De como uma tragédia esportiva se torna um show midiático, por J. Carlos de Assis

Movimento Brasil Agora

De como uma tragédia esportiva se torna um show midiático;

e de como um show midiático pode salvar a democracia!

J. Carlos de Assis
 
Não há quem, no Brasil e no mundo, não tenha se emocionado com a tragédia que vitimou na Colômbia o time de Chapecó. Teve todos os elementos para isso: um time pequeno, mas já vitorioso, desaparece de um golpe; um símbolo da garra no esporte perde numa luta desigual com a morte; uma equipe constituída principalmente de jovens desaparece. Tudo isso colaborou para a emoção que sacudiu o Brasil, a Colômbia e o mundo. Mas justifica-se tornar tudo isso uma presa da mídia espetaculosa?

Pensei muito a respeito e cheguei a conclusão que sim, vale a pena. Por um momento,  no meio da cobertura massacrante e interesseira da Globo, foi possível vislumbrar a extrema capacidade do povo, daqui e lá de fora, de adotar gestos de solidariedade, fraternidade e amor mesmo entre diferentes. Esse desastre, de  certa forma, foi uma metáfora do destino que a sociedade brasileira pode ter no momento histórico peculiar que está vivendo. Somos, hoje, a imagem da discórdia e da ambição. A morte trágica dos chapecoenses lembra o imperativo de um caminho alternativo.

Não gosto de usar a palavra conciliação. Foi o conceito chave dos governos Lula e, ao final, o sistema correspondente fracassou. Gosto de contrato ou, pela consagração histórica, de pacto social. Significa um entendimento de vontades livres entre segmentos diferentes da sociedade, mesmo os diferenciados por classes sociais, em torno de interesses fundamentais recíprocos. Isso pode se dar tanto num sistema republicano que limite o individualismo, ou num sistema democrático que contenha a socialização radical dos meios de produção.

A lição da tragédia dos chapecoenses talvez nos possa levar, fora do espetáculo midiático, e numa atmosfera de reflexão, a que se encontre no Congresso Nacional, mesmo com suas notórias deficiências, uma solução consensual e legal para a crise brasileira, articulada entre diferentes em nome de um interesse comum pela vida. Não faz sentido seguir a onda da grande mídia e acabar de desestruturar as instituições republicanas, já suficientemente derretidas. Temos que ser tolerantes com os diferentes, inclusive os diferentes quanto à concepção e a ação, desde que tenham tido “boa intenção”, como querem o juiz Sérgio Moro e os procuradores da Lava Jato.

Sabemos que vem por aí, no rastro da delação da Odebrecht, uma bateria de novos e antigos congressistas indigitados ou denunciados por corrupção. Que se deixe seguir a marcha da justiça. Mas que o poderoso braço persecutório de promotores e juízes não tenha, como afirma o senador Roberto Requião, “indulgência plenária” para fazer o que querem. É essencial que se restaure no Brasil a plena vigência dos princípios de habeas corpus, presunção de inocência e devido processo legal. Fora disso é ditadura judicial, a pior das ditaduras. O que contraria frontalmente o que poderíamos chamar de “espírito de Chapecó”.

Aqueles que viram o show midiático de Chapecó, que prestem atenção: ou caminhamos para um pacto social, no qual se inserem os princípios de justiça, mas também os de solidariedade e amor, exibidos na tragédia, ou naufragaremos todos numa situação de convulsão social e de guerra civil. O combate à corrupção é fundamental. No Brasil, principalmente, ele se contrapõe a atitude seculares de nossas elites. Mas não vale a pena, em nome do combate à corrupção com meios ditatoriais, liquidar com a economia, fazer exacerbar o desemprego e destruir milhares de empresas grandes e pequenas!

 
Redação

13 Comentários

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  1. Acordamos aqui ontem com a

    Acordamos aqui ontem com a marcha fúnebre… eram meus vizinhos. Descobrimos que mesmo eles não curtindo absolutamente nada de futebol, curtem assistir entêrros, principalmente esses bem produzidos… é o fim de la picada!

  2. Hoje mesmo ouvi pela CBN que

    Hoje mesmo ouvi pela CBN que o gasto com as obras paralizadas está acima de 55 bilhões de reais. Não me recordo qual o número das obras, mas é sabido que estão espalhadas pelo Brasil. 

    Com relação a Temer ter ido, finalmente ao velório de Chapecó, foi pra dar mais uma mostra de sua insignificância. Quem se importou com ele e seus amigos? Ficou numa posição de ninguém. Globo e algumas tvs, como Record e Band deram destaque à presença dele, mas como vi mais o evento pela ESPN, lá ninguém curtiu isso não; pel contrário: fizeram uma chacotinha com o que ele respondeu a um repórter pelo fato de ter ido.

     

  3. Os americanos sempre

    Os americanos sempre utilizaram de tragédia para iniciar algum conflito pelo mundo ou ganahr alguma batalha… Com esta tragédia conseguiram aprovar o aborto, sem um concenso social implicito… Não estou dizendo que eles causaram esta tragédia para aprovar políticas polêmicas… Mas concerteza se aproveitaram dela… O que não difere tanto assim…  

    1. Asqueroso!
      Eu tive o desprazer de assistir a essa porcagem, matéria tosca, grotesca e repugnante. CHOCANTE. De fato, existe coisa pior abaixo da camada de esgotou.

  4. Lembrando que, só o fato de

    Lembrando que, só o fato de se discutir se aprovamos ou não o desenvolvimento de uma nova vida humana no útero de uma mulher… Colocando a vida em segundo plano… Já demonstramos que a vida deixou de ter valor… E em uma sociedade capitalista e votlada para o consumo e capitalização de tudo… A vida de um novo ser se formando no útero de uma mulher não tem valor nenhum… Muito pelo contrário… Causa até prejuizo!

  5. Não se espere da tal delação

    Não se espere da tal delação da Odebrecht nada mais do que a peça para encaixar o desfecho do golpe demo-tucano, inclusive como instrumento para chantagear o congresso de chantagistas (é importante que os crédulos dessa lava jato sejam comunicados disso sempre). O plano é este desde que limitou-se a apuração somente a partir  2002 pra cá (absolvendo, portanto, os crimes confessos que vinham se continuando desde 96).

    Que pacto é possível em torno de um engodo, de uma farsa?

    Não há outro caminho a não ser denunciar a vileza dessa operação política a todo instante.

    1. Realmente… Para matar esta

      Realmente… Para matar esta charada… Bastaria analisar toda a trajetório do moro… Desde sua formação, das ligações da família com partidos políticos… Dos prêmios tendenciosos que recebeu de determinadas entidades partidárias e interesseiras… Das viangens para a américa do norte e possível ligação com os americanos… A ligação com A Shell.. que supostamente o escritoria de sua esposa teria… Bom… A denuncia do investimento dos partidos de oposição nas manifestações… O complô da mídia com este juiz e outros… A falta de respeito as leis… Levando o país a uma degradação moral e ética… Tem muitos fatores que se forem enlencados… Demonstraria toda a tramoia… Só o fato dos politicos tucanos derem festas para eles… Politicos investigados… Associações de advogados apoiando o desrespeito as leis… Tem vários fatores… E também não sei se seria necessário todo este espetáculo para acabar com a corrupção, ainda mais quando ataca apenas alguns partidos e priveligiou outros nas eleições… Sem contar que… O partido tucano não foi contrário contra o abuso de autoridade… Porque será? Não temem ser abusados em nome da justiça? Têm complô? É preciso analisar tudo isso… Eu esperava que o Moro estivesse se fazendo de sonso e aceitando estes premios e treinamento com os americanos para depois salvar o Brasil… Incriminando os próprios… Mas seria muita ingenuidade da minha parte.. Não resta outra convicção senão a de que estamos sendo enganados pelos americanos, pela midia supostamente brasileira e pelo mercado supostamente estrangeiro… Quando na verdade… tem os supostos brasileiros… integrando…

  6. No Brasil? sem chance. Não

    No Brasil? sem chance. Não tem jeito. essaconversinha de pacto, união, o escambau já encheu. Não tem condiçôes aqui. Terra de gente miserável, hipócrita. gente ruim mesmo. a chance de sermos algo perto de nação é sóna porrada mesmo. na força. naconersinha, esquece.

  7. Midia estupida com

    Midia estupida com jornalistas estupidos,

     

    com a intenção de nos tornar tão estupidos quanto eles, os atletas foram vitimas de uma mesquinhez, e por pouco não teria acontecido antes, conforme os noticiarios, deveriam estar cobrando mais segurança das companhias aereas que colocam dezenas de vidas em risco………, se fosse Lula ou Dilma estariam cobrando a anac, e pedindo até guerra contra o país de origem da companhia aérea, midia estupida, jornalistas estupidos e calhordas……..

  8. Fiquei muito aborrecido com o

    Fiquei muito aborrecido com o que aconteceu com a Chapecoense. Um time pequeno que estava conquistando um lugar ao Sol por próprios méritos, num país onde a gente sabe que CBF e Globo prostituíram tudo e todos. Onde favorecem ao máximo clubes (cujo nome não vou citar) e nutrem o mais profundo desprezo por clubes pequenos, porque, afinal, torcedor antes de tudo é um consumidor. E quanto maior a torcida…

    Quero citar dois episódios envolvendo esse acidente e aqui me parece o lugar apropriado.

    O primeiro tem a ver com a declaração do Fernando Carvalho, dirigente do Inter. Como colorado fiquei enojado. Mesmo que sua fala tenha sido descontextualizada, não deveria nem mencionar a situação do clube num campeonato, quando todos estão focados numa situação muito mais dramática. Mas revela o pensamento dos dirigentes do futebol: só se preocupam com os interesses deles e dos seus clubes, o resto que se foda (desculpe o palavrão, Nassif). Este é só mais um episódio, de tantos que podem ser citados, que demonstra o que são e o que pensam os dirigentes do futebol. 

    O segundo tem a ver com a exploração midiática da tragédia. Fiquei enojado com o que a Globo (com direito a narração de Galvão Bueno) e Band (com o indefectível Datena) fizeram. Exploraram de forma desavergonhada a tragédia. Ficou nítico que para elas tudo é uma questão de dinheiro. E o mais doloroso: vi gente acompanhando o drama das famílias como se fosse final de Copa do Mundo.

    Dá verdadeiro pânico quando se vê a que nível de desumanidade chegaram certas pessoas. Mas não me espanto. Se a Globo conseguiu arruinar um país todo, porque não utilizaria uma tragédia dessas para conseguir uns trocados a mais?

     

  9. Combate à Corrupção? mas a do discurso ou da prática?

    Quando se substitui a dimensão política pela dimensão moral – a ponto de ver um mocinho elegendo sem provas o bandido que teria um apartamento oculto, quando o maldito mocinho faz especulação imobiliária com dois apartamentos do “minha casa, minha vida”, a ponto de ver um juiz cometendo crimes para incriminar um suspeito, ou a ponto de ter que escolher entre apoiar quadrilheiros do judiciário na missão de crucificar um ou outro inimigo ou apoiar os corruptos que mudam a lei para se beneficiar, enquanto ambos os lados trucidam com a economia, a Constituição e a Cidadania do povo brasileiro – não dá para falar em CORRUPÇÃO sem uma crítica à la Marx que tenha a INVERSÃO como ponto de partida.

    Nossa MORAL, quando vamos do discurso para a prática, ao inverso do que dizem os moralistas, não é e nem nunca foi a moral cristã. Nossa moral, assim como o nosso patrimonialismo, o nosso machismo e o nosso racismo, foi historicamente construída ao longo dos trezentos e tantos anos de sistema escravista. Nossa moral é a moral do senhor – que aceita até perder dinheiro, desde que não perca status – e a moral do escravo – que já quase nasceu sabendo que quem reclama leva mais chicoteada e mais peso nas costas. É esse moral (tanto do senhor quanto do escravo) que agora reclama por um regime fascista que restitua a ORDEM HIERÁQUICA de nossa sociedade, uma ordem considerada, desde o início, natural.

    É só a partir desse significado da MORAL – vislumbrado mais na prática do que no discurso – que podemos falar em CORRUPÇÃO sem cair no discurso que inverte o real sem anulá-lo.

    Dessa forma, em relação à prática da CORRUPÇÃO, não há melhor significado do que àquele do século XVII (Tesoro de la lengva Castellana, o Española) e XVIII (Vocabulário português de Bluteau), a saber: ato de introduzir qualidades destrutivas em nosso corpo físico ou social. Em uma sociedade fundada a partir de uma ordem hierárquica tida como natural, ser corrupto é adicionar elementos (seja bolsa família, cota universitária, crédito bancário, valorização do salário mínimo, acesso aos aeroportos, ao ensino superior ou aos bens de consumo) que possibilitem minimamente uma crítica das DESIGUALDADES SOCIAIS.

    Ou (des)invertemos o discurso sobre a corrupção, ou ficaremos perdidos em meio a essa terrível contradição de parte da população que grita contra a corrupção para que bandidos, mafiosos e corsários tomem o poder em seu próprio benefício e, por isso mesmo, em detrimento daqueles que os legitimaram.

     

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