É golpe, sim!, por Mino Carta

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Ricardo Stuckert/ Instituto Lula

Ato-pela-democracia

Ato pela democracia, na praça da Sé, em São Paulo, no dia 31 de março

na CartaCapital

É golpe, sim!

por Mino Carta

Perdoem os leitores a exclamação, mas a arrogância e a desfaçatez dos conspiradores passaram da conta

É golpe, é golpe sim. 

Verdade factual, diriaHannah Arendt, a verdade única, inegável. A despeito das afirmações em contrário de pançudos alquimistas do engano, envoltos em prosopopeia. E dos editorialões dos jornalões e programões, e das colunas e reportagens dos sabujos midiáticos, de lida tão árdua com o vernáculo, mas de fantasia acesa.

E dos rentistas que se dizem empresários de um país que exporta commodities, de juizecos provincianos e advogados mafiosos que em cada lei enxergam a oportunidade de burlá-la. E de agentes ditos da ordem empenhados em semear a desordem e de funcionários do Estado dispostos a financiar no exterior campanhas a favor do golpe, como Furnas a patrocinar tertúlias lisboetas de Gilmar Mendes e José Serra.

Vivemos uma tragédia e desta vez, no País à matroca, quantos cidadãos se dão conta da sua condição de vítimas?

Qual é a verdade factual? A presidenta Dilma errou bastante, ninguém, no entanto, poderá acusá-la de desonestidade. Está a ser julgada, porém, por uma corja de corruptos na comparação com os quarenta ladrões de Ali Babá, estes figuram como medíocres aprendizes. 

Fato é que os argumentos aduzidos para justificar o impeachment não se prestam ao propósito. Quem diz: golpe não pode ser “algo que existe na Constituição” expõe apenas sua parvoíce.

Exatamente por ser previsto pela Carta, o impeachment no caso é impraticável, como aliás confirma o ministro Marco Aurélio Mello, consciente de sua função de magistrado. De todo modo, pedaladas fiscais são práticas comuns dos governos brasileiros.

Quem está sem pecado atire a primeira pedra. Lição de Cristo, aquele que, ao pedir ao Pai Celeste perdão para quem o crucificava sem entender seus próprios atos, não se referia apenas aos soldados romanos.

Cabem, na exposição da verdade factual, comparações entre o presidencialismo à brasileira e o americano, ou o francês. Bush júnior foi calamitoso como presidente ao ponto de levar seu país a uma guerra precipitada pela mentira e pela hipocrisia, enfim, inexoravelmente provadas.

Nem por isso deixou de governar até o fim. Barack Obama governou por boa parte do seu segundo mandato sem contar com maioria parlamentar, e nem por isso foi impedido.

François Hollande há dois anos não alcança nas pesquisas 20% de aprovação popular, e nem por isso deixa de governar. Será que o nosso presidencialismo está habilitado a dispensar o peso constitucional de uma eleição ganha em proveito dos números de um ibope qualquer?

A verdade factual oferece largo espaço à raiva que hoje medra na chamada classe média, ódio desvairado insuflado pela ofensiva midiática. Vale acrescentar um adjetivo: irracional. Fruto de ventos malignos e, de certa forma inexplicáveis, a soprar entre o fígado e a alma.

Aparentado com a raiva da pequena burguesia que gerou, por caminhos distintos, o fascismo e o nazismo, lembrança esta despida da pretensão de confrontar o estágio cultural das nossas classes A e B com a pequena burguesia de Alemanha e Itália dos começos do século passado.

Quem no Brasil se considera burguês, quando não aristocrata, não se expandiu muito além dos tempos da Pedra de Roseta. O ódio, entretanto, é parecido, eivado de recalques e preconceito. De todo modo, não será fascista ou nazista o desfecho da tragédia.

Nesta mesma edição, um suplemento especial evoca o golpe de 1964 para exibir as similitudes e as diferenças entre a situação que precipitou aquele e a que vivemos hoje. O fantasma da Revolução Cubana alastrava-se então sobre a América Latina, quintal dos Estados Unidos.

Tio Sam velava para impedir fraturas no seu império, pronto a intervir onde fosse preciso por meio dos serviços da onipresente CIA, e de ajuda financeira e até militar. Patrocínio decisivo a todos os golpes que assolaram o subcontinente. 

Hoje os EUA reatam com Cuba e certamente não enxergam no Brasil o seu quintal, graças à política exterior independente praticada por Lula e seu chanceler Celso Amorim. Sabem, porém, que significaria dar continuidade àquela política, como aconteceria se Lula voltasse ao poder. Resultaria no fortalecimento da aliança dos BRICS, que tende cada vez mais a tomar caminhos conflitantes em relação aos interesses norte-americanos.

Em 64, a casa-grande chamou os soldados para executar o trabalho sujo, desta vez os tanques são substituídos pelas togas de uma Justiça politizada, sequiosa por empolgar o poder em uma república justicialista.

Patética, emoldurada em ouro, a desculpa dirigida ao STF pelo juiz Moro por seus grampos ilegais e ilegalmente divulgados, a revelar uma vocação de humorista quando diz não ter agido com propósitos político-partidários. Pelo contrário, são estes exatamente os propósitos de futuro desta magistratura açodada, intérprete da Justiça desvendada.

O golpe de 64 gerou uma ditadura de 21 anos e de cujas consequências padecemos até hoje. Vale perguntar aos botões se o plano togado tem chances de êxito caso oimpeachment premie os conspiradores de sempre. Impossível, respondem, à luz do que chamam de premissas da próxima, eventual, verdade factual.

Desta vez, os conspiradores estão divididos por divergências insanáveis e, se lograrem atingir o alvo comum, entrarão em conflito no dia seguinte. Dia nebuloso, caótico, de tensões espantosas. Chegassem ao governo, os cultores do poder pelo poder cuidariam de acabar de vez, como providência automática e imediata, com a Lava Jato.

O professor Michel Temer, que já organiza uma passeata da vitória, deveria dedicar-se a uma leitura mais atenta de Maquiavel. Antes de se atirar a certezas, é indispensável derrubar todos os obstáculos. Derrubar? Melhor aniquilar.

Que é possível esperar de um governo Temer? Quem sabe José Serra na Fazenda. Que tal Rubens Barbosa chanceler e Miguel Reale Jr. na Justiça? Retorno ao afago norte-americano, leilão dos bens brasileiros a começar pelo pré-sal, distanciamento dos BRICS.

O progressivo galope decadência adentro. Súditos de Hillary ou de Trump? A esta altura, não consigo ver diferenças entre os dois, ao menos deste meu ponto de observação verde-amarelo.

A incerteza, esta sim, é própria do momento. Quanto a CartaCapital, não nos permitimos a mais pálida sombra de dúvida quanto à nossa determinação em defender o retorno ao Estado de Direito, destroçado pelo complô antidemocrático.

As falhas do governo atual não se discutem, começam pelo estelionato eleitoral cometido pela presidenta Dilma ao convocar para a Fazenda um bancário neoliberal com o propósito transparente de acender um círio ao deus mercado.

Nada, porém, do que a acusam sustenta a conspirata e justifica o impedimento, assim como nada admite a pretensão de Sergio Moro de prender Lula. Houvesse provas cabais, já estaria preso. E esta é a verdade factual.

Certa agora, no País à deriva, é a falta de liderança. A presidenta Dilma encontrou finalmente o tom certo e a veemência necessária nos seus últimos pronunciamentos, mas perdeu a chance de assumir o comando do País e talvez jamais o tenha perseguido.

Ela parece satisfazer-se com a autoridade que lhe compete nas reuniões do ministério. De resto, o Brasil contou com poucos líderes populares autênticos, sem exclusão de Antônio Conselheiro, e dois se sobressaem, Getúlio Vargas e Luiz Inácio Lula da Silva. Getúlio repousa no panteão da memória, Lula está vivo. 

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

13 Comentários

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  1. NINGUÉM AGE

    As esquerdas brasileiras estão a espera de um milagre, o  defensor de Dilma, sequer tem criatividade em toda esta balbúrdia. Deveria municiar a Dilma para 2ª feira, de TODOS os processos ou inquéritos do Senado e da Câmara. Pedir que ela ponha na mesa o catatau, combinar um agá de pergunta “do que se trata todo este volume na mesa”. Ela responderia que são processos contra os Senadores Tais e contra os Deputados Federais tais. Cardozo não é advogado, não lida com fatos e ninguém da esquerda contribui com atitudes práticas. Mas teria que ser feito URGENTE.

  2. Quando Mino Carta é colocado

    Quando Mino Carta é colocado como referência, é que a coisa está feia pro PT.

    Não tem outro, não ? Alguém que não  venda sua revista pela metade do preço pra petista de carteirinha ?

        É isso que restou do PT ?

     Então.não restou nada.

  3. Colocar Mino Carta pra

    Colocar Mino Carta pra comentar é dose pra mamute.

    Como ”contraponto” que nunca há nesse blog . poderia colocar Guiilherme Boulos

    Com comentários de Janio de Freitas e Gregorio Duviver.

    Aí , sim teriamos opiniões ”contrárias”

    Tipo :

    Como triturar os golpistas.

  4. Poucas,pouquissimas vezes o

    Poucas,pouquissimas vezes o editor do blog deu voz ao maior jornalista italo-brasileiro de todos os tempos.A julgar pela plateia que conseguiu juntar,talvez o editor tenha razao.Nao diria ser facil entender o vocabulario minocartes.Sera sempre necessario um pouco mais.

  5. Multa bilionária..

    Para o bem e para o mau, é importante que as pessoas COMPREENDAM QUE O PIG FAZ PARTE DO GOLPE!

    Acredito que que o interino vai SOLTAR PROPOSTAS PARA EMPRESÁRIOS EM GERAL PARA CRIAR APOIO AO GOLPE QUE SERÁ DADO NO SUS, NOS APOSENTADOS, NOS TRABALHADORES E ESCOLAS FEDERAIS, ALÉM DA VENDA DE ESTATAIS.

    Deverá ter anuncio IMEDIATO APÓS assumirem o governo e a mídia REPERCUTIRÁ A EXAUSTÃO TIRANDO DA POPULAÇÃO A AVERSÃO AO TEMER E SEU PROJETO.

    Agora sem recursos, ele terá que abrir a caixa da maldades e aí como os caciques incharam a máquina com aliados e abóboras, a execução dos planos será como EM FHC, NUNCA CHAGAVA A META e haverão milhões de cunhas espalhados achacando empresários.

    Então, será preciso COBRAR A CONTA TAMBÉM DO PIG!

    Pelo que pediram ao marqueteiro do PT, não SOBRARIA PATRIMÔNIO AOS DONOS DO PIG PARA PAGAR A MULTA DO GOLPE.

  6. Ui, que “chique”!

    Rsrsrs, que fofo!

    Enquanto os usurpadores, achacadores, maus perdedores, fascistas, sociopatas e demais esquerdofóbicos falam em “burrice infinita”, os “cavalheiros” “de esquerda” falam em “…”pançudos alquimistas do engano, envoltos em prosopopeia”…

    “Chique”, né?

    Mais “chique” que isso só mesmo ter a “sensibilidade” de tirar o miolo do dente de alho, rsrsrsr!

  7. Carta ao Mino

    O senhor não é aquele chefe de redação ao qual o senhor Lula em interceptação telefônica sugere lhe pautar integralmente sobre a necessidade de criação de uma matéria de caráter persigatorio aos opositores dele?

     

    Expondo totalmente ter controle na sua independência?

    1. Mino Carta

      O senhor já leu Carat Capital? Então leia, Garanto que é bem melhor que a Veja, que tem convênio com o juis Moro, vaza tudo o que interessa a oposição.

  8. Inicio de carreira meritocrática

    Aquele “wel” é o primeiro passo na carreira de um coxinha. A sacola com dinheiro fica por lá, obviamente.

    O golpe é do Brazil contra Brasil, favorecido pela nossa ignorância política de ainda não entender a diferencia entre Z e S, mesmo depois de 13 anos vivendo numa nação que começou a ser soberana e que tirou milhões de brasileiros da extrema pobreza. Mas, quem foi seducido pelo “wel” vive aqui em permanente trânsito até Miami, desde coxinha comum até Juiz do STF. A “tia Eliane” e outras como ela ficarão na história como sendo as grandes artífices na fabricação de coxinhas. Deveria haver um monumento para “tias” brasileiras de mãos dadas com estatuas mirins de alguns dos nossos futuros líderes, na entrada da Disney. Eles deram o golpe.

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