Izaias Almada
Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.
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Dos benefícios que o teatro produz ou a destruição da cultura nacional, por Izaías Almada

A história do homem influenciou e foi influenciada pelo teatro. Infelizmente vivo em um país onde o Ministro da Cultura é um dos últimos a ser indicado

Revolução de Outubro: o momento em que Lênin chega ao poder com o apoio dos sovietes | Reprodução/Internet
Dos benefícios que o teatro produz ou a destruição da cultura nacional
por Izaías Almada

O tufão de mediocridade e ignorância que está a varrer o Brasil tem sua origem no desconhecimento mínimo dos valores culturais que formaram a nossa sociedade, inclusive até na gramática, no vernáculo e agora no vale tudo jurídico.

A tal ponto vai essa aberração que as próprias FFAA “brasileiras” defendem interesses alienígenas e compactuam com a quebra da soberania do país, ajudando a entregar o petróleo, nossa maior riqueza.

Está tudo no mesmo saco… Um saco de maldades explícitas que há tempos não se via por aqui. Tudo que se puder fazer para apagar o país até o ano de 2016 deve ser feito.

A palavra de ordem do novo governo é destruir os 516 anos que fizeram do Brasil a maior nação da América Latina e uma das maiores do mundo, apesar dos imensos problemas ainda não resolvidos como o da desigualdade social.

Só está faltando ao presidente e seu bando de patetas amalucados nos informarem que o comunismo chegou ao Brasil com Cabral e suas três caravelas. Pero Vaz de Caminha resolveu ser mais cauteloso…

Fim do “Mais Médicos”, do “Minha Casa Minha Vida”, dos apoios culturais, dos direitos trabalhistas, das Universidades, das empresas estatais, dos direitos humanos e aumento do desrespeito à Constituição… Em seus pormenores a lista é interminável. E por aí vamos…

Por ser uma pessoa ligada à literatura, ao cinema e ao teatro, as questões de políticas culturais me tocam mais de perto. Infelizmente vivo em um país onde o Ministro da Cultura é um dos últimos a ser indicado. Confesso que ignoro se há um no atual governo, esse tsunami de mediocridade a que me refiro na abertura do artigo. E se existe um, isso também não faz a mínima diferença, pois deve estar pensando em como destruir o pensamento marxista nas atividades culturais do país. Só pensam nisso, mesmo sem saberem do que se trata.

Tchecov, o escritor, poeta e dramaturgo russo, Anton Tchecov, é – sem contestação – um dos nomes mais importantes da dramaturgia universal. Obras como As Três Irmãs, Tio Vânia, O Jardim das Cerejeiras, A Gaivota, entre outras, não nos deixam mentir.

(Um aviso aos ignorantes ministros e ao presidente: Tchecov NÃO ERA COMUNISTA E NEM NAZISTA DE ESQUERDA e escreveu sua maravilhosa obra antes da Revolução de outubro de 1917).

Homem de grande sensibilidade e imensa cultura usou o realismo da sua criatividade para um retrato, no mais das vezes impiedoso, mas sensivelmente humanista, para avaliar a época e o país em que viveu. Conhecia, como outros grandes escritores, aquilo que se convencionou chamar de alma humana.

Seu monólogo “Dos malefícios que o tabaco produz”, peça onde um professor discursa, debaixo de pressão tirânica da mulher e para uma platéia de doutos, sobre os males causados pelo tabagismo é um primor sobre o comportamento humano.

E todos nós sabemos sobre tais males em nosso organismo. Menos o ministro Sérgio Moro, é claro…

Com uma boa dose de ironia eu poderia, modestamente, dissertar aqui sobre os “males” que o teatro produz sobre o organismo social. Sim, porque o teatro, ao contrário do cigarro, é uma excelente ferramenta de transformação de organismos sociais adoentados, particularmente para aqueles que já tentaram e ainda tentam se curar com o uso de panacéias mais amargas como as ditaduras civis ou militares e à censura à livre manifestação do pensamento. Contudo, melhor apontar os benefícios que o teatro produz, contra parodiando Tchecov.

O tecido social é uma extensão do próprio homem. Ambos precisam de cuidados para sobreviver e ter boa saúde física e mental. Individual ou coletivamente nutrimo-nos com alimentos para o corpo e o espírito. O teatro é um desses alimentos. Sua origem tragicômica e sua importância na Grécia clássica já o comprova há pouco mais de 2500 anos.

Muita bobagem já se escreveu sobre a “morte” do teatro. Entretanto, o teatro só morrerá com o desaparecimento do próprio homem. Ernest Fischer em seu livro “A Necessidade da Arte” demonstra com propriedade e inúmeros exemplos, como a arte, mais do que uma necessidade, é inerente à própria existência da humanidade. E de todas as artes, o teatro é aquela que coloca o homem em frente ao homem, fisicamente, os atores em frente ao público. Cara a cara.

A história do homem, pelo menos aquela que se pode registrar até os nossos dias influenciou e foi influenciada pelo teatro. Da ágora grega, do circo romano, das ruas, praças e igrejas medievais, dos teatros da era moderna até aos espaços contemporâneos em seus mais variados formatos, a comunhão do homem com o teatro continua viva. São Paulo, essa megalópole onde vivemos, não foge ao padrão.

Desde que nos libertamos do teatro declamado português na década de 40 no século XX e começamos a construir nossa própria dramaturgia, o teatro brasileiro – com seus altos e baixos – tem sido um radar sensível da nossa caminhada como nação. Nesse particular, os anos 60 do mesmo século XX foram e continuam sendo emblemáticos.

Seguindo as pegadas de Gonçalves de Magalhães, Martins Pena, Gonçalves Dias, Manuel de Macedo, José de Alencar, ainda no século XIX, a sintonia entre o palco e o povo brasileiro no século seguinte ganhou dimensões extraordinárias, sobretudo, com a grande montagem de “Vestido de Noiva” de Nelson Rodrigues no início dos anos 40.

Daí até os nossos dias, além do próprio Nelson Rodrigues, uma plêiade de bons dramaturgos vêem dando expressivo significado ao nosso teatro: Dias Gomes, Ariano Suassuna, Gianfrancesco Guarnieri, Augusto Boal, Oduvaldo Viana Filho, Jorge Andrade, Chico de Assis, Maria Adelaide Amaral, Plínio Marcos, Leilah Assunção, Renata Pallotini, Lauro Cesar Muniz, Luiz Alberto de Abreu, Jandira Martini, Marcos Caruso, Alcides Nogueira, Mário Prata, Fauzi Arap, Naum Alves de Souza, Cesar Vieira e tantos outros mais novos ou mesmo antigos que, com seus textos esporádicos, mas nem por isso menos expressivos, fazem um diagnóstico e apresentam com grande ternura, mesmo que cáustica ou impregnada de ironia, muito dos conflitos do homem brasileiro contemporâneo.

Seja através de uma purificação catártica conservadora ou num alerta transformador para um mundo melhor, o teatro continuará a estimular e encantar corações e mentes pelo mundo afora. Além do que, como disse Augusto Boal em discurso ao ser nomeado Embaixador Mundial pela UNESCO em 2008, “atores somos todos nós, dentro ou fora do palco”…

Enquanto isso, assistimos aos nazifascistas caboclos arreganharem os dentes e investirem diariamente contra a cultura humanista, seja ela brasileira ou não.

Izaias Almada

Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

1 Comentário

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  1. A maré montante de estupidez que ameaça alcançar as atividades culturais no Brasil é, de fato, preocupante. É visível a agitação das águas contaminadas pelas seitas religiosas, os impulsos fascistoides e a ignorância mobilizada. Infelizmente, isto não é tudo.
    No balanço desta hora, não pode faltar a menção àqueles que, apesar de se pretenderem à esquerda no espectro político nacional, fogem da obrigação de se apresentar e de apresentar do que são capazes na luta pelas idéias, terreno completamente abandonado ao bestialógico das forças hoje no governo central e em alguns estados. Será medo? Se a explicação for essa, carece de sentido. Pois não se tem notícia de qualquer repressão sistemática às atividades culturais no país. Alguém mais prudente poderá dizer: – Ainda não, mas não demora! Não desprezo a prudência, embora que ela convenha mais na hora do perigo, coisa que hoje não existe absolutamente!
    O que é preciso dizer além disso? O nome dos assustados?

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