Educação e competitividade; por Rodrigo Medeiros

Chamou minha atenção nesta semana a divulgação do levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) sobre a baixa qualificação da mão de obra brasileira. De acordo com a CNI, 65% das indústrias ouvidas em abril deste ano acreditam que não há suficientes trabalhadores qualificados no mercado.

A matéria do jornal Valor Econômico (29/10), que cobriu esse levantamento, entrevistou o gerente-executivo de pesquisa da CNI, Renato da Fonseca. Este, por sua vez, declarou: “Se a indústria começar a crescer mais forte agora, como a gente está torcendo que ocorra, o problema vai ficar ainda mais severo. Hoje há um mercado de trabalho e uma economia aquecidos, mas indústria desaquecida. O crescimento do país, se não tiver aumento de produtividade, vai ficar limitado a cerca de 2% ao ano. É preciso que se aumente a produtividade para voltar a crescer a taxas maiores”. Ainda que se possa discordar de algo, o debate da produtividade está presente e creio que se faz necessário traduzi-lo com maior intensidade em ações concretas no campo das políticas públicas.

Para tentar contornar a escassez de mão de obra qualificada, 81 % das indústrias dizem melhorar a formação na própria empresa e 43% afirmam fortalecer a política de retenção de mão de obra, seja com aumento de salários ou benefícios. A competição por mão de obra qualificada com o setor de serviços é, em média, desfavorável à indústria. Enquanto a indústria encontra grandes dificuldades de repassar o aumento real dos salários dos trabalhadores ao preço final dos produtos, os serviços conseguem pagar mais para os funcionários elevando os seus preços por não serem tão sujeitos à competição estrangeira.

Segundo Charles Jones, “cada ano de escolaridade representa um aumento de 10% no salário do trabalhador, um número bastante coerente com as evidências internacionais em relação aos retornos à escolaridade” (Introdução à teoria do crescimento econômico. Elsevier, 2000). Quando busquei estudar a questão do capital humano no Brasil, chamou minha atenção um estudo coordenado por Marcelo Neri, que detectou o desinteresse como o principal motivo da evasão escolar entre jovens de 15 e 17, aproximadamente 40% da evasão (Motivos da evasão escolar. FGV/IBRE, CPS, 2009). A taxa de abandono para essa faixa etária gira em torno de 9% e sua distorção idade-série, 31%. Segundo Neri, “é preciso que se informe a população sobre a importância da educação”. De pouco adiantará expandir e melhorar a qualidade da educação se não houver uma maior consciência da parte dos usuários do sistema.

Do ponto de vista do custo de oportunidade, essa situação no Brasil representa um paradoxo, pois para cada ano de estudo estima-se um retorno de 15% na renda (Neri, 2009). Foi ainda possível detectar que 95% das melhorias da saúde percebida são adquiridas a partir de incrementos na educação. O lado social das políticas públicas pode muito bem estar associado a aspectos multidimensionais de competitividade nacional. A elevação da produtividade brasileira precisa ser construída a partir de políticas públicas consistentes e permanentes.

Rodrigo Medeiros é professor do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes)

Rodrigo Medeiros

14 Comentários

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    1. A China conseguiu sem educação ????

      Que planeta que você vive? A prioridade dos asiáticos em relação à educação é espantosa. O que mais vejo são americanos criticando a situação educacional e elogiando a China e diversos outros países. A formação de engenheiros  e técnicos é muito maior do que há vinte anos. Tem um programa espacial próprio, coisa que nossa presidente incompetente não sabe fomentar. A própria Apple não teria um corpo de engenheiros suficiente nos EUA para fabricar o Ipad com a qualidade que é utilizada na China, palavras do próprio Steve Jobs em sua biografia. É uma ditadura cheia de problemas, mas por favor, vamos sair do aquário cor de rosa onde o inacreditável e sua presidente habitam para reconhecer que muito pouco foi feito em educação no Brasil nos últimos 40 anos.

      Medida social aqui no Brasil é educação, o cara que sabe interpretar um texto e um idioma estrangeiro vai saber reivindicar do patrão e do governante. Sem isso ele acha que novela dos nove é obra de arte e Big Brother um programa de qualidade, e fica aceitando ser explorado de forma aviltante.

      A educação não é um remédio para todos os males, e certamente na Finlândia, na Coreia do Sul etc não ver resolver todos os problemas. Mas é óbvio que a educação no Brasil é de quinta categoria. A melhora aqui é imperiosa (se queremos ser um país importante). Para ficar como está, essa educação de m. já serve.

       

      PS: Para aqueles que estudaram Cálculo Diferencial e Integral nos livros do Piskounov (editora Mir – Moscou) da época da União Soviética, esse era a parte espetacular do comunismo (programa espacial etc). Mas parece que nisso a nossa esquerda não tem muito entusiasmo, dá um trabalho terrível, fica mais fácil botar a culpa em algum banqueiro que mora em Singapura…

      1. “…esse era a parte

        “…esse era a parte espetacular do comunismo (programa espacial etc). Mas parece que nisso a nossa esquerda não tem muito entusiasmo…”

        Como não gostam de coisa espetacular? Tá aí a Copa e os Estádios para garantir o espetáculo…

      2. Ninguém sustenta o processo de desenvolvimento sem educação.

        Educação é algo muito importante, principalmente quando feita com qualidade. Basta uma consulta ao Pisa… (rs) Há também outras questões:

        https://jornalggn.com.br/blog/rodrigo-medeiros/o-debate-da-desindustrializacao

        A China não venceu ainda a armadilha da renda média e o seu modelo de crescimento export-led vem sendo questionado domesticamente e externamente. Internamente abafa-se a contestação com o monopólio “legítimo” da violência. Externamente, poderemos viver um quadro mais grave de guerra cambial logo adiante.

        Cordialmente,

         

    2. Vc tem certeza sobre falta d escolaridade na China? Eu nao teria

      Nao tenho informaçao para te contrapor, mas desconfio que vc está errado. Além do mais, mesmo que o percentual de gente educada nao seja alto, já é um montao de gente em números absolutos…

  1. qualificação de mão de obra.

    Na era de FHC também a CNI dizia que o altíssimo desemprego da época era causado pela má qualificação da mão-de-obra brasileira. E os recém-formados desempregados, que saíam da universidade com a melhor e mais avançada tecnologia, onde se encaixavam? E aquele bilhão de reais/dólares que o Ministério do Trabalho liberou para a Força Sindical (Pelegada da Força) treinar trabalhadores, onde estão os treinandos? Quem arrumou emprego naquela década da miséria e do desemprego? E quanto a CNI está disposta a pagar para um engenheiro recém-formado, o mesmo que paga a indústria europeia? E os eletricistas da indústria, muitos com diploma do próprio SENAI, ganhando salário mínimo em empresas terceirizadas? Falta de vergonha na cara não paga imposto, isso é muito bom para muita gente.

  2. João sem braço

    E os grandes empresários brasileiros se preocupam com a educação pública?

    Querem que a União tire dinheiro daonde para investir, se pressionam intensamente o poder público a investir bilhões para obter benesses temporárias?

    O que eles esquecem de dizer é que, grandes financiadores de campanha que são, ganham bilhões do Estado, legalmente, e realmente não sobra patavinas para se melhorar a educação neste país.

    Aí chegamos numa situação engraçada: o grande capital brasileiro, via desonerações, Bndes, juros da dívida pública, concessões públicas que só prejudicam o usuário, sugam o orçamento público inteiro, e depois vem reclamar que o Estado brasileiro não investe em educação.

    Falam da China, da Coreia do Sul, como se nestes países não houvesse uma burguesia que pensa a longo prazo, ávida que está em se inserir no mercado internacional e competir em alto nível com os países desenvolvidos. Já aqui, é na base do meu pirão primeiro e quem chora mais mama mais.

    Não estou dizendo, que a elite de outros países é melhor que a daqui. Em todo lugar ser humano é idêntico e o conflito capital vs trabalho ocorre em situações semelhantes. Só que em determinados países há um projeto de país claro, e não interesses paroquiais travestidos de interesse nacional, como ocorre com os “notáveis” do PIB tupiniquim.

     

  3. Pronatec

    Rodrigo, não sei sua opinião, mas vc sabe do que eu estou falando, a política atual, via Pronatec, parece ser investir na quantidade, ao invés da qualidade, da mão de obra ‘qualificada’.

    sds

    1. O desafio da qualidade

      Entendo que o desafio da qualidade está colocado para os serviços públicos, inclusive aqueles prestados por concessionários privados.

      Cordialmente,

       

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