Dilma voltar por um “conchavo” é “mau negócio”, diz Wanderley Guilherme dos Santos

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – O cientista político que antecipou o golpe de 1964, Wanderley Guilherme dos Santos, avalia como sem sentido a proposta de Dilma Roussef voltar ao poder apenas para abrir mão de ser presidente por meio de um plebiscito que pode antecipar a eleição presidencial. Segundo ele, sequer está claro como tal ideia – que ganhou atenção de parte da esquerda – pode ser levada a cabo, se depende do Congresso para sair do papel. O mesmo Congresso que, em conluio com mídia e outros setores, conseguiu derrubar Dilma. 

“Negociar o mandato com interlocutores não autorizados pode ser o fim da consagração obtida por Dilma Rousseff. Afinal, foi por um conchavo, desmoralizando o valor do voto, que ela saiu; é assim que pretende voltar? Mau negócio.”

Por Wanderley Guilherme dos Santos

A direita pede impedimento. A esquerda, absolvição. A quem aproveita?

No Segunda Opinião

Compram-se riscos de desfecho popularmente ruinoso quando o pessoal do setor de serviços, dispondo de meios de propaganda, parece capturar a liderança ideológica do setor secundário. Por razões estritamente de mercado de trabalho e de renda, variável em limites toleráveis, os radicais da palavra ousam apostas estratégicas, capazes que são de absorver eventuais custos do fracasso. A turma do trabalho pesado, contudo, expõe-se a custos absolutos, a saber, perda de cem por cento da renda. Há uma disparidade de custos, visível na frívola radicalidade dos repassadores de ideologia, e o cauteloso cálculo da liderança operária. O ímpeto da crônica intelectualizada alimenta-se com o sucesso de audiência, integrada por múltiplos de si próprios. Não há assembleias de analistas similares às grandes convocações sindicais. À falta de controle crítico das propostas de ação, os generais do radicalismo competem pelo aplauso inorgânico dos apaixonados, mas com renda garantida. A população da internet tem ralo compromisso com o destino das propostas, aplauso ou vaia. Nada se segue, como recompensa,  além de mais aplauso ou vaia.

Surpreendentes fórmulas para substituição do poder em exercício negligenciam o detalhe de que continua em exercício um poder detém razoável capacidade bélica. No mínimo, por tempo suficiente para infligir custos irreparáveis a parte da tropa assalariada se esta, persuadida pela promessa de vitória consagradora, entregar-se a celebração antecipada. Pois a Central Única de Trabalhadores sucumbiu à pressão dos alquimistas institucionais, apoiando que Dilma Rousseff prometa o que não tem autoridade para entregar – convocar novas eleições presidenciais ou plebiscito, a moeda de troca é maleável – se o Senado restituir-lhe o mandato. Omite-se do conchavo informar quantos e quais seriam os senadores convertidos, quantos legisladores na Câmara dos Deputados, sem a qual o conchavo não funcionará, e, ainda, se não haverá pronunciamento do Supremo Tribunal Federal, ativado pelo PSDB, OAB, ou qualquer um dos agentes que se sinta espoliado.

No linguajar ideológico do século XX figurava a apostasia do “voluntarismo” quando alguma liderança escapava às “condições objetivas de luta”, tentando impor iniciativas sustentadas pelo desejo de que o sucesso estivesse ao alcance de uma greve ou de um artigo jornalístico. Ignorando a “correlação de forças”, os apressados substituíam a real distribuição de poder pela contabilidade subjetiva que, não sendo compartilhada pelos grandes números, padecia de imperdoável idealismo. Idealismo desastrado, risco atormentando os reformadores diante de escolhas urgentes. Não assim aos propagandistas da vitória-a-espera-de-um-grito, certos de que a intensidade do desejo consegue sujeitar o mundo a suas elucubrações.

Duradouras expressões de inconformismo com o governo interino de Michel Temer indicam disposição do público de aderir à demanda de retorno aos “quadros institucionais vigentes” de que falava, em 1955, o general Henrique Lott. Se, à época, cumpria garantir a posse do presidente eleito, Juscelino Kubitschek, reivindica-se agora a restituição do mandato à presidente Dilma Rousseff, vitoriosa em 2014. O moto sincronizado de todas as manifestações tem sido “Fora Temer”, sem menção de remendos à Constituição contundida. Então, por que cargas d’água, contra a ilegal tomada do poder pelo PMDB, não basta o simples retorno de Dilma Rousseff à presidência? De onde surgiu a espaventosa ideia de novas eleições? E o que pensar do estranho enigma de exigir o retorno de Dilma Rousseff para que ela, então, convoque um plebiscito?

Mas, eis que a presidente Dilma Rousseff dispõe-se a apoiar novas eleições desde que recupere o mandato. Como assim? Se todos os movimentos pelas capitais afora recusam sua destituição do poder, a que vem abdicar em favor de novas eleições fora do cronograma previsto? Só com emenda constitucional, e quem irá convencer o Congresso, os tribunais, àqueles interesses que financiaram a campanha pelo impedimento e os jornais corrompidos?  Negociar o mandato com interlocutores não autorizados pode ser o fim da consagração obtida por Dilma Rousseff. Afinal, foi por um conchavo, desmoralizando o valor do voto, que ela saiu; é assim que pretende voltar? Mau negócio.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

19 Comentários

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  1. Eu não sei é burrice

    ou infantilidade ou as duas coisas ao mesmo tempo. De uma coisa eu tenho certeza: se houver novas eleições, quem vai ganhar será a direita fascista junto com o congresso em que a maioria é formada por bandidos.

  2. A saída respeitosa e inteligente

    Dilma estava com baixo IBOPE, o povo pedia – até nas ruas, a saída dela. O PT tinha perdido apoio no congresso. A lava-jato fazendo estragos.

    Dilma deve voltar sim, para restaurar a Democracia, mas nunca para oferecer ao povo uma volta ao passado, mas oferecendo o respeito típico de quem dialoga, num novo momento e apenas perguntando:

    1.    Aos partidos e movimentos:

    Desculpem os meus erros

    Vamos juntar as esquerdas?

    Vamos retomar a agenda das eleições de 2014?

    Vamos insistir nas ações anticíclicas?

    Vamos dar prioridade ao emprego?

    Vamos anular as bobagens que o Temer tenha feito?

    2.    Ao povo:

    Desculpem os meus erros (sendo o principal erro ter chamado ao PMDB de vice)

    Ainda confiam em mim?

    Apoiam as medidas que fizemos com esta nova equipe de governo? (acima)

    Vamos fazer uma reforma política? Assembleia constituinte?

    Vamos renovar o congresso e o executivo, ou apenas este último?

    Apoiam-me para que eu siga até 2018?

     

    Isso não tem nada a ver com a postura radical adotada pelo Autor deste post. Acho que Dilma sairá com maior estatura desta grave situação que vivemos.

    1. Este comentário acima está…
      Trinta ou cinqüenta vezes melhor que o artigo ensejador referido. Lucidez e propostas claras. Quem viveu o Brasil de 2013, os índices e projeções de 2013, de olho na blogosfera teria agido bem melhor. Violenta queima de capital político com o Sr. Levy e seu receituário. Completamente voluntária pois até a blogosfera apontava…

  3. Sonhos…
    Não existe possibilidade REAL dela conseguir 28 votos só com sua defesa. Plebiscito não é eleição’, é apenas uma consulta. Quem acha que ela pode reverter 6 votos como colocado nessa coluna, acredita em Papai Noel.

      1. Plebiscito

        Por isso é importante aceitar e Oficilaizar que aceita o Plebiscito, pois isso dará à Presidenta pelo menos 30 votos, agora se o Plebiscito acontecerá ou não, dependerá do Congresso conseguir os votos necessários, mas Dilma VOLTA e TEMER SOME.

         

        Quem pensa diferente, achando que apenas o Zé Cadozo e a Imprensa alternativa conseguirão trocar 6 votos sem perder os 22 iniciais , indo para 28 votos, é alguém que acredita em Fadas e Duendes.

  4. E o valor do voto?

    Como falar em novas eleições, quando o sentimento predominante é de que o nosso voto não vale absolutamente nada.

    Não se trata nem de recuperar confiança em Dilma, ou de dar novo voto de confiança nela ou até mesmo de reafirmar nossa confiança nela.

    O que importa é voltarmos a acreditar na democracia, no voto, no respeito às regras. Sem isso, para que novas eleições extemporâneas?

  5. Existe 2 Opções:
    1°Fazer isso
    Existe 2 Opções:
    1°Fazer isso (Voltar com um “acordo” mesmo que isso signifique “perder”)…É perder para ganhar… O importante é retirar essa corja de BANDIDOS da frente no poder restaurando PARTE da democracia perdida nesses últimos 6 meses .. Depois vamos para o 3° estágio dessa BATALHA…
    2°Ficar nesse nhe…nhe…nhe…Lutando com uma estratégia fadada a derrota imediata para daqui algumas décadas ser reconhecido o erro, porém aí a Quadrilha Tener e CIA já terá feito o estrago e o retrocesso de 50 anos será irremediável… Não voltar é deixar essa QUADRILHA continuar a destruir os avanços progressistas dos últimos 14 anos…

    100% à favor do ACORDÃO que o Lula e o Requião estão fazendo…

  6.   Mau negócio é deixar a

      Mau negócio é deixar a coisa como está. O Pré-Sal está por um fio.

      Será que nem o Wanderley percebeu a matreirice nessa proposta? Ganha-se muito tempo com a proposta de eleições, o Temer é defenestrado e simplesmente se antecipa a briga de 2018, com Lula já a postos – isso se, SE a proposta passar. Dá para mandar uma proposta que não passe, isso é fácil, mas daí Temer já será atirado de volta ao esgoto.

  7. Não vou falar em direita ou

    Não vou falar em direita ou esquerda porque isso não existe mais no mundo político em cena, nem no Brasil, nem no ocidente. Vou falar em grupos parceiros a favor do grupo de governança presidido por Dilma, e contra. Me parece que, atualmente, os parceiros estão “embriagados”.

    1. Não há condições de obter número de votantes a favor do retorno da presidente, nem com eleição antecipada, o que concordo que não seja bom negócio porque não há como cumprir a promessa, nem sem ela.

    2. A ponte para o retrocesso de um país soberano que ensaiava pequenos passos para o bem estar social e a participação num mundo multipolar já está em construção porque a anterior ruiu, pois tinha pilares pouco sólidos, baseado em perigoso jogo de poder, que se esfacelou.

    3. O trabalho dos “parceiros” seria retornar às bases, que sentirão na pele as marcas do retrocesso, e re educarem-se todos durante 2 ou mais décadas de miséria da maioria e vassalagem do país, até que o povo como uma maioria, e não meia dúzia de gatos pingados que acham que podem alguma coisa, viesse pela revolução das consciências retomar o país em seu destino.

    Provavelmente novos arremedos de poder sem consciência da maioria da população acontecerão pelo caminho, infelizmente sempre arremedos, com alicerces frágeis e prontos para ruir com qualquer ventinho. E sempre a mesma pedagogia midiática em ação que separa 80% da população do que se passa realmente. Quanto mais valeria os esforços dos parceiros na luta por fora Globo, fora oligopólio da comunicação no Brasil, ao invés de investir em lutas perdidas ou novos aremedos de poder e governança.

  8. Não minha opinião não

    Não minha opinião não interessa como a Dilma vai voltar, com ou sem conchavo.

    O Importante é voltar, depois vemos como fica.

    Essa merda de fazer tudo certinho e republicanismo foi o que  é ferrou o PT. 

    Volta depois vamos ver o merdelê q vai dá.

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

  9. Não se trata mais de poder, mas da República

    Que é contra estamenos e patrimoniais.

    Democracia se afirma pelo voto.

    O professor deve estar em 1905 ou 1917, na velha Rússia…

  10. Eu acho essa proposta um

    Eu acho essa proposta um insanidade. Em resumo é o seguinte: para ficar Dilma tem que concordar em sair.

    Violação absurda de todas as regras democráticas.

    Imaginem daqui pra frente. Todo governo que for impopular – o que é comum no Brasil – será vítima de um golpe parlamentar, e o ocupante da Presidência só volta se concordar em um plebiscito do qual já se sabe, de antemão, o resultado.

    É a consagração do parlamentarismo/jabuticaba brasileiro.

    Jornalistas e variadas pessoas que sempre se disseram democráticos estão apoiando essa proposta estapafúrdia, mas cada um com seus interesses e candidatos particulares. 

    Paulo Henrique Amorim, p.ex., quer a todo custo Ciro Gomes no poder. Ele, Ciro, que lute pela democracia, e para que não melem a eleição de 2018, e aí seja candidato. Pode ser até que ganhe. 

    Requião, ao que parece, quer ele mesmo se candidatar. Marina, a sonsa, está muda e quieta, mas doidinha para a proposta vingar para tentar de novo.

    Ainda acho que poder ser a chance de Aécio. E não me digam que ele não se elege por causa dos escândalos. Afora o fato de a maioria da população estar alheia a tais fatos, vamos combinar que isso nunca foi impedimento a eleição de ninguém no país. A mídia/OMO está aí para lavar mais branco do que qualquer outra.

    Mas Dilma é a prresidente eleita e tem que cumprir seu mandato. Que eu acredito será bem melhor do que vinha sendo, depois de usa muito Flix pra limpar a casa.

  11. Essa aparente paralisia que

    Essa aparente paralisia que toma o território, é um reflexo do choque a que parte significativa da população com capacidade de articulação política está passando.
    O momento é tão propício a uma ampla destituição coletiva de elementos com poderes institucionais, que muita gente não quer acreditar nessa possibilidade.
    Esse impasse com a continuidade temporal externa, também faz que venham à tona percepções de incompatibilidade com os tempos internos e com as crenças de “como o mundo funciona” e suas certezas sustentadas em pareceres doutros dependentes das mesmas interpretações.
    Não há um vazio, e sim uma massa de consenso para onde seguir que não é manifesta. Está num limbo de pequenos e grandes apegos.
    “Todos” sabem, querem, e enxergam a constelação de “personalidades” e “empreendimentos” relacionados diretamente a  
    versão da história que nunca pode ser contestada por muitos. Observam mas não creem que podem listar um por um,
    relacionar um por um, de forma tão clara que nem estão se dando ao trabalho de iniciar a tarefa. Parece feita, tamanha obviedade.

  12. Dilma está acima do PT

    Creio que todo o movimento pelo impeachment  e o desenrolar paralelo das falcatruas de congressistas, empresários, oportunistas de plantão,deixou Dilma acima dos partidos. Hoje, Dilma pertence ao povo, pertence a continuidade de nossa nascente democracia. Por outro lado, Dilma nas suas atuais andanças pelo país também está aprendendo a fazer política, está com mais jogo de cintura, está realmente gostando de se misturar com o povo numa atitude de carinho recíproco. Dilma agora é realmente uma figura independente de Lula e do PT.

    Acredito que ela volte mas acho que, desde já, desde antes até,  deve ir articulando um ministério de notáveis, figuras reconhecidas no cenário nacional e internacional, ou seja, fazer um governo acima dos partidos para poder chegar a 2018. 

    Pode ser um sonho, um romantismo, mas acho que somente nessas condições  chegaremos sãos e salvos ao pleito de 2018.

  13. Os golpistas jogaram o Brasil

    Os golpistas jogaram o Brasil numa sinuca de bico. Creio que o importante é ter consciência disso.

    Na atual conjuntura, com a atual correlação de forças, no congresso e fora dele, apostar num plebicito “pacote completo”, eleições gerais e constituinte, como a panacéia da democracia é um otimismo beirando a ingenuidade infantil.  

    Essa campanha empreendida aqui na blogsofera pelo PHA é festiva e “viajandona” para ser mais direto

  14. Destruiu tudo o que o Lula

    Destruiu tudo o que o Lula havia deixado. É inábil, arrogante e sem comunicação. Afundou a esquerda brasileira. ESPERO QUE SAIA, JÁ VAI TARDE.

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