Desemprego atinge jovens, negros e mulheres de forma mais drástica, por Lauro Veiga Filho

Desemprego atinge jovens, negros e mulheres de forma mais drástica

por Lauro Veiga Filho

Os efeitos da crise sanitária vêm alargando as diferenças num País já extremamente desigual e o resultado tende a ser uma economia ainda mais injusta daqui para frente. O fim precoce do auxílio emergencial em agosto, em plena pandemia e sem a menor previsão de quando a Covid-19 poderá ser debelada, deverá apenas agravar o cenário no mercado de trabalho e em toda a economia, resultado da cegueira típica que move a equipe econômica em suas decisões.

Os números da nova série da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), conhecida como PNAD Covid-19, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), confirmam os efeitos mais perversos da crise precisamente sobre as faixas mais vulneráveis da sociedade. Em junho, em torno de 955,07 mil pessoas perderam o emprego, já que o total de ocupados baixou de 84,404 milhões em maio para 83,449 milhões. As mulheres responderam por quase dois terços dessa redução, com o número de ocupadas baixando de 36,120 milhões para 35,536 milhões – o que correspondeu ao fechamento de 585,51 mil vagas (61,3% do total de ocupações perdidas no período).

A faixa etária entre 30 e 39 anos, que registrava 43,746 milhões de ocupações em maio, perdeu 511,186 mil empregos (53,5% das vagas encerradas de maio para junho), encolhendo para 43,235 milhões de ocupações. Proporcionalmente, foi o contingente mais afetado pelos cortes realizados pelas empresas, muitas das quais simplesmente desapareceram na crise e dificilmente conseguirão retornar ao mercado mais à frente. O número de informais ocupados, na contagem do IBGE, recuou de 29,263 milhões para menos de 29,003 milhões, significando perda de 260,16 mil empregos (menos 0,9%). Numa estimativa, conclui-se que o total de trabalhadores formais teria sido ainda mais sacrificado, encolhendo de 55,141 milhões para 54,446 milhões, com a demissão de 694,90 mil pessoas – o que, por sua vez, respondeu por 72,8% da redução observada para o total de pessoas ocupadas entre maio e junho.

Falsa igualdade

Num dado igualmente conhecido, o número de desempregados registrou acréscimo de 1,686 milhão de maio para junho, num salto de 16,65%, ao avançar de 10,129 milhões para 11,815 milhões. Analisado por gênero, o desemprego parece ter atingido mulheres e homens numa mesma intensidade, já que o total de desocupados apresentou crescimento em torno de 16,6% para ambas categorias. A contribuição para o aumento do desemprego, da mesma forma, ficou próximo de 49,4% para as mulheres (mais 833,21 mil desempregadas, com o total elevando-se para 5,846 milhões) e de 50,6% para os homens (acréscimo de 852,99 mil na fila do desemprego, com o total de desocupados passando para 5,969 milhões). Uma falsa “igualdade”, já que a taxa de desemprego para as mulheres subiu de 12,2% para 14,1%, enquanto atingia 11,1% no caso dos homens (saindo de 9,6% em maio).

Na avaliação por raça, as distâncias são enormes e mostram tendência ao agravamento, ressalte-se. A população negra (o que inclui pessoas “pardas”, na classificação do IBGE) já respondia por 59,3% do total de desocupados em maio e aumentou sua fatia para 60,3% em junho, com salto de 18,6% no total de desempregados. O número de desocupados aqui aumentou de 6,008 milhões para 7,126 milhões, quer dizer, 1,117 milhão a mais. Feitas as contas, os negros responderam por dois terços (66,3%) do aumento registrado pelo desemprego entre os dois meses analisados. A taxa de desocupação entre trabalhadores negros, que já era superior à média observada para o total de ocupados, elevou-se de 12,0% para praticamente 14,0%.

Menor qualificação

As demissões alcançaram mais duramente também os trabalhadores com menor nível de instrução. Perto de 90,0% do crescimento experimentado pelo número de desocupados podem ser explicados pelas demissões de pessoas sem instrução, com formação média e com ensino superior incompleto. Somadas, essas categorias responderam por 1,517 milhão de “novos desempregados”.

Entre aqueles, a contribuição maior veio da categoria formada por trabalhadores com ensino médio completo e superior incompleto, que passou a contar 5,578 milhões de desocupados frente a 4,760 milhões em maio, somando mais 818,30 mil desempregados (48,5% do aumento geral).

As pessoas sem instrução, com ensino fundamental completo e médio incompleto responderam por 41,5% do aumento no número de desempregados, que saiu de 4,182 milhões para 4,882 milhões (mais 699,52 mil) apenas nesta categoria.

O número de desocupados com idade entre 14 e 29 anos cresceu 16,2%, saindo de 4,856 milhões para 5,630 milhões (quer dizer, 784,37 mil a mais), e a taxa de desemprego nesta faixa avançou de 18,4% para 21,0%. Mais elevada entre todas as categorias acompanhadas pela pesquisa. Isso significa que um quinto dos trabalhadores mais jovens não conseguiram alguma colocação em junho. O desemprego persistente nesta área contribui para perpetuar graves distorções, ao sacrificar precisamente uma parte da população que busca o primeiro emprego.

Na faixa seguinte, que inclui trabalhadores com idades entre 30 e 39 anos, o número de desempregados cresceu de 3,867 milhões para 4,628 milhões, num acréscimo de 761,11 mil (mais 19,7%). Ou seja, esse contingente contribuiu em quase 45,1% para o aumento do desemprego geral. Embora com tendência de alta, a taxa de desocupação nesta faixa tem sido mais baixa, comparando-se com as demais categorias, variando de 8,1% para 9,7% entre maio e junho.

Redação

Redação

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  • URGE que se lance imediatamente campanha para se termine de ungir como a maravilha do século o maldito home office.
    Matem na raiz a ideia de que todos ganharão. “Todos”, quem cara pálida ? Mentira braba.
    Só as empresas ganharão. Seus lucros serão potencializados a enésima potência com a diminuição potencializados a enésima potência de seus gastos. Gastos com pessoal, gastos com energia, gastos com materiais, gastos com insumos. Os que ainda tem(rão) empregos trabalharão 22 horas por dia. Um, pela paranoia de “estarem disponiveis e visiveis”. Dois, pela paranoia de não demonstrarem que não “estão disponiveis e visiveis”. E nas ferragens dos alicerces da base os menos favorecidos, somados aos que tiveram suas funcões, atividades, sumidas no meio da pandemia planetária é que está uma das origens do aumento da pobreza. Nos alicerces do base da cobertura, convenhamos, (bem) remunerados, ou até mesmo por terem um emprego, terão cacife para suportar os trancos futuros.
    Quantos aos acionistas avisem que terão que perder um pouco e que contribuam, um pouco que seja, para que milhares (milhões?) consigam ter, TRABALHANDO, um salário no fim do mês.

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