deveriam ser custeados pelos seus membros,  como fazem as igrejas e que sobreviva quem angariar mais, sem receber dinheiro público,  um centavo sequer.

    Empresas podem contribuir com campanhas? Poderiam sim. As pessoas jurídicas fazem parte da nação, mas limitadas a 10 empresas no máximo por partido e os partidos seriam obrigados a informar como se faz no futebol e no cinema os nomes das empresas.

    Caixa 2 deveria ser tratado, se for feito por partidos e campanhas, como crime de corrupção 

    Deveriam ser proibidas as coligações assim os partidecos deixariam de ser veículos de aluguel 

     

  2. Tendi… é como se a

    Tendi… é como se a iniciativa privada, na ânsia de infiltrar gente sua na coisa pública, dissesse:

    – “Se não é nosso por direito, a gente rouba.”

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