Jorge Alexandre Neves
Jorge Alexandre Barbosa Neves professor Titular de Sociologia da UFMG, Ph.D. pela Universidade de Wisconsin-Madison, nos EUA. Professor Visitante da Universidade do Texas-Austin, também nos EUA, e da Universidad del Norte, na Colômbia.
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Entre a oligarquia e o fascismo, uma nova alternativa, por Jorge Alexandre Neves

O senador Bernie Sanders está se consolidando como favorito para a indicação do partido como aquele que irá enfrentar Donald Trump nas eleições presidenciais.

Entre a oligarquia e o fascismo, uma nova alternativa

por Jorge Alexandre Neves

No final da década de 1950, o famoso sociólogo americano C. Wright Mills publicou um de seus mais famosos livros, intitulado “A Elite do Poder”. Nele, desenvolve uma análise do Estado e do sistema político americano, apresentando-os, fundamentalmente, como um sistema oligárquico, não como a grande democracia ocidental. Mais recentemente, dois cientistas políticos (1) da Universidade Northwestern (Jeffrey Winters e Benjamin Page), localizada em Chicago-IL/EUA, aprofundaram análises teóricas e empíricas que apontam na mesma direção. Todavia, foram os cientistas políticos Martin Gilens (da Universidade Princeton, de New Jersey-EUA) e o mesmo Benjamin Page (da Universidade Northwestern) que, mais recentemente, desenvolveram um extraordinário trabalho científico (2), mostrando evidências empíricas robustas de que, de fato, os EUA – embora tenham sempre cultivado uma autoimagem de grande democracia – são, na verdade, um regime oligárquico, onde as corporações empresariais e a plutocracia têm um poder quase que absoluto sobre a agenda de políticas públicas do país.

A partir da “revolução neoliberal” de Ronald Reagan, tanto o Partido Republicano quanto o Partido Democrata foram se tornando progressivamente reféns do modelo oligárquico. Donald Trump representa uma certa tendência de afastamento desse modelo, ao migrar para uma forma claramente fascista de política. O Partido Democrata, por sua vez, permaneceu como um grande representante do modelo oligárquico de organização política. Todavia, no início de 2017, a filósofa Nancy Fraser, da New School for Social Research (de Nova York/EUA), publicou um artigo (3) no qual, ao analisar a derrota de Hillary Clinton para Donald Trump, decretou o fim do que chamou de “neoliberalismo progressista”. Faltava o Partido Democrata mostrar que iria, de fato, se afastar do modelo oligárquico, sepultando assim a sua forma de alimentar este modelo, qual seja, o “neoliberalismo progressista” definido por Nancy Fraser.

Mais recentemente, Francis Fukuyama – um pensador que, até há pouco era um grande entusiasta do liberalismo contemporâneo – decretou: “o socialismo deve voltar!” (4). Ele se refere (e deixa isso bem claro) aos valores socialistas que, desde o final do século XIX, se fazem presentes, em vários momentos, nas democracias ocidentais, que levam à efetivação de políticas redistributivas radicais, buscando reduzir os níveis insuportáveis de desigualdade de renda e riquezas que se estabeleceram em muitas democracias ocidentais, marcadamente os EUA (que, como vimos acima, não é lá um grande exemplo de democracia).

As prévias eleitorais do Partido Democrata parecem estar caminhando no sentido de corroborar o que foi afirmado por Nancy Fraser (o fim do “neoliberalismo progressista”) e Francis Fukuyama (a emersão de valores e políticas de tipo socialista). O senador Bernie Sanders está se consolidando como favorito para a indicação do partido como aquele que irá enfrentar Donald Trump nas eleições presidenciais. Bernie representa justamente a ruptura com o “neoliberalismo progressista” que vinha dominando o Partido Democrata, tendo apresentado um programa de governo recheado de propostas de políticas redistributivas inspiradas no socialismo democrático ou, se preferirmos, nas socialdemocracias. Os ventos da política parecem indicar que não haverá muito espaço, nas próximas décadas, para o centrismo na política. Caminhamos para uma nova “era dos extremos”!

Jorge Alexandre Barbosa Neves – Ph.D, University of Wisconsin – Madison, 1997.  Pesquisador PQ do CNPq. Pesquisador Visitante University of Texas – Austin. Professor Titular do Departamento de Sociologia – UFMG – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas.
  1. https://www.cambridge.org/core/journals/perspectives-on-politics/article/oligarchy-in-the-united-states/C23926DB2E90E340C4DC2B2BCDEEE27C.
  2. https://scholar.princeton.edu/wp-content/uploads/mgilens/files/gilens_and_page_2014_-testing_theories_of_american_politics.doc.pdf.
  3. https://www.dissentmagazine.org/online_articles/progressive-neoliberalism-reactionary-populism-nancy-fraser.
  4. https://www.newstatesman.com/culture/observations/2018/10/francis-fukuyama-interview-socialism-ought-come-back.
Jorge Alexandre Neves

Jorge Alexandre Barbosa Neves professor Titular de Sociologia da UFMG, Ph.D. pela Universidade de Wisconsin-Madison, nos EUA. Professor Visitante da Universidade do Texas-Austin, também nos EUA, e da Universidad del Norte, na Colômbia.

3 Comentários

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  1. O povo estadunidense, ao contrário do seus governantes, está dando um rotundo NÃO ao ultraneoliberalismo, adotado por todos os presidentes (tanto democratas quanto republicanos), nas últimas décadas.

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