Docentes pela Liberdade… de quem?, por Luis Felipe Miguel

"Liberdade" com Biroliro. "Liberdade" com Escola Sem Partido. "Liberdade" com capitalismo, racismo, sexismo e homofobia.

Docentes pela Liberdade… de quem?

por Luis Felipe Miguel

Leio no jornal que hoje professores bolsonaristas lançam sua associação, liderados por um colega aqui da UnB, um elitista agressivo que se tornou folclórico no campus.

Esses defensores do Escola Sem Partido reclamam que estão sendo “oprimidos” nas universidades. Trata-se, para dizer bem diretamente, de uma grande mentira.

Professores de direita dão sua aulas, são aprovados em concursos, ganham financiamento para suas pesquisas, publicam seus papers, progridem nas carreiras.

Fazem política universitária, disputam associações docentes, direções acadêmicas, reitorias. Às vezes até ganham. Às vezes são nomeados mesmo perdendo, o que, reconheçamos, não ajuda a angariar simpatias.

Parece que os que eles querem é fazer proselitismo sem enfrentar oposição. São “oprimidos” porque, cada vez que lançam um discurso reacionário, surge uma voz de esquerda para rebatê-los.

Mas isso não é opressão, isso é o debate livre que é preciso haver na universidade.

Em alguns espaços, como nas ciências sociais, os direitistas são mesmo minoria. Não é por acaso: a ciência social nasceu como esforço de desnaturalização do mundo social, o que leva à contestação das hierarquias e desigualdades. É o oposto do projeto da direita.

Ainda assim, temos nossa cota de reaças. E o discurso ingênuo da “neutralidade”, que infelizmente está tão presente em alguns ambientes, prejudica mais quem está à esquerda.

Na Ciência Política, da qual posso falar com mais propriedade, um artigo com referencial marxista certamente enfrenta mais resistência do que outro, com referencial liberal.

Na reportagem, o chefe do movimento diz que eles não vão se denominar “de direita”, termo que “tem uma conotação ruim”. O nome fantasia será “Docentes pela Liberdade”.

Eu me pergunto se, tal como seu pendant entre os estudantes, eles ganharão dinheiro da Atlas Foundation.

Mas me incomoda o jeito como grupos com práticas absurdamente autoritárias, agora na defesa de um governo com uma indiscutível catinga fascistoide, se apropriam da palavra “liberdade”.

“Liberdade” com Biroliro. “Liberdade” com Escola Sem Partido. “Liberdade” com capitalismo, racismo, sexismo e homofobia.

O discurso é todo baseado na falsa ideia de que a igualdade é o oposto da liberdade. Temos que ter clareza que não é.

Liberdade é, sempre foi, uma bandeira – a maior bandeira – da esquerda.

(Neste link, um texto que publiquei há uns anos sobre o assunto.)

Luis Felipe Miguel

7 Comentários

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  1. Aprendi na universidade que liberdade é um estado de duplo efeito.

    No mundo medieval o trabalhador não era livre para servir a quem quisesse. Com o advento do trabalho livre, o trabalhador pode decidir para qual patrão vender sua força de trabalho. Ganhou liberdade. Mas também deu liberdade aos senhores proprietários para não mais serem obrigados a darem terra para cultivar, moinho para moer sua colheita, abrigo e proteção para sua família, etc. Estavam livres mas também livrados.

    O que estes acadêmicos querem é a liberdade de falarem sozinhos e a segurança de não serem contestados. Portanto, não querem liberdade, querem feudalismo!

  2. LFM, texto passional, sem fundamentação factual, mas mostrou bem a que linha de narrativa superficial pertence. Se me disser, com esses “argumentos”, para seguir para o Norte, fique certo de que eu seguiria para o Sul. Obrigado pela dica, porque agora fiquei convicto em participar desse grupo. Menos rancor no coração, LFM.

    1. Texto de opinião com fundamentação factual? Vocês de direita se merecem, mesmo.
      Por essa tua linha de raciocínio, posso dizer o mesmo da tua falta de argumentação para contestar o texto do autor.

  3. É fato incontestável que uma boa condição econômica não combina com a busca pelo conhecimento.
    Há uma espécie de fastio, pois que, com todas as necessidades básicas atendidas, não há porque se esforçar pelo saber.
    Assim, os coxinhas de classe média que se julgam “libertários”, talvez por preguiça, acreditam que o mundo todo só não goza de seus privilégios porque não se esforçou o suficiente e eles, que já não precisam se esforçar mais, têm uma vida legal porque a merecem.
    Para eles, liberdade não contempla igualdade posto que, sentindo-se superiores, não suportariam ser comparados aos menos favorecidos – o cerne das dissenções da direita com as benesses trazidas pelo governo Lula.

  4. Alguém pode explicar como existe liberdade em uma sociedade coletivista? O que me parece é que o autor está se opondo à formação de uma associação de pessoas em torno de um objetivo comum. Quem está criticando a democracia aqui?

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