Crônica da Emancipação Nacional, por Roberto Bitencourt da Silva

Crônica da Emancipação Nacional

por Roberto Bitencourt da Silva

Meus amigos, minhas amigas, eu acredito no Povo Trabalhador Brasileiro. Entre outros atributos, em seu engenho criativo. Por isso, entendo que a despeito das portas hoje fechadas, das áridas condições subjetivas, sobretudo políticas e culturais, o socialismo é a nossa opção exclusiva para romper com a dependência financeira e tecnológica externa, superar as grotescas relações de desigualdade e de espoliação sobre a nossa gente.

O socialismo – articulado com o nacionalismo e um anti-imperialismo solidário aos povos que também perseguem o exercício de suas soberanias nacionais – é a nossa alternativa potencial e mais vigorosa para retirar o País da ignominiosa condição em vigor, flagrantemente neocolonial e que tende a se acentuar, se não houver mudança de rumos. Sem burguesias internas dotadas de um mínimo de interesses, compromissos e projetos de Nação – um fenômeno de longa data, mas que se intensificou nas últimas décadas –, não há sociedade portadora de dignidade nacional e soberania popular nos marcos do capitalismo dependente e subordinado ao grande capital internacional, às potências imperialistas e às burguesias e oligarquias domésticas corruptas, parasitárias e vende-pátria.

Voltando à aposta no Povo Trabalhador Brasileiro, notem bem, a sabedoria e perícia técnicas do nosso/a trabalhador/a são plenas de criatividade e conseguem contornar os embaraços criados até mesmo pelas megacorporações multinacionais gringas. Poucos dias atrás levei o carro no eletricista. Ocorria um problema qualquer no acionamento da seta. Ela não funcionava, mas deu para identificar que o problema não era na lâmpada do farol. Depois de ouvir o meu relato, de avaliar o problema, o nosso engenheiro popular me diz o seguinte: “Cara, isso é problema de fabricação no painel. É uma peça que funciona em conjunto. Só a peça custa uns 350 ‘conto’. Mas, peraí”.

O eletricista tirou um palito do bolso. Um trivial e modesto palito de dentes. Encaixou no botão do alarme. As setas voltaram a funcionar. Não me cobrou pelo serviço e pela dica, mas é claro deixei o da cerva. Um palito de dentes contra o ganho extorsivo de uma multinacional, que incide sobre os equipamentos que produz e patenteia. Uma alegoria para pensar o que seria da educação, do parque produtivo, das relações sociais, da balança de pagamentos e da política externa, se em vez de, ingenuamente, acharmos que tudo de fora nos é benéfico, incentivássemos a nossa gente a desenvolver e aplicar a sua criatividade.

Como há muito destacava o grande economista Celso Furtado, o domínio tecnológico, a produção industrial autóctone e o desenvolvimento socioeconômico de um país só podem ocorrer por intermédio da mobilização e do incremento das forças criativas da ampla maioria. Um desenvolvimento que demanda superar a dependência e que não se confunde com o tão saudado fenômeno do crescimento econômico episódico, de caráter meramente quantitativo e portador de sustentação material precária.

Para mudarmos o repugnante panorama político, econômico e social brasileiro, precisamos apostar no País e no Povo, aplicando investimentos expressivos em educação pública básica e superior, elevando as condições de trabalho, emprego e vida das amplas massas superexploradas e marginalizadas, introduzindo uma política industrial que revise drasticamente o perfil subserviente de acolhimento do capital estrangeiro e que incremente o controle nacional e a produção cooperativa e estatal/pública da indústria, desenvolvendo e aplicando tecnologia própria, entre outras medidas.

Uma mudança dessa natureza se dará daqui a poucos dias? Em alguns anos? Nunca? Tenho a menor ideia. Ninguém tem instrumentos para descortinar o que acontecerá no futuro. Isso é certo, tanto quanto os destinos dos povos cabem apenas a eles construírem com suas dinâmicas sociais e opções próprias, enredados em condições internas e mundiais estabelecidas e que não escolheram. Em todo caso, para haver mudança no Brasil, forçosamente ela terá que passar pelo uso adaptativo e engenhoso do “palito de dentes”, adensando esse “uso”. O “palito” será o primeiro passo do caminho para a Emancipação Nacional.

Roberto Bitencourt da Silva – historiador e cientista político. 

Redação

8 Comentários

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  1. DEUS DO CÈU! PRA MUDAR ESSE

    DEUS DO CÈU! PRA MUDAR ESSE CÍRCULO VICIOSO SÓ COM AS ARMAS,UM PAREDÃO EM CADA ESQUINA ,SEM CONFORMISMO,SEM BUNDA MOLISMO COM GARRA COM LUTA COM GUERRA,COM UM TRIBUNAL REVOLUCIONÁRIO E UMA ÚNICA SENTENÇA;MORTE.

    1. Mattos, não dá para matar

      Mattos, não dá para matar todos que deveriam ser mortos, o Brasil ficaria ligeiramente deserto. Sou mais pela exposição das patifarias de todos patifes, ovação, tomatação, perturbação dessa cambada onde sejam vistos. Claro, um ou outro dano colateral não será criticado.

  2. COMO SOU CONSTANTEMENTE

    COMO SOU CONSTANTEMENTE CENSURADO AQUI,NÃO MAIS ACESSAREI O GGN,E DO GGN NADA MAIS COMPARTILHAREI,PEÇO EXCLUAM MEU CADASTRO.

  3. crônica….

    Emancipação Nacional apostando no Povo? Quando isto em 40 anos de farsante Redemocracia de Voto Obrigatório em Urnas Eletrônicas, agora com Biometria castradora? “Cachorro atrás do rabo”. Nossas Elites, principalmente Esquerdopatas, são surreais. Agora o Povo? Só faltam bradarem: “Do Povo, pelo Povo, para o Povo”. Quando existiu e foi construido isto em 4 décadas do pós Anistia de 79? E tais forças p´rogressistas, que se diziam democráticas, até tiveram a oportunidade, como no Plebiscito do Desarmamento. Mas o conluiio dom a RGT, então parceira de 1.a linha, não deu muito certo, nem matando Tony Ramos em Horário Nobre. E a Opinião Livre e Soberana do Povo Brasileiro? Jogado na Latrina da Ditadura do Politicamente Correto Tupiniquim e seus tais Representantes.Então 1964 fica a cada dia mais parecido com 1964. Desculpe quero dizer 2018. Só que agora não tem os Militares como Bode Expiatório. Mas a Censura continua a mesma. O Brasil é de muito fácil explicação. Era esta a tal Democracia Prometida?

  4. Sei não, viu? Mas precisamos

    Sei não, viu? Mas precisamos falar sobre o “Kevin”.

    A criatividade do povo brasileiro é uma partícula perto da montanha de crueldade, acomodação, preconceito, indiferença e violência da sociedade brasileira.  E brasileiro somos todos nós, do Lula ao Fux, da Vera ao Bolsonaro, do Temer ao Jean Wyllis, do Boulos aos Lemann e Setúbal, dos Marinhos ao Nassif,  que desviamos dos problemas reais do país usando um palito.

    Acho que foi o poeta Paul Eluard (aquele que fez  a bela poesia sobre a Liberdade que era lançada de avião sobre a França ocupada) que se perguntou durante a ocupação nazista o que fazer para que os franceses sentissem nojo do que acontecia. Eu não vejo nojo sobre o que ocorre no país na sociedade brasileira. Do mais pobre aos que estão destruindo o país os sentimentos são diversos mas nojo não vejo em nenhum lugar.  E por coinicidência só um francês, o líder da esquerda Mélenchon, sentiu esse sentimento com relação ao Brasil.

     

  5. Vida de rebanho
    Onde nos trouxe o jeitinho brazuca, a imbecilidade romãntica do malandro, o herói de um povo infantilizado.
    Essa atitude sempre foi um subterfúgio, uma forma de neurose coletiva de evitação, de quem não assume responsabilidade pela sua existência, de quem joga, brinca, e não encara a realidade.
    Nem mesmo o direito de nos chamarmos povo temos, isso não é dado, é conquistado com a faca nos dentes.

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