Economia em tempos de Bolsonaro e Guedes, por Pedro Carajilescov

O Brasil, considerado um dos países mais ignorantes do mundo, foi o último a abolir a escravidão e, agora, a reinstitui na forma deste ultraliberalismo degradante.

Foto Agência Brasil

Economia em tempos de Bolsonaro e Guedes

por Pedro Carajilescov

Ontem, EUA e China assinaram um acordo comercial, cessando uma guerra tarifária entre as duas maiores economias do mundo. A expectativa era de que o mercado financeiro interno reagisse positivamente. No entanto, observou-se que o índice Bovespa caiu e o dólar subiu, indicando que a nossa economia está tão debilitada que não reage mais a qualquer tipo de medicamento. Sobrevive por aparelho.

A bem da verdade, não é de hoje que isto vem acontecendo. Apesar dos esforços da mídia corporativa em afirmar que a economia vem se recuperando, embora lentamente, os índices e os fatos insistem em desmenti-la. Desde o golpe, que derrubou a presidenta Dilma, o país observa a mais severa desindustrialização de sua história, com mais de 15 fábricas fechando as portas por dia. As atividades de serviço perdem força e o desemprego formal aumenta, apesar do governo tentar, com o apoio da mídia, qualificar “bico” como empreendedorismo. As liberações de FGTS não conseguem mais dar um sopro de vida ao consumo das pessoas, diante da gravidade da situação. O comércio do final de ano foi vexatório, a ponto de o governo ter que “maquiar” os números, como vem fazendo com PIB e com os índices de inflação.

A necessidade de recursos, diante da crise, faz com que o governo continue se endividando. Guedes considera que a única forma de fazer dinheiro é através de privatizações. Na visão dele, deve-se vender tudo. Nada tem a ver com uma posição filosófica de “estado mínimo” ou de “maior eficiência do setor privado”. Trata-se de pura necessidade de caixa.

Entretanto, nem todas as privatizações serão fáceis. Um exemplo claro disso foi o último mega-leilão de áreas de exploração de petróleo, onde apenas a Petrobrás, com pequena participação dos chineses, acabou adquirindo blocos de exploração. As grandes petroleiras não quiseram participar. Cabe a pergunta: Porquê? Eu entendo que a exploração de petróleo exige grandes investimentos, tecnologia e tempo. Por necessidade, a Petrobrás desenvolveu tecnologia para exploração em águas profundas e no pré-sal. As demais petroleiras do mundo não tiveram essa necessidade e teriam que ou desenvolver ou comprar da Petrobrás. Ora, a Petrobrás não venderia barato uma tecnologia que ela investiu grandes recursos e tempo para desenvolver. Apesar disso, acredito que o maior entrave foi o fator “tempo”. Sim, o tempo necessário para a empresa se ressarcir de qualquer investimento. Vejam, o Brasil tem, hoje, um governo impopular, comandado por um capitão ignorante, fascista e miliciano, em quem não se pode confiar. Caso a esquerda continue em crescimento, poderemos ter aqui, em 2022, uma repetição do que ocorreu na Argentina, com o neoliberalismo sendo derrotado. Nesse caso, haverá a possibilidade de ocorrer uma revisão das privatizações, particularmente, em áreas estratégicas como, por exemplo, energia e água ou que impactam a soberania nacional, como a exploração de minérios estratégicos. Não devemos nos esquecer o que ocorreu na Bolívia, com Evo Morales, que nacionalizou seus “hidrocarburos”.

Recursos externos são difíceis de serem atraídos, se recordarmos que 95% deles pertencem a fundos de pensão. Quem se atreveria a investir o futuro de pessoas em um país comandado por um celerado? Ninguém. Ao contrário, temos assistido à saída de dólares em níveis recordes.

Diante deste cenário, as privatizações, caso sejam realizadas, serão principalmente para grupos nacionais, comandados por banqueiros, que drenam os recursos do país desde sempre. Obviamente, esses grupos terão que correr o risco de ver essas privatizações revistas mais à frente, como está ocorrendo em muitos países do mundo que adotaram esse neoliberalismo atrasado e anti-desenvolvimentista.

O Brasil, considerado um dos países mais ignorantes do mundo, foi o último a abolir a escravidão e, agora, a reinstitui na forma deste ultraliberalismo degradante. Possivelmente, também, seremos os últimos a abolir esse neoliberalismo de Guedes e Bolsonaro. Minha esperança é que isto ocorra, o mais tardar, em 2022. Antes seria ainda melhor.

Redação

1 Comentário

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  1. Me parece claro que a intenção de privatizar/desestatizar diversos serviços e ativos públicos tem por lógica a natural tibieza dos políticos atuais (seja de esquerda, centro ou direita) de rever decisões dessa natureza.
    Mesmo se o improvável ocorra, como, por exemplo, se o PSOL ou outro partido ainda mais à esquerda alcance a Presidência, duvido imensamente da disposição política do ocupante da cadeira de rever privatizações, por mais danosas que tenham sido. E é essa a lógica que move a turma atual: a convicção na incapacidade de desfazimento dessa destruição estrutural do Estado.

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