Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
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Cuba, Venezuela e Irã bloqueados. As drosófilas estão soltas, por Armando Coelho Neto

O que esperar desse novo mundo, se em plena crise vige a ganância dos que da crise querem tirar proveito?

Cuba, Venezuela e Irã bloqueados. As drosófilas estão soltas

por Armando Rodrigues Coelho Neto

O capitalismo está nu. Em seu striptease, deixa às claras o papel do Estado, essa coisa que neste GGN reiteradamente trato como estágio imperfeito civilizatório, que nossos ancestrais criaram para tornar socialmente possível a coexistência entre seres. Com acerto, muitos têm dito que o mundo não será mais o mesmo depois da pandemia do coronavítus. Vai exigir reestruturação econômica, social e organizacional. Os que acordaram mais pobres na Quarta-feira de Cinzas, tanto quanto quem acorda mais pobre todos os dias (devendo sem saber até para quem), não têm como imaginar seu papel na indefinida nova ordem mundial futura. Estão em jogo trilhões de dólares, euros, libras (reais ou imaginários) que saíram pelo mesmo ralo.

Antes da pandemia, no Brasil, a elite do atraso já havia decidido que a quadrilha palaciana liderada pelo Bozo e Guedes seria o top. A decadência do Estado ausente no Chile foi pouco para o chupim Guedes, que sonha com o “sevirol”. Hoje, o coronavírus joga na cara dele a agonia de Donald Trump, às voltas com gambiarras estatais para evitar mais mortes pela Covid 19. Boris Jonhson contaminado, não pode desfrutar de sua “vitória” no Brexit (Reino Unido). Na França, Emmanuel Macron se perdeu no discurso politico, flertando com direita e esquerda. A Itália, via Milão, caiu de joelhos ao ver desfile de mortos. A cidade, no melhor estilo Bozo, dizia que não iria parar. Parou. Já a Alemanha, com medo de tudo, já tornou invendáveis as empresas do país, se antecipando a ganância da selvageria capital. As drosófilas do capitalismo estão soltas.

Vírus, mortes e modelos não servem de exemplos e nada demove a obsessão “sevirol” do chupim Guedes.

Mundo em crise, do uso álcool gel à necessidade de lavar as mãos, passando pelo isolamento social, todos ou quase todos já sabem o que fazer, ainda que no Brasil um calhorda-mor da Nação não esteja nem aí. Bozo usa a pandemia para se promover politicamente. Transforma prescrição científica internacional em questão de crença. Ontem, por exemplo, disse que iria jejuar, entraria em orações, mesmo sabendo que pastor não cura, que orações não param guerras nem impedem que aviões de caiam. Orações não matam vírus nem criam empregos. Bozo sabe que Deus jamais o perdoará por elogiar a tortura, defender pena de morte, tripudiar da miséria e amaldiçoar aqueles que não escolheram sua própria origem, cor ou orientação sexual.

Não só no Brasil, um pós catastrófico e inevitável vai refletir no porvir e as feridas sociais estão expostas. Revelam descaso com a saúde, medicina preventiva, critérios básicos de higiene, entre outros, fruto da ausência do Estado. As desigualdades sociais mais que nunca são escancaradas em cenários aterrorizantes –  sejam conhecidos ou projetados. Enquanto isso, vozes a cântaros alardeiam que o mundo não será mais o mesmo.

Sim, há os que acreditam que não mudará, que continuará regido pela ganância e a preocupação na cobertura da doença tem ocultado a cobertura dessa ganância. A mesma ganância que pode vir a reger esse tal  novo mundo.

Na antessala do novo mundo, as drosófilas estão soltas. O Brasil cede rapidamente dinheiro para bancos, enquanto alimenta a espera indefinida do socorro aos que já não trabalhavam e os que pararam de trabalhar. Bancos oferecem empréstimos via propagandas em horário nobre. Quem a eles recorrem encontram juros extorsivos e pedidos de carros e imóveis em garantia. O preço do álcool gel, sabão, detergente, água sanitária, máscaras e luvas disparam. O mesmo ocorre com produtos da cesta básica, enquanto o governo revela sua verdadeira face protegendo patrões e desamparando o trabalhador. Freado pelo Congresso Nacional, Bozo desafia a Ciência, incita o povo a ir às ruas, ao trabalho, passeatas e carreatas.

O mundo vai mudar e há quem veja nisso a derrocada absoluta do capitalismo. Ao mesmo tempo, há quem imagine que o humanismo, o comunismo possam deixar de ser fantasma e que uma nova ordem fraterna se instaure no mundo. Movidos pela espiritualidade, há quem creia que o vírus chegou para chacoalhar um mundo doente, que sob desculpas múltiplas trilhava o caminho do retorno ao nazi-fascismo. A corrupção nos países pobres e os imigrantes nos países ricos servem de desculpa para as drosófilas do capital em crise. Pobres e imigrantes são causas de todos males que só o nazi-fascismo pode curar. Há quem creia que o vírus teria vindo para frear a onda de ódio.

Pairam desconfianças sobre esse mundo novo, fruto de um pós-controle mundial absoluto sobre o cidadão. O Big Brother real toma o lugar do laboratório chinfrim televisivo. Trancafiado em casa, o cidadão ao mesmo tempo em que reflete sobre a angústia e tensão dos participantes do programa televisivo, pouco reflete sobre a vida nos presídios. Presídios simbolizam o fracasso de todas as outras instituições sociais e jurídicas –  da família tradicional às instituições violadas pelos Sérgios Moros da vida, dos que convertem sentenças judiciais em vingança pessoal e ou institucional. Vida relativizada em favor da economia, crimes famélicos se tornam hediondos. Os que olham pela miséria do mundo, são condenados sem prova. Na pena mais leve, são convertidos a Robin Hoods proscritos da história política.

Feridas e injustiças do capitalismo à mostra, a solidariedade hoje visível sugere em muitos um mundo mais fraterno no pós-Covid 19. Mas, pelo menos no Brasil, a solidariedade exibida pela TV vem de onde sempre veio: dos movimentos sociais, dos padres Lancelottis vida. Vêm do Armazém do Campo (Movimento dos Sem Terra), das centrais orientadoras e organizadoras de favelas, movimentos de moradia. Muitos templos religiosos só fecharam por ordem judicial, pastores pedem dinheiro a fiéis pela Internet. Pouca visibilidade tem, se é que existe, a solidariedade desse segmento nesse momento de crise. Cadê a solidariedade advinda das grandes fortunas?

Sim, o momento sugere nova ordem mundial, quem sabe de governo único camuflado ou não. Mas, o painel de inconsistência sugere que grandes fortunas continuarão a ditar as regras. Não à toa, em palestras virtuais, seus titulares prospectam como ganhar mais dinheiro ao baixar da poeira.

Não há como saber o que de tão novo possa advir da nova ordem. O que esperar desse novo mundo, se em plena crise vige a ganância dos que da crise querem tirar proveito? Do pequeno comerciante ao banqueiro agiota, do submundo das guerras e urdiduras inconfessáveis aos interesses transnacionais obscuros?

Drosófilas soltas, pode um novo mundo vir a ser mais fraterno, se em plena crise humanitária que o antecede, aviões russos com ajuda para a Itália precisam alterar rotas de vôos para levar socorro? Se esse mesmo desvio pode vir a acontecer com produtos adquiridos pelo Brasil, para não serem expropriados pelos Estados Unidos (First America!)? Se, na iminência de uma catástrofe mundial, os bloqueios econômicos à Cuba, Venezuela e Irã permanecem inalterados?

Armando Rodrigues Coelho Neto – jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-integrante da Interpol em São Paulo.

Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

9 Comentários

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  1. Segundo o articulista: “Bozo sabe que Deus jamais o perdoará por elogiar a tortura, defender pena de morte, tripudiar da miséria e amaldiçoar aqueles que não escolheram sua própria origem, cor ou orientação sexual.”
    Sinto muito, mas discordo do Dr. Armando.
    Na minha opinião bozo se comporta assim porque não acredita na existência de um Deus. Se acreditasse, teria medo do inferno.

  2. É uma pena, quanto mais a gente vive mais desacredita que guerras, pandemias e toda a sorte de desgraças que acontecem venham melhorar aqueles seres vivos que eu comparo a um monte de carne que anda. Tudo volta a ser como era antes, no reino do faz de conta que esses seres abjetos tenham algo que se possa comparar a um ser humano.

  3. Por mais realista que seja essa analise, e é, ainda assim me consola. So.o fato de ver que ainda temos pessoas que conseguem pensar para alem da mediocridade reinante ja acende em mim.uma chama , pequena e bem verdade, de esperanca de que um dia sejamos melhores.

  4. Excelente texto!

    Fiz esses dois recortes do texto, só para endossar o que esse autor coloca realisticamente e tb para expressar o que penso…

    Pois bem, concordo 100% com quem pensa que o MUNDO não será o mesmo após essa “tragédia fabricada, anunciada ou não”

    O Poder da INFORMAÇÃO em todos os Níveis é tremendo…por isso que sempre falo para mim mesma e para os outros: leiam, pesquisem, não tenham vergonha de perguntar o que não sabem…não fiquem apenas no que a GLOBOSTA MOSTRA? ….

    O CAPITALISMO selvagem, sanguinário, porém “cheirosinho”, “bonitinho”, “bonzinho” como tentam passar para Nós, esse foi desnudado com todas as suas MAZELAS e, essas são frutos que o próprio Capitalismo produz…
    Estão mostrando o MUNDO e, suas Cidades, Capitais sem maquiagem, e portanto, sendo forçados a mostrar os seus pobres, moradores de Rua, a realidade de suas Comunidades Sociais… como são no dia a dia…

    No BRASIL, solidariedade apenas pelos nossos, pelas FORÇAS PROGRESSIVAS (PT, etc, MST, etc etc) como bem diz o autor…

    O BOZOVÍRUS até agora nada, até os 600 reais propostos mais pelas FORÇAS PROGRESSISTAS, nomeadamente o PT, ainda não saiu do papel e está servindo de propaganda política do NAZIFASCISTA…ou seja , “vai atirar com a pólvora do outro”…
    Eu penso que está esperando morrer parte da sua META, que é uns 30 mil, desde sua campanha política…(Esse é o seu desejo)

    O PT, há esse:

    #NINGUÉMAPAGANOSSAESTRELA!
    ?????❤???

    1. Permita-me discordar, ao menos em parte do seu texto, Armando.
      As varejeiras continuam salivando em cima da carniça! Não creio em um país melhor após a epidemia. Bom seria, mas a ganância continuará dominando as mentes enfermiças desses despudorados governantes.

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