Percival Maricato
Percival Maricato é sócio do Maricato Advogados e membro da Coordenação do PNBE – Pensamento Nacional das Bases Empresariais
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E por falar em país delinquente… por Percival Maricato

A Suíça, apesar da liturgia mistificadora de seu sistema bancário, é a caverna de Ali Baba dos tempos atuais, absolutamente intocável, ninguém descobriu a palavra mágica que abrirá os detentores das contas de seus bancos. Em que pese a civilidade e educação de seu povo, é difícil dizer se nesse país há uma banca que tem um povo ou um povo que tem uma banca, eis que esta é protegida por leis… desse mesmo povo.

Em sua defesa  alegam os suíços que é norma do capitalismo proteger o sigilo de contas bancárias. E também que todos os países procuram explorar seus  diferenciais no mercado global. Ou ainda que na economia é válida a lei da selva desde os tempos pré-históricos, tanto que tribos e povos sempre invadiram o território do vizinho quando tiveram interesses contrariados. Nos tempos atuais, poderiam acrescentar, há até invasão e  bombardeio de países de outros continentes por aqueles que se sentem contrariados há milhares de quilômetros de distância. Vigora a reapolitik, modo elegante de dizer que vale a lei do mais forte. Mas também se pode dizer que os suíços são guardiões do templo explorando as prostitutas da babilônia, escroques do sistema bancário.

Há pouco se descobriu que o HSBC vinha facilitando transferência de recursos de pessoas de vários países para os seus parceiros suíços. Só do Brasil, nessa redada, foram revelados 6.600  nomes de pessoas que transferiram ilegal e clandestinamente 7 bilhões de dólares,. Certamente há outros bancos que fazem o mesmo, mas não foram descobertos, portanto são, ou melhor, estão inocentes.

Desses milhares de depositantes descobertos deve haver os que  cometem apenas o delito de transferência ilegal de recursos, mas não precisa ser vidente para saber que a maioria deve ter cometido crimes mais pesados: contrabando, sonegação, corrupção, narcotráfico, venda de armas, extorsão, entre outros. 99% dos membros das ditaduras do Planeta tem dinheiro depositado na Suíça, os restantes 1% estão providenciando. Sabem que em Genebra a grana estará protegida.

Trata-se de uma das modalidades do crime do colarinho branco, envolvendo técnicas e dimensões que os varejistas do tráfico ou os pés de chinelo responsáveis pelas balas perdidas vindas dos morros do Rio, nem sonham existir. A banca suíça insiste em que dinheiro não tem cor nem currículo ou pedigree. O povo, beneficiado, apoia, com indulgência e tolerância para os banqueiros e indiferença impiedosa com as vítimas.

Os piratas e corsários de séculos atrás também corriam os mares atrás de navios indefesos para saquear, trucidar, sequestrar. Depois do saque os piratas precisavam de um porto sem lei onde pudessem ser acolhidos de braços abertos . Nos tempos atuais, um desses portos é a Suíça, sempre pronta a zelar pelo butim dos delinquentes. De vez em quando fazem uma exceção. Por exemplo, revelaram e se prontificam a devolver o produto da pilhagem do  brasileiro Maluf, tentando com isso resguardar o renome de país civilizado. Mas nunca senão após a descoberta da falcatrua e assim mesmo, haja resistência.

Sem levar em conta os valores vigentes em uma sociedade de classe, a Suíça seria bem mais deletéria para a civilização, para os povos miseráveis e oprimidos por ditaduras, praticaria infrações muito mais sofisticadas, seria muito mais infratora das leis internacionais e dos direitos humanos que o Iraque de Saddan Hussein (para a Suíça era um simples cliente, tanto como os sheiks da Arábia Saudita), os  exércitos de Boko Haram ou do EI, a ditadura de Bashar al-Assad na Síria, entre outros da mesma estirpe.

No entanto, é certo que os marines ou as força áreas dos países ditos desenvolvidos do Ocidente  jamais atacarão a Suíça, os governos americano, francês, inglês e alemão não estão dando a mínima para as contas clandestinas, a mídia não dedicará a elas 0,1% do que gasta de espaço para criticar os perigosos governos da Bolívia e da Venezuela. Questão de valores em que se acredita e se impõe…por interesse.

Percival Maricato

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Percival Maricato é sócio do Maricato Advogados e membro da Coordenação do PNBE – Pensamento Nacional das Bases Empresariais

11 Comentários

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  1. O escandalo chamado de “Swissleaks” escancarado pelo

    “Le Monde”, e al. (The Guardian, etc..) tem alguns aspectos bombásticos: há na lista de clientes da filial de “Private” empresários sauditas sabidamente financiadores da rede Al Quaeda…

    O governo do Reino Unido vai tomar alguma atitude quanto á isso?

     O governo dos Estados Unidos da América vai tomar alguma atitude quanto á isso?

  2. A Suiça é um páis MUITO

    A Suiça é um páis MUITO ESTRANHO. Nunca foi exemplo para ninguém.

    Além de ter um programa que “vendia” suas próprias crianças pobres para agricultores, quando eram transformadas em escravas, inclusive sexuais., (Programa esse que só foi terminar nos anos 60), boa parte da riqueza dos bancos suiços começou com os negócios feitos com os escravos negros da Africa.

    É daí para pior.

     

     

     

     

  3. O Governo Argentino (alô

    O Governo Argentino (alô Bonner!! Alô Kamel!!) já denunciava o HSBC desde 2014.

    Engraçado é ler agora as respostas do banco…. 

    Argentina acusa HSBC de auxiliar evasão fiscal via contas suíças

    O HSBC Argentina rejeitou as acusações em comunicado via email à Reuters, dizendo respeitar as leis argentinas

    29/11/14

    A Argentina acusou o HSBC de auxiliar mais de 4 mil clientes a sonegar impostos guardando seus recursos em contas bancárias secretas na Suíça, disse a autoridade fiscal argentina Afip na quinta-feira.

    O Fisco argentino disse que recebeu da França a informação sobre as contas secretas. Na semana passada, a unidade de private banking do HSBC na Suíça foi colocada sob investigação formal na França por possível ajuda em evasões fiscais.

    “Denunciamos a existência de uma plataforma ilegal criada por três entidades bancárias (do HSBC) que estão operando na Argentina”, disse o chefe da Afip, Ricardo Echegaray, em coletiva de imprensa.

     

    “Seus gerentes intervieram ativamente com o propósito único de ajudar cidadãos argentinos a evitar o pagamento de seus impostos”, acrescentou.

    O HSBC Argentina rejeitou as acusações em comunicado via email à Reuters, dizendo respeitar as leis argentinas.

    “O HSBC Argentina rejeita enfaticamente (a acusação de) participação em qualquer associação ilícita, incluindo qualquer organização que permitiria a transferência de capital para a sonegação de impostos”, disse o banco.

    A Afip não disse na quinta-feira se havia suspendido as operações do HSBC.el!!) JÁ denunciava o HSBC desde 2014.

    Percebam na notícia abaixo a hipocrisia das respostas do banco

     

     

  4. Há um erro de Percival: os

    Há um erro de Percival: os nomes dos 6.600 brasileiros não foram divulgados. Não os li, seja na mídia tradicional, seja nos blogs.

    1. Espera só um “poquinho”

      A midia fascista brasileira está analisando e se tiver algum que seja contrário ao “estabelecido” e vc já sabe “u que”ai virar capa de jornais e revistas.

       

  5. lavanderia

    “A Suiça lava mais branco”, de 1990, explica bem os podres donos daquele país. O autor é Jean Ziegler, um deputado suíço que teve o mandato cassado por causa da indiscrição, e voltou a ser eleito.

  6. a suiça virou mito porque

    a suiça virou mito porque “civiliza”(esquenta, lava) o dinheiro

    selvagem(sujo, bandido, improdutivo etc  e etc e o escambau

  7.  
    Quanto mais branquinho,

     

    Quanto mais branquinho, cheirosinho, e indignado, maior é a capacidade da carga de hipocrisia, que o cabra é capaz de carregar no lombo.

    O safado do senador moralista, Demóstenes Torres, amigo e parceiro de grampos fajutos Gilmar Mendes. Outro avantajado espécime da hipocrisia nacional. Estes indivíduos, poderiam muito bem se homiziar preventivamente, nalgum dos cantões suiços. 

    Orlando

  8. Nao convem colocar no mesmo

    Nao convem colocar no mesmo “barco”, os piratas e os corsarios….somente os primeiros, é que precisavam de um porto sem lei, onde ancorar depois de um saque. 

  9. Ligações Perigosas…

    Nassif,

     

    Em 14-02-2012, Carta Maior, publicou um texto de Laurez Cerqueira sobre o caso Econômico e como isso contribuiu para expor a teia de relações promiscuas existentes entre o governo F.H.C., instituições financeiras do Estado e instituiçoes financeiras privadas. Talvez você pudesse, em entendimento com Carta Capital, promover a reedição do texto revelador  do que foi essas relações perigosas, nos nefastos anos : 1995 a 2002.

    Abraços.

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