Em balanço de 2019, Witzel diz ter salvado 950 vidas, por Hugo Souza

“Com quantos mortos se faz uma chacina?”, é o que ninguém pergunta a Wilson Witzel. “Com quantas chacinas se faz um genocídio?”, tampouco.

do Come Ananás

Em balanço de 2019, Witzel diz ter salvado 950 vidas

por Hugo Souza

A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro matou 1.686 pessoas em 2019, sem contar os números – de mortos – de dezembro, que dezembro ainda não acabou e tem gente no Rio que ainda não sabe, mas vai dar adeus ao ano velho sem chegar a dar oi ao ano novo.

É o maior número de pessoas mortas pela polícia no Rio de Janeiro desde que o Rio de Janeiro existe. Desde que o Rio existe chamam a isso – aos mortos – “processo civilizatório”.

Diante deste cômputo, no balanço do seu primeiro ano de governo que foi fazer nesta segunda-feira, 30, no Bom Dia Rio, da TV Globo, o governador Wilson Witzel afirmou que “a Polícia Militar não atira nas pessoas”, e rapidamente a conversa sobre o que o âncora do telejornal chamou de “política de enfrentamento com efeitos colaterais” passou para “inclusive isso afasta os investidores”.

O número de 1.686 pessoas mortas pela polícia do Rio até novembro significa uma média de cinco pessoas mortas por dia pela polícia do Rio, que “não atira nas pessoas”. O número de operações policiais que resultaram em três mortos ou mais em 2019 é o maior desde 2006 – foram 34 casos e 123 cadáveres.

“Com quantos mortos se faz uma chacina?”, é o que ninguém pergunta a Wilson Witzel. “Com quantas chacinas se faz um genocídio?”, tampouco. No Rio, no Brasil, o jornalismo profissional, logo ele, não é dado a uma “política do enfrentamento” nem da barbárie nem da impostura – salvo em se tratando do prefeito do Rio e da Record/Universal.

O Bom Dia Rio, por exemplo, é apenas um “telejornal matutino focado na prestação de serviços. Oferece informações sobre o tempo e o trânsito nas principais vias da cidade”.

Sendo assim, Wilson Witzel, sentando sobre 1.686 defuntos, assentado na cadeira do Bom Dia Rio, ficou bem confortável e à vontade para dizer não apenas que “a Polícia Militar não atira nas pessoas”, mas também que, no Rio de Janeiro, em 2019, “950 pessoas deixaram de morrer”, porque caiu em 22% o número de homicídios dolosos no estado – a polícia do Rio, lembre-se, “não atira nas pessoas”, muito menos com dolo.

Que azar de quem caiu naquela outra, crivado de balas, e não entrou nesta última e curiosíssima estatística, a dos que “deixaram de morrer” em 2019 graças a Wilson “Salva-Vidas” Witzel!

Mas 2020 está aí, batendo na porta: “abra! É a polícia!”.

Redação

2 Comentários

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  1. “950 pessoas deixaram de morrer”
    Essa é a estatística do governante comprometido com a segurança de seu povo.
    Que maravilha contar, em dias modernos, com um sultão misericordioso que poupa a vida de 950 de seus súditos.
    Essa afirmação obriga-nos a pensar que as “950 pessoas que deixaram de morrer” fariam parte de uma quota de condenados que Witzel poupou num “indulto de natal à carioca”

  2. A lógica da war on drugs não é recente, nem é exclusiva de witzel.

    Ela permanece porque dá votos, grandes volumes de compras governamentais e pior, controle social pela violência estatal.

    Nós do PT fizemos pouco ou nada para conter e mudar o rumo dessas políticas de genocídio.

    Foi mesmo feijão com arroz do tiro porrada e bomba.

    A criminalização da pobreza via proibicionismo das drogas é uma sacada dos EUA, sabemos todos.

    Mas aqui esse flagelo assume proporções dantescas.

    Só por isso um governante pode usar a tese do “EFEITO COLATERAL” e dizer que para diminuir a taxa de homicídios “sacrificou” um mil e tantas outras vidas.

    Até porque essas vidas se foram nos lugares de sempre…ou seja, eram descartáveis.

    Witzel é só mais dentre outros tantos que se beneficiaram desse conflito.

    Não adianta nada acusá-lo de genocida.

    Ele só ganha mais e mais votos com isso

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